Jack O Estripador a Bordo Do Titanic

Jack O Estripador a Bordo Do Titanic

Jack, o estripador abordo do Titanic O céu estava encoberto por nuvens acinzentadas, e o ar tomado com fumaça enegrecida, vinda do único recurso que centenas de famílias dos operários imigrantes utilizavam para se aquecer— o carvão. Em Whitechapel o restante da população ociosa recorria as mais diversas atividades ilegais, percorrendo ruas escuras do miserável bairro londrino, o ano era 1888. A prostituição predominava nos becos e pequenos quartos alugados nas arruinadas pensões do entorno. Mulheres famintas sujeitavam-se à servidão sexual pela recompensa mínima, recebendo alguns trocados que não lhes favoreciam. E neste ambiente imoral, cheio de hostilidades, surge um assassino impiedoso, apelidado de Jack, o estripador. Ele fez cinco vítimas, todas prostitutas, barbarizando-as sadicamente, utilizando sua inseparável faca afiada. Estes atos horripilantes ficavam impunes, porque a polícia nunca o identificou. Mais de vinte anos depois, nas águas tranquilas e geladas do oceano Pacífico, o maior navio já construído deslizava pomposo, levando consigo passageiros ilustres—Alguns nem tanto. O luxuoso RMS Titanic iniciara a viagem inaugural no dia 10 de Abril em 1912, partindo de Southampton, Inglaterra, cujo destino final seria Nova Iorque nos Estados Unidos. Primeiro dia a bordo... Os risos misturavam-se ao som da hábil orquestra, que tocava na sala de recepção. A primeira classe transluzia estimulante conforto, repleta com elegantes senhoras, e homens orgulhosos discutindo os melhores negócios no intento das grandes fortunas. Archie Spencer, o herdeiro deprimido, não diminuía a empolgação dos demais. Em um lance inesperado, a sorte o alcançou e, mesmo assim, aparentava estranha morbidez. Havia dispensado o convite de reunir-se ao ostentoso jantar; entretanto, houve pedidos insistentes, convencendo-o. Olhando de relance, o convidado ao lado pegou a garrafa e serviu o afortunado infeliz. -Beba amigo! Aproveite a vida... -Não, obrigado! –Rejeitou Archie. -Então bebo eu... O entusiasta Rilley Collins sorveu a bebida de uma vez, atraindo a atenção dos requintados convivas. Ele aplicou muito dinheiro para viajar na primeira classe; porém, não pertencia a grã- finagem. A sórdida rotina levada se diferenciava, transitando no meio da camada menos distinta e sombria. -Vejo que está sedento–Comentou Edgar Hoffman; e todos riram, quebrando o mal-estar. -Tomei muito sol no convés–Soltou uma piada, referindo-se as baixas temperaturas. Quando jovem Rilley Collins entrou no ramo de pedras preciosas, retiradas ilegalmente das jazidas africanas. O trabalho sofrido rendeu-lhe frutos. Anos mais tarde, abusou da bonança nas jogatinas regadas a bebidas. A ruina fora certa, ficando empobrecido. Somente alcançou êxito novamente graças às fraudes cometida em joalherias londrinas, com sua parceira Hellen Walton. Ela distraía os vendedores, passando-se por uma noiva apaixonada sendo presenteada, e Rilley subtraía joias originais colocando réplicas no lugar. O olhar presunçoso do inescrupuloso colunista Peterson Ludwicci passeava diante de potenciais oportunidades. Atento, não perdia qualquer assunto que julgasse dar boa matéria ao Atlantic Daily Bulletin. O jornal exclusivo circulava internamente no navio, noticiando boatos da vida social, resultados envolvendo corridas de cavalos e o cardápio oferecido a cada dia nos restaurantes. Do outro lado da mesa, Archie Spencer, sisudo, afrouxou a gravata; a face avermelhada transparecia sua irritação. Achou o assédio cometido inconveniente. A mulher ajeitou-se na cadeira pondo no rosto um risinho safardana. Hellen, sentada perto de Rilley, deu uma olhadela raivosa, censurando Harriet Parkson em suas atitudes indecorosas. -Algum problema, senhor Spencer? –Incitou Peterson. Recentemente, Peterson Ludwicci descobrira fatos relevantes e inapropriados a serem inclusos no jornal atual, que redigia. Todavia, recebera uma proposta irrecusável de um magnata chamado Hearst, que dominava a imprensa americana, gerando escandalosos noticiários de veracidade duvidosa. O breve contato deixou-o empolgado pela preferência deste famoso editor em seus indecentes escritos arquivados numa luxuosa pasta preta de couro macio. -Vou repousar –Decidido, Archie levantou-se incomodado. Cruzando o salão de jantar, fixou um olhar desaprovador na direção da provocante Harriet Parkson. As carícias secretas durante a reunião social lhe enraiveceu. -O que há de errado? Esse senhor Spencer é ranzinza –Disfarçou a autora do vexame. -A timidez não permite certas investidas –Observou Ludwicci, deleitando-se frente ao embaraço da intrusa. A fracassada atriz de teatro aparentava sofisticação somente no vestir. Socorreu-se como corista em cabaré, localizado nas imediações da decadente Whitechapel. Possuindo três magníficos vestidos, aplicou pequenos golpes nos desavisados, arrecadando valores necessários; e comprou duas passagens na terceira classe. Harriet embarcou levando junto a amiga Florence Blake no esplendido transatlântico, e ousadamente, arriscando os planos cuidadosamente arquitetados pela audaciosa Hellen Walton. -Tímido? Ele é esquisito...Com licença! –Harriet abandonou o recinto. -Espere, por favor! Permita-me acompanhá-la –Pediu Edgar Hoffman. -Fico agradecida... –Surpreendida, a voz quase lhe faltou. O bem adornado cavalheiro ofereceu o braço, enchendo a golpista de esperança. Pensava ter atraído um solteirão rico, ficando animada. -Não se envergonhe! -Você também percebeu? Eu não devia, foi uma vontade irresistível de provoca-lo. Ele é tão azedo... -E a senhorita é encantadora –Elogiou, interrompendo-a. A intenção cortês permeava caminhos diferentes que o gentil homem traçava, induzindo gananciosa trapaceira a crer na ajuda benevolente do destino. -E o que a traz nesta grandiosa viagem? -Meu pai quer apresentar-me um futuro marido, e insistiu que nos víssemos em Nova Iorque. Deus... –Encostou a cabeça no ombro de Edgar. -Parece desiludida? -papai pensa que dinheiro é tudo. -Ele quer ao seu lado alguém de sua estirpe. -E eu, a quem amarei de verdade. Hoffman achou incrível a representação perfeita de Harriet Parkson. Não entendia porque os produtores teatrais desprezam aquele talento artístico nato. -Espero que encontre o genuíno amor desejado. -Não desisto fácil... Ela lançou um olhar languido, e saiu saracoteando a cintura. Queria despistar Hoffman, tomando rumo oposto à terceira classe. -Nós nos veremos amanhã? –Bradou ao longe. -Sim querido! –Afirmou esbanjando charme. *** Enfurecido, Archie Spencer arrancou a impecável vestimenta, atirando-a distante, e mergulhou na banheira. Excedendo o tempo de controle respiratório, ergueu-se espavorido. Sentia uma presença impura através do toque duradouro. O pecaminoso desejo o consumia. Quase que esfolando a pele, esfregava frenético, áspera esponja. O banho não aliviou angustiante questão. Archie deitou-se despido, com o órgão genital ereto. Depreciado, reprimia aquela libido, recitando palavras de abnegação. Odiou Harriet Parkson, e o proceder desafiador. Spencer enrolou-se em um cobertor, adormecendo. -Sim! Estremecido, acordou ao chamado insistente do mordomo; levantando confuso, colocou o pijama. -O senhor Goldestein está a sua procura. -Por favor, avise que estou indo. Acanhada, Marcie Goldenstein, distante do pai, não disfarçava o nervosismo, mordendo o lábio inferior. O colar de pérolas pendia do pescoço esguio. Uma causticante ansiedade afetou Archie Spencer, que sentiu incontrolável vontade de enforcar inconveniente criatura, com a própria joia reluzente. Ele detestava a frivolidade feminina. -Espero não estar ocasionando incomodo, chamando-o aqui. É a respeito do que conversamos – Desculpou-se, notando o desconforto de Archie. -Sua filha é muito amável. No entanto, jovem demais –Pelejava, querendo se ver livre da moça. -Uma menina na aparência. Cresceu aos meus cuidados desde que perdeu a mãe; eu asseguro que é gentil e responsável. O primeiro sentimento amoroso transbordava no coração enamorado da inocente filha, e Isidor Goldestein viu-se obrigado a intervir na aproximação de ambos, porque Archie Spencer não dava alternativa, mostrando indiferença aos gracejos femininos. -O que o senhor quer de mim, senhor Goldenstein? Ao embarcar no Titanic, Marcie carregava seu cãozinho da raça Spitz, e este escapuliu. Archie, de pronto, capturou o animal. Os jovens conversaram trocando olhares, surgindo nela uma singela paixão. -Faça-lhe companhia nos encontros festivos, dance, divirta-se como fazem casais felizes. -Receio que não seja possível. O judeu ajustou os óculos de lentes arredondadas e pequenas. Goldesntein tornara-se pai tardiamente, aos cinquenta anos. A doce menina descobrira o amor da forma pura. A rejeição firmada, vinda do arrogante Archie Spencer, afrontava-o, ao menos devia manifestar apreço, aceitando conduzir uma moça decente nos festejos. -Mostre o mínimo de cavalheirismo. -Não consigo simular tais propostas. -A mim, não parece ser rude. Quem sabe acabe gostando de Marcie... -Pelo amor de Deus! Ela tem toda uma vida, haverá quem queira amá-la...Do que adianta falsas esperanças? Irredutível, pegou a rosa do vaso de cima da mesa no Verandah Café, passou por Marcie Goldenstein e lhe entregou. -Boa noite, senhorita! –Sentindo um misto de piedade e repulsa, resistiu não virar para trás. A madrasta volúvel de Archie Spencer, da qual soube castigar devidamente, induziu seu abandono no internato. Submetido a castigos nocivos na infância, segundo regras severas do reduto juvenil religioso, adquiriu graves distúrbios emocionais. A herança obtida da tia avó trazia conforto financeiro,

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