Revista Brasileira FASE IX • OUTUBRO-NOVEMBRO-DEZEMBRO 2020 • ANO III • N.° 105 ACADEMIA BRASILEIRA REVISTA BRASILEIRA DE LETRAS 2020 D IRETORIA D IRETOR Presidente: Marco Lucchesi Cicero Sandroni Secretário-Geral: Merval Pereira C ONSELHO E D ITORIAL Primeiro-Secretário: Antônio Torres Arnaldo Niskier Segundo-Secretário: Edmar Lisboa Bacha Merval Pereira Tesoureiro: José Murilo de Carvalho João Almino C O M ISSÃO D E P UBLI C AÇÕES M E M BROS E FETIVOS Alfredo Bosi Affonso Arinos de Mello Franco, Antonio Carlos Secchin Alberto da Costa e Silva, Alberto Evaldo Cabral de Mello Venancio Filho, Alfredo Bosi, P RO D UÇÃO E D ITORIAL Ana Maria Machado, Antonio Carlos Secchin, Antonio Cicero, Antônio Torres, Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Arnaldo Niskier, Arno Wehling, Carlos R EVISÃO Diegues, Candido Mendes de Almeida, Perla Serafim Carlos Nejar, Celso Lafer, Cicero Sandroni, P ROJETO G RÁFI C O Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, Victor Burton Domício Proença Filho, Edmar Lisboa Bacha, E D ITORAÇÃO E LETRÔNI C A Evaldo Cabral de Mello, Evanildo Cavalcante Estúdio Castellani Bechara, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Carneiro, Geraldo Holanda ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Cavalcanti, Ignácio de Loyola Brandão, João Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar Almino, Joaquim Falcão, José Murilo de Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Carvalho, José Sarney, Lygia Fagundes Telles, Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Marco Lucchesi, Marco Maciel, Marcos Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Vinicios Vilaça, Merval Pereira, Murilo Melo Fax: (0xx21) 2220-6695 Filho, Nélida Piñon, Paulo Coelho, Rosiska E-mail: [email protected] Darcy de Oliveira, Sergio Paulo Rouanet, site: http://www.academia.org.br Tarcísio Padilha, Zuenir Ventura. ISSN 0103707-2 As colaborações são solicitadas. Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pela exatidão das citações e das referências bibliográficas de seus textos. Transcrições feitas pela Secretaria Geral da ABL. Esta Revista está disponível, em formato digital, no site www.academia.org.br/revistabrasileira. Sumário CICERO SANDRONI Apresentação 7 ENSAIO ARNO WEHLING Joaquim Veríssimo Serrão e a história luso-brasileira 9 ADRIANO ESPÍNOLA Epicidade e engajamento em Carlos Nejar 15 GILBERTO ARAÚJO A feminista cambaleante de Carmen Dolores 21 ORNA LEVIN Os choques da paixão: a dramaturgia de Bataille, Bernstein e Roberto Gomes 35 LEONARDO BARROS DA SILVA MENEZES Refugiados e a filosofia política 47 ALEXEI BUENO Helio Brasil: a persistência da memória 53 FERNANDO PAIXÃO Poema em prosa em controvérsia: De Max Jacob ao Surrealismo 59 JOSÉ LUÍS JOBIM A circulação literária e cultural e o anacronismo 69 RICARDO VIEIRA LIMA A querela velada entre Drummond e Cabral 81 ROBERTO SAID Outro retrato: notas sobre um eu todo retorcido 95 RODRIGO JORGE RIBEIRO NEVES O Bruxo e as feiticeiras: Machado de Assis segundo as escritoras 105 RAFAEL BRUNHARA Gregos arcaicos e subjetividade romântica 117 SERGIO FONTA A pandemia vista do palco 127 JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA Gelassenheit e seus desdobramentos: algumas reflexões sobre a obra de Hans Ulrich Gumbrecht 135 ENTREVISTA LUCAS FIGUEIREDO SILVEIRA ENTREVISTA ANTONIO CARLOS SEccHIN E ÉSIO MACEDO RIBEIRO Entre tesouros e garranchos: uma conversa sobre bibliofilia 141 POESIA NUNO RAU 151 RICARDO LEÃO 161 RODRIGO PETRONIO 171 SUZANA VARGAS 185 FICÇÃO AFONSO BORGES A brisa, a queda e o Gueto de Vilna 193 EVANDO NAscIMENTO Lázaro 195 MARIA ESTHER MACIEL Os rios da memória 199 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. MACHADO DE ASSIS Apresentação Cicero Sandroni Ocupante da Cadeira 6 na Academia Brasileira de Letras. ste número da Revista Brasileira com- Fiel a seus princípios de pluralidade temá- porta catorze ensaios, uma entrevis- tica e de constante busca de um padrão de E ta, quatro conjuntos de poemas e três excelência, A Revista Brasileira, número após obras de ficção. número, se consolida como um importante Vinte e quatro escritores, dos quais dez e democrático veículo de cultura, com ênfa- agora pela primeira vez, nos honraram com se nas Letras, mas receptiva a todas as ma- suas colaborações. nifestações do pensamento crítico e criador. ENSAIO Joaquim Veríssimo Serrão e a história luso-brasileira Arno Wehling Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia Portuguesa da História e da Academia das Ciências de Lisboa e Presidente de Honra do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. RESUMO Palavras-chave: Joaquim Veríssimo Serrão/ Ensaio sobre a obra historiográfica de Joa- Historiografia colonial/ Brasil filipino/ Rio de quim Veríssimo Serrão, com destaque para Janeiro colonial/ “outro Portugal” a história luso-brasileira. São analisadas suas contribuições para a compreensão do signi- Key-words: Joaquim Veríssimo Serrão/ Colo- ficado econômico, político e estratégico da nial historiography/ Philippine Brazil/ Colonial fundação do Rio de Janeiro e para a situação Rio de Janeiro/ “another Portugal” do Brasil na União Ibérica. Nestas obras são valorizadas a ideia de um “outro Portugal” oaquim Veríssimo Serrão sentia-se li- e a “tese atlântica”, segundo a qual o Brasil gado ao Brasil pela convicção de que o deixou de ser apenas extensão de Portugal J país fora a grande obra de Portugal e para se tornar um eixo atlântico, em plena pela ideia de que precocemente delineou-se expansão geográfica e econômica. aqui um universo luso-brasileiro de referên- cias, distinto do metropolitano. Essa atitude ABSTRACT inspiraria diferentes trabalhos de valor dire- Essay on the historiographical work of Joa- ta ou indiretamente ligados à formação bra- quim Veríssimo Serrão, with emphasis on sileira, levando ao reconhecimento de duas Luso-Brazilian history. Their contributions of instituições que muito prezava, em 1965 do the economic, political and strategic signi- Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e ficanace of the foundation of Rio de Janei- em 1979 da Academia Brasileira de Letras, ro and the situation of Brazil in the Iberian onde ocupava como Sócio Correspondente Union are analized. In these works, the idea a cadeira número 7. of “another Portugal” and the “atlantic the- A atuação de Joaquim Veríssimo Serrão sis” are valued, for which Brazil is no longer no panorama científico e cultural do mun- just a extension of Portugal, to become na do lusófono foi particularmente intensa, ao Atlantic axis, in full geographical and econo- longo de cerca de sessenta anos de produ- mic expansion. ção intelectual. Podcast apresentado no site da ABL por ocasião do falecimento do Prof. Dr. Joaquim Veríssimo Serrão (agosto de 2020). 10 • Arno Wehling Essencialmente um professor e pesqui- Renascimento, a “figuras e correntes da his- sador na área de história, fez sua carreira toriografia” portuguesa e à história do Brasil na Faculdade de Letras da Universidade de nos séculos XVI e XVII. Lisboa, onde cumpriu todas as etapas aca- No caso da história portuguesa dos sécu- dêmicas, tornando-se professor catedráti- los XV a XVII, período sempre considerado o co. Em nenhum momento deixou de aliar mais brilhante da história de Portugal pelo suas funções docentes às de pesquisador, significado mundial que teve a expansão eu- como atesta sua produção, de ritmo acele- ropeia pelo Atlântico e pelo Índico, seus tra- rado, ao longo da vida profissional. Ainda balhos deram importantes contribuições. A exerceu funções públicas, como diretor do obra inicial, de juventude, foi o Ensaio histó- Centro Cultural Português de Paris, e ocu- rico sobre o significado e valor da tomada de pou a reitoria da Universidade, entre outras Santarém aos mouros. O gosto pela pesquisa atividades de gestão. documental afastou-o depois do gênero en- Cedo reconhecido, ingressou em diferen- saístico, embora sempre se mostrasse preo- tes academias. Em Portugal, na Academia das cupado com perspectivas interpretativas mais Ciências de Lisboa, a mais antiga da lusofo- amplas, que superassem a mera erudição. nia, na Academia Portuguesa da História e Nessa linha seguiram-se publicações so- na Academia de Marinha. No mundo ibero- bre a infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, -americano, de todas as academias de his- vasto painel sobre as relações luso-hispano- tória de língua castelhana. Ainda no âmbito -francesas no século XVI, sobre o reinado do dos reconhecimentos, foram diversas premia- prior do Crato, em torno à viabilidade de uma ções e agraciamentos em diferentes países. alternativa nacional à pressão de Felipe II para Fora da Universidade, sua atuação mais assumir o trono português e, a propósito do importante deu-se à frente da Academia Por- mesmo assunto, o estudo das formas jurídi- tuguesa da História, da qual foi presidente por cas de sucessão ao trono no país. À época mais de trinta anos. Nela realizou não ape- em que se concentrava na questão sucessó- nas um trabalho científico importante, por ria portuguesa de 1580, produziu outro es- meio das atividades de discussão e divulga- tudo importante sobre o “itinerário” do rei ção de questões relativas ao processo histó- D. Sebastião (1963-1964), ao qual se segui- rico português, como uma ativa diplomacia ria, trinta anos depois, outro “itinerário”, o cultural, fixando o objetivo de melhor pro- de D. João II (1993). Os “itinerários” de mo- jetar seu país, sobretudo pela valorização da narcas da primeira modernidade, portugue- língua e da cultura, sublinhando sua especi- ses ou não, são importantes testemunhos de ficidade no contexto internacional. um momento em que a monarquia, cônscia Obra de tal amplitude