Excelentíssimo Senhor Ministro NELSON JOBIM, Relator Do Mandado De Segurança N

Excelentíssimo Senhor Ministro NELSON JOBIM, Relator Do Mandado De Segurança N

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº 701 Arguente: Associação Nacional de Juristas Evangélicos – ANAJURE Arguidos: Prefeita do Município de João Monlevade e outros Relator: Ministro NUNES MARQUES Constitucional. Atos normativos estaduais e municipais que suspendem atividades religiosas, sem ressalvar aquelas que não envolvam aglomeração de pessoas. Alegada violação à liberdade de religião e à laicidade do Estado. Preliminares. Ilegitimidade ativa. Inobservância do princípio da subsidiariedade. Inépcia da petição inicial, por ausência de indicação precisa dos atos impugnados. Impossibilidade de controle abstrato de normas com eficácia exaurida. Ausência de interesse de agir em relação a dispositivo revogado. Ofensa meramente reflexa ao Texto Constitucional. Mérito. O cenário extraordinário da pandemia admite a adoção de medidas restritivas pelo Poder Público, as quais devem observar o critério da proporcionalidade e os parâmetros da jurisprudência dessa Suprema Corte. Os óbices processuais apontados impedem a análise precisa sobre o teor dos atos questionados. Entretanto, é possível afirmar desde logo que a restrição total e sem delimitação temporal de atividades religiosas, inclusive de transmissões virtuais e sem aglomerações, nos termos da petição inicial, não atende aos requisitos da proporcionalidade. Excessivo impacto sobre o direito à liberdade de religião, sem que demonstrada a correlação com os fins buscados e com desprezo de alternativas menos gravosas. Para estabelecer disciplina sanitária limitadora das liberdades pessoais, os governos regionais e locais devem fazê-lo mediante apresentação de fundamentação técnica apropriada e com respeito às competências privativas de outros entes. Caso essas condições de legitimidade sejam descumpridas, deve prevalecer a regência geral estabelecida nas normas federais sobre o tema. Manifestação pelo não conhecimento da arguição e, quanto ao mérito, pela sua procedência. Egrégio Supremo Tribunal Federal, O Advogado-Geral da União vem, em atenção ao despacho proferido pelo Ministro Relator em 05 de fevereiro de 2021, manifestar-se quanto à presente arguição de descumprimento de preceito fundamental. I – DA ARGUIÇÃO Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental, com pedido de medida liminar, proposta pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos – ANAJURE, com o objetivo de que seja declarada a inconstitucionalidade de decretos estaduais e municipais que determinaram, no elenco das medidas de contenção da pandemia de Covid-19, a suspensão irrestrita das atividades religiosas. A autora afirma que, “em muitos locais, líderes religiosos têm sido embaraçados durante a transmissão de cerimônias religiosas por meios virtuais, quando não há qualquer público presente” (fl. 02 da petição inicial). Tal circunstância, conforme argumenta, atentaria contra a liberdade religiosa e a laicidade estatal. Como exemplos de normas editadas nesse sentido, a requerente cita o artigo 6º do Decreto nº 31/2020 do Município de João Monlevade/MG; o Decreto nº 1.074/2020 do Município de Macapá/AP; o Decreto nº 18.902/2020 do Estado do Piauí; o Decreto nº 28.635-E/2020 do Estado de Roraima; o Decreto nº 15/2020 do Município de Serrinha/BA; o Decreto nº 14.052/2020 do Município de Bebedouro/SP; o Decreto nº 6.228/2020 do Município de Cajamar/SP; o Decreto nº 28.564/2020 do Município de Rio Brilhante/MS; e o Decreto nº 1.366/2020 do Município de Armação dos Búzios/RJ. Aduz que a Lei nº 13.979/2020 estabeleceria que as medidas restritivas no combate à pandemia deveriam possuir base em evidências científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde, além de observarem limitação espacial e temporal. Para a autora, o estabelecimento das medidas restritivas impugnadas também atentaria contra a distribuição constitucional de competências, ADPF nº 701, Rel. Min. Nunes Marques. 2 extrapolando a atribuição dos Municípios, elencada no artigo 30, inciso II, da Constituição da República1. A requerente pondera que, mesmo em situações de crise, como no estado de defesa e no estado de sítio, em que há autorização constitucional para restringir ou suspender o direito de livre reunião, haveria parâmetros a serem observados, assim como exigência de temporariedade das limitações. Invoca a teoria dos limites dos limites, para afirmar a necessidade de manutenção do núcleo essencial do direito fundamental que indica como parâmetro de controle. Ademais, assevera que, “a despeito de toda a relevância dos cultos públicos para os cidadãos religiosos, diferentes Estados e Municípios têm vedado, sem ressalvas, o exercício de qualquer atividade religiosa e o funcionamento dos templos religiosos, o que tem reverberado até mesmo sobre as transmissões virtuais, executadas por um grupo pequeno de ministros” (fl. 26 da petição inicial). Em outra vertente, afirma que o estabelecimento das medidas impugnadas por meio de decretos também violaria o princípio da legalidade. Com esteio nesses argumentos, a autora pede a concessão de medida cautelar para suspender os efeitos do artigo 6º do Decreto nº 31/2020 do Município de João Monlevade/MG, bem como “de todos os Decretos cuja redação impõe vedação/suspensão/proibição de atividades religiosas e do funcionamento dos templos religiosos, sem fixação de qualquer ressalva no sentido do exercício das ações religiosas que não geram qualquer espécie de aglomeração” (fl. 30 da petição inicial). No mérito, requer a confirmação da providência pleiteada em sede cautelar. 1 “Art. 30. Compete aos Municípios: (...) II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;” ADPF nº 701, Rel. Min. Nunes Marques. 3 O processo foi distribuído, inicialmente, ao Ministro CELSO DE MELLO. Posteriormente, o Ministro NUNES MARQUES assumiu a relatoria da presente ação direta e, nos termos do artigo 5º, § 2º, da Lei nº 9.882/1999, requereu informações às autoridades de que emanaram os atos questionados, bem como a manifestação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. Em atendimento à solicitação, o Município de Bebedouro/SP afirmou que o Decreto nº 14.052/2020 teria sido expedido no início da pandemia, no intuito de conter o seu avanço, estando tal ato normativo de acordo com o Decreto estadual nº 64.994/2020 (Plano São Paulo). O Município de Cajamar/SP também defendeu a razoabilidade da medida restritiva impugnada, bem como sua conformidade com as orientações estaduais e da Organização Mundial da Saúde. De seu turno, o Município de Armação dos Búzios/RJ afirmou que o Decreto nº 1.366/2020 teria sido revogado pelo Decreto nº 1.533/2020, posteriormente substituído pelo Decreto nº 1.579/2021, que autoriza o funcionamento dos templos em geral, com limitação da capacidade, ventilação apropriada e observância de medidas sanitárias. Não aportaram aos autos informações dos demais entes solicitados. Na sequência, vieram os autos para manifestação do Advogado- Geral da União. II – PRELIMINARES II.I – Ilegitimidade ativa Inicialmente, cumpre ressaltar que a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos – ANAJURE não logrou demonstrar sua legitimidade para o ajuizamento da presente arguição. ADPF nº 701, Rel. Min. Nunes Marques. 4 A propósito, ressalte-se que a requerente é uma associação civil que, conforme os artigos 7º e 8º de seu estatuto (doc. eletrônico nº 3), congrega juristas que compactuam com sua declaração institucional de princípios, nos seguintes termos: ARTIGO 7° A ANAJURE é constituída pela seguinte categorização e classificação de membros: I — Membros Fundadores: são todos aqueles juristas que instituíram e, por assim ser, subscreveram a Ata de Fundação e Constituição da Associação Nacional de Juristas Evangélicos. II — Membros Honorários: são todos aqueles juristas que, por merecimento e reconhecimento dos relevantes serviços jurídicos prestados â sociedade, à igreja evangélica e á defesa das liberdades civis fundamentais, forem assim indicados, desde que também subscrevam a Declaração de Princípios do art. 6° e obedeçam aos requisitos de admissibilidade estatutária constantes do art. 8°. III — Membros Efetivos: são todos aqueles juristas que, subscrevendo a Declaração de Princípios do art. 6° e obedecendo aos requisitos de admissibilidade estatutária constantes do art. 8°, forem assim admitidos. IV — Membros Aliados: são todos aqueles juristas que, subscrevendo a Declaração de Princípios do art. 6° e obedecendo aos requisitos de admissibilidade estatutária constantes do art. 8°, não sendo membro honorário ou efetivo, forem assim indicados. V — Membros Provisórios: são todos aqueles que, na condição de estudantes de Direito, subscrevendo a Declaração de Princípios do art. 6° e obedecendo aos requisitos de admissibilidade estatutária constantes do art. 9°, forem assim admitidos. ARTIGO 8° São requisitos de admissibilidade associativa na qualidade de membro honorário, efetivo, aliado ou provisório: I — Subscrição do Termo Associativo e Declaração de Princípios do art. 6°. II — Indicação de um dos Associados que não seja membro afiado ou provisório. III — Que apresente carta pastoral de recomendação. IV — Que tenha seu processo de admissão recomendado pela Diretoria Executiva e aprovado, por maioria simples, pelo Conselho Diretivo Nacional. O referido estatuto não menciona quais profissionais poderiam integrar a referida associação, limitando-se a apresentar a referência genérica de “juristas”, o que evidencia que o fator distintivo da entidade é a comunhão de crença e não a defesa de prerrogativas profissionais.

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