Assembleia De Formigas (Hymenoptera: Formicidae) Em Ambientes Escolares Urbanos

Assembleia De Formigas (Hymenoptera: Formicidae) Em Ambientes Escolares Urbanos

Assembleia de formigas (Hymenoptera: Formicidae) em ambientes escolares urbanos Ant assemblies (Hymenoptera: Formicidae) in urban school environments Carin Guarda1 Junir Antonio Lutinski2 Maria Assunta Busato3 Flávio Roberto Mello Garcia4 Resumo Introdução: escolas urbanas oferecem condições favoráveis para a presença das formigas e apresentam carência de estudos relacionados à riqueza, abundância e diversidade destes insetos. Objetivo: caracterizar a fauna de formigas em ambientes escolares urbanos de Santa Catarina. Método: a amostragem foi realizada em quatro ambientes: área externa, refeitório, cozinha e almoxarifado em 12 escolas. Utilizando iscas e coleta manual em cada ambiente. As assembléias foram avaliadas e comparadas por meio de análise de rarefação e estimativa de riqueza. A associação das formigas com os ambientes escolares foi avaliada por meio de análise de componentes principais. Resultados: foram identificadas 45 espécies, 16 gêneros e cinco subfamílias. Mirmicinae e Formicinae foram às subfamílias mais ricas. Os gêneros mais representativos foram Pheidole, Camponotus e Solenopsis. O ambiente externo apresentou maior riqueza e abundância. Conclusão: espécies registradas nos ambientes internos também foram encontradas nos ambientes externos reforçando a necessidade de cuidados com o acesso das formigas. Palavras-chave: mimecofauna, escolas urbanas, gestão ambiental Abstract Introduction: urban schools offer favorable conditions for the presence of ants and exist a lack of studies related to the richness, abundance and diversity of these insects in these environments. Aim: characterize the ant fauna in urban school environments. Methods: sampling was performed in four environments: external area, dining hall, kitchen and warehouse, in 12 schools. Were used baits and manual collection in each environment. 1Doutoranda em Ciências da Saúde, Universidade Comunitária da Região de Chapecó-UNOCHAPECÓ. [email protected] 2Doutor em Biodiversidade Animal. Docente, Universidade Comunitária da Região de Chapecó- UNOCHAPECÓ. [email protected] 3Doutora em Biologia. Docente, Universidade Comunitária da Região de Chapecó-UNOCHAPECÓ. [email protected] 4Doutor em Zoologia. Docente, Universidade Federal de Pelotas-UFPL. flaviormg@h otmail.com Revista NBC - Belo Horizonte – vol. 8, nº 15, junho de 2018 35 The assemblies were evaluated and compared by a rarefaction analysis and richness estimation. The association of ants with school environments was evaluated through a principal component analysis. Results: a total of 45 species, 16 genera and five subfamilies were identified. Mirmycinae and Formicinae were the richest subfamilies. The most representative genera were Pheidole, Camponotus and Solenopsis. The external environment presented the greater richness and abundance. Conclusion: species recorded in indoor environments were also found in the external environment, reinforcing the need for care of ants' access. Keywords: mirmecofauna, urban schools, environmental management INTRODUÇÃO Formigas são insetos sociais incluídas em 16 subfamílias, 330 gêneros (BACCARO et al., 2015) e aproximadamente 14.000 espécies descritas (AGOSTI; JONHSON, 2016). Estão presentes em praticamente todos os ambientes terrestres, mas é na região neotropical que esses insetos apresentam maior abundância, frequência e diversidade (BACCARO et al., 2015). Os Biomas brasileiros abrigam uma das maiores diversidades de formigas do mundo, com 1.458 espécies, distribuídas em 111 gêneros (BACCARO et al., 2015). O estado de Santa Catarina possui registro de 366 espécies de formigas, pertencentes a 70 gêneros, sendo a região oeste a que possui a maior riqueza, com 207 espécies (ULYSSÉA et al., 2011; LUTINSKI et al., 2014). Estes insetos atuam de maneira significativa em todos os níveis tróficos (CAMPOS, 2011; BACCARO et al., 2015), exercendo importante papel na dinâmica dos ambientes como um todo (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990; SILVESTRE, 2000). Em virtude de sua dieta e de diversos tipos de interações com animais, plantas e fungos participam ativamente das relações ecológicas com outros organismos e no fluxo de energia e ciclagem de nutrientes (CAMPOS, 2011; BACCARO et al., 2015). Contribuem desta forma para o equilíbrio dos ecossistemas (DEL-CLARO, 2008). Dentre os insetos, as formigas estão entre os que melhor se adaptaram aos ambientes urbanos, onde passaram a viver próximo dos seres humanos e se beneficiar da disponibilidade de recursos e de abrigo (BRAGANÇA; LIMA, 2010; SILVA et al., 2012). No Brasil, as populações de 59 espécies de formigas urbanas podem atingir status de pragas (CASTRO et al., 2015). O grande sucesso dessas espécies se deve ao comportamento social elaborado e ao hábito alimentar onívoro (CAMPOS, 2011), a exemplo dos ambientes escolares. Escolas são constituídas por ambientes construídos como salas de aula, cozinha, banheiros, sala dos professores, almoxarifado e áreas externas como jardins e pátios (BRASIL, 2002). Na área externa podem ser encontradas árvores, edificações, calçadas e estacionamento local (LUTINSKI et al., 2014). Observa-se também uma intensa circulação de pessoas o que favorece a presença de formigas (ZARZUELA; RIBEIRO; CAMPOS-FARINHA, 2002). A presença de formigas em ambientes urbanos como escolas possui importância sanitária devido ao potencial destes insetos agirem como veiculadores de microrganismos patogênicos como bactérias (LISE; GARCIA; LUTINSKI, 2006; VIEIRA et al., 2013) e fungos (SILVA et al., 2005). Favorecem contaminação nos Revista NBC - Belo Horizonte – vol. 8, nº 15, junho de 2018 36 ambientes onde circulam (LISE; GARCIA; LUTINSKI, 2006; FONTANA et al., 2010). Algumas espécies pertencentes aos gêneros Camponotus Mayr 1861, Pachycondyla Smith 1858, Solenopsis Westwood, 1840 e Wasmannia Forel 1893 podem causar acidentes através de ferroadas e mordidas, causando incômodo e ardência ou até mesmo reações alérgicas (HADDAD JUNIOR, 2009, CASTRO et al., 2014). Nos ambientes escolares urbanos, o acesso ao ambiente, disponibilidade de alimentos, estrutura da edificação, proximidade com áreas verdes e circulação de pessoas são condições favoráveis para a presença de formigas (ZARZUELA; RIBEIRO; CAMPOS- FARINHA, 2002; FONSECA et al., 2010). A presença de vegetação externa nos ambientes escolares (LUTINSKI et al., 2014), pode representar refúgios para espécies de invertebrados (ESTRADA et al., 2014), dentre eles as formigas. Há uma carência de estudos sobre a riqueza, abundância e composição das assembléias de formigas que ocorrem em ambientes escolares. Diante disso, este estudo teve como objetivo caracterizar a fauna de formigas que ocorrem em escolas urbanas da região oeste de Santa Catarina. MATERIAL E MÉTODOS As amostras foram realizadas em doze escolas localizadas em áreas urbanas de quatro municípios da região oest e de Santa Catarina, sendo eles, Chapecó, C axambu do Sul, Guatambu e Palmitos. Seis das escolas pesquisadas pertencem ao muni cípio de Chapecó e duas, a cada um dos demais municípios. As escolas amostradas possuem tamanhos variados, a menor com 163 estudantes matriculados e a maior com 900. Tabela 1 - Coordenadas geográficas e o número de estudantes de cada escola onde foram realizadas amostras de formigas no período de setembro a outubro de 2016. Município Escola Coordenadas geográficas Número de estudantes 1 27° 9'45.98"S; 52°52'48.42"O 280 Caxambu do Sul 2 27° 9'22.98"S; 52°52'55.49"O 360 3 27° 5'37.50"S; 52°37'50.58"O 900 4 27° 5'33.42"S; 52°40'27.50"O 500 5 27° 5'55.76"S; 52°40'15.16"O 600 Chapecó 6 27° 5'27.36"S; 52°37'30.89"O 170 7 27° 4'53.62"S; 52°38'24.76"O 243 8 27° 5'40.40"S; 52°38'45.87"O 258 9 27° 7'57.52"S;52°46'46.60"O 320 Guatambu 10 27° 7'55.72"S; 52°47'14.17"O 600 11 27° 4'14.56"S; 53° 9'32.84"O 163 Palmitos 12 27° 4'37.61"S; 53° 9'19.10"O 345 Revista NBC - Belo Horizonte – vol. 8, nº 15, junho de 2018 37 Amostras As formigas foram amostradas entre setembro e outubro de 2016, em quatro ambientes escolares: área externa, refeitório, cozinha e almoxarifado. As amostras foram realizadas durante o período diurno, entre as 09:00 e 17:00 horas. Foram utilizadas iscas à base de sardinha e mel (duas iscas de 1 g de sardinha, duas iscas de 1 mL de mel) e coleta manual por uma hora, em cada ambiente escolar. As iscas foram preparadas sobre retângulos de papel poroso (papel toalha) e distribuídas de forma equidistantes em cada ambiente (LUTINSKI et al., 2014). A amostragem manual foi realizada por duas pessoas, obedecendo a um percurso aleatório (SARMIENTO, 2003), com duração de 1 hora em cada ambiente perfazendo um total de 48 horas. Foram utilizados pinça e tubos tipo Eppendorf contendo álcool 70% para armazenar as formigas coletadas na amostragem manual. As iscas foram armazenadas em sacos plásticos. Cada amostra foi identificada com data e local de amostrage m e encaminhada ao Laboratório de Entom o logia da Universidade Comunitária da Re g ião de Chapecó (UNOCHAPECÓ) para tri a gem e identificação das formigas. A identificação dos espécimes foi realizada com base nas chaves propostas por Gonçalves (1961), Kempf (1964, 1965), Watkins (1976), Della-Lucia (1993), Lattke (1995), Taber (1998), Bueno e Campos-Farinha (1999) e Fernández (2003). A classificação seguiu Bolton (2003) e os exemplares amostrados foram também comparados com os espécimes depositados na Coleção Entomológica da mesma universidade. Análise dos dados A riqueza foi definida como o número de espécies de formigas que ocorreram em cada uma das amostras. A abundância foi definida com base na frequência relativa (número de registros de uma dada espécie em cada isca ou amostra manual) e não com base no número de indivíduos. O número de registros minimiza o efeito dos hábitos de forrageamento e do tamanho das colônias e é mais apropriado para estudos de insetos sociais (ROMERO; JAFFE, 1989). Para apresentar a riqueza amostrada em cada ambiente escolar e caracterizar as espécies mais abundantes, foi construída uma tabela apresentando a frequência relativa das espécies nas amostras ( L ISE; GARCIA; LUTINSKI, 2006). Co m o critério para dominância, considerou-se as espécies que apresentaram frequência relativa maior que 10% (fr>0,1) nas amostras (NOVOTNÝ; BASSET, 2000).

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