Universidade Federal Da Bahia Instituto De Letras Programa De Pós-Graduação Em Literatura E Cultura Thaiane Pinheiro Costa As

Universidade Federal Da Bahia Instituto De Letras Programa De Pós-Graduação Em Literatura E Cultura Thaiane Pinheiro Costa As

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E CULTURA THAIANE PINHEIRO COSTA AS NARRATIVAS DO POVO KIRIRI: UMA LITERATURA DO RECONHECIMENTO Salvador 2017 THAIANE PINHEIRO COSTA AS NARRATIVAS DO POVO KIRIRI: UMA LITERATURA DO RECONHECIMENTO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura, do Instituto de Letras da, da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito final para obtenção do título de mestre em Literatura e Cultura. Orientadora: Profa. Dra. Suzane Lima Costa Salvador 2017 AGRADECIMENTOS O que segue, a primeira vista, parece palavras ordenadas, tentando algo dizer, mas é afeto, impresso, perlaborado como gesto de agradecer. Agradeço a Deus pela oportunidade da experiência do mestrado, pelo sustento necessário, de corpo e alma, e por tudo que tem feito até aqui. À minha mainha, Célia, pelo cuidado, incentivo, apoio e gestos inumeráveis de amor, os quais minimizaram, diariamente, todo peso que ousasse surgir. Às minhas irmãs, Thaís, Taciane e Fernanda, pelo apoio incondicional e amor de sempre. À minha sobrinha Sarah por, mesmo sem saber da importância desse trabalho, sorri para os meus sonhos. À minha família, tios e primos, que vibra comigo em cada realização mesmo as desimportantes. À minha orientadora, Suzane, pela parceria, incentivo e afeto ao longo desses quatro anos no NEAI1. Agradeço por ter contribuído não apenas com a realização desse trabalho, mas também com a minha formação enquanto pesquisadora. À Cris pela amizade e por minimizar as durezas desse caminho, nem sempre feliz, chamado mestrado. Ao NEAI em sua coletividade e individualidade: Suzi, Cris, Leo, Fran, Sol. Vocês fizeram e fazem toda a diferença, obrigada. Aos meus amigxs por cada gesto de incentivo, carinho, generosidade e pela compreensão da minha ausência, bem como aos meus queridxs colegas da UFBA, que sabem ser flores em meio ao concreto. A cada professor (a) que, desde as séries iniciais numa escola pública do interior do estado da Bahia até aqui na universidade, cooperou com a minha formação e, principalmente, serve de inspiração em tudo que me liga à Educação. À Fapesb2 pelo incentivo financeiro à minha pesquisa. 1 NEAI – Núcleo de Estudos das Produções Autorais Indígenas. 2 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia À minha mainha, pois no inventário de todos os versos de amor, eu escrevi o teu nome. “Todos viviam em uma só felicidade, eram os índios que sabiam da beleza dos rios.” (KIRIRI, 2007, p.65) RESUMO Nesta dissertação, tenho por objetivo apresentar e discutir as narrativas de autoria do Povo Kiriri. Para tanto, analiso as textualidades presentes nos livros Nosso Povo: Leituras Kiriri: educação diferenciada na visão do povo Kiriri – Aluno e Nosso Povo: Leituras Kiriri: educação diferenciada na visão do povo Kiriri – Caderno de Orientação Metodológica – Professor, ambos publicados em 2007. A partir desses livros, examino como essas narrativas/literaturas compõem o projeto de reconstituição político-social, reconhecimento e de resistência do coletivo Kiriri no presente, etnia que está localizada geopoliticamente na região Norte do estado da Bahia. A metodologia de trabalho adotada foi a leitura analítica dos livros, destacando dezoito textualidades das obras supracitadas, observando os elementos que tornam possível sustentar a ideia de que a produção das narrativas, herança da memória dos antepassados e constituída em coletividade, atuam no processo de reconhecimento simbólico e material desse povo. Os resultados da análise demonstram que essas escrituras são constituídas a partir dos rastros da memória social e das práticas sociais desse grupo, servindo como espaço discursivo de resistência, re-existência e reinvenção dos Kiriri na busca por reconhecimento e justiça. Palavras-chave: Kiriri. Narrativas. Resistência. Reconstituição. Memória social. Reconhecimento. ABSTRACT In this dissertation, I have as objective to present and discuss the authentic narratives of the Kiriri people. To do this, I analyze the textualities present in the books Our People: Kiriri Readings: Differentiated Education in the Kiriri People's Vision – Student and Our People: Kiriri Readings: Differentiated Education in the Kiriri People's Vision – Methodological Guidance notebook – Professor, both published on 2007. From these books I examine how these narratives/literatures compose the project of the socio- political reconstitution, recognition and re-existance of the Kiriri‟s colective in the present, ethnicity which is geopolitically located in the North region of State of Bahia. The adopted work methodology was the analytical readings of the books, detaching eighteen textualities from the above mentioned works, observing the elements which make possible to sustain the idea that the narratives, inheritance of the memory of the ancestors and constituted in collectivity, act in the process of symbolic and material recognition of Kiriri‟s people. The results from the analysis show that these scriptures are constituted from the social-memory traces and also from the social practices of that group, serving as discursive space of resistance, re-existance and reinvention of Kiriri‟s people in the pursuit for recognition and justice. Keywords: Kiriri. Narratives. Resistance. Reconstitution. Social memory. Recognition. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 – Livro Nosso Povo versão do Professor 30 Figura 02 – Livro Nosso Povo versão do Aluno 30 Figura 03 – PET/ MUSEU NACIONAL – 1993 32 Figura 04 – Árvore-mapa representando o octógono Kiriri - livro do Professor 36 Figura 05 – Texto “Quem somos”. Livro Nosso Povo versão do Aluno 38 Figura 06 – Texto “Nossa relação com o sol”. Livro Nosso Povo versão do Aluno 51 Figura 07 – Texto “A relação do povo com a terra”. Livro Nosso Povo versão do Aluno 54 Figura 08 – Mapa dos povos indígenas na Bahia - livro do Professor 56 Figura 09 – O nome Kiriri e o significado. Livro Nosso Povo versão do Aluno 68 Figura 10 – Ritual do Toré. Livro Nosso Povo versão do Aluno 76 Figura 11 – Retomada da marcação. Livro Nosso Povo versão do Aluno 79 Figura 12 – Ervas Medicinais. Livro Nosso Povo versão do Aluno 82 Figura 13 – Canção presente no Livro Nosso Povo versão do Aluno 88 Figura 14 – A Casa da Farinha Comunitária. Livro Nosso Povo versão do Aluno 100 Figura 15 – Uma das canções do Livro Nosso Povo versão do Aluno 102 Figura 16 – Retomada de Mirandela. Livro Nosso Povo versão do Aluno 106 Figura 17 – Texto do Livro Nosso Povo versão do Aluno 108 Figura 18 – Escola diferenciada Kiriri. Livro Nosso Povo versão do Aluno 110 Figura 19 – Narrativa acerca das frutas que cultivam. Livro Nosso Povo versão do Aluno 115 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANAI Associação Nacional de Ação Indigenista CCJ Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania CEB Câmara da Educação Básica EDUNEB Editora da Universidade Estadual da Bahia FAPESB Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FUNAI Fundação Nacional do Índio IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária LDB 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC Ministério da Educação NEAI Núcleo de Estudos das Produções Autorais Indígenas PEC Proposta de Emenda Constitucional PET Indígena – UFBA Programa de Educação Tutorial - Comunidades indígenas RCNEI Referencial Curricular Nacional para a Educação SEC/BA Secretaria de Educação do Estado da Bahia SPI Serviço de Proteção aos Índios UFBA Universidade Federal da Bahia UNEB Universidade do Estado da Bahia SUMÁRIO INTRODUÇÃO: A PALAVRA VIVA 10 1 O POVO KIRIRI: MARCAS DAS NARRATIVAS DE RESISTÊNCIA 18 1.1 A viagem da volta: as narrativas Kiriri 26 1.2 Redes de criação: as oficinas de coser memória 40 2 VOZES DA TERRA: A AUTORIA COLETIVA COMO ATUALIZAÇÃO 49 DA MEMÓRIA KIRIRI 2.1 Os professores e a assinatura coletiva 58 2.2 Notas sobre os rastros da memória Kiriri 65 2.3 As estampas de uma literatura 69 2.3.1 A estampa do Toré 72 2.3.2 A estampa da retomada 78 2.3.3 A estampa das ervas medicinais 81 3 UMA LITERATURA DO RECONHECIMENTO 85 3.1 O quase-conceito: uma literatura do reconhecimento 90 3.2 Uma literatura do reconhecimento Kiriri? 101 3.3 O arapuá: uma literatura como prática social 102 CONSIDERAÇÕES FINAIS 118 REFERÊNCIAS 122 10 INTRODUÇÃO: A PALAVRA VIVA Como diz: “eu nasci no tempo dos incó.” Quando a gente era pequeno não tinha roça p‟ra plantar e a gente comer. Aí, pai ganhava a mata e trazia inco preto. Incó é um pé de arvore que bota uns cachos de fruta, cheirosinho e que é bom de comer. A gente comia e se melava todo. Mãe pegava a cabacinha para nos lavar. Também caçava aqueles licuri. Aí, nós tudo pequenininho, com fome, grudava nos coquinho e se melava todo p‟ra chupar o licuri maduro[...]. A finada minha avó ensinava rezas e cantava roda. Ainda hoje eu estou na roça e me lembro da minha avó cantando com a gente “e sacode morro, sacode jerejé...” E ia sacudindo a saia. E a agente arrodiava na saia dela, e ela rodando e cantando. (Dona Otávia3) Escrever para resistir. Esse tem sido um dos exercícios realizados pelos povos indígenas, nas últimas décadas, no Brasil, uma vez que nas práxis da sua escrevivência4 e do seu ethos impresso no papel, esses grupos atualizam-se e interpelam a história oficial, perlaborando5 os lugares de sobrevivência dos rastros6 das suas memórias. Dessa maneira, a escritura7 das narrativas indígenas, muito antes dos direitos 3 Trecho extraído da coleção Índio na Visão dos Índios: Kiriri. Projeto que faz parte dos trabalhos da Organização não governamental da Thydêwá. Essa ONG foi formalizada em 2002 e desenvolve uma série de projetos de formação nas aldeias indígenas, principalmente, no nordeste brasileiro. Mais informações estão presentes no site: <www.thydewa.org/work/indiosna-visao-dos-indios>. 4Termo utilizado por Conceição Evaristo no título de um texto apresentado na mesa de escritoras convidadas do “Seminário Nacional X Mulher e Literatura - I Seminário Internacional Mulher e Literatura/ UFPB – 2003”.

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