Expressões De Medo No Antigo Egipto

Expressões De Medo No Antigo Egipto

Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de História EXPRESSÕES DE MEDO NO ANTIGO EGIPTO JOÃO CARLOS ORTA CAMACHO Mestrado em História Antiga 2014 Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de História EXPRESSÕES DE MEDO NO ANTIGO EGIPTO JOÃO CARLOS ORTA CAMACHO Dissertação de Mestrado em História Antiga orientada pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Março de 2014 ÍNDICE RESUMO ......................................................................................................... V ABSTRACT ..................................................................................................... VI PALAVRAS-CHAVE ...................................................................................... VII Agradecimentos ................................................................................................ VIII INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1 CAPÍTULO I – A SEMÂNTICA DO MEDO ................................................. 25 CAPÍTULO II – O PODER DOS ANIMAIS ................................................... 31 CAPÍTULO III – O MEDO DAS ARMAS ..................................................... 55 CAPÍTULO IV – ICONOGRAFIA DO PODER ............................................. 67 IV.1 – As coroas ................................................................................. 67 IV.2 – Os adornos ............................................................................... 72 IV.3 – Adornos em forma animal ....................................................... 73 IV.4 – Estandartes .............................................................................. 74 CAPÍTULO V – OCORRÊNCIAS DO QUOTIDIANO ................................. 77 V.1 – Circuncisão ............................................................................... 77 V.2 – Aprendizagem para escriba ...................................................... 78 V.3 – Cobranças de impostos ............................................................. 78 V.4 – Fome ......................................................................................... 79 V.5 – Secas e cheias ........................................................................... 81 V.6 – Doenças .................................................................................... 82 V.7 – Guerras ..................................................................................... 84 CAPÍTULO VI – O TEMOR DA MORTE...................................................... 89 CAPÍTULO VII – MAGIA E FÓRMULAS MÁGICAS ................................. 97 CAPÍTULO VIII – O PODER DA NATUREZA ............................................ 103 CAPÍTULO IX – O PODER DOS DEUSES ................................................... 111 CAPÍTULO X – O PODER DO FARAÓ ........................................................ 123 CAPÍTULO XI – O PODER DOS DEMÓNIOS ............................................. 129 CAPÍTULO XII – REACÇÕES AO MEDO ................................................... 135 CONCLUSÃO .................................................................................................. 141 ILUSTRAÇÕES ............................................................................................... 145 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 161 IV RESUMO Durante milhares de anos de evolução, o ser humano foi desenvolvendo as dimensões biológica e psicológica com que atingiu o presente estado de evolução. Nesse processo, o medo adquiriu uma profunda importância, tornando-se uma das emoções (palavra derivada do vocábulo latino emovere , onde e, variante de ex , significa «fora», e movere , «movimento»), mais influentes, dominantes e motivadoras de comportamentos humanos. A subjectividade que reconhecidamente está inerente a todo o processo, acaba, no entanto, por se objectivar em imagens, construções e conceitos reais, alguns com uma ancestralidade considerável, outros resultando das condições materiais, naturais, políticas e sociais a que os seres humanos estão submetidos. Seguindo as fontes legadas, artísticas e literárias, vemos que os antigos Egípcios tinham medo de vários elementos. Desde certas situações do quotidiano (como o contacto com determinados animais, ou armas), a outras mais políticas e existenciais (como o faraó, ou a morte), os antigos Egípcios criaram estruturas que integravam, explicavam e faziam prever esses momentos, procurando amenizar (ou tornar funcionais), os efeitos potencialmente nocivos do medo. V ABSTRACT During thousands of years of evolution, humans have been developing biological and psychological dimensions that reached the present state of development. In this process, the fear acquired a profound importance, becoming one of the emotions (word derived from the Latin emovere , where e, former variant of ex , means «outside», and movere , «movement»), most influential , dominant and motivating of human behavior. The subjectivity that is inherent to all process is objectified in images, constructions and real concepts, some with considerable ancestry, resulting from other materials, natural, political and social conditions to which humans are submitted. Following the historical documents, artistic and literary, we see that the ancient Egyptians were afraid of various elements. From certain everyday situations (such as the contact with certain animals or weapons), to other political and existential events (like pharaoh, or death), ancient Egyptians created structures that have contributed, explain and predict these moments, looking to soften (or turning it functional) , the potentially harmful effects of fear . VI PALAVRAS-CHAVE Antigo Egipto Ancient Egypt Medo Fear Faraó Pharaoh Emoções Emotions VII AGRADECIMENTOS A elaboração do presente trabalho teve o apoio de diversas pessoas a quem gostaria de registar e endereçar um sincero agradecimento. Em primeiro lugar ao Professor Doutor Luís Manuel de Araújo que desde as aulas de História Pré-Clássica da licenciatura em História (que me fizeram despertar todo o interesse pela civilização faraónica), até aos seminários de mestrado e orientação da dissertação, me foi prestando um valioso apoio e instrução sem os quais este trabalho não teria sido possível. Agradeço ao Professor Doutor José Augusto Ramos, co-orientador da dissertação, pelas sábias sugestões; ao Professor Doutor António Matos Ferreira pela inestimável amizade e importantes orientações; ao Professor Doutor José das Candeias Sales pelos oportunos conselhos. Devo também a minha gratidão ao meu colega e amigo André Silva, pelas excelentes trocas de ideias, sugestões prestadas e bibliografia fornecida; à Catarina Almeida e a todos os colegas com quem, de uma forma geral, fui fomentando discussões, debates, novas ideias e, enfim, o gosto pela História, que é no fundo uma das motivações mais fortes deste projecto. Quero agradecer igualmente, e sobretudo, aos amigos, à Ana Camacho, à Maria da Conceição e, especialmente, à Teresa Calado e ao Gonçalo pela zelosa paciência e apoio emocional durante todo o período. VIII INTRODUÇÃO Ter medo, sentir a emoção que se pode verbalizar e diferenciar como medo, terror, temor, assombro, entre outras, é algo que se expressa, na variedade, tipologia e valor das suas construções e interpretações, por características intrinsecamente humanas. No entanto conseguimos reconhecer facilmente atitudes similares noutros animais (e não apenas nos mamíferos), que indiciam estados próximos a pelo menos certo tipo de receios humanos. O medo é das emoções que maior domínio pode exercer sobre as acções e a personalidade e tem forte influência no nosso quotidiano. Todos já lidaram com ele, sabendo-se que pode surgir com intensidades diferentes e que pode ser causado por uma miríade de motivos distintos, variando em grande medida consoante a pessoa que o sinta e possuindo, por isso, um enorme grau de subjectividade. Não obstante estas variâncias, conseguimos identificá-lo quando o presenciamos, seja pela resistência de uma pessoa prestes a saltar de pára-quedas de um avião pela primeira vez, pela súbita imobilização de alguém quando se vê perante a inesperada companhia de um tigre da Sibéria, pelo descontrolo emocional de um aracnófobo perante um grupo de inofensivos aranhiços, ou pela convicta recusa em ver determinado filme de terror. Diante destas situações exemplificadoras, numa situação normal não hesitaríamos em classificar como medo a emoção presenciada. Da mesma forma utilizamos o vocábulo de forma corrente para inúmeras situações do quotidiano sem grandes preocupações de rigor, afinal, «todos sabemos» o que é o medo, porque o sentimos, os seus efeitos psicológicos, os efeitos físicos deles derivados, e as reacções, nessas mesmas esferas, à ameaça com que nos deparamos. Contudo, nem sempre é assim. Alguns tipos de comportamentos podem ser originados por antigas experiências traumáticas, recordáveis apenas com terapias específicas e, como tal, gerados por experiências particulares. Por outro lado, certos tipos de medo foram desenvolvidos desde tempos ancestrais, estando estreitamente ligados à nossa experiência enquanto espécie. Partindo deste pequeno enunciado de dificuldades inerentes devemos, antes de tudo, questionar e procurar definir com a máxima clareza possível, e antes de tudo o resto: o que é o medo humano? 1 Compreensão do fenómeno O ser humano existe como sistema químico auto-reprodutivo, um

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