Ano 23 • N° 7 Edição especial ISSN 2238-6807 janeiro/dezembro 2015 Senac Ambiental E vimos um mundo doente A influência do aquecimento global na ocorrência de epidemias Em risco Populações tradicionais de MG têm sobrevivência ameaçada Ano 23 N. 7 • 2015 Ano N. 23 Musa Um “museu vivo” no coração da Amazônia Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial Departamento Nacional Av. Ayrton Senna, 5.555, Barra da Tijuca Rio de Janeiro - RJ - Brasil - 22775-004 www.senac.br Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos Presidente Departamento Nacional Sidney Cunha Diretor-geral A revista Senac Ambiental é uma publicação semestral produzida pelo Gerência de Marketing e Comunicação do Senac Nacional. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Sua reprodução em qualquer outro veículo de comunicação só deve ser feita após consulta aos editores. Contato: [email protected] EXPEDIENTE Editor Fausto Rêgo Colaboraram nesta edição Cristina Ávila, Elis Monteiro, Flavia Leiroz, Francisco Luiz Noel, João Roberto Ripper e Lena Trindade Editoração Gerência de Marketing e Comunicação Projeto gráfico e diagramação Cynthia Carvalho Produção gráfica Sandra Amaral Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Senac ambiental / Senac, Departamento Nacional. – n. 1 (1992)- . – Rio de Janeiro : Senac/Departamento Nacional/Gerência de Marketing e Comunicação, 1992- . v. : il. color ; 26 cm. Semestral. Absorveu: Senac e educação ambiental. ISSN 2238-6807. 1. Educação ambiental – Periódicos. 2. Ecologia – Periódicos. 3. Meio ambiente – Periódicos. I. Senac. Departamento Nacional. CDD 574.505 Ficha elaborada pela Gerência de Documentação do Senac/DN. EDITORIAL Emergência Temos visto uma série de epidemias nos últimos anos. E o surgimento de vírus desconhecidos, que mobilizam a população e provocam medo. Nesta edição você fica sabendo como as mudanças climáticas podem contribuir decisivamente para a emergência dessas enfermidades e para o retorno de moléstias que pareciam extintas. Falamos também sobre o dia a dia de comunidades tradicionais como os kalungas, em Goiás, e os geraizeiros, no Cerrado mineiro. Realizada antes do rompimento da barragem da Samarco no município de Mariana, a reportagem já abordava o tenso relacionamento entre os moradores e as mineradoras. Na Entrevista, conversamos com a antropóloga Lucia Helena Rangel a respeito das violências cometidas contra os povos indígenas. E trazemos ainda um olhar sobre as plataformas virtuais de mobilização que vêm sendo usadas em nome da sustentabilidade. Boa leitura! JANEIRO/DEZEMBRO 2015 3 SUMÁRIO 6 16 Capa Nova Economia Chapa quente Capitalismo das multidões A influência das mudanças O poder da mobilização virtual climáticas na emergência de para a ação solidária e a epidemias e na reemergência de sustentabilidade. antigas doenças. SUMÁRIO 22 50 Educação Ambiental Populações Tradicionais Musa que inspira a vida Sob as ordens da natureza A ousadia de manter um Como vivem os kalungas, “museu vivo” no coração da descendentes de escravos que Floresta Amazônica. permaneceram isolados até recentemente. 56 30 Conservação Desenvolvimento Sustentável Resistência ambiental Em risco, a sobrevivência No Rio de Janeiro, um paraíso dos geraizeiros ecológico sobrevive em meio a uma variedade de ameaças. O povo das Gerais encurralado por empreendimentos e restrições ambientais. 66 Entrevista Pelo direito de existir Conversamos com Lucia Helena 48 Rangel, coordenadora de um Notas relatório sobre a violência contra os povos indígenas. 78 Estante Ambiental CAPA Chapa quente Mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global têm papel decisivo no aparecimento de epidemias e na reincidência de antigas doenças Flávia Leiroz e Fausto Rêgo O maior estado da federação enfren- tou, no verão passado, um impres- sionante surto de dengue. No fim de março, de acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrava 460,5 mil casos de dengue (220 notifica- ções por hora) – mais da metade em São Paulo, onde, até então, haviam ocorrido três de cada quatro mortes provocadas pela doença em 2015. No estado do Rio de Janeiro, por sua vez, já haviam sido notificados qua- se 53 mil casos até o mês de agosto (729% a mais do que no mesmo pe- ríodo de 2014). Enredo semelhante já foi protagoni- zado por moléstias como cólera, há alguns anos, e chikungunya, mais recentemente. Existem muitas ex- plicações para que enfermidades como essas tenham se manifestado em forma de surtos epidêmicos nos últimos tempos. Entre elas, as mu- danças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Vetores, os agentes que transmitem o vírus da pessoa infectada para a pessoa sadia, são favorecidos por de- foto: Thinkstockfoto: terminadas condições ambientais. Se JANEIRO/DEZEMBRO 2015 7 cadas pela doença – o maior já regis- trado desde que a dengue começou a ser monitorada detalhadamente, em 1990. Segundo o Ministério, a região com o maior número de casos graves nes- te ano foi a Sudeste. A mesma que sofre com escassez de chuvas ou fortes tempestades, calor extremo e maior índice populacional no Bra- sil. Embora seja difícil demonstrar a relação direta entre padrão de dis- tribuição de doenças transmissíveis domínio público e mudanças climáticas, o médico Enchentes favorecem o acúmulo Ulisses Confalonieri, que há 11 anos de água, que cria condições enchentes ou secas tornam-se mais integra o Painel Intergovernamental para a proliferação de vetores de frequentes, o impacto é de tal ordem da ONU sobre Mudanças Climáticas várias doenças que pode fomentar o surgimento de (IPCC), cita malária, dengue e leish- novas epidemias ou o recrudesci- maniose como as mais importantes mento de doenças então considera- e admite que a temperatura mais alta das praticamente extintas. No caso e a maior umidade podem de fato da dengue, por exemplo, o acúmulo acelerar o desenvolvimento biológi- de água parada e limpa favorece o co de patógenos e vetores. inseto transmissor, o mosquito Aedes aegypti, que escolhe ambientes com Confalonieri também é veterinário, essas características para depositar membro do Comitê de Doenças seus ovos. O cenário fica ainda mais Infecciosas do Group on Earth Ob- propício quando adicionamos cresci- servations, do Comitê de Saúde da mento populacional, falta de planeja- Organização Meteorológica Mundial mento urbano e desmatamento. e do Grupo sobre Agricultura, Am- biente e Doenças Infecciosas da Po- No Rio de Janeiro, de 2001 a 2009, breza do Programa de Pesquisa de estudo conduzido pela Escola Doenças Tropicais da Organização Nacional de Saúde Pública Ser- Mundial da Saúde (OMS). gio Arouca, vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisou a relação entre as variações climá- Impacto ticas e o risco de novos casos de desproporcional dengue, associando a elevação da A publicação “Mudança climática e temperatura mínima em um grau saúde: um perfil do Brasil” – edita- centígrado ao aumento de 45% das da em 2009 pela Organização Pan- notificações da doença no mês se- -Americana da Saúde (Opas) e pelo guinte. Da mesma forma, a pesqui- Ministério da Saúde – já alertava sa registrou um crescimento de 6% para as preocupantes consequên- diante de uma incidência de chuvas cias do aumento da temperatura dez milímetros superior à habitual. do planeta. Entre elas, “a alteração Em outubro de 2015, o Ministério da de ecossistemas e ciclos biológicos, Saúde divulgou boletim epidemioló- geográficos e químicos, que podem gico com 1.485.397 casos prováveis aumentar a incidência de doenças de dengue registrados no país du- infecciosas, mas também doenças rante o ano. O impacto já é superior não transmissíveis, que incluem des- ao registrado em 2013, inclusive com nutrição e enfermidades mentais”. relação ao número de mortes provo- 8 SENAC AMBIENTAL O texto adverte ainda que as mudan- casos por 100 mil habitantes, 11 ve- ças climáticas têm impacto despro- zes mais alta que a nacional. O Bra- porcional sobre as populações mais sil, em 2014, registrou 68.467 casos pobres e vulneráveis. O infectologis- de tuberculose, ou seja, 33,8 por 100 ta Eliseu Waldman, da Universidade mil habitantes, ocupando a 17ª posi- de São Paulo, ressalta que tais mo- ção entre os 22 países que concen- dificações podem ter repercussões tram 80% dos casos de tuberculose adversas, por exemplo, na agricultu- no mundo, segundo a OMS. ra, na pecuária e no acesso à água, O caso da Rocinha é indicativo de determinando, em áreas menos de- que aquecimento e alterações no senvolvidas, processos migratórios: clima não devem ser analisados iso- “Isso aumentará o contingente de ladamente, apesar de intensificarem populações vulneráveis, especial- problemas já existentes e provoca- mente em grandes centros urbanos, rem o aparecimento de novos. Tanto podendo, por exemplo, contribuir a publicação “Mudança climática e para o recrudescimento da tubercu- saúde: um perfil do Brasil” como os lose nessas áreas”. estudos de Eliseu Waldman e Ulisses A tuberculose se dissemina mais fa- Confalonieri – entre outros especia- cilmente em áreas com grande con- listas – apontam vários fatores como centração de pessoas e de pobreza, responsáveis pela emergência e re- em ambientes fechados, quentes e emergência de doenças infecciosas: úmidos, sem luz solar ou circulação a globalização, o aumento do inter- de ar. No Rio de Janeiro, a favela da câmbio internacional, a rápida urba- Rocinha, com mais de 100 mil habi- nização (especialmente em países de Com mais de 100 mil habitantes tantes, é um dos principais focos da grande contingente populacional) e concentrados em ambiente de grande doença.
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