Alexsandro dos Anjos; Zilda Mara Consalter GT 1 – RELAÇÕES PRIVADAS FAMILIARES ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DA EFETIVIDADE DA GARANTIA DA INTIMIDADE NOS CASOS DE REVENGE PORN CRITICAL ANALYSIS OF THE EFFECTIVENESS ON GUARANTEE OF PRIVACY RIGHT IN REVENGE PORN CASES Alexsandro dos Anjos1 Zilda Mara Consalter2 RESUMO: Aborda a revenge porn sob as perspectivas sociais atuais, com enfoque nas garantias dos direitos violados. Busca entender alguns aspectos da revenge porn, tais como o conceito e sua configuração, e como obter a real garantia de direitos envolvidos nos casos de exposição desautorizada de imagens íntimas. Utiliza o método dedutivo de abordagem e técnicas de pesquisa indireta (notadamente a bibliográfica e documental). Como resultados parciais, pode-se verificar que apesar de a revenge porn possuir, mesmo que indiretamente, previsão legal e, de certa forma, até mesmo apreciação jurisprudencial, a efetiva proteção demonstra-se difícil dada a complexidade e abrangência do meio pelo qual se perpetra, restando o âmbito da compensação dos danos, na forma monetária, e a remoção do conteúdo não apropriado, como formas garantir minimamente o direito fundamental à intimidade do indivíduo. Palavras-chave: Revenge porn; Garanita de direitos fundamentais; Compensação dos danos; Remoção de conteúdo inapropriado. ABSTRACT: It makes an approach on revenge porn under the current social perspectives, focusing on the guarantees of rights violated. It seeks to understand some aspects of revenge porn, such as the concept and its configuration, and how to get the real guarantee of rights involved in cases of unauthorized exposure of intimate images. It applies the deductive method of approach and indirect research techniques (notably bibliographical and documentary). As partial results, it can be 1 Graduando em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - Paraná, Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Direito pela Universidade de São Paulo – Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]. 20 ANAIS XIII SIMPÓSIO NACIONAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 6 ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DA EFETIVIDADE DA GARANTIA DA INTIMIDADE NOS CASOS DE REVENGE PORN verified that although revenge porn possesses - even indirectly - legal prediction and, to a certain extent, also jurisprudential appraisal, effective protection is difficult related to complexity and range of the media by which is perpetrated, just remaining compensation for damages in the monetary form, and remove inappropriate content as pathways to ensure minimal right to privacy. Key-words: Revenge porn; Guarantee of rights; Compensation for damages; Removal of inappropriate content. Sumário: 1. Introdução; 2. Revenge Porn: O que é e como surgiu? 2.1. O que configura juridicamente a revenge porn? 2.2. Alguns dados estatísticos; 2.3. A revenge porn como uma forma de violação dos direitos fundamentais e da personalidade; 3. Legislação; 3.1. O tratamento pelo Direito estrangeiro; 3.2. Garantias constitucionais contra a revenge porn; 3.3. Revenge porn como crime; 3.4. Legislação civil e a revenge porn; 3.5. O Marco Civil da Internet; 4. Da repação; 4.1. Direito ao esquecimento; 5. Caso concreto: STJ. ARESP n.º 1.118.608/MG. 6. Considerações Finais; 7. Referências 1. INTRODUÇÃO É inegável o grande avanço da internet nos dias atuais, além das infinitas possibilidades que a envolvem em seus diversos ramos. Uma das áreas que sofrem mais os reflexos da expansão da world wide web é o das relações sociais. Isso porque relacionamentos entre pessoas agora adquiriram características únicas devido às novas tecnologias. Contudo, nem sempre a evolução traz pontos positivos. Nessa linha, Eric Schmidt considera que a internet é a “primeira invenção que a humanidade criou e não entende, a maior experiência de anarquia que jamais tivemos” (SCHIMIDT apud CORRÊA, 2000, p.7). E indo adiante quanto a questão da mudança comportamental, Zygmunt Bauman entende que a lógica da atualidade é a que se refere à maior visibilidade possível, pois, segundo ele, é como se a existência só tornasse realmente significativa quando exposta, e, desta forma, as pessoas estariam renunciando a sua privacidade. (BAUMAN, 2012, p. 20-48). Assim, uma das consequências dessas novas possibilidades é a exposição exacerbada, inclusive dentro dos relacionamentos, o que, muitas vezes, acaba por expor a privacidade e/ou a 20 ANAIS XIII SIMPÓSIO NACIONAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 7 Alexsandro dos Anjos; Zilda Mara Consalter intimidade dos indivíduos, fato que pode vir a gerar consequências negativas a estes. Em que pese a grande exposição e a falta de privacidade/intimidade possam não ser um problema para todos (alguns até buscam isso), existem, ainda, situações que podem decorrer dessa prática em se expor, a qual, às vezes, podem violar uma diversa gama de direitos da pessoa, tais como direitos humanos, fundamentais e da personalidade. Dentre essas situações, alguns dos direitos comumente violados são o direito à intimidade e o direito à privacidade. Uma hipótese razoavelmente comum em que ocorrem tais violações são nos casos de revenge porn, conduta pela qual se viola ambos os direitos e, em alguns casos, acarretam diversas outras aflições para a vítima, que, na maioria das vezes, é mulher. (PORTAL BRASIL, 2018). Assim considerado o estado d’arte, neste texto se busca – mediante abordagem dedutiva - entender os casos de revenge porn sob as mais diversas perspectivas e aspectos, tais como as situações em que ocorrem, quais as consequências jurídicas, o tratamento legislativo, a reparação e, principalmente, como buscar a efetiva garantia do fundamental direito à intimidade da pessoa vitimizada por esta prática. 2. REVENGE PORN: O QUE É E COMO SURGIU? A expressão inglesa revenge porn3 não comporta uma boa tradução para o vernáculo, mas pode ser entendida como “vingança por meio da pornografia” ou ainda “pornografia de revanche”, querendo referir-se à prática pela qual o ex- parceiro de uma determinada pessoa torna pública, por meio da internet, imagens íntimas de seu antigo companheiro após o término do relacionamento, apenas como um meio de vingança por determinado motivo. (CONSALTER, 2017, p.327). 3 a prática também pode ser conhecida por outra expressão inglesa: nonconsensual porn. No entanto, nesse texto optou-se por usar apenas a mais conhecida e popularizada. (n. Dos aa.). 20 ANAIS XIII SIMPÓSIO NACIONAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 8 ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DA EFETIVIDADE DA GARANTIA DA INTIMIDADE NOS CASOS DE REVENGE PORN Glaydson de Farias Lima (2016, p. 119) acrescenta, ainda, que o termo “[...] representa a ação de disponibilizar material de ato sexual realizado por casal, por meio de sua divulgação na internet, por uma das partes, sem o consentimento do parceiro”, além disso, acrescenta ainda que “normalmente, um homem divulga um vídeo ou fotografias de uma relação sexual para se vingar da parceira ou para, ‘simplesmente’, vangloriar-se de sua conquista”. Indispensável ressaltar, também, que, conforme demonstra Vitória de Macedo Buzzi (2015, p.11), na pornografia de vingança não se trata apenas de fotos ou vídeos, mas também de áudios, montagens ou “qualquer material sexualmente gráfico, íntimo e privado de uma pessoa”. Originada pela fácil propagação de informações pelos meios virtuais, a expressão revenge porn é um termo novo, cujo conhecimento e compreensão vêm ocorrendo ao longo dos últimos anos. (MACEDO, 2017, p. 13). Em que pese o termo seja até certo ponto desconhecido pelo ordenamento jurídico brasileiro, as práticas de exposição sem aquiescência do indivíduo não são recentes pelo mundo. Em meados de 1980 a revista masculina estadunidense Hustler pediu aos seus leitores que enviassem fotos íntimas de suas respectivas consortes para serem publicadas. A diretora de serviços a vítimas da ONG Cyber Civil Rights Initiative, Annmarie Chiarini (2018), considera esse o primeiro episódio relevante na história do fenômeno. A propagação, além de fácil, é muitas vezes, ainda, impulsionada por outros meios, como, por exemplo, sites próprios para divulgação não consensual de 20 ANAIS XIII SIMPÓSIO NACIONAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 Alexsandro dos Anjos; Zilda Mara Consalter material sexual, tal como o UGotPosted4 ou, ainda, diversos outros sites nacionais com o título “caiu na net”. (MACEDO, 2017, p. 14). Esses sites, aliados a outros meios de comunicação que impulsionam a revenge porn, começaram a se popularizar de maneira bastante crescente, consoante demonstra Veridiana Bueno Macedo, ao citar Tsoulis-Reay (2018, p. 15): “nos anos 2000, o italiano Sergio Messina identificou que o gênero realcore pornography, consistia em postar fotos e vídeos não consensuais de ex-namoradas na Usenet 5 [...]”. Em 2008, o site de conteúdo pornográfico XTube recebeu diversas queixas semanais sobre a prática da revenge porn, e com a sua popularização, diversos outros sites também começaram a publicar vídeos com essa “temática”, com o simples intuito de aumentar seus acessos.(NYMAG, 2018). No Brasil, um dos primeiros casos a atrair atenção foi o da jornalista Rose Leonel, ocorrido ainda em 2005. (USENET, 2018). Desde aquele ano, o número de incidências de revenge porn e a exposição inapropriada e desautorizada de conteúdo sexual, no geral, só cresceu, tornando-se, até mesmo, comum, especialmente entre as pessoas mais famosas. Nessa linha, estudos feitos pelo Data & Society Research Institute, apontam que “um em cada 25 norte-americanos já foi vítima de ‘revenge porn’ e que este fenómeno (sic)
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