Orquestra Barroca Casa Da Música

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Orquestra Barroca Casa da Música Rachel Podger violino e direcção musical Pedro Castro oboé 10 Out 2020 · 18:00 Sala Suggia MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA Maestrina Rachel Podger sobre o programa do concerto. VIMEO.COM/465326486 A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE Johann Sebastian Bach Ouverture [I] em Dó maior, BWV 1066 (c.1717-23; c.21min) Ouverture — Courante — Gavotte I & II — Forlane — Menuet I & II — Bourrée I & II — Passepied I & II Georg Philipp Telemann Sonata [a 5] em Fá menor, TWV 44:32 (c.1730?; c.7min) Adagio — Allegro — Largo — Presto Carl Philipp Emanuel Bach Sinfonia em Sol maior, Wq182/1 (1773; c.12min) Allegro di molto — Poco adagio — Presto PAUSA — Comentários ao programa por Fernando Miguel Jalôto Johann Sebastian Bach Ouverture [II] em Lá menor, BWV 1067[R] (1717-23; c.24min) Ouverture — Rondeau — Sarabande — Bourrée I & II — Polonaise: Moderato & Double — Menuet — Badinerie Georg Philipp Telemann Concerto em Si bemol maior, TWV 44:43 (antes de 1740; c.8min) Allegro — Largo — Allegro Johann Sebastian Bach Concerto em Dó menor, para oboé, violino, cordas e baixo contínuo, BWV 1060R (c.1717-23; c.15min) Allegro — Adagio — Allegro Nach Französischer Art alemães se haviam distinguido na compo- und nach Italienischem Gusto1 sição de obras ao gosto francês, nomeada- mente suites — normalmente destinadas a Na segunda metade do século XVII, a influên- instrumentos solistas (cravo, alaúde, violino, cia cultural que a corte francesa de Luís XIV viola da gamba) ou pequenos grupos instru- exerceu por toda a Europa, mas muito parti- mentais — e, sobretudo, Ouvertures. cularmente no Norte e Centro da Alemanha, A Ouverture orquestral, ainda que nascida foi avassaladora e incontornável. A grande em França, é um género específico (não sendo maioria das centenas de pequenas cortes uma mera ‘Abertura’ nem uma simples ‘Suite’) alemãs tinham em Versalhes a sua principal e exclusivamente germânico, enquanto forma referência e frequentemente afundavam-se orquestral independente. Os compositores na bancarrota ao tentarem emular os seus franceses dos séculos XVII e XVIII só rara- faustos opulentos. A alternativa à importação mente escreveram obras nesta forma. O que de França de arquitectos, decoradores, pinto- eles compuseram, começando por Jean- res, alfaiates, ourives e cozinheiros mas, claro, -Baptiste Lully, creditado como o seu ‘inven- também compositores, cantores, bailarinos, tor’, foram obras lírico-dramáticas (Ballets de instrumentistas e actores, era o envio de jovens Cour, Comédies-Ballet, Tragédies-Lyriques, talentos alemães para França, onde estudavam Comédies-Ballet, etc.) que incluíam, para além durante algum tempo de forma a aprimorarem da majestosa abertura inicial, várias danças a sua formação e poderem transplantar para interligadas com a acção ou meros diverti- os seus países de origem o bon-goût français. mentos. Algumas destas danças eram eminen- Mesmo nas cidades imperiais livres, que não temente teatrais (chaconne, passacaille, possuíam corte, como Hamburgo, Francoforte loure, entrée) e eram quase exclusivamente ou Leipzig, as modas francesas — e, muito dançadas no palco. Outras danças, como especificamente, a música francesa— torna- a courante e a sarabande, surgiram como ram-se muitíssimo populares, não só pelo inevi- danças de corte, integrando os bailes formais, tável contágio estético e social, motivado pela mas com o tempo foram tornando-se dema- tendencial imitação pela burguesia dos gostos siado codificadas, sendo relegadas também aristocráticos, mas também pela emigração para a cena. Finalmente, havia as danças da massiva de protestantes franceses que, após moda, mais actuais, menos estandardizadas, a Revogação do Édito de Nantes, assinada em e frequentemente também mais curtas, ligei- 1685, procuraram refúgio nas cidades alemãs. ras, e de origem popular: o menuet, a gavotte, 1685 é o ano de nascimento de J. S. Bach a bourrée, o amener, o rigaudon, o passepied, (1685-1750). Em 1717, quando se empregou a angloise, e mais tarde também a contre- na corte de Köthen ao serviço do príncipe danse, a musette, o tambourin. Estas danças, Leopoldo de Anhalt-Köthen (onde perma- conhecidas comummente na Alemanha como neceria até 1723), não só a música francesa Galanteries, eram usadas indistintamente no era já há muito conhecida, cultivada e apre- palco e no baile, e também as suas partituras ciada, como também vários compositores transitavam frequentemente de um meio para o outro. Devido à sua brevidade eram frequen- 1 Ao estilo francês e ao gosto italiano temente dançadas em pares, alternativement, e caracterizavam-se por ritmos e caracteres cultivada por toda a península itálica. Se nas muito precisos, que as tornavam facilmente outras regiões da Europa os estilos francês reconhecíveis e dançáveis por qualquer baila- e italiano eram considerados antagónicos e rino profissional ou cortesão experiente. As irreconciliáveis, dando origem a várias guerras coreografias de Beauchamp, Pierre Rameau, de panfletos, querelas ideológicas, e duelos Feuillet e Pécour dominaram toda a dança verbais (ou mesmo físicos) bem acintosos, europeia, conhecida então como Belle Dance. na Alemanha os compositores da geração de Os compositores alemães que haviam estu- J. S. Bach, como Keiser, Matheson, Graupner, dado em Paris, como Muffat ou Kusser, ou que Fasch, Händel e, sobretudo, Telemann, viram na cedo se familiarizaram com a música francesa, combinação dos dois estilos uma maior possi- como Fischer, começaram a compor para o bilidade criativa e a génese de um novo estilo. entretenimento dos seus patronos Ouvertures Este, considerado o ‘estilo alemão’, combinava que simulavam as peças equivalentes usadas a elegância, a leveza, a transparência e o ritmo em França como introdução das obras teatrais, vincado do estilo francês com a vivacidade, a seguidas de uma série das tais danças mais energia, o contraste e a paixão do estilo italiano. modernas, variadas e contrastantes, ocasional- Assim, não é de estranhar que nas Ouvertu- mente intercaladas com pièces de caractère, e res de Bach, em que o estilo francês é prepon- agrupadas na mesma tonalidade. Estas obras derante, se encontrem também várias marcas eram usadas indistintamente como música de do estilo italiano — nomeadamente na escrita baile, musique de table para acompanhar refei- concertante para um ou vários instrumentos ções, ou como mera música de entretenimento. solistas — e traços tipicamente germânicos — Gradualmente estas obras começaram a ser como o desenvolvimento dos breves fugatos também apreciadas como música ‘de concerto’ franceses em verdadeiras fugas de elaborado sendo executadas nas Academias (assim se contraponto, e a complexidade de texturas, chamavam os saraus musicais no período animadas por imitações, jogos motívicos, e Barroco) e, já no século XVIII, nas cidades mais subtilezas de harmonia e articulação, e que em burguesas, sob a forma de concertos públi- princípio deveriam ser alheias à simplicidade cos em cafés, pelo Collegium Musicum local quase inocente dos modelos franceses. As (orquestras formadas por uma variedade de quatro Ouvertures de Bach que sobrevivem são músicos amadores, profissionais e estudantes). um número insignificante, comparado com as Só que nesta altura já outra moda havia 135 de Telemann, as 100 de Fasch e as 85 de entretanto espalhado a sua influência pelo Graupner. Terão sido compostas nos anos de Norte da Alemanha: a da música italiana! Os Köthen, mas reutilizadas em Leipzig, quando músicos alemães cedo se renderam às novas o compositor tinha a seu cargo o Collegium formas e aos estilos musicais vindos do Sul: Musicum da cidade, fundado alguns anos antes o concerto grosso da tradição bolonhesa por Telemann. Foram então consideravelmente e romana, tipificado sobretudo por Corelli; revistas e re-instrumentadas para apresenta- o concerto-ritornelo para solista, ao gosto ção no Café Zimmermann ou no contexto das veneziano, codificado e divulgado por Vivaldi; serenatas oferecidas ao eleitor e rei da Polónia, e, finalmente, a sinfonia ou abertura de ópera bem como a outras grandes entidades, quando italiana, com origem provável em Nápoles, mas de visitas cerimoniais à cidade. A Ouverture BWV 1066 distingue-se pela a sarabande regressa à complexidade poli- complexa escrita concertante para o trio de fónica típica de Bach, ao ser escrita como um sopros (também ele uma herança francesa) e rigoroso cânone à quinta inferior (in diapente) pela inclusão de uma courante que, como se entre a melodia e o baixo. O título da popular viu, era à época uma dança já fora de moda. badinerie é uma derivação do verbo francês Contrasta com uma muito moderna forlane, badiner (brincar, gracejar, troçar), indicando uma dança não francesa mas sim vene- um andamento ligeiro com um carácter diver- ziana (furlana) e popularizada em França tido, mesmo humorístico. Trata-se pois não de por Campra, que a incluiu nos seus grandes uma dança mas de uma pièce de caractère de êxitos líricos L’Europe Galante e Le Carnival gosto bem francês. de Venise. Também o passepied foi uma das danças predilectas da nova geração de compo- A Sonata a 5 de Telemann (1681­‑1767) é uma sitores franceses pós-Lully, mas a requintada obra de música de câmara, destinada a ser invenção de escrever o segundo passepied interpretada por apenas um instrumento em como um double ornamentado do primeiro, cada parte, a que se soma o baixo contínuo. ouvindo-se as duas melodias sobrepostas, A fonte principal sobrevivente é uma cópia é uma complexidade de contraponto que só efectuada por Graupner,

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