Lenox Fight Competition) Do Distrito De Icoaraci

Lenox Fight Competition) Do Distrito De Icoaraci

1 A REPERCUSSÃO DO MIXED MARTIAL ARTS SOBRE A REPRESENTAÇÃO SOCIOECONÔMICA DE LUTADORES DO LFC ( LENOX FIGHT COMPETITION) DO DISTRITO DE ICOARACI Breno Vilhena do Nascimento Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Vera Solange Pires de Souza Professor orientador do CEDF/UEPA [email protected] Resumo Este artigo apresenta a pesquisa na qual buscamos compreender a repercussão socioeconômica do MMA na vida de lutadores de um evento do distrito de Icoaraci. Nesse sentido, desenvolvemos uma pesquisa de campo, abordagem qualitativa, enfoque materialismo histórico dialético em um evento profissional e oficial. Obtivemos a colaboração de dez lutadores de MMA que venceram alguma edição do LFC (Lenox Fight competition) através de entrevistas semiestruturadas. Identificamos diversas dificuldades passadas por esses atletas profissionais que ajudam a fortalecer o MMA em Icoaraci. A partir de nossa pesquisa podemos ver como o escalão mais baixo da sociedade lida com o fenômeno esportivo MMA, e como este chega aos lutadores de eventos menores como uma atividade de risco considerável e quase sem remuneração. O sonho dos atletas é quase que na totalidade pautado na cultura do capitalismo. Palavras-chave: Repercussão socioeconômica. Fenômeno esportivo. Lutadores. Sonhos. INTRODUÇÃO Atualmente, temos assistidos atônitos às proporções que tem ganhado, em âmbito planetário, o fenômeno esportivo MMA (Mixed Martial Arts). É o esporte sensação do momento, angariando aceitação dos mais diferentes públicos e estratos sociais. A aceitação destes eventos marciais tem sido tão grande que cogitam futuramente rivalizar em pé de igualdade com o futebol pela preferência nacional. Mas nem sempre foi assim. O MMA tem em sua gênese um passado obscuro, marginal no qual era comparado a verdadeiras rinhas de briga. Eram os chamados torneios de Vale-Tudo, fase embrionária do atual UFC. Foi idealizado pela família Gracie que perspectivava legitimar o Brazilian Jiu-jitsu como mais eficiente arte de combate. Com poucas regras e possuindo um formato brutal sofreu duras críticas de diferentes setores da sociedade, inclusive do setor político, na 2 figura do senador do Estado da Flórida (EUA) na época John Mc Cain alegando que os torneios eram abusivos e violentos. O futuro das artes marciais mistas estava ameaçado. O UFC (Ultimate Fighting Championship) surge em 1993 em substituição aos criticados torneios de Vale-Tudo. No entanto, em suas primeiras edições mesmo incluindo algumas regras, ainda, sim, continuava sendo assombrado pelo seu passado. Na história recente das artes marciais mistas e do UFC, principal evento de MMA, aparece como figura central neste processo de popularização, esportivização-institucionalização e valorização, aludidos acima, o ex-empresário de boxe e atual presidente do UFC, o polêmico Dana White. White pode ser considerado o redentor do MMA legitimando-o como esporte legalizado, hoje, por todas as comissões atléticas americanas e internacionais. Dana White junto aos irmãos Ferttita comprou o UFC por uma bagatela de 2 milhões de dólares e conseguiu a façanha, numa verdadeira cartada de mestre e de muito marketing, virar o jogo a seu favor tornando o UFC uma das marcas esportivas mais valorizadas da indústria de material e entretenimento esportivo. Aos poucos a imagem negativa associada ao MMA tem sido embasada na memória do público inebriado pelas performances cinematográficas dos artistas marciais no octógono. O interesse por tal empreendimento remonta a epigênese da infância do autor quando inicia sua jornada pelas veredas do Caminho Suave do Judô assumindo-o como filosofia de vida. Outro motivo que justifica este empreendimento foram às experiências vivenciadas como monitor no Projeto, de iniciativa do Governo Federal, “Mais Educação”. Durante as aulas no projeto alguns episódios singulares, envolvendo os alunos, chamaram nossa atenção. Percebeu-se o quanto o MMA tem influenciado o imaginário das crianças desejosas de trilhar o mesmo caminho dos heróis do UFC reproduzindo durante as aulas os golpes, expressões e palavreados característicos deste universo. Estes eventos levaram-nos perceber que, hoje, é cada vez mais difícil ser mestre de uma arte de combate japonesa, como judô, em uma sociedade que vulgariza tudo aquilo que ameaça seus valores alienantes. A incorporação dos valores da cultura ocidental (LAUTERT et al, 2005) e a influência do MMA sobre o imaginário das crianças têm secundarizado os princípios ético-filosóficos das artes de combate orientais constituindo-se mais como um instrumento de veiculação da ideologia dominante do que como um espaço de resistência. “Quando uma prática 3 corporal é transformada em mercadoria, perde seu significado concreto, sua historicidade e sua temporalidade”. (CARVALHO, 2007, p. 168) Alguns episódios mostrados pela mídia envolvendo estudantes brigando na escola, imitando lutas de MMA são cada vez mais comuns, seriam os alunos influenciados pelo MMA? Diversos são os casos de confusões feitas pelos chamados “pitboys”, geralmente jovens abastados e lutadores de alguma arte marcial. O representante mais notório desse grupo de arruaceiros foi Ryan Gracie, penta campeão mundial de MMA. Estes eventos levam-nos a questionar a fala dos lutadores entrevistados na reportagem que afirmaram que o MMA não incita a violência ou mesmo o discurso mistificador entorno do esporte que costuma associar a ele uma função social maior do que realmente possui ou é capaz de desempenhar na sociedade (BRACHT, 2005). É inegável a repercussão deste fenômeno esportivo, sem exageros em âmbito planetário, no entanto, negar sua influência no comportamento social é no mínimo naturalizar que o comportamento violento de jovens arruaceiros é descolado da realidade. Faz-se necessário uma leitura do MMA com outros olhos, que não sejam os do espectador fascinado. Precisamos compreender com radicalidade, por exemplo, seus desdobramentos na sociedade e o fascínio que exerce sobre o imaginário da criança e do jovem desejosos de trilhar o mesmo Dô (Caminho) de seus heróis repercutido inclusive em seus próprios projetos de vida. Desta forma, intui-se compreender quais os motivos que levam os lutadores de eventos menores, em relação ao UFC, a exporem sua integridade física ou mesmo sua vida a uma situação de risco? Quem são esses indivíduos? De que estratos sociais são provenientes? De que maneira o MMA está sendo representado socioeconomicamente para estes indivíduos? Qual o projeto de vida destes atores sociais? Buscamos por meio deste estudo, responder à nossos objetivos que se mostram muito claros, no que tange entender a lógica do capital perante o esporte e como este tem se mostrado enquanto mantedor da ordem capitalista. O perfil socioeconômico dos lutadores de MMA de uma região periférica de Belém nos fará entender de que forma o MMA chega até o escalão mais baixo da sociedade, como os lutadores são influenciados por esse ambiente violento das artes marciais 4 combinadas. De que maneira os projetos de vida dos atores sociais em questão mudam com essa prática. Nós, enquanto formadores de opinião, professores que somos, achamos fundamental para a sociedade a pesquisa em questão, por se tratar do esporte que mais cresce a nível mundial. Será mesmo que este é o esporte das crianças? É no mínimo equivocado se analisarmos os relatos do autor sobre o comportamento de seus alunos, quando se mostram influenciados pelo MMA. As artes de combate japonesas têm no seu âmago, os fundamentos éticos e os códigos de conduta que são fundamentais para a formação do caráter dos indivíduos. Ao analisarmos o MMA fica difícil de identificar tais condutas éticas, o respeito ao adversário se perdeu conforme o capital se estabeleceu perante as artes de combate. O judô juntamente com seu apolitiquismo, ajuda na formação de um indivíduo, conforme os padrões do capitalismo (CARVALHO, 1989). Acreditamos que uma leitura mais lúcida sobre esse fenômeno esportivo deva ser empreendida, pois se acredita que suas influências extrapolam o campo econômico, enquanto prolongamento do sistema socioeconômico atual (NOZAKI, 2008). Atinge também a própria representação socioeconômica desejosa, muitas vezes, de alcançar o status dos heróis do UFC. É impressionante esta influência quando identifico em meus alunos de judô do Projeto Mais Educação a reprodução dos símbolos disseminados pelo MMA, quando vemos alunos em demonstração de violência durante o intervalo ou mesmo a febre das academias de MMA. Em síntese, este estudo justifica-se pela necessidade de produções que supram a escassez de material disponível e que busquem compreender o MMA para além das aparências fenomênicas. Ou seja, como fenômeno esportivo fruto do modo de produção capitalista e como expressão dos desdobramentos/metamorfose do esporte moderno (BRACHT, 2007; PRONI, 2008). Justifica-se, ainda, pela necessidade de compreendermos os desdobramentos assumidos por tal fenômeno na sociedade. Compreender, por exemplo, de que maneira tem afetado a representação social e econômica repercutindo inclusive nos projetos de vida de vida de lutadores de cartéis menores desejosos de um dia poder alcançar o status de um Anderson Silva1. 1Maior ídolo de MMA na atualidade, atualmente é detentor do título de peso médio(até 84 kg) do UFC. É um dos atletas preferidos de Dana White ,presidente do UFC, por seu estilo de luta inconfundível e arrojado. É hoje no UFC , o lutador que mais defendeu o cinturão de 5 1 DA GÊNESE À ATUALIDADE As características das artes de combate japonesas se diferem muito do MMA no que tange o caráter educacional, não apenas da prática como meio de luta. Nada sob o céu é mais importante que a educação. Os ensinamentos de uma pessoa virtuosa podem influenciar uma multidão; aquilo que foi bem aprendido por uma geração pode ser transmitido a outras cem. (JIGORO KANO, apud, STEVENS, 2007, p. 48) Pensamos que as artes de combate japonesas possuem uma função social diferente desta posta pela mídia de enaltecer o campeão ou de (des) sensibilização do ser humano como ocorre nos torneios de MMA. Pois, quanto mais sangue e hematomas mais atrativos se tornam para o público. Pensamos ser no mínimo preocupante que esta anulação do ser humano torne-se uma atividade de lazer para as pessoas.

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