Press Review Page

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Desde que vive em Israel, há 37 anos, que acompanhou vários conflitos armados no Médio Oriente. A operação "Pilar Defensi- vo", iniciada pelas forças militares do país no passado dia 14, é para si apenas mais um conflito ou tem algo de diferente em relação aos anteriores? É dferente. Esta é a primeira vez, depois de 1991, que vejo cair mísseis ao lado da minha casa. Passou-se reaLmente muito tempo des- de que isto tinha acontecido, durante a guerra do Golfo, e esta é uma grande diferença. A mi- nha casa está na zona de Telavive e era um lu- gar seguro. Eu ia à guerra e voltava, e via o meu apartamento no Norte de Telavive como o meu refúgio. Neste momento sinto que o invadiram. Invadiram a minha casa, os meus filhos, a mi- nha muLher, a minha mãe, que veio viver para Is- rael há ano e meio. Ela tem 87 anos e dá consi- go a ouvir as sirenes de aLerta de míssil. E a primeira vez que a sua mãe presencia um cenário assim? ELa viveu a Guerra Civil Espanhola. Na altura ti- nha 11 anos, era muito pequenina, e isso trau- 'UÁ FUI matzou-a. Já em Israel, a de ferro, PRESSIONADO, aqui cúpula equipamento que interceta os rockets Lançados pelo Hamas desde a Faixa de Gaza, está situa- da muito perto da casa deLa em TeLavive. ELa CLARO, MAS ouve as explosões e os estrondos ainda com mais força do que eu... Bom. são situações bas- tante desagradáveis. Como é hoje o dia a dia em Israel? NUNCA PUSERAM O dia a dia? É a rotina do medo. Dou-Lhe um exemplo concreto. Ainda no outro dia, antes de ir trabalhar, fui à rua passear a minha cadela - coitada, ela está o dia todo fechada, porque es- EM DÚVIDA A MINHA tamos a trabalhar de manhã à noite, por vezes 20 horas seguidas - e nessa aLtura começou a soar a sirene [que avisa o lançamento de um Eu à míssil] . olhei para as pessoas minha volta HONESTIDADE e só vi impotência. A sensação de "o que faço agora? Para onde vou?". As pessoas sabem que têm 90 segundos para se recolher, que passa- do esse tempo vai acontecer uma grande ex- Vi a cadela a correr e eu Judeu e natural do Porto, mas não sabemos onde ele caiu. Pode ter plosão. que começou cair] , próprio corri atrás dela... Acho que bati o recor- Cymerman deixou-se sido na sala da nossa casa ou do outro Lado da de dos 100 metros (risos). cidade, ou a cinco ou dez quilómetros. Ninguém Recolheu-se? influenciar pela história de sabe o que vai encontrar quando sai para a rua. Sim, consegui entrar nas escadas da minha Israel e pela da sua família. São situações difíceis, mas o que acho que é im- casa que, aLém dos quartos completamente portante é que em Israel há uma população ci- vedados que alguns prédios têm, são os locais Tinha 16 anos quando partiu vil que vive esta situação desde o ano 2000 con- mais seguros. Já Lá estava a minha muLher sozinho à descoberta da tinuamente e isso é aLgo que a imprensa inter- [Yael Kehat] e, de repente, reparo num turista nacional não refletiu com força suficiente. belga, que estava na rua e entrou nas escadas Terra Prometida. Hoje, é o Fala de quem vive em Israel. E quem vive na comigo, duas crianças que iam para a escola e mais premiado jornalista Faixa de Gaza? uma adolescente, que entraram na primeira Em Gaza vive-se também uma situação muito porta que se abriu. Tivemos 90 segundos com luso. Se em Portugal a sua dura, a popuLação também sofre continua- pessoas que não conhecíamos e que não nos vida é sinónimo de sucesso, mente, mas não é a mesma coisa. Durante épo- conheciam a tentar explicar-Lhes o que se es- cas bastante longas, nos úLtimos quatro anos, tava a passar e a acalmá-las. em Israel o seu êxito anda eles não tiveram nenhum tipo de incidente no Ao final destes anos a viver em esses dia dia, no Sul de Israel Israel, de mãos dadas com o perigo. seu a enquanto era con- 90 segundos ainda lhe parecem Longos? tínuo. Os rockets cairão gota a gota. É verdade Muito Longos mesmo. Só sabemos que acaba- u Ana Filipe Silveira que não provocaram muitas vítimas, mas... te- ram quando ouvimos o estrondo [do míssil a nho um amigo que perdeu a filha porque um roc/cetlhe caiu na cabeça. Era fiLha de um bra- Acho que se considerava que os rockets envia- sam ter passado mísseis químicos, o que pode- sileiro, o Nathan. ELa estava cansada dos dos da Faixa de Gaza para Israel eram primiti- rá ser extremamente grave. Esses mísseis rockets e foi viver com o namorado para uma vos. Ao princípio eram construídos em Gaza, os eram primitivos, mas daíà imprensa não expli- moshav [comunidade rural] mais longe da chamados Kasam, e faziam realmente parte de car um fenómeno que paralisa a vida de toda fronteira. Pensava que estaria mais segura e é uma indústria muito básica e rudimentar, mas uma região é um erro. Não houve um número verdade que o LocaL para onde foi é uma zona pa- depois começaram a chegar do Irão. Mesmo muito grande de vítimas, mas foi o suficiente pa- cífica... Chamava-se Dana... Ela saiu de casa pa- agora acho que há mísseis que continuam a en- ra traumatizar uma geração de jovens que c res- ra um jardim e, de repente, caiu-Lhe um míssil trare há até suspeitas de que ultimamente pos- ce a pensar nos nomes dos mísseis e no seu aL- em cima. Ao namorado, que estava a cinco me- cance, em vez pensar na música e nas coisas tí- tros, não lhe aconteceu nada (suspiro). É dramá- picas da adolescência. E faLo de uma geração tico, mas é assim a vida. 0 que espero é que o dos dois lados da fronteira, que está a crescer resultado desta guerra seja uma trégua real, com muitos traumas de guerra. que ponha fim a estes ataques. Nenhum país São duas gerações que se cruzam? Não ha- pode suportar viver assim anos atrás de anos. vendo judeus na Faixa de Gaza, como é a re- E espero também que os palestinianos em Gaza lação entre as duas populações? recuperem essa paz e que não haja mais ata- Não há judeus em Gaza há desde 2D05. Nesse ques israelitas de represália contra eles. ano, o governo de Israel decidiu retirar-se e des- Porque diz que a imprensa internacional mantelar os 21 coLonatos judaicos que aí havia não refletiu com força suficiente a realida- e onde vivam cerca de nove mil pessoas. Foi de em Israel? uma decisão política muito importante e isso é < uma das coisas que os israelitas pensam ser das mais absurdas. ELes dizem: "Retirámo-nos de Gaza e a resposta que tivemos é a continua- ção de mísseis, por isso, para que serviu a reti- rada?" Já os palestinianos dizem que Israelse retirou mas que continua a controlar as fron- teiras, o que também está certo. Isto é um cír- cuLo vicioso, porque Israel controLa as fronteiras p_ara que não entrem armas. É um círculo vicioso quebrável? Com um acordo que ponha fim ao bloqueio de IsraeL e que assegure que não entrem mísseis dentro de Gaza. 0 Irão tenta permanentemen- te introduzir mísseis em Gaza e tenta compli- car a situação. Acho que neste momento, se se conseguir a trégua nas próximas horas, co- mo penso que acontecerá - seja antes ou de- pois de uma invasão israelita -, e essa trégua for anunciada peLo novo presidente do Egito [Mohammed Mursi], haverá uma mudança estratégica importante: em vez da influência do Irão dos últimos anos, vamos ver uma in- fluência maior do Egito, do Qatar e da Turquia, de aLguma maneira em coordenação com o Presidente Barack Obama, o que mudará a situação no terreno. Em relação a Barack Obama, ainda esta se- mana o comentador da SIC Miguel Sousa Tavares disse, e passo a citar: "Acho uma coincidência que assim que Barack Obama foi reeleito, e não é segredo nenhum que Is- rael apostava tudo em Mitt Romney e não nele, haja um conflito no Médio Oriente pa- ra testar até onde vai a vontade de proteção de Israel por parte do Presidente norte- -americano." O que aconteceu não foi IsraeL não apoiar Oba- ma, Quem não o apoiou foi o primeiro-mínistro Benjamín Netanyahu, que é um homem muito próximo dos repubLicanos norte-americanos. Ele era amigo de Romney, trabalhou com ele nos EUA, onde viveu durante muitos anos. Apesar disso, Obama tem sido extremamente correto com Netanyahu e com IsraeL, ao reco- nhecer o direito do país à autodefesa. Nos úLti- mos dias, disse várias vezes que Israel, como qualquer país soberano, não pode permitir que o ataquem com mísseis e que é normal que rea- ja. Mas também é normal que eLe esteja a ten- tar impedir uma invasão. Não o faz peLa força, não o faz pressionando, mas tentando um acordo que permita que IsraeL não invada Gaza. ELe sabe que quando começa uma guerra des- te tipo nunca se sabe como vai acabar. ca, isLamita, de uma ditadura feroz, que perse- Acredita que esse canto do mundo vai con- gue homossexuais e reLega as mulheres para seguir ter paz um dia ou esta é uma guerra segundo plano. Esta é uma civiLização totaL- perdida? mente diferente e que não está disposta, até Acho que terá, mas há que resolver uma série agora, a reconhecer o Estado de direito do povo de probLemas.

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