―Arreda Homem, Que Aí Vem Mulher...‖: Dimensões Do Corpo Na Performance Da Pombagira

―Arreda Homem, Que Aí Vem Mulher...‖: Dimensões Do Corpo Na Performance Da Pombagira

―ARREDA HOMEM, QUE AÍ VEM MULHER...‖: DIMENSÕES DO CORPO NA PERFORMANCE DA POMBAGIRA Tulani Pereira da Silva Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico- raciais, do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de mestre em Relações Étnico-Raciais. Orientadora: Profa. Dra. Elisângela de Jesus Santos. Rio de Janeiro Fevereiro de 2017 FOLHA DE ASSINATURAS ―ARREDA HOMEM, QUE AÍ VEM MULHER...‖: DIMENSÕES DO CORPO NA PERFORMANCE DA POMBAGIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico- raciais, do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de mestre em Relações Étnico-Raciais. Tulani Pereira da Silva Banca Examinadora: _____________________________________________________________________ Presidente, Professora Dra. Elisângela de Jesus Santos (orientadora/ CEFET-RJ) _____________________________________________________________________ Professor Dr. Luis Felipe dos Santos Carvalho (CEFET-RJ) _____________________________________________________________________ Professora Dra. Tatiana Damasceno (UFRJ) SUPLENTES: _____________________________________________________________________ Professora Dra. Maria Cristina Giorgi (CEFET-RJ) _____________________________________________________________________ Professora Dra. Valquíria Pereira Tenório (IFSP/ campus Matão) Rio de Janeiro Fevereiro de 2017 ―À Nívia Maria, minha mãe, meu pilar e escudo. Em especial à vovó Zilda, que (in)conscientemente, me mostrou os meandros de ser mulher. À memória não lembrada de vovó Noely, que sem ter em meu arquivo uma imagem sequer de seu sorriso, sintetizou em uma existência o que é ser Pombagira.‖ SARAVÁ! Agradecer não é tão simples quanto parece. É um ato de humildade e reconhecimento. A construção deste trabalho não foi uma tarefa fácil, logo os agradecimentos se dirigem a poucas e significativas pessoas, que de fato me acompanharam durante este processo. Agradeço a força suprema do universo, que chamamos de Deus, energia incriada, nem homem e nem mulher, nem isso ou aquilo, mas que figuramos às nossos imaginários limitados de gênero. Aos sagrados Orixás, emanações da natureza. Em especial a Oxum por manter em equilíbrio meu ori. A Oxalá por me desacelerar. Aos guerreiros das minhas batalhas diárias: Oyá e Ogum. Agradeço a Exu, potência geradora do movimento, por me apresentar as encruzas da vida e me desafiar a cada dia. Às Pombagiras, divinas mulheres com quem tanto aprendo, por me guiarem, protegerem e mostrarem que apesar de me ser caro, a sociedade falocêntrica pode e deve ser subvertida. Aos meus familiares, por vezes ser o apoio necessário e outras por ser minha provação. Em especial, a minha mãe Nívia Maria, mulher de coragem de quem me orgulho cada vez mais e sinto a certeza de ter feito a escolha certa, no plano espiritual, em pedir para ser sua filha. Ao meu pai, Rildo Pereira, por me mostrar os caminhos, me possibilitar fazer escolhas e ser aquele quem me inspirou a lutar pela minha dança. Aos meus amigos, os poucos que tenho e não preciso nomear, pois por si só já sabem quem são… muito obrigada por me acompanharem e compreenderem esta trajetória árdua e desafiadora que é estar entre a arte, a academia e o terreiro. A Fraternidade Espírita Cristã. Casa, morada, recanto, meu lugar, campo... onde cresci e aprendo tanto sobre a vida espiritual e a Umbanda. Em especial, a Dulce Monteiro, por abrir as portas. A Cabocla Jandira, por me permitir chegar. A Vovó Cambinda, por cada escuta e cada fala atenta. A Pombagira Rainha por ser voz e representar através dela, tantas moças que giram por lá. Ao professor Dr. Tadeu Mourão, por me auxiliar a encontrar a encruza. A minha orientadora, professora Dra. Elisângela Santos, mulher de fibra, paciência e determinação. Que sem perder a ternura não desistiu de mim, me mostrando com muita generosidade que a vida é feita de prioridades. Agradeço as professoras Dra. Maria Cristina Giorgi e Tatiana Damasceno pelas atenciosas contribuições. Ao professor Dr. Luís Felipe Carvalho, pelo carinho e ajuda com a riqueza de seus apontamentos. Aos demais professores e funcionários do PPRER, por participarem deste processo e auxiliarem na minha trajetória acadêmica. Aos queridos colegas do PPRER (pois esta dissertação é, de fato, fruto de um coletivo), com carinho especial aos da linha ―Campo Artístico e Construção de Etnicidades‖ e também àqueles de outras linhas de pesquisa, cuja veia artística pulsa em seus corpos e escritas: Alessandro Conceição, Aline Vilaça, Eneida de Oliveira, Humberto Manoel, Renan Moutinho e Tatiana Rosa. Aos membros do Coletivo de Negrxs do CEFET e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) do CEFET, sou grata por agregarem discussões e experiências valiosas. Em especial a Aleksandra Stambowisky, por abrir a gira na encruza e pelo nosso formidável encontro. A Vilma Neres, pelo talentoso olhar através das lentes e tamanha generosidade em contribuir com suas fotografias! Ao querido Zeca Ligiéro, meu guru! Grande Zé do morro de Santa Teresa, compadre das Pombas, que caminha lado a lado comigo. Sempre solícito de forma desinteressada, torcendo pelo meu crescimento. A Companhia Folclórica do Rio-UFRJ e em especial a minha mestra Eleonora Gabriel, por me apresentar a cultura popular e quão fascinante é cada descoberta e aprendizado dos seus saberes. Ao Projeto em Africanidade na Dança Educação (PADE-UFRJ) e em especial a Alexandre Carvalho, meu mestre querido, a quem estendo minha gratidão por toda vida pelos ensinamentos sobre o axé da religiosidade afro-brasileira. A todas as mães de santo, senhoras, mulheres e zeladoras das casas de axé com quem convivi e acompanhei tantas vivências sobre as macumbas, mandingas e mirongas: Mãe Nara de Oxóssi, Mãe Nani de Oxum, Mãe Maria de Xangô e Mãe Tânia de Jagun. Por fim e não menos importante, mas também intencionalmente, Oxalá vem encerrando o xirê… agradeço a Marlene Medrado, que na academia, me ensinou a agir com objetividade, e no terreiro sendo Iyá Marlene de Lufan, me ensinou que devagar também é pressa. Com carinho e respeito, dedico minha gratidão a todos, que nomeados ou não, contribuíram e agregaram para a construção deste trabalho, firmando ponto na encruzilhada. Axé! Saravá! ―Ela caminha pela estrada, ela caminha Pela estrada, eu caminhei. Eu caminhei e uma mulher eu encontrei…‖ Victor Garcia RESUMO A presente dissertação tem por tema o estudo da performance da Pombagira na umbanda através da ótica das relações étnico-raciais, investigando suas práticas corporais no campo artístico. O objetivo desta pesquisa é identificar, na realidade de uma instituição religiosa, a existência de possíveis características que estejam ligadas a uma representação de feminino independente e subversivo. Nosso problema de pesquisa que se apresenta, está centrado na seguinte questão: Será que a performance da Pombagira, a partir das práticas rito-litúrgicas dessa determinada instituição religiosa, nos aponta para características de um feminino emancipador? Para tal, realizamos abordagem qualitativa, uma pesquisa etnográfica junto à Fraternidade Espírita Cristã (FEC). Procura-se na observação participante – por meio dos elementos artísticos que compõem a performance da Pombagira no ritual: imagens (cenário, vestimenta e objetos), música (canto e percussão) e cena (dança, teatralidade e jogos corporais) – sentidos produzidos através deste corpo-mulher que se conectem a imagens de um feminino provido de algumas heranças artísticas e culturais negras, que apresentem (ou não) uma confrontação aos papeis sociais de dominação sociocultural e política atribuídos à mulher. Palavras-chave: Pombagira. performance. etnografia. corpo. relações étnico- raciais. ABSTRACT The present dissertation deals with the study of Pombagira‘s performance in umbanda through the optics of ethnic-racial relations, investigating their corporal practices in the artistic field. The objective of this research is to identify, in the reality of a religious institution, the existence of possible characteristics that are linked to an independent and subversive feminine representation. Our research problem is centered on the following question: Does Pombagira's performance, based on the ritual and liturgical practices of this particular religious institution, point us to the characteristics of an emancipatory feminine? For this purpose, in the qualitative approach, we conduct an ethnographic research with the Fraternidade Espírita Cristã (FEC). It seeks participant observation – through the artistic elements that compose Pombagira's performance in the ritual: images (scenery, dress and objects), music (singing and percussion) and scene (dance, theatricality and body playing) – senses produced through of this woman-body that connects to images of a feminine with some black artistic and cultural heritages that present (or not) a confrontation with the social roles of social, cultural and political domination attributed to women. Keywords: Pombagira. performing arts. ethnography. corpo. ethnic-racial relations. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Grupo mediúnico da Fraternidade Espírita Cristã na década de 90 57 Figura 2: Reiki 59 Figura 3: Evento com tema junino realizado pela FEC em 2015 61 Figura 4: Congá antigo da FEC na década de 1990 86 Figura 5: Betel 87 Figura 6: Espaço onde as entidades dão consulta 87 Figura 7: Sala do reiki 88 Figura 8: A linha do oriente, suas pedras

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