Boletim informativo da Liga dos Amigos do Hospital de St.ª Marta (IPSS) Ano doze | nº 26 | Setembro de 2015 A Medicina Interna no Hospital de Santa Marta Revisão histórica e perspectiva recente Dra. Ana Ribeiro Assistente Social CHLC Avaliação Social - Pré Transplante Pulmonar Viver em lista de espera… Local de residência e tempo de deslocação aquando A adaptação à doença. da chamada para realização de cirurgia. Consentimento e motivação para o transplante. Situação familiar: identifi car o(s) elemento(s) de referência ao nível de suporte informal, avaliar a coesão e o relacionamento familiar, para garantir um acompanhamento ao doente tanto no pré como no pós cirurgia, não esquecendo que se dá uma resposta ao nível nacional. O período de espera para o transplan- Situação económica: avaliar as potencialidades e te não só afeta aquele que o aguarda, vulnerabilidades, que poderão colocar em causa o mas também todos os que fazem parte sucesso da cirurgia, tendo em atenção a necessidade do seu tecido social, familiares, ami- absoluta de cumprimento terapêutico. gos, vizinhos e colegas de trabalho. Situação laboral: validar qual a prestação social adequada. A transplantação é um processo e não um aconteci- Situação habitacional: fazer as adaptações neces- mento. sárias, nomeadamente o retiro de alcatifa, obras de benefi ciação do imóvel, pinturas, outros. Em caso de Apesar do ênfase que se coloca no ato dúvidas deve o AS fazer visita domiciliária ou por cirúrgico, é o que o precede e o que se razões geográfi cas solicitar às colegas das estruturas lhe segue que é, para os pacientes e para da comunidade (Centro de Saúde, a Segurança Social, aqueles que o rodeiam, o permanente IPSS, outra) a colaboração para o esclarecimento das foco de atenção. condições habitacionais. Incapacidade de manter aderência a programa terapêutico complexo e a um seguimento regular em consulta. “Fazer um transplante é nascer novamente Nível de escolaridade ou compreensão que possa sem ter morrido verdadeiramente.” comprometer o sucesso do transplante, pelas indi- cações específi cas no pós cirurgia. Dependência activa de substâncias (álcool, tabaco e Intervenção Social no Programa de drogas) ou período de abstinência inferior a 6 meses. Transplante Pulmonar Pós Transplante O transplante pulmonar é uma opção terapêutica Apoio ao acompanhante . para os doentes com patologia pulmonar crónica ter- Alojamento. minal, que estejam sob terapêutica médica optimi- Transporte de doentes (nas situações que não pre- zada e para os quais não exista qualquer outra alter- cisam de ambulância). nativa ou naqueles cuja doença limite as actividades diárias. Existem contra indicações absolutas à realização de transplante pulmonar, dentre elas a “Ausência de adequada estrutura social e familiar de apoio” (José J.Camargo, Sadi Marcelo Schio, Leticia Sanchez, in Transplante de Pulmão-Indicações actuais), sendo da responsabilidade do assistente social a avaliação deste e de outros parâmetros, os critérios de selecção passam a ser obrigados a identifi car não apenas os indivíduos que podem benefi ciar do tratamento mas Articulação Social também aqueles com maior hipótese de sobrevivên- cia a longo prazo com boa qualidade de vida. 02 A Fonte | nº 26 | Setembro de 2015 * Transcrito do Guia de Acolhimento do Hospital de Santa Marta (1989) Santa Marta: Um hospital com passado e com futuro* Nos primeiros anos do século XX, a necessidade de de Santa Marta, com a primeira desobstrução arterial expansão do sistema hospitalar de Lisboa leva o Es- do Prof. João Cid dos Santos, que esteve na origem tado a ceder o Convento de Santa Marta ao grupo das realizações espectaculares que hoje se observam hospitalar então chamado Hospital de S. José e neste campo. Anexos, mais tarde Hospitais Civis de Lisboa. Foi ainda no Hospital de Santa Marta que Francis- Era enfermeiro-mor o Dr. Curry Cabral que, de 1903 co Gentil criou o Instituto Português de Oncologia a 1905, empreende no edifício do velho convento (1923), que aqui funcionou até dispor de instalções obras de restauro de grande vulto e acrescenta-lhe, próprias. na cerca, um amplo e magnífi co pavilhão. Mas o grande reformador do ensino e da prática clíni- O advento da República traz novo impulso às refor- ca, o Mestre que transpôs para a medicina clínica os mas na área da Saúde. Em 1911 é criada a Faculdade princípios de exactidão e rigor das ciências positivas de Medicina de Lisboa e para ela passa o ensino, que foi indiscutivelmente o Prof. Pulido Valente, chefe de até então era ministrado na Escola Médico-Cirúrgica, uma longa escola de discípulos ilustres, como Fernan- anexa ao Hospital de S. José. O Hospital de Santa do Fonseca, Cascão de Anciães e tantos outros. Marta é cedido à Universidade e passa a designar-se Outro mérito do Prof. Pulido Valente foi ter conse- Hospital Escolar de Lisboa. guido trazer para o Hospital de Santa Marta um his- Ia iniciar-se um período em que este hospital brilhou topatologista de grande creveira, o Prof. Friedrich como estrela de primeira grandeza no fi rmamento Wohlwill, que institui as famosas sessões anatomo- hospitalar português. clínicas, de extraordinário efeito pedagógico, tanto A medicina portuguesa soube criar aqui o ambiente para os alunos como para os médicos, que a elas acor- propício que a levou a grandes cometimentos, alguns riam com entusiasmo. deles com repercussão mundial. Em 1954, as actividades escolares são transferidas Lembremos que o único Prémio Nobel atribuído para o novo Hospital de Santa Maria e o Hospital de desde sempre a um português foi o que Egas Moniz Santa Marta é reintegrado nos Hospitais Civis de Lis- Moniz conquistou em 1949 pela concepção e reali- boa e vao benefi ciar de grandes obras de reparação, as zação da leucotomia pré-frontal, a primeira abor- maiores desde a época de Curry Cabral. dagem cirúrgica das doenças mentais. Em 1956 está pronto a receber a nova tripulação, Egas Moniz, Professor da Faculdade de Medicina proveniente dos restantes hospitais do grupo. e director do serviço de Neurologia deste hospital, Instalam-se os novos serviços. não se limitou à descoberta da leucotomia. Já antes A Medicina Interna tem agora a dirigi-la um modelo (1927) tinha realizado a primeira arteriografi a de organizador e pedagogo, o Dr. Carlos George, que cerebral e este método, transposto para as artérias dos institui uma verdadeira escola de pós-graduação, e a membros e do abdómen pelo talento criador de colocação no seu serviço é muito disputada pelos in- Reinaldo dos Santos, também teve aceitação mun- ternos. O seu nome fi cará ligado aos Cursos de Aper- dial e revolucionou o diagnóstico das doenças vascu- feiçoamento que continuam a realizar-se anualmente lares, abrindo caminho à cirurgia vascular moderna. neste hospital. Esta teve a sua estreia mundial em 1947 no Hospital A Fonte | nº 26 | Setembro de 2015 03 Prof. Dr. António Guerreiro Coordenador da Unidade Funcional de Medicina IV Unidade Funcional de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC, E.P.E) Hospital de Santa Marta - perspectiva recente - O CHLC é um dos três principais centros de refe- cuidados médicos de excelência e de elevada dife- rência da medicina em Portugal, remontando as suas renciação. raízes históricas ao antigo Hospital Real de Todos A partir de 2009 a Unidade Funcional de Medicina In- os Santos, inaugurado no início do século XVI. En- terna (Medicina IV) no Hospital de Santa Marta, uma contra-se dotado de todas as especialidades médicas das sete unidades funcionais de medicina interna do e cirúrgicas existentes no nosso País, distribuídas CHLC, passou a constituir um polo embrionário de por diversas unidades hospitalares: São José, Santo articulação entre o CHLC e a NOVA Medical School, António dos Capuchos, Santa Marta, Curry Cabral, no contexto da especialidade de Medicina Interna. Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa. É No âmbito assistencial, a actividade médica desen- considerado referência nacional e internacional em volvida nesta Unidade, centra-se fundamentalmente diversas áreas, nomeadamente na área do transplante. em 3 sectores: Internamento, Consulta externa e Con- Para além da vertente assistencial o CHLC tem vindo sultadoria intra-hospitalar. a desenvolver nos últimos anos um papel muito im- No que respeita ao sector de internamento, este dispõe portante no ensino médico pré e pós-graduado, em de 36 camas dividas por 6 salas para internamentos articulação com a Nova Medical School/ Faculdade regulares e 1 sala de isolamento que tem um sistema de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lis- de pressão negativa permitindo o isolamento de con- boa. tacto e respiratório de doentes cuja situação clínica o Na sequência da actividade acima referida foi criado exija. Para além das salas de internamento, existem recentemente um consórcio entre as estruturas acima gabinetes médicos e de enfermagem, administrativos, mencionadas que adoptou a designação de Centro biblioteca, sala de reuniões, sala de trabalho, copa e Médico Universitário de Lisboa – CMUL (Portaria instalações sanitárias. Nos últimos cinco anos regista- nº225-A/2015 – DR, 1ª série- nº147), que tem como ram-se cerca de 5000 admissões, com uma taxa média objectivo o avanço e aplicação do conhecimento de ocupação de cerca de 90%, no contexto de uma e da evidência científi ca para a melhoria da saúde. população muito idosa de doentes crónicos e com pa- Neste contexto actividade assistencial, investigação tologia múltipla. De salientar a importância da activi- e ensino são indissociáveis e a sua conjugação é hoje dade desenvolvida pelos diversos grupos profi ssion- uma condição obrigatória para o sucesso de qualquer ais envolvidos na prestação de cuidados aos doentes, instituição que tenha como objectivo desenvolver tentando responder ao desafi o permanente colocado 04 A Fonte | nº 26 | Setembro de 2015 Enfermaria do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Santa Marta. por estes, tanto na sua dimensão clínica como hu- bém com os cuidados de saúde primários.
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