Ruínas E Urubus: História Da Ornitologia No Paraná. Período De Natterer, 1 (1820 a 1834) ; Por Fernando C

Ruínas E Urubus: História Da Ornitologia No Paraná. Período De Natterer, 1 (1820 a 1834) ; Por Fernando C

Hori Cadernos Técnicos 5 RUÍNAS E URUBUS: HISTÓRIA DA ORNITOLOGIA NO PARANÁ PERÍODO DE NATTERER, 1 (1820 a 1834) 1a Edição Fernando C. Straube Hori Consultoria Ambiental Curitiba, Paraná, Brasil Setembro de 2012 © URBEN-FILHO & STRAUBE CONSULTORES S/S LTDA. Ficha catalográfica preparada por DIONE SERIPIERRI (Museu de Zoologia, USP) Straube, Fernando C. Ruínas e urubus: história da ornitologia no Paraná. Período de Natterer, 1 (1820 a 1834) ; por Fernando C. Straube, apresentação de Renato S. Bérnils. – Curitiba, Pr: Hori Consultoria Ambiental, 2012. 241p. (Hori Cadernos Técnicos n. 5) ISBN 978-85-62546-05-1 1. Aves - Paraná. 2. Paraná - Ornitologia. 3. Ornitologia – História. I. Straube, Fernando C. II. Bérnils, Renato S., apresent. II. Título. III. Série. Depósito Legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto n1825, de 20 de dezembro de 1907. Dados internacionais de Catalogação da Publicação (Câmara Brasileira do Livro, São Paulo, Brasil) Capa: Composição com mata de araucária na Lapa (Paraná) (Foto: F.C.Straube), documentos e imagens de autoria de Aimée Adrien Taunay, Michael Sandler, Auguste de Saint-Hilaire e Jean Baptiste Debret, citados no texto. Foto em destaque: urubu-rei (Sarcoramphus papa) de Cassiano “Zapa” Zaparoli Zaniboni (www.zapa.photoshelter.com). 2012 http://www.hori.bio.br HORI CADERNOS TÉCNICOS n° 5 ISBN: 978-85-62546-05-1 CURITIBA, SETEMBRO DE 2012 CITAÇÃO RECOMENDADA Straube, F.C. 2012. Ruínas e urubus: História da Ornitologia no Paraná. Período de Natterer, 1 (1820 a 1834). Curitiba, Hori Consultoria Ambiental. Hori Cadernos Técnicos n° 5, 241+xiii pp. ABERTURA O CENTENÁRIO DA ORNITOLOGIA PARANAENSE “Às minhas viagens ao Paraná, atribuo a importância para que a continuidade do trabalho polonês na América do Sul não seja interrompida. Elas têm relevância por criarem um elo de ligação entre aqueles que já partiram e aqueles que ainda irão chegar” (Tadeusz Chrostowski, 1922, no livro “Parana”) 1 O dia 27 de setembro de 2012, escolhido para o lançamento deste livro, não é uma data comum. Ele corresponde ao momento em que, há exatos 100 anos atrás, o naturalista polonês Tadeusz Chrostowski, representado pelo zoólogo e embriologista Jan Tur (1875-1942) apresentou, em sessão da Sociedade Científica de Varsóvia2, o seu estudo intitulado “KOLEKCYA ORNITOLOGICZNA PTAKÓW PARANSKICH”, ou seja, “Coleção ornitológica paranaense”. Aplaudido e aprovado, o trabalho ganhou formato de artigo técnico, na revista “Sprawozdan z Posiedzen Towarzystwa Naukowego Warszawskiego”, periódico que ajuntava, sobre a forma de atas, o material discutido durante tais conferências. 1 Chrostowski, T. 1922. Parana: wspomnienia z pdrózy w roku 1914. Poznan/Varsóvia, Nakladem Ksiegarnia Sw. Wojciecha. Biblioteka Podrozy, Przygod i Odkyryc, volume 1. 237 pp., 16 fig., 1 mapa. 2 Towarzystwo Naukoke Warszawskie, fundada em 1907 a partir da Sociedade dos Amigos da Ciência (Towarzystwo Przyjaciół Nauk), estabelecida em 1800. i Graças a isso, a modesta – porém exaustiva – coletânea, preparada por ele com base em suas viagens pelo interior do Paraná entre 1910 e 1911, é considerada a primeira obra publicada versando exclusivamente sobre avifauna e unicamente sobre essa unidade da federação. É importante salientar que, muito tempo antes de deixar a Polônia para sua viagem pelo sul do Brasil, Chrostowski já tinha pleno conhecimento daquilo que encontraria ao eleger o Paraná como palco de suas pesquisas. Ele não esteve aqui como parte de itinerários maiores e sim o escolheu de forma resoluta, movido pelo interesse em novas descobertas e, naturalmente, pela grande concentração de emigrantes oriundos de sua terra natal, tornada independente apenas em 1918. Somando duas condições irrecusáveis, encontraria aqui um ambiente hospitaleiro por parte de seus conterrâneos já aclimatados e uma imensa quantidade de informações biológicas a serem colhidas, armazenadas, amostradas e divulgadas. De acordo com sua preleção: “Dentre todos os estados brasileiros, o Paraná é um dos menos conhecidos quanto à avifauna. Outros, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e até mesmo Pará e Amazonas [...] foram percorridos e propriamente pesquisados por ornitólogos e visitantes. No Paraná, essa situação não foi observada, cabendo aos residentes as duras e selvagens condições conhecidas”. Não obstante, ele também destaca os primeiros resultados divulgados sobre a avifauna paranaense, por intermédio do austríaco Johann Natterer que, em suas palavras, foi um dos mais famosos e competentes ornitólogos exploradores de todo o mundo, entretido no Paraná entre 1820 e 1821. Este volume da obra “Ruínas e urubus: história da Ornitologia no Paraná” é uma edição especial da série Hori Cadernos Técnicos e focaliza – por assim dizer – duas ii situações valiosas. A primeira, amplamente analisada em seu corpo textual, alude à inauguração da pesquisa com aves silvestres no Paraná, feita por meio de sistema de amostragem e divulgação técnica protocolar e que tem Natterer como personalidade mais destacada. A segunda, cronológica e comemorativa, refere-se ao momento do lançamento do livro, coincidindo propositadamente ao fechamento de um século repleto de informações que, além de pioneiras, foram sedimentares a tudo o que hoje se conhece. Que o início deste segundo século de Ornitologia se estenda por todos os cantos do território paranaense, em uma comemoração fraternal e progressivamente amparada por novas informações, surgidas de todos os tempos e lugares. Que nosso passado não seja omitido ou esquecido, posto que, com os fundamentos aqui apresentados, ele deve ser tratado como uma base indissociável a todos os novos horizontes a serem trilhados pelas gerações que aqui estão e, especialmente, por aquelas que ainda estão por vir. O AUTOR Curitiba, 27 de setembro de 2012 iii iv APRESENTAÇÃO É fácil prefaciar Fernando Straube. É ainda um prazer e, acima de tudo, uma honra. Fácil, prazeroso e honroso porque Straube é um amigo de muitos anos, alguém que considero como irmão; e também porque se trata de pesquisador dos mais profícuos (se não o mais) em termos de História Natural no Paraná, autor de textos fundamentais não apenas de seu campo primário de investigação, a Ornitologia, mas também de outras áreas da Zoologia, bem como de Botânica, Geografia, História da Ciência, Heráldica, Semiótica, Etimologia, Semântica... Num espectro amplo que vai da propedêutica básica até o conhecimento heurístico mais profundo. Em outras palavras, conhecendo o valor, a completitude e a prodigalidade da produção de Straube, aceitei não apenas com muito orgulho o convite para fazer esta apresentação, mas também com o sentimento citado de que seria tarefa fácil. Tola ilusão! Após ler o presente volume de Ruínas & Urubus, redigido de forma tão cuidadosa quanto cativante, me senti quase incapaz de escrever algo à altura da obra, de agrado do autor e, ao mesmo tempo, estimulante ao leitor novato... Simplesmente porque as qualidades desses três elementos (a obra, o autor e o leitor atraído por esse tema) dispensam apresentações! Ainda assim, passado esse primeiro momento de pânico, aproveito a oportunidade para expressar algumas palavras sobre o autor e sobre o assunto, que me é muito caro e deleitoso. Em sua Introdução a este segundo volume da coleção, Straube deixa claro que não se contenta em v apresentar e datar os fatos, já que procura também interpretá-los à luz dos conhecimentos da época em que ocorreram, e atualizá-los. Nada mais justo! A contextualização é necessária para podermos avaliar de modo adequado as contribuições (ou não) dos naturalistas (viajantes ou de gabinete) do século XIX. Mas quem realmente está apto a fazer essas interpretações? Será que qualquer ornitólogo, por mais experiência que possua na ciência a que se dedica, é capaz de fazer uma boa releitura das contribuições oitocentistas? Certamente que não, e aqui reside mais um dos trunfos de Ruínas & Urubus, pois o autor demonstra domínio mais do que suficiente para contextualizar os fatos relatados, apropriadamente dimensionando-os aos leitores do século XXI. Tal competência fica ainda mais patente se avaliarmos as informações que o autor buscou para a realização da obra. Como neto de um dos pioneiros das Ciências Naturais no Paraná e filho de um dos grandes pesquisadores da História paranaense, Straube esteve sempre bem munido de fontes bibliográficas e iconográficas complementares às publicações clássicas e inevitáveis de (e sobre) Saint-Hilaire, Natterer, Langsdorff etc. Teve acesso e, é claro, soube usar essas fontes, e essa peculiaridade tornou muito mais informativos e integrados os textos daqueles (ou sobre aqueles) naturalistas – e, me adiantando um pouco, ficou tão mais evidente quanto bem-vinda no terceiro volume de Ruínas & Urubus (que já pude bater o olho, ansioso pelo lançamento). Traçar qualquer histórico de atividades científicas no Paraná é um desafio e tanto. As fontes são poucas e incompletas, e o estado foi relegado a um segundo plano na maior parte de sua existência. Por exemplo, Straube nos demonstra como algumas expedições passaram pelo Paraná quase que por acidente ou por acaso, como na visita de vi Natterer, interrompida por ordens superiores, ou na breve incursão de alguns membros da Expedição Langsdorff, que decidiram fazer uma “visitinha” às terras da 5ª Comarca quase que apenas para fugir ao tédio de sua estadia na fazenda Ipanema – e voltaram tão logo enfrentaram dificuldades (enchente no rio Iapó, Castro). O caso é que o Paraná estava fora das rotas que chamavam mais a atenção dos viajantes oitocentistas, muitos dos quais interessados em conhecer as riquezas já descobertas em Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso e/ou viajar apenas por regiões que contavam com melhor estrutura de comércio e segurança, em geral por estradas vigiadas por tropas reais (depois imperiais e por fim republicanas) e ligadas a sistemas confiáveis de transporte e comunicação, ainda que rudimentares. O Rio de Janeiro, evidentemente, foi a região mais visitada naquele século, já que era nossa capital e apresentava condições menos selvagens do que o resto do Brasil, além de ser seu porto mais movimentado. E São Paulo (sem o Paraná) era caminho natural para se atingir parte de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso [do Sul].

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