PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Natália Rissinger Bonotto A construção da empregabilidade para uma mulher transexual MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL São Paulo 2020 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Natália Rissinger Bonotto A construção da empregabilidade para uma mulher transexual Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Social sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Mary Jane Paris Spink. São Paulo 2020 Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos a reprodução total ou parcial desta Dissertação de Mestrado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura:___________________________________________________ Data:____________________ e-mail:____________________________________ Natália Rissinger Bonotto A construção da empregabilidade para uma mulher transexual Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Social sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Mary Jane Paris Spink. Aprovado em: ___/___/_____ BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ AGRADECIMENTO CNPq Gostaria de agradecer ao CNPq pela bolsa concedida, ela foi essencial para a realização desta pesquisa. Processso nº 170222/2017-9 AGRADECIMENTOS Agradeço à minha orientadora, Prof.ª Mary Jane Spink, pela acolhida, apoio e pela serenidade que lhe é tão característica e que me transmitiu segurança durante toda a construção desta pesquisa. Agradeço pelos inúmeros ensinamentos e pela paciência nesse processo de troca que é a aprendizagem. Agradeço à Prof.ª Elisa Rosa pelas importantes contribuições a este trabalho, com um olhar amplo e sensível ao tema da empregabilidade. Ao Prof. Emerson Rasera, ou melhor, ao Mera, pela generosidade, pelas trocas e pelos apontamentos tão pertinentes e importantes a esse tema “quente”, como ele mesmo definia. Mera, você é uma grande inspiração e um belo presente que o mestrado me deu! Obrigada à Prof.ª Leliane Gliosce Moreira, por ser uma constante fonte de inspiração e segurança, por tornar esse mestrado uma possibilidade real e sempre acreditar em meu potencial e capacidade. Minha eterna gratidão! À participante da pesquisa, pela disponibilidade e generosidade. Por compartilhar comigo seus valiosos conhecimentos e experiências, e pela oportunidade de ampliar minha visão de mundo. Agradeço a todos e todas colegas que conheci e convivi no NUPRAD/PUC-SP. Obrigada pela acolhida, pelas risadas e pelas ricas discussões. Foi muito bom aprender com vocês! À Carol, Luiza, Mônica e Marcela. Quanto carinho tenho por esse encontro! Obrigada por tantas risadas, parceria, desabafos e afeto! Malu, obrigada pelas inúmeras leituras e contribuições, por sempre me transmitir segurança e dividir seu olhar claro e objetivo comigo. Vocês são mulheres pesquisadoras potentes que me inspiram a realizar um trabalho ético e socialmente responsável. À Estela, pelo afeto, segurança e carinho com que cuidou de minha filha para que eu pudesse escrever este texto. À minha mãe, Ireni, por ser meu porto seguro, fonte inesgotável de afeto e amparo para absolutamente todas as horas. À minha irmã, Alana, pela mulher que é e que sempre me ensinou o que é ser justa e ética, ao mesmo tempo leve e alegre. À minha irmã, Morgana, pelo companheirismo, parceria, inspiração de força e afeto. Obrigada pelo amor que me apresentou e me ensinou por toda a vida e, agora, divide com minha filha. Agradeço ao Augusto, meu companheiro, meu amor, pela paciência, pelo incentivo e por auxiliar a tornar esse mestrado real de tantas formas. E, por fim, agradeço à Martina, por me ensinar tanto todos os dias. Por me lembrar da força das mulheres — de todas as pessoas que se entendem mulheres — e da importância da construção de uma sociedade mais igualitária, livre de normas que nos definem e nos limitam. RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo compreender a experiência da empregabilidade para uma mulher transexual. Para isso, buscamos entender o processo de transexualização no contexto da família e da escola para, posteriormente, analisar a trajetória de busca e vivência de um emprego formal. A partir de um estudo de caso, foi realizada uma entrevista semi- estruturada e a transcrição integral deste material. Como técnica de análise, foram utilizados dois mapas dialógicos, que permitem dar visibilidade à dialogia presente no material analisado. Posteriormente, duas linhas narrativas foram criadas de maneira que a passagem do tempo e os processos de transformação da participante ficassem visivelmente organizados. A abordagem teórico-metodológica empregada foi a psicologia discursiva desenvolvida no Núcleo de Estudos sobre Práticas Discursivas no Cotidiano: Direitos, Riscos e saúde (NUPRAD/PUC- SP), que se inscreve no âmbito de uma postura Construcionista. De maneira geral, os resultados indicam que existem dificuldades na empregabilidade formal de pessoas trans sendo a primeira delas a transfobia institucionalizada. Ainda assim, há muitas pessoas trans atuando em empregos formais, mas a literatura a respeito dessa população parece preferir divulgar as dificuldades e mazelas que as atingem contribuindo para a criação de um discurso único de sofrimento e insucesso. Palavras-chave: Mulheres transexuais; Travestis; Empregabilidade; Psicologia Social; Práticas discursivas. ABSTRACT This research aims to study the process of employability for a transsexual woman. A discussion was set about transsexualization in the context of family and formal learning. An interview with a trans woman was undertaken for analysis. Two dialogic maps were made to organize the visibility of the dialogue. Thereafter two narrative lines were created for time passing and transformation processes of the interviewee. The theoretical-methodological approach of discursive psychology - developed in the Nucleus of Studies on Discursive Practices in Daily Life: rights, risks and health (NUPRAD/PUC-SP) - was used to reach the objective, as part of a constructionist approach. In general, the results indicate that there are difficulties in the formal employability for trans people and the main problem is the institutionalized transphobia. Nevertheless, there are many trans people working in formal jobs although the literature about this population seems to prefer to disclose the difficulties and problems that affect them to create an unique discourse of suffering and failure. Keywords: Transsexual women; Transvestites; Employability; Social Psychology; Discursive practices. SUMÁRIO A PESQUISADORA E O TEMA DE PESQUISA _______________________________ 10 1. OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS _______________________________________ 13 1.1 Procedimentos _______________________________________________________13 1.2 Referencial teórico-metodológico _______________________________________ 17 1.3 Considerações éticas _________________________________________________ 18 2. CONSTRUINDO O GÊNERO ____________________________________________ 19 2.1 Gênero e sexo como construção social e categoria inaugural do sujeito ________ 19 2.1.1 Gênero como performatividade ________________________________________ 23 2.1.2 Corpos abjetos _____________________________________________________ 24 2.2 Travestis e transexuais _______________________________________________ 25 2.3 A experiência de Francisca ___________________________________________ 29 3. TRABALHO E POPULAÇÃO TRANS _____________________________________ 42 3.1 Empregabilidade para mulheres transexuais e travestis ____________________ 45 3.2 A experiência de Francisca ____________________________________________ 49 4. DISCUSSÃO ___________________________________________________________ 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS ________________________________________________ 78 REFERÊNCIAS __________________________________________________________ 80 APÊNDICES _____________________________________________________________ 85 ANEXO ________________________________________________________________ 168 10 A PESQUISADORA E O TEMA DE PESQUISA Ainda na graduação em Psicologia, no desejo de ser aluna de Iniciação Científica, uma pergunta me interpelava: “E o que você quer pesquisar?”. Eu não fazia a mínima ideia de qual era a resposta a essa questão fundamental para que se inicie uma pesquisa. As respostas, àquela época, poderiam ser muitas, mas não havia uma sequer. Um dia, em meio ao tédio, através da rede social Facebook, encontrei uma matéria publicada pela revista eletrônica Carta Capital (2013) sobre empregabilidade de pessoas trans. Acompanhando a matéria, havia um vídeo. Nele, Luiza Marilac, travesti que havia ficado famosa por um meme na internet, vestia um uniforme de camareira e relatava sua alegria em se apresentar daquela forma. Contava da sensação de satisfação e felicidade ao sair de casa às cinco da manhã para trabalhar, em como caminhava orgulhosa de uniforme pelas ruas. “As pessoas me respeitam, estou indo para o trabalho. Ninguém pensa que estou indo ‘fazer programa’”. Ela mostrou ainda sua carteira de trabalho e contou que hoje dorme à noite e trabalha de dia, “como todo mundo”. E, por fim, relata que sabe como isso tudo – carteira de trabalho, uniforme – pode parecer simples para a maioria das pessoas, mas que para pessoas como ela, para uma travesti, aquilo era uma conquista, um sonho realizado. Eu, assistindo ao
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