Dossiê NEUROBUSINESS A FISIOLOGIADO GERENCIAMENTO AS DESCOBERTAS DA A falta de reconhecimento no trabalho dói tanto quanto NEUROCIÊNCIA ESTÃO, CADA uma pancada na cabeça: o cérebro sente a exclusão e emite um impulso neural intenso que termina por prejudicá-lo. VEZ MAIS, CHEGANDO ÀS “Posso lhe dar um conselho?” não é uma pergunta simpá- tica: para quem ouve é o equivalente à angústia de escutar EMPRESAS. REPORTAGEM HSM passos desconhecidos durante a noite. O cérebro entende MANAGEMENT MOSTRA COMO que quem pergunta está impondo sua superioridade, fica na defensiva e envia a ordem para que as glândulas produzam ESSE NOVO CONHECIMENTO hormônios do estresse. Um aperto de mãos ou uma troca de olhares sobre algo TENDE A MODIFICAR, E A engraçado dilui a sensação de perigo que muitos líderes HUMANIZAR, A GESTÃO, causam em seus subordinados, que, com medo deles, sen- tem como se sua vida estivesse ameaçada. É que o cérebro QUE POR MUITOS ANOS libera o hormônio do amor diante de gestos simpáticos, esti- PAUTOU-SE PELA VISÃO mulando confiança, empatia e generosidade. Graças à neurociência, conjunto de disciplinas científi- MECANICISTA DESENVOLVIDA cas que estudam o cérebro para estabelecer a base orgâ- nica do comportamento, hoje se sabe que a dor “social” NA ERA INDUSTRIAL descrita nas três situações acima é um impulso primá- rio. Isso significa que, contrariando a crença comum, o sofrimento por motivos emocionais acontece em regiões do cérebro similares às que processam a dor física e não deve ser desconsiderado. O cérebro humano é um órgão A reportagem é de Florencia Lafuente, colaboradora social e sua luta para atenuar o sofrimento emocional é de HSM MANAGEMENT. uma batalha pela sobrevivência. 62 HSMManagement 93 • julho-agosto 2012 hsmmanagement.com.br Dossiê NEUROBUSINESS Fotos: iStock/Divulgação Fotos: “Estudos do cérebro CÉREBRO sional é um sistema social. Da mesma forma que os pre- SOCIAL dadores estão programados para reagir diante da caça, o têm demonstrado que a Em menos de uma cérebro humano está conectado de modo a responder às crítica melhora o fluxo década, avanços tec- ameaças sociais como se sua existência dependesse disso. de ideias” nológicos como a Basicamente, para o cérebro não há diferença entre ser ressonância magné- condenado ao ostracismo e ter fome. Jonah Lehrer tica tiraram a neu- As pessoas não podem ser criativas, trabalhar em harmo- rociência dos limites nia com sua equipe ou tomar decisões acertadas quando seu do laboratório. As re- sistema de defesa está em alerta. Consideremos o seguinte centes descobertas sobre exemplo: para lidar com o estresse, o cérebro consome oxi- a flexibilidade do cérebro, gênio e glicose destinados à função da memória recente, que sua capacidade de criar no- processa novas informações e ideias. Tal procedimento re- vas conexões neurais em sulta em deterioração do pensamento analítico, diminuição qualquer idade, sua receptivi- da capacidade de resolver problemas e queda de criatividade. dade ao treinamento cogniti- “Qualquer mudança, por menor que seja, em como perce- vo e a confirmação de que a bemos uma situação ou realizamos uma tarefa tem efeitos conduta humana tem origem drásticos em nosso desempenho e bem-estar pessoal”, afir- fisiológica são revelações for- ma Susan Greenfield, especialista em fisiologia do cérebro e midáveis para o mundo dos professora de farmacologia sináptica da Oxford University negócios e, sobretudo, para a [veja quadro na página 65]. área de gestão. David Rock, cofundador e CEO do NeuroLeadership Ins- Sabemos que o trabalho é titute, iniciativa global que busca criar uma ciência para o uma transação econômica desenvolvimento de novos líderes, vai além: “No futuro, a —horas de dedicação em capacidade de colocar o cérebro social a serviço do desem- troca de salário—, mas para penho será um diferencial dos gestores”. [Veja entrevista com o cérebro o ambiente profis- David Rock na página 68.] HSMManagement 93 • julho-agosto 2012 hsmmanagement.com.br 63 Dossiê NEUROBUSINESS GLOSSÁRIO Interdisciplinar, a neurociência engloba, além da biologia, química, ciência da computação, engenharia, linguística, matemática, medicina, filosofia, física e psicologia. Muitas vezes, o termo é usado no plural, porque há as neurociências molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva. Neurocoaching Neuroeconomia Neuroliderança Neuromarketing Sua proposta é melhorar e Combina economia, biologia É um campo interdisciplinar Estuda como o cérebro res- ampliar as estratégias de e psicologia, entre outras da ciência que estuda a ponde aos anúncios publi- desenvolvimento. Indica disciplinas. Está centrada base neural da liderança e citários e à comunicação de quais as ferramentas e no estudo do comporta- das práticas de gerencia- marcas por intermédio da técnicas necessárias para mento, na confiança nas re- mento. Explora os proces- pesquisa da atividade cere- dominar e equilibrar as lações, na tomada de riscos sos do cérebro por trás das bral e corporal. Visa desco- emoções e estabelecer irracionais, na avaliação re- decisões, os comportamen- brir os desejos secretos do novas conexões neurais que lativa de custos e benefícios tos e as interações sociais consumidor para antecipar impulsionam pensamentos, de curto e longo prazos e na no trabalho e fora dele. seu comportamento. crenças e sentimentos. conduta altruísta. Seu objetivo é melhorar a eficiência dos líderes. NEUROMANAGEMENT OUTRO OLHAR Com o desenvolvimento da neurociência, os modelos e as As descobertas científicas sobre o funcionamento do cérebro fórmulas de gerenciamento construídos com base em teo- estão jogando por terra muitas das ideias de gerenciamento rias têm perdido espaço para os novos conhecimentos sur- concebidas nas últimas décadas. Um exemplo: os escritó- gidos de experiências científicas empíricas. Essas pesquisas rios divididos em baias, sem espaço privativo, favorecem a são interdisciplinares e envolvem psicologia, sociologia, eco- criatividade, certo? Não exatamente, segundo as pesquisas nomia, psiquiatria, bioquímica e filosofia. de especialistas. Hélio Schwartsman, filósofo brasileiro e co- Tais saberes formam a base do neuromanagement —e lunista do jornal Folha de S.Paulo, escreve em seu artigo “A suas subdivisões, como a neuroliderança, o neuromarke- mitologia das ideias” que a privacidade e o silêncio tornam ting e o neurocoaching [veja quadro acima]. Seu objetivo as pessoas mais produtivas. é explorar os mecanismos intelectuais e emocionais vin- Schwartsman apoia-se no estudo Coding War Games, li- culados à tomada de decisão e ao gerenciamento organi- derado pelos consultores Tom DeMarco e Timothy Lister, zacional para desenhar metodologias e ferramentas que, que compararam o trabalho de mais de 600 programado- por meio do desenvolvimento das capacidades cerebrais, res de computadores, de 92 companhias. A pesquisa des- melhorem a eficiência dos líderes e potencializem o de- cobriu que a enorme diferença no desempenho entre as sempenho das pessoas. melhores e as piores organizações não tinha relação com a O neuromanagement se popularizou nos últimos cinco experiência ou o salário de seus funcionários, e sim com a anos graças à redução dos custos das tecnologias de aná- privacidade que estes desfrutavam e a quantidade de vezes lises de imagens. O uso desses recursos permite a observa- em que eram interrompidos. ção direta da atividade cerebral e o entendimento completo Entre os programadores de melhor desempenho, 62% sobre como funciona o cérebro e qual é a participação das afirmaram que seu espaço de trabalho era suficientemente emoções no sucesso ou no fracasso dos indivíduos. E, dife- privado para se concentrar e criar com tranquilidade e ape- rentemente das tradicionais pesquisas de ciências sociais, a nas 38% disseram ser interrompidos com frequência. neurociência traz o rigor das ciências biológicas e exatas, o De outro lado, entre os programadores menos produ- que possibilita criar metodologias efetivas para a mudança. tivos, só 19% garantiram ter a privacidade necessária e 64 HSMManagement 92 • maio-junho 2012 hsmmanagement.com.br Dossiê NEUROBUSINESS O PRÓXIMO PASSO “Sabemos que o cérebro humano vai comparar e colocar os dados em pers- mudar, a pergunta é se para o bem ou pectiva são habilidades que se aprendem para o mal”, diz a reconhecida cientista interagindo com outros, lendo livros. O britânica Susan Greenfield, especializa- cérebro humano adapta-se ao ambiente; da em fisiologia do cérebro e professora se o ambiente indica que deve falar com de farmacologia sináptica da Oxford Uni- um computador, ele fará isso. versity, do Reino Unido. “As novas gera- ções estão se afastando da interação hu- 2. Assumir e gerenciar riscos. A cultu- mana, dos abraços, dos cheiros, e isso é ra da tela ensina que os atos não têm um exemplo do que será a vida no século consequências —tudo pode ser apa- 21. A cultura da tela de computador está gado ou revertido— e que recomeçar gerando uma mudança mental equipa- é algo natural. No mundo real, porém, rável à mudança climática.” as ações causam efeitos. Uma empre- A pesquisadora acha que as conse- sa quer que seus funcionários se arris- quências da cultura da tela serão senti- quem, mas com consciência. das em três aspectos principais: 3. Identidade, empatia e socialização. 1. Informação versus conhecimento. As Como a identidade das pessoas será cereais, calcei minhas meias”. Quem se pessoas detectarão padrões e processa- afetada pelo fato de a principal atividade importa? Parecem as crianças quando rão informação com rapidez. No entanto, de socialização acontecer nas redes so- dizem: “Olha, mamãe, olha o que eu informação não é conhecimento. Enten- ciais? Vejamos o caso do Twitter —e não consigo fazer”. Se a mamãe não olha, der conceitos e estabelecer relações, há aqui uma crítica à tecnologia, e sim elas não existem. Hoje, o sentido da a seu uso—, onde as pessoas escrevem identidade está dado pelo outro. Muito coisas como: “Olá, eu me levantei, comi Facebook e pouca interação. “Os melhores programas organizacionais podem ser uma ameaça se não 76% declararam ser Um exemplo célebre é o Building 20, um prédio do campus interrompidos com do Massachusetts Institute of Technology (MIT) construído considerarem as frequência.
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