Escola de Ciências Sociais e Humanas «O Fecho da Abóbada»: O Museu de Arte Popular e a ação do Secretariado da Propaganda Nacional Alexandre Manuel Morais Costa de Oliveira Tese elaborada para obtenção do grau de Doutor em Antropologia Orientador: Professor Doutor Joaquim Pais de Brito, ISCTE-IUL Março, 2018 Escola de Ciências Sociais e Humanas «O Fecho da Abóbada»: O Museu de Arte Popular e a ação do Secretariado da Propaganda Nacional Alexandre Manuel Morais Costa de Oliveira Tese elaborada para obtenção do grau de Doutor em Antropologia Júri da prova de doutoramento: Presidente: Doutor Miguel de Matos Castanheira do Vale de Almeida, Diretor do Departamento de Antropologia da Escola de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa Vogais: Doutor João Aires de Freitas Leal, Professor Catedrático do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutor José Manuel Sobral, Investigador Principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Doutora Sónia Vespeira de Almeida, Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutor Jorge Costa Freitas Branco, Professor Catedrático do Departamento de Antropologia da Escola de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Orientador: Doutor Joaquim Maria Valença Pais de Brito, Professor Catedrático Aposentado do Departamento de Antropologia da Escola de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Março, 2018 Bolsa de doutoramento 43307 / 2008 financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Resumo Este trabalho pretende ser um estudo de etnografia sobre o Museu de Arte Popular e sobre os processos que levaram à sua criação. Tendo por base a investigação documental em arquivos históricos e bases teóricas da etnografia histórica e da museologia, esta tese revela, em primeiro lugar, um processo de construção de um discurso folclorista inserido nas iniciativas de propaganda política do Secretariado da Propaganda Nacional e no próprio percurso profissional de António Ferro. Neste contexto, o Museu de Arte Popular foi apresentado como a síntese final dessa política, o «Fecho da abóbada» da propaganda folclorista do Secretariado. A pesquisa empírica revelou também, que para além do discurso oficial, a criação do museu foi um processo longo, conflituoso e ocasional. Em segundo lugar, esta investigação revela a existência da instituição ao longo do tempo até ao seu encerramento. O museu cedo deixa de ser uma prioridade dentro do Secretariado, ficando os seus diretores e conservadores limitados na sua ação sem poderem contrariar a degradação do seu edifício e das suas coleções. Do mesmo modo, as iniciativas das sucessivas tutelas para a renovação e transformação daquele museu não conseguiram lograr resultados. O acompanhamento no terreno do debate público que ocorreu sobre o destino do Museu de Arte Popular, revelou a existência de um desconhecimento generalizado sobre o seu passado e sobre os objetivos desejados pelos seus criadores. Esta tese pretende assim, contribuir para a clarificação e enriquecimento do conhecimento sobre aquele museu. Palavras-chave: museu, propaganda, Estado Novo, arte popular, etnografia, folclore. i ii Abstract This thesis is an ethnographic study about the Museu de Arte Popular (Folk Art Museum) in Lisbon and the historical processes, which led to its creation. Based on the documental research in historical archives and the theoretical bases of historical ethnography and museology this thesis reveals, first of all, the construction process of the folklore-based discourse which was part of the Secretariat for National Propaganda politics and also from Antonio Ferro professional career. In this context the Museu de Arte Popular was presented as the final synthesis of that politic, the “keystone” for the Secretariat folklore-base propaganda. The empirical research also revealed a reality beyond the official propaganda, the creation and development of the museum was, in reality, a long, conflicted and random process. On second hand, this research reveals the museum existence until its closing. The museum quickly ceases to be a priority for the Secretariat. Directors and curators have their action limited and unable to counteract the building and the collections degradation. In the same way, the successive initiatives by the administration for the museum renewal and transformation were unable to achieve positive long-term results. The public debate regarding the museum future purpose has revealed a general lack of knowledge regarding its past and the original purpose as envisaged by its creators. This thesis proposes to contribute for the clarification and enrichment regarding the current knowledge about the Museu de Arte Popular. Keywords: museum, propaganda, Estado Novo, folk art, ethnography, folklore. iii iv Agradecimentos Esta tese só foi possível graças ao sentido contributo, apoio e interesse de muitas pessoas a quem gostaria de agradecer. Ao Professor Doutor Joaquim Pais de Brito, enquanto orientador, agradeço pelo que aprendi do seu conhecimento acumulado e da vasta experiência académica e museológica, características que beneficiaram a concretização desta tese. Mais ainda, enquanto Diretor do Museu Nacional de Etnologia, sou grato por ter permitido toda a liberdade no acesso ao acervo do Museu de Arte Popular. O trabalho para esta tese começou, de certa maneira, ainda antes da sua ideia quando, em 2007, integrei a equipa de limpeza, inventário, acondicionamento e transporte do acervo do Museu de Arte Popular, juntamente com: Pedro Augusto, Cláudia Duarte, Élis Marçal, João Silva, e Catarina Teixeira. Sem a vossa companhia, conversas e ideias eu nunca teria começado. No Museu de Arte Popular não posso esquecer a amizade e o carinho da Amália Freire e da Autília Martins, a dedicação do Dr. José Miguel Bernardo e a compreensão e paciência das Dra. Elisabeth Cabral e Dra. Luísa Abreu Nunes e depois a Arq. Andreia Galvão. Toda a equipa do Museu Nacional de Etnologia que ao longo do tempo me apoiou, em especial à Dra. Carmen Rosa e ao atual Diretor, Dr. Paulo Costa, pelas suas leituras, comentários e sugestões. No Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o trabalho do Dr. Paulo Tremoceiro foi fundamental para navegar nos quilómetros de pastas do arquivo SNI que, hoje ainda, não está completamente inventariado. Do mesmo modo foi importante o apoio da Dra. Maria João no Arquivo Histórico da Secretaria-Geral de Economia para descobrir o que era relevante entre tantos microfilmes. v À Fundação para a Ciência e Tecnologia agradeço o financiamento da bolsa de doutoramento para esta dissertação de doutoramento, bem como ao júri que a aprovou. As amizades não se agradecem, mas não posso deixar de referir todos aqueles que durante este tempo longo de silêncios e ausências me apoiaram e compreenderam: Célia Antunes, Patrícia Cabral, Rita Cachado, Isabel Cardana, Ana Carrapato, Manuel Durão e Eunice Carriço, Lia Gomes, Inês Lourenço, Patrícia Melo, Sofia Miranda, Marta Prista, e Odete Viola. Bruno Silva e Ana Filipa Pinheiro voltaremos a pedalar juntos. À Prof.ª Doutora Cláudia Pereira que leu, anotou, comentou e me aturou. À Diana, ao Sérgio e a meus pais, Paulo e Ilda Oliveira, minhas âncoras em tempos mais revoltos. À memória de MGR, EDG e FFG. vi Índice Introdução ........................................................................................................................ 1 1. Origens do Museu ...................................................................................................... 13 1.1 António Ferro ......................................................................................................... 15 1.2 O Secretariado da Propaganda Nacional ................................................................ 34 2. As iniciativas folcloristas e etnográficas do Secretariado ..................................... 43 2.1 A etnografia ao serviço da propaganda: a exposição de Genebra ..................... 43 2.2 A exposição de arte popular em Lisboa ............................................................ 54 2.3 A presença portuguesa na Exposição Internacional de Paris ............................ 59 2.4 Em busca do povo, iniciativas folcloristas do Secretariado .............................. 70 2.5 A presença portuguesa na Exposição Internacional de Nova Iorque ................ 75 2.6 O Centro Regional da Exposição do Mundo Português .................................... 79 2.7 A Nação de Ferro entre a propaganda e o espírito ............................................ 98 3. A construção do Museu .......................................................................................... 103 3.1 Primeiras obras e um plano de organização .................................................... 103 3.2 Exposições e diplomacia do Secretariado em tempo de guerra ...................... 124 3.3 A instalação do Museu de Arte Popular .......................................................... 136 3.4 O Museu Inaugurado ....................................................................................... 152 4. Um museu à beira Tejo .......................................................................................... 161 4.1 Os anos de Francisco Lage (1948-1957) ......................................................... 161 4.2 Os anos de Manuel Melo Correia e Madalena Cagigal e Silva (1957-1968) ... 175
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