O FAZER SABER DAS DANÇAS AFRO: Investigando Matrizes Negras Em Movimento

O FAZER SABER DAS DANÇAS AFRO: Investigando Matrizes Negras Em Movimento

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Programa de Pós-graduação em Artes Campus de São Paulo Fernando Marques Camargo Ferraz O FAZER SABER DAS DANÇAS AFRO: investigando matrizes negras em movimento SÃO PAULO-SP – 2012 – i Fernando Marques Camargo Ferraz O FAZER SABER DAS DANÇAS AFRO: investigando matrizes negras em movimento Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade Paulista de São Paulo (IA/UNESP-SP), como requisito para obtenção do título de Mestre em Artes Cênicas. Área de concentração: Artes Cênicas Orientadora: Profa. Dra. Marianna F. M. Monteiro Bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) SÃO PAULO-SP – 2012 – ii Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes da UNESP (Fabiana Colares CRB 8/7779) Ferraz, Fernando Marques Camargo, 1978- F O fazer saber das danças afro: investigando matrizes negras em 381f movimento / Fernando Marques Camargo Ferraz. - São Paulo, 2012. xi ; 291 f. ; il. + anexo Orientador: Profª Drª Marianna Francisca Martins Monteiro Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2012. 1. Dança - História - Brasil. 2. Negros - Dança. 3. Dança afro. 4. Coreógrafos. I. Monteiro, Marianna Francisca Martins. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. III. Título CDD – 793.3 iii Fernando Marques Camargo Ferraz O FAZER SABER DAS DANÇAS AFRO: investigando matrizes negras em movimento Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade Paulista de São Paulo (IA/UNESP-SP), como requisito para obtenção do título de Mestre em Artes Cênicas. Área de concentração: Artes Cênicas Orientadora: Profa. Dra. Marianna F. M. Monteiro Bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Membros componentes da banca examinadora: _____________________________________________________________ Presidente e orientadora: Profa. Dra. Marianna F. M. Monteiro, IA/UNESP-SP _____________________________________________________________ Membro titular: Profa. Dra. Helena Katz, PUC-SP _____________________________________________________________ Membro titular: Profa. Dra. Renata de Lima Silva, UFG Defendida no dia 11/07/2012 iv Aos professores e mestres que algum dia, não importa por quanto tempo ou por qual abordagem, fizeram-me aprender algo dançando afro Kelliy Anjos, Álvaro Juvenal, Inaicyra Falcão dos Santos, Irineu Nogueira, Rosangela Silvestre, Fanta Konatê, Mestre King, João Lima, Tatiana Campelo, Vânia, Tata Muta, Edileusa Santos, Paco Gomes, Paquito, Mariama Camara, Mestre Pitanga, Luciane Ramos, Janette Santiago, Denilson, Fábio Batista, Mestre Clyde Morgan, Germaine Acogny, Rodrigo Nunes, Charles Nelson, Leda Ornelas, Nadir Nóbrega, Augusto Omolu, Carlos Ujhama, Jackson Pinto, Flávia Mazal, Renata Lima, Amara Tabor, Mister Longa Fo Que esta lista, ainda modesta diante de tantos outros profissionais atuantes, possa aumentar... v Agradecimentos A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela bolsa cedida, que viabilizou a realização deste projeto. A profa. Marianna Monteiro, minha orientadora, e também amiga, pelas nossas inúmeras conversas e trocas. Obrigado pela instruções precisas, pela erudição despretensiosa e pelo conhecimento prontamente compartilhado, sempre tão franco, instigante e indispensável. Um agradecimento especial aos amigos artistas e pesquisadores que não somente ajudaram a realização desta pesquisa com inúmeros insights e questionamentos, mas, acima de tudo, fizeram a vida mais prazerosa, mais iluminada, mais especial: Ana Lúcia Ferraz, Marsial Azevedo, Luciane Ramos, Micael Cortes, Charles Roberto Silva e Carlos Eduardo Ribeiro. Obrigado por acreditarem que a vida e o conhecimento são muito melhores com arte, jogo e poesia. Aos meus pais e irmãos, pelo acolhimento nesta vida. Aos grandes artistas que generosamente confidenciaram suas histórias e cederam seu tempo com tantas perguntas e inquietações: mestre Pitanga, Irineu Nogueira, mestre King, Carlos Uhjama, Tânia Bispo, Clyde Morgan, Domingos Campos, Augusto Omolu, Paullo Fonseca, Walson Botelho e Leda Ornelas. Aos inúmeros professores, colegas e alunos de dança que já tive, e ainda vou ter, realmente, a vida é bem melhor aprendendo com vocês! Aos funcionários dos acervos públicos frequentados durante a pesquisa, em especial, Emanuel, do Setor de Documentação do Balé Teatro Castro Alves - BTCA; Fabrício Felice, Cinemateca Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ); a sra. Vera, da Fundação Gregório de Mattos, que permanecem apaixonados pelo conhecimento, grandes pesquisadores e conhecedores dos acervos das instituições. Aos participantes do Dançando Nossas Matrizes (DNM), pelos questionamentos e inquietações. Aos professores e alunos da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia-Funceb/BA, por dançarem tanto e tão bonito! A Cia. Étnica do Rio de Janeiro, por me permitir conhecer o artista fenomenal e ser humano maravilhoso que é Clyde Morgan. A Lucy Manso, que me contou mais sobre o espírito livre de Felícitas Barreto. Aos professores Vagner Gonçalves da Silva e Alberto Ikeda, pelas preciosas considerações durante a banca de qualificação. vi Aos amigos e colegas do Grupo Terreiro de Investigação Cênica e do Instituto de Artes da Unesp, em especial, Evandro Passos e Renata Lima. A tantos outros amigos e artistas que acreditam na dança e na pesquisa como trabalho de vida. Muitíssimo obrigado! vii Resumo Nesta pesquisa, analisa-se como coreógrafos e intérprete-criadores identificados com a linguagem da dança afro engendram os saberes dessa arte em suas práticas. Busca-se refletir como esse estilo se inscreve na história da dança brasileira por meio da indicação de linhagens artísticas e da reconstrução das trajetórias de seus personagens. Para tanto, compara-se as diversas perspectivas de seus criadores, vistos como interlocutores na construção de um conhecimento crítico sobre a dança afro. São abordadas as tensões entre suas formações artísticas, identidades sociais e posicionamentos no campo da produção cênica. Também procurou-se refletir sobre as negociações em torno dos engajamentos políticos dos artistas, seus vínculos com as tradições religiosas, o debate com a produção cênica contemporânea e as tensões entre os espaços institucionais onde as performances se realizam com intuito de rever estereótipos e identificar mediações responsáveis pela construção dinâmica de seus repertórios e particularidades. Palavras-chave: história da dança no Brasil; dança afro; coreógrafos. viii Abstract In this research, the aim is to examine how choreographers and creators identified with the language of African dance engender the knowledge of this art in their practice. I reflect how this style enroll in the history of Brazilian dance through multiple artistic lineages and the reconstruction of the personal trajectories. Here I compare the different perspectives of their creators seen as partners in building a critical knowledge about the African dance and also analyze the tensions between their artistic formation (training), social identities and positions in the theatrical production field. I also discuss the negotiations over the political engagement of artists, their links with religious traditions, the debate with contemporary theatrical production and tensions between institutional spaces where they perform in order to review stereotypes and identify mediations responsible for a dynamical building of its repertoires and particularities. Keywords: history of dance in Brazil; African Brazilian dance; choreographers. ix Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12 Capítulo I. Entre nuvens e política: delimitando um campo de análise ............................ 32 1.1. Que história é essa? .................................................................................................... 32 1.2. Negritude e nagôcentrismo ........................................................................................ 50 Capítulo II. História dos precursores: personagens e suas trajetórias ............................... 64 2.1. Corporalidades negras encontram o palco: precursores da dança afro ...................... 64 2.2. Dança afro nomeada: do legado de Mercedes Baptista ao Vivabahia ..................... 106 Capítulo III. O fazer dos mestres e suas variações: saberes compartilhados em Salvador e São Paulo ...................................................................................................... 152 3.1. Dança afro soteropolitana ........................................................................................ 152 3.2. Dança afro em São Paulo ......................................................................................... 244 Conclusão ........................................................................................................................ 278 Bibliografia ..................................................................................................................... 282 x Lista de figuras Figura 1: Caribé e o ministro Antônio Carlos Magalhães, no enterro de Mãe Menininha, 14/08/1986 Figura 2: Joãozinho da Goméia. Fantasia de carnaval, O Cruzeiro, 17/03/1956. Figura 3: O Cruzeiro, 17/03/1956. Figura 4: Joãozinho da Goméia, 30/06/1951. Figura 5: Eros Volúsia, “Bate nos Tambores”. Figura 6: Eros Volúsia “Macumba”. Figura 7: Duque

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