Leis De Imprensa No Brasil Republicano: a Disputa Entre Jornais E Governos Na Regulação Do Trabalho Jornalístico

Leis De Imprensa No Brasil Republicano: a Disputa Entre Jornais E Governos Na Regulação Do Trabalho Jornalístico

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Leis de Imprensa no Brasil Republicano: a disputa entre jornais e governos na regulação do trabalho jornalístico Alexandre Veiga Porto Alegre 2018 Alexandre Veiga Leis de Imprensa no Brasil Republicano: a disputa entre jornais e governos na regulação do trabalho jornalístico Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História. Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Grijó Porto Alegre 2018 CIP - Catalogação na Publicação Veiga, Alexandre Leis de Imprensa no Brasil Republicano: a disputa entre jornais e governos na regulação do trabalho jornalístico / Alexandre Veiga.-- 2018. 199 f. Orientador: Luiz Alberto Grijó. Tese (Doutorado) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Porto Alegre, BR-RS, 2018. 1. lei de imprensa. 2. liberdade de imprensa. 3. liberdade de expressão. I. Grijó, Luiz Alberto, orient. II. Título. Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). LEIS DE IMPRENSA NO BRASIL REPUBLICANO: a disputa entre jornais e governos na regulação do trabalho jornalístico Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História. Aprovado pela Comissão Examinadora em 16 de abril de 2018. COMISSÃO EXAMINADORA PROF.ª DRª CLARICE GONTARSKI SPERANZA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROF. DR. LUIS CARLOS DOS PASSOS MARTINS PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL PROFª. DRª. MARLUZA MARQUES HARRES UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DO SINOS AGRADECIMENTOS Esta tese chega ao seu fim num momento em que o país vive um período complexo e substancialmente tenso, onde a questão principal que aqui foi abordada – a regulação da atividade jornalística – é cada vez mais um tema que foge do debate necessário. Além desse aspecto mais amplo, esse assunto continua sendo uma das preocupações que se mantém no meu horizonte pessoal, sendo assim há bastante tempo. Embora não seja jornalista de formação, e sequer tenha atuado em qualquer órgão de imprensa, o fascínio pelas letras tipográficas estampadas num papel a ser consumido pelo dia seguinte resultou em questionamentos recorrentes sobre tal atividade. Daí resultou a preocupação com a abordagem que se dá ao cotidiano e às estratégias promovidas para superar a censura, que fazem com o jornalismo um jogo de luz e sombra. Minha pretensão, como estudante dos primeiros anos de história, era entender as conexões da política com os profissionais de imprensa. Pretensão essa que continua existindo, mas que se divide com outra paixão, os arquivos, onde encontrei novamente esse jogo de escuridão e clareza, agora denominada transparência, num mundo em que mais uma vez o controle do acesso à informação se fazia presente. Esses caminhos, da imprensa e dos arquivos, costurada pela censura e pela vontade de saber mais, cruzaram-se de modo inesperado, quando me deparei com um processo judicial que discutia a acusação feita aos jornalistas da sucursal gaúcha do Última Hora, acusados de mentir a respeito da entrega à agência norte-americana de informações, a CIA, por parte do chefe de Polícia do Estado dos anos 60, de arquivos do DOPS contendo dados sobre militantes de esquerda, nos primeiros atos do que depois seria concluído com o golpe militar de 1964. A trajetória desta tese, portanto, embora tributária desse longo percurso, seguiu outro rumo, tão interessante quanto os demais. Quis saber, aqui, como os jornalistas tratavam o tema da liberdade de imprensa, objeto direto do trabalho que elaborei, mas principalmente do que fizeram, ao longo dos anos, todos os que nesta seara se envolveram. Verifiquei que essa liberdade é produto de seu tempo – como não poderia deixar de ser – e que há uma dimensão em sua proposta que a torna quase sempre utópica, no melhor sentido desta palavra. Nesta jornada pelas páginas da história em formato standard, é preciso registrar algumas dívidas com quem possibilitou que isso se tornasse possível. A primeira delas é com meu orientador, professor Dr. Luis Alberto Grijó, que conseguiu fazer com que o tema imaginado em abstrato se configurasse na forma concreta, possibilitando que o texto tivesse as qualidades que porventura apresentar. Os defeitos, sem dúvida, são de minha própria lavra. Quero também ressaltar a satisfação com o curso de pós-graduação em História da UFRGS, que me permitiu ter novamente contato com esse conteúdo, do qual havia me afastado, por razões profissionais, há tanto tempo. Há que se indicar também as relações pessoais que se constituíram ou se consolidaram nessa jornada, como foi o caso do meu colega de trabalho e de múltiplas conversas, Cássio Pires, a quem devo diversas indicações de leitura e sugestões de “pauta”, para usar um jargão jornalístico. Registro também minha dívida com as amizades de tanto tempo com a Denise e, mais recentemente, o Luciano e o Flademir, além da parceria que trago de longe com meu primo Amarildo – grande poeta! Quero também lembrar do amigo Mauro, fornecedor de livros e polêmicas, além de agradecer aos ajustes feitos ao texto pela Rosângela. Uma pessoa que merece lembrança especial é a Ana Celina, com quem iniciei essa caminhada, e que agora também a encerra, certamente com muita qualidade. Deixo também registrada nas tais letras tipográficas de que falei no início – mas que certamente o tempo não vai consumir – a presença dos amigos de arquivo, Eduardo e Jorge Vivar, a quem manifesto minha alegria pela presença constante nos dias que me tocaram viver. E à Simone, que chegou na metade do jogo, mas que vem sendo uma usina de força e delicadeza para suportar esses tempos sombrios. Como disse, embora a tese – ou o assunto, como preferirem – teime em não terminar, encerro-a com o sentimento de dever cumprido, mesmo que sabedor das múltiplas possibilidades que acabo de descortinar, e que pretendo conhecer ainda mais a partir de agora, sendo esta tese apenas o fim do começo. 6 Retórica: estudo das técnicas discursivas que visam provocar ou aumentar a adesão das mentes às teses apresentadas a seu assentimento. Podemos dizer que a retórica é a adesão intelectual de um ou mais espíritos apenas com o uso da argumentação; é o preocupar-se mais com a adesão dos interlocutores do que com a verdade; é não transmitir noções neutras, mas procurar modificar não só as convicções daqueles espíritos, como as suas atitudes. PERELMANN, Chaim. Tratado da Argumentação: a nova retórica. Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida. Rasquei-a sem procurar ao menos saber de quem seria... Eu tenho um medo Horrível A essas marés montantes do passado, Com suas quilhas afundadas, com Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas... Ai de mim, Ai de ti, ó velho mar profundo, Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios! Mario Quintana, Apontamentos de História Sobrenatural RESUMO O trabalho analisou os projetos de regulação das atividades da imprensa brasileira, discutindo a recepção, pelos jornais e no Parlamento, das legislações apresentadas e aprovadas durante o período republicano, nos anos de 1923, 1934, 1953 e 1967, e também o projeto rejeitado em 1956. Todos esses regulamentos, propostos por diferentes governos ao Congresso Nacional, foram discutidos e salientados ao público através de informações divulgadas pelos jornais escolhidos e também nas reuniões promovidas pelos congressistas e registradas em documentos oficiais, o que tornou possível identificar os argumentos utilizados tanto pelos periódicos quanto pelo sistema político, demonstrando que o tema da liberdade de imprensa se constituiu como discurso retórico usado por ambas as partes – governos e jornais – em defesa de sua atuação social. O trabalho de produção de notícias e informações, desenvolvido pela imprensa, foi configurado por movimentos históricos originados no Iluminismo, que projetava essa atividade como forma de propiciar ao cidadão as ferramentas para atuar na esfera pública, desde que respeitadas proposições que permitissem que os diferentes discursos fossem levados ao conhecimento do público. No processo histórico que levou ao desenho institucional da imprensa brasileira, essa condição ficou prejudicada, dentre outros motivos por ter a imprensa se tornado objeto de interesse de grupos sociais específicos, o que produziu conflitos com os governos. A tese concluiu que o processo histórico de elaboração das leis que deveriam regular o trabalho da imprensa teve uma recepção negativa pelos jornais, que argumentaram ser essa legislação uma tentativa de obstruir o trabalho por eles desenvolvido. No entanto, como se demonstrou, o processo resultou da disputa política e social protagonizada pelos diferentes grupos de interesse – imprensa e jornais – colocando em lados opostos os governos e as organizações jornalísticas, em torno da liderança pela atuação como mediador entre os cidadãos e o Estado. Palavras-chave: lei de imprensa, liberdade de expressão, liberdade de imprensa ABSTRACT This paper analyzes bills intended to regulate Brazilian press activities, as well as discusses the receptivity of the legislation submitted and passed by newspapers and the Parliament during the republican period in the years 1923, 1934, 1953 and 1967, in addition to the bill which was rejected in 1956.

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