A Origem De Paripiranga Nas Memórias Paroquiais De (1840-1900)

A Origem De Paripiranga Nas Memórias Paroquiais De (1840-1900)

SOB O SIGNO DA CRUZ, A MALHADA VERMELHA FLORESCE: A origem de Paripiranga nas memórias paroquiais de (1840-1900) Ana Maria Ferreira de Oliveira Profª. Msc. Maria Nely dos Santos* Prof. Msc. Uilder do Espírito Santo Celestino** Introdução O estudo consiste no resgate das memórias paroquiais através dos manuscritos dos Livros do Tombo e de outros documentos que remontam participação da igreja católica na formação territorial e sociocultural de Paripiranga na Bahia; entre 1840-1900. Considera-se aqui, a necessidade de entendimento dos processos históricos que condicionaram o surgimento da povoação; tendo ano de 1840, como marco inicial por anteceder à construção Professor Marcionillo – Fonte: Acervo da Capela de Nossa Senhora do Patrocínio; o que veio a ocorrer em meados de 1846. Pessoal O estudo das memórias paroquiais registradas nos LT bem como de outros documentos de registro interno, possibilita o contato com uma gama de informações acerca dos processos administrativos e socioculturais que conduziram o povoamento e formação de Arraiais e Vilas no sertão da Bahia. Em Paripiranga, a forte influência da Igreja Católica na vida social e cultural dos habitantes, resiste às complexidades inerentes ao tempo presente; como um forte indício da atuação decisiva da Igreja na formação do Arraial de Malhada Vermelha1, que deu origem à cidade. A pesquisa documental volta-se para a coleta e a análise de fontes escritas, e atenta-se para a diversidade de registros manuscritos e impressos. A riqueza de detalhes, o capricho nos registros; a “voz” e a letra do pároco estão compaginadas, em referências diretas e indiretas, a respostas e sentimentos da comunidade no seu conjunto. Elas volvem-se, deste modo, a apresentação das comunidades por si próprias; fundindo os sentimentos e as referências comunitárias. O confronto das fontes conduziram á observação dos aspectos históricos que envolvem povoamento e organização territorial de Paripiranga no Período Imperial. O processo de ocupação do sertão baiano e a formação de Paripiranga O historiador Cândido da Costa e Silva em sua obra Roteiro de Vida e Morte, que consiste em um estudo sobre o a expansão do catolicismo no sertão baiano; atesta que o povoamento de Malhada Vermelha teve início em meados do XVII, por conta da expansão dos pastos para criação de gado e concessão de sesmarias. Porém, nessa região do Vaza- Barris o processo de exploração das terras sofreu alterações em decorrência dos aspectos geográficos2 e das ações da igreja católica: A partir da trilha do gado, o rio se foi tomando uma risca por entre as sesmarias, margeantes, desdobradas através de seus tributários de que o rio do peixe é a expressão maior. Em começos do século XVII, alguns já obtinham alvará de sesmarias, em que se pese quase nunca corresponder ao título de posse uma presença desbravadora, o que se inclui, entre outros, o ato de 20 de agosto de 1733, em que o Conde de Sabugosa transfere para Mathias Curvelo de Mendonça, morador da Capitania de Sergipe, a posse da “sesmaria de Legoa e meyo de terra pelo Ryo salgado de vaza-barris a sima de comprido, e 1 delargo, P.ª Sertam, thé abara da Tábua, cujas sehavião dado no ano de 1609 a Bento da Costa machado”. O primeiro agraciado lá não foi; é verdade, porém as terras de Paripiranga àquela altura, já não se perdem por desconhecidas, de vez que alcançadas nessas demarcações3. A evolução histórica de Paripiranga ocorre em vários períodos. O primeiro período compreende a chegada dos índios primeiros habitantes da região, sendo eles os Índios Tapuias, fundando nas Matas, o Aldeamento da “Cerca Verde”. O segundo compreende a penetração dos colonos, com a distribuição de Sesmarias. Ainda são muito escassas as informações acerca dos povos que habitaram Paripiranga antes da chegada dos senhores de terras. Nos registros paroquiais existem apenas menções á sua existência, e a relação conflituosa com os posseiros. Em 1982, Cândido da Costa e Silva relata dificuldade em encontrar fontes mis precisas acerca da dos índios que habitaram Paripiranga até meados do século XVIII: É bem provável que na fase de ocupação do espaço pela pecuária, os Kiriri do Coité se tenham refugiado em seus brejos de altitude, ou melhor, no sítio onde hoje está concentrando o seu núcleo urbano. Atestam as urnas funerárias (porrões de barro contendo ossos, colares de dentes e artefatos plumários), indiscutíveis vestígios de sua cultura, extraídos do ventre da terra ainda em 1972, por tratores que executavam trabalhos de terra planagem em área do antigo Engenho Coité. Daí são expulsos pela frente agrícola humanamente mais compacta que se desdobra como momento segundo e mais agressivo do povoamento, porque com propósitos mais definidos de se fixar4. A narrativa de João Batista de Souza, habitante de Paripiranga no final do século XIX; publicada no semanário O Ideal em 1953; confirma o que nos diz o autor, ao tratar de suas memórias de juventude no final do século XIX, e transcrever o depoimento de uma das mulheres que compunham a expedição de exploração e povoamento das terras que hoje correspondem ao município de Paripiranga: [...] Mas na minha verde idade, conheci uma centenária, ascendente da família Dória, que com 116 anos de idade naquela época, contava ter sido uma das que primeiro pisaram terras de Paripiranga, na companhia do capitão encarregado de perseguir e expulsar, como o fês com os índios selvagens do lugar. Começando logo que chegou, a construção de um barracão, onde todos ficaram alojados. Dizia: - Eu tinha apenas 16 anos de idade, na época. Tudo aqui era mata. Apenas habitada pelos bugres. Não longe do nosso acampamento, foi encontrada uma lagoa oculta no meio da mata. É a atual “Lagoa Escondida [...]5. Pela narrativa acima exposta, Paripiranga teve seus primeiros habitantes naquele destacamento, isto é, em fins do século XVIII, em 1795, ou 1796. Chamou-se a princípio, “Malhada Vermelha” e pertencia ao município de Itapicuru. No final do século XVII e início do XVIII, já começa a organização de alguns sítios e fazendas de gado, espalhadas das Matas do Coité6 para o sertão. Como a fama da fertilidade das terras da região logo se espalhou, a cada ano, chegavam colonos dos mais diversos cantos da Bahia, de Alagoas, e de Sergipe. No mesmo período, surgia à beira da Estrada Real7, entre as Matas do Coité e da Moita, achava-se um homem chamado Simão Dias, que em pouco tempo se destacava como criador, produtor e comerciante. Aos poucos, surge á beira da venda do Simão Dias, uma feirinha; amplamente frequentada pela população vizinha, composta por empregados, roceiros, vaqueiros e descendentes de Manoel de Carvalho Carregosa; todos já ali domiciliados com suas famílias e bens; além dos passageiros em busca de descanso e de mantimentos que suprissem as principais necessidades nas longas viagens. Já estabelecido com o seu Engenho Santa Cruz, José Vitorino de Meneses vê o fruto de o seu trabalho brotar nas Matas do Coité. Mais ao norte, logo surge o Engenho Coité de Joaquim José de Carvalho, sobrinho de Manoel de Carvalho Carregosa. Assim, o “Ciclo da cana-de-açúcar”; chegou ás matas de Simão Dias e do Coité, pelas mãos dos Carvalho e dos Menezes que investiram nas “fábricas”, composta pelo uso de tração animal; tendo como instrumentos de trabalho apenas machado e o carro de boi; onde o serviço era todo ele artesanal, desde a derrubada das matas virgens até a edificação das casas de engenho, com sua complexa e rudimentar estrutura. Tudo isso em locais mais distantes da costa. O bom desempenho dos engenhos Santa Cruz e Coité atraíram a vinda de maior número de colonos e a organização de vários sítios e fazendas e com a fundação de mais um Engenho; dos Fraga Pimentel. Até que já no final do século XVII um pequeno povoado começa a surgir nas imediações do riacho e do Engenho Coité; à sombra de uma planta de mesmo nome. Silva (1982) destaca as forças do individualismo agrário como fator que concorre para a mais forte apropriação privada da terra, dos recursos e da renda agrícola. É um envolvimento e concorrência vinda do capitalismo comercial e da sociedade rentista que com o forte apoio das câmaras dos concelhos põe em causa esta sociedade e economia agrária, tradicional, de forte base social – comunitária. E sofre também a forte concorrência da organização eclesiástico-paroquial, que na freguesia e igreja matriz quer concentrar o essencial do funcionamento da vida social-paroquial à volta da igreja e do pároco. Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio: a igreja como centro da vida cultural e instrumento de construção de identidade ARRAES (2012) trata da urbanização do sertão nordestino entre os séculos XVII e XIX, vinculando-a ao que chamou de Curral de Reses; onde tece as questões que envolvem o fenômeno urbano no interior do nordeste açucareiro, no que tange à atuação pecuária extensiva no processo de povoamento, garantia da posse da terra e desenvolvimento de aglomerados urbanos que foram se formando ao longo dos caminhos abertos pela pastagem do gado. Com o passar do tempo, as essas trilhas são usadas pelas autoridades coloniais e clericais para erguer aldeamentos missioneiros; que na visão do autor, corresponde aos Currais de almas. Visando o bem material e espiritual da Igreja e da Ordem de Cristo e a conversão dos nativos. Curral de almas busca esclarecer a ação da Igreja Católica, unida ao Estado português, no que cerce a fixação e congregação tanto dos índios que habitavam a região, quanto dos sertanejos nômades, em busca do melhor lugar para assentar moradia. O Engenho de Coité ficava bem próximo da linha divisória, em redor dessa pequena povoação a circulação de pessoas e mercadorias ente Coité e Matas de Simão Dias era intensa; tanto que os fiéis de Coité frequentavam a igreja de Snt’Ana, e nela cumpriam todos os sacramentos da fé católica, por não haver ainda tempo religioso erigido no lugar, e por ser esta, a igreja mais próxima.

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