PRÁTICAS URBANÍSTICAS, INCLUSÃO SOCIAL E AUTONOMIA EM FAVELAS CARIOCAS Alunas

PRÁTICAS URBANÍSTICAS, INCLUSÃO SOCIAL E AUTONOMIA EM FAVELAS CARIOCAS Alunas

URBANISMO PELO AVESSO: PRÁTICAS URBANÍSTICAS, INCLUSÃO SOCIAL E AUTONOMIA EM FAVELAS CARIOCAS Alunas: Pamella Lopes de Almeida Silva e Thalia Pinto de Almeida¹ Orientadora: Prof. Dra. Rachel Coutinho Marques da Silva Introdução Este relatório visa apresentar os resultados das pesquisas realizadas no período de 08/2019 a 08/2020 no âmbito do grupo de pesquisa coordenado pela Prof. Dra. Rachel Coutinho Marques da Silva, nossa orientadora. A pesquisa visa entender as práticas urbanísticas e a participação comunitária decorrente de projetos urbanos em assentamentos informais e tem como foco a participação comunitária que foi implementada no âmbito do PAC-Urbanização de Assentamentos Precários (PAC-UAP). No ano de 2007, durante o segundo governo Lula, foi lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para todo o Brasil. Uma de suas diferentes frentes de ação foi o PAC-Urbanização de Assentamentos Precários, um programa que colocou recursos financeiros significativos para a urbanização das favelas, além de adotar também programas sociais importantes, não se limitando apenas às melhorias no espaço público ou de vias. Dessa forma, o PAC-UAP evitou ao máximo as remoções, inserindo vários programas sociais, equipamentos públicos e infraestrutura básica. Tinha como objetivo fornecer infraestrutura urbana básica, respeitando o morador das favelas e suas raízes afetivas. O plano previa investimentos nas seguintes áreas de atuação: PAC Cidade Melhor, PAC Comunidade Cidadã, PAC Minha Casa, Minha Vida, PAC Água e Luz para Todos, PAC Transportes e PAC Energia, em que futuramente se acrescentou ao projeto a construção de Unidades Básicas de Saúde, creches, pré-escolas e postos de polícia comunitária. Apesar de toda política de desenvolvimento urbano e social, o PAC demonstrou ser um programa complexo que necessitaria de um horizonte de tempo maior, razão pela qual algumas ações previstas não puderam ser implementadas. De toda a forma, o PAC trouxe muitas inovações, e uma dela foi a obrigatoriedade da participação comunitária. Um grande esforço com um significativo aporte de recursos financeiros foi feito para viabilizar a participação comunitária, por meio do Canteiro Social, também conhecido como Trabalho Social ou PAC Social. No entanto, apesar das boas intenções e das regras estabelecidas para fomentar a participação, muitos problemas ocorreram que não permitiram a efetiva participação da população. ¹ Vale mencionar que, a respeito da distribuição de tarefas, grande parte foi feita conjuntamente em grupo de pesquisa, sendo algumas tarefas realizadas individualmente pelas bolsistas Pamella Lopes/ Thalia Almeida e Tatiana Veloso. Contudo, o relatório é uma conclusão dos estudos realizados em grupo. Ver detalhamento das tarefas específicas na seção Metodologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Há que se ressaltar aqui, que a participação ficou a cargo de técnicos do Estado ou do Município, com a participação de profissionais das firmas contratadas, que não foram devidamente capacitados para o trabalho com a comunidade, principalmente os profissionais terceirizados. Logo, durante a pesquisa buscamos entender a relação das equipes de capacitação, das organizações não-governamentais e de residentes locais, a fim de avaliar os impactos pós-PAC nas favelas objeto do nosso estudo, e também verificar se a participação estimulada pelo processo do PAC-Social resultou em aumento dos níveis de participação e ativismo comunitário. Em janeiro de 2020, foi lançado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro o programa Comunidade Cidade. Este engloba projetos que serão realizados em diferentes favelas no estado, sendo a Rocinha a primeira a receber as obras. Há a previsão de 2 bilhões de reais em investimentos na Rocinha, sendo 1 bilhão na área de saneamento e 1 bilhão na área de infraestrutura. São 5 os eixos principais de atuação: saneamento, mobilidade, habitação, resíduos sólidos e equipamentos públicos. Ao contrário do PAC-UAP, o Comunidade Cidade não apresenta participação comunitária institucionalizada, o que gerou apreensão entre os moradores. Outro fato ocorrido no ano de 2020 e que será objeto de análise da pesquisa é o impacto da pandemia de Covid-19 nas favelas. O objetivo é mostrar o impacto da pandemia nas favelas e as medidas que estão sendo tomadas por parte dos próprios moradores para dar suporte uns aos outros através de ONGs e redes solidárias de ação social. O objetivo geral da pesquisa é analisar as políticas públicas e as práticas urbanísticas em favelas na cidade do Rio de Janeiro que receberam recursos do PAC-UAP, observando os níveis de participação comunitária antes e depois do PAC e aferindo as dimensões de inclusão, justiça social e autonomia. No caso da Rocinha, analisamos, além dos impactos do PAC-UAP, a visão dos moradores frente ao novo projeto anunciado, o Comunidade Cidade. Somado a isso, verificamos as consequências e as medidas que estão sendo tomadas nas favelas frente à pandemia de Covid-19. Áreas de estudo A pesquisa engloba três favelas no Rio de Janeiro que receberam recursos e obras do PAC-UAP (PAC Urbanização de Assentamentos Precários): Rocinha, Cantagalo/Pavão- Pavãozinho e Babilônia/Chapéu Mangueira. Além de terem recebido importantes obras públicas por meio do PAC-UAP, tiveram também Unidades de Polícia Pacificadora nelas instaladas, e possuem um histórico de ações comunitárias seja por meio de ONGs, coletivos, ou por meio de Associações de Moradores. 2 Departamento de Arquitetura e Urbanismo Rocinha Figura 1: Mapa da Rocinha. Elaborado por João Brum Rodrigues, 2020. Dados Estatísticos: Área (m²): 838.648 (IPP, 2018) População: 69.156 (IBGE, 2010) Número de Domicílios: 25.135 (IBGE, 2010) Obras do PAC: O projeto, iniciado em 23/07/2007, foi realizado em duas etapas, ambas as quais foram paralisadas antes da conclusão. A primeira etapa, com 73,63% das obras concluídas, teve o custo de 122,02 milhões de reais, enquanto a segunda, com 44% das obras concluídas, de 156,78 milhões. (Ministério das Cidades, 2019). As principais obras realizadas foram: construção de equipamentos públicos, como o Complexo Esportivo, a UPA e a Biblioteca Parque; alargamento e pavimentação da Rua 4 (antes um beco); construção de 144 unidades habitacionais, destinadas a famílias que tiveram suas casas desapropriadas para as obras ou retiradas de áreas de risco. Obras do Comunidade Cidade (previsão): Na área de saneamento, está previsto um investimento de 1 bilhão de reais pela CEDAE, direcionados para a construção de novas adutoras, redes de água, coletores tronco, redes de esgotamento sanitário, drenagem e pavimentação com abertura de vias carroçáveis. Há a promessa da universalização do acesso à água na Rocinha. 3 Departamento de Arquitetura e Urbanismo As propostas na área de mobilidade incluem a abertura de 3.836m de novas vias carroçáveis, além de 2.871m de vias de pedestres e da recuperação de 6.408m de vias existentes. Há também a proposta de melhorias de becos e escadarias no sub bairro de Vila Cruzado. A Via Ápia, principal eixo comercial da Rocinha, se tornaria um boulevard aberto apenas para pedestres após as obras. O projeto prevê a remoção de aproximadamente 7400 famílias (em torno de 20 a 30000 pessoas), somando as remoções de moradores de áreas de risco (em trechos dos sub bairros Dionéia, Cachopa, Laboriaux, Vila Cruzado, Faz Depressa, Capado, Terreirão e Macega) e as realocações decorrentes das obras. As 5000 famílias removidas de áreas de risco não receberão unidades habitacionais, apenas uma indenização da benfeitoria. Proprietários de estabelecimentos comerciais também receberão a indenização da benfeitoria, e inquilinos receberão auxílio habitacional por 3 meses. Segundo o projeto, serão construídos 18 edifícios de habitação de interesse social (HIS), de até 10 pavimentos, para realocar o segundo grupo, que equivale a 2400 famílias. Esses edifícios serão construídos em terrenos em diferentes localidades na Rocinha e nos seus limites com São Conrado e Gávea. Em 10 deles, haverá também comércio no térreo, somando um total de 341 unidades comerciais. Na área de resíduos sólidos, são propostos novas centrais de recebimento de lixo, instalação de contêineres e a construção de um polo de reciclagem no limite entre a Rocinha e São Conrado. Quanto a equipamentos públicos, são propostos um centro comercial (Comercial Boiadeiro), um centro de cidadania, uma escola técnica FAETEC, uma unidade escolar voltada para o ensino médio e um centro de imagem e diagnóstico, além da reforma de 12 creches já existentes. Pavão-Pavãozinho/Cantagalo Mapa mostrando Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Fonte: SABREN. Dados estatísticos: Área (m²): 65.098 (IPP, 2018) População: 5.567 (IBGE, 2010) 4 Departamento de Arquitetura e Urbanismo Número de Domicílios: 1.840 (IBGE, 2010) Obras do PAC: O projeto, iniciado em 09/12/2007, foi realizado em duas etapas, sendo a primeira concluída em 30/04/2015, custando 39,73 milhões de reais e a segunda paralisada por motivos técnicos, já tendo custado 35,99 milhões de reais. Apenas 40% das obras da segunda etapa foram executadas. (Ministério das Cidades, 2019). As principais obras realizadas foram, na primeira etapa: construção de 120 unidades habitacionais, destinadas a famílias que tiveram suas casas desapropriadas para as obras ou retiradas de áreas de risco; implantação de rede de esgotamento sanitário, rede de água potável, rede de drenagem pluvial e uma galeria de drenagem da Rua Sá Ferreira; pavimentação de becos, vielas e escadarias; construção de escadarias em áreas de difícil acesso e do

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