As Propostas De D. Macedo Costa Para a Civilização Da Amazônia (1860-1890)

As Propostas De D. Macedo Costa Para a Civilização Da Amazônia (1860-1890)

Karla Denise Martins Cristóforo e a Romanização do Inferno Verde: as propostas de D. Macedo Costa para a civilização da Amazônia (1860-1890) Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas sob a orientação do Prof. Dr. Leandro Karnal. Este exemplar corresponde à redação final da Tese defendida e aprovada em 16 / 12 /2005. BANCA _______________________________________________ Drº Leandro Karnal (IFCH-UNICAMP) (orientador) ________________________________________________ Drª. Eliane Moura da Silva (IFCH-UNICAMP) ________________________________________________ Drº. Roberto Romano da Silva (IFCH-UNICAMP) ________________________________________________ Drª. Irma Rizzini (UERJ-RJ) ________________________________________________ Drº. Carlos Eduardo Ornelas Berriel (IEL-UNICAMP) SUPLENTES ________________________________________________ Dª. Janice Theodoro da Silva (USP-SP) ________________________________________________ Dª. Leila Mezan Algranti (IFCH-UNICAMP) dezembro/2005 2 Cristóforo e a Romanização do Inferno Verde: as propostas de D. Macedo Costa para a civilização da Amazônia (1860-1890) Nosso objetivo é analisar a produção intelectual de D. Macedo Costa, bispo que esteve à frente da Diocese do Grão-Pará, durante a segunda metade do século XIX. Discutiremos suas idéias sobre relações familiares, políticas e religiosas. Isso é possível porque esse bispo deixou um acervo literário no qual percebemos os significados construídos sobre a Amazônia como modelo de sociedade católica. Com essas fontes, entendemos alguns pontos do debate entre liberais e “ultramontanos”, especialmente aqueles ligados à educação popular e à secularização social. Misturando temas de várias Bpocas, ele escreveu sobre assuntos diversos da sociedade de seu tempo. Assim, podemos entender como a partir de certa tradição literária, esse bispo representou sua sociedade e a si mesmo, no momento da mudança política que marcou a passagem da Monarquia para a República no Brasil. Palavras-chave: Brasil Império, Igreja Católica, Romanização, Ultramontanismo, Liberalismo, Maçonaria, Amazônia. The Cristóforo and the green hell romanization: the D. Macedo Costa’s proposes to the civilization of Amazon In this study we analyze the intellectual works of D. Macedo Costa, bishop of the Brazilian Province of Gran-Pará in the second half of the XIX century. We discuss his ideas about family, education, economy, politics and religion. We use the remaining bishop´s files and writings, to reconstruct his view of these themes and his prescriptions to conform a model of catholic society in Amazon. Through these sources, we understood better the debate between liberal and ultramontan groups, especially in reference to popular education and social secularization. The bishop’s thinking was influenced by ideas from different intellectual traditions to understand the society of his time. Thus, starting from certain literary tradition, we can understand how D. Macedo Costa represented himself and the society in the critical moment of the transition from Monarchy to the Republic. Keywords: Imperial Brazil, Catholic Church, Romanization, Ultramontanism, Liberalism, Freemasonry, Amazon. 3 Sumário Agradecimentos 004 Introdução 005 CAP. 1: D. Macedo Costa e seus escritos 011 1.1: Modernidade 015 1.2: Família 020 1.3: Obediência 039 1.4: Educação 041 1.5: Cristianismo, civilização e colonização 044 Cap. 2: D. Macedo Costa e a imprensa oitocentista 051 2.1: “O joio e o trigo” 061 2.2: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” 075 2.3: Um outro Cristianismo 090 2.4: Os “pedreiros livres” 095 2.5: Catequese na Amazônia 103 2.6: O suplício de Tântalo 111 Cap. 3: Projetos para a Amazônia 118 3.1: Crônicas religiosas 119 3.2: Os “desvalidos” do Grão-Pará 135 3.3: Extrativismo: salvação ou maldição da Amazônia? 146 3.4: Os núcleos agrícolas 154 Cap. 4: Catolicismo, Maçonaria e Liberalismo em debate 173 4.1: “O Catolicismo mascarado dos maçons” 175 4.2: Liberais e “ultramontanos” no Grão-Pará 186 Considerações finais 203 Bibliografia 207 4 AGRADECIMENTOS Devo meus sinceros agradecimentos ao Programa de Pós-graduação em História da UNICAMP por ter permitido a realização deste trabalho. Ao meu orientador e amigo Leandro Karnal que acompanhou meus passos nessa jornada, tornando-a menos espinhosa. À professora Célia M. M. de Azevedo, por ter permitido que eu entrasse em contato com uma bibliografia que até então não conhecia e que me ajudou a pensar a tese. Aos professores Eliane Moura da Silva e José Alves de Freitas Neto, pelos conselhos e críticas ao texto na qualificação. Ao Alcebíades Rodrigues Junior, ou simplesmente Junior, que ajudou a minimizar os problemas burocráticos necessários à realização do trabalho acadêmico. Agradeço, também, aos meus bolsistas Juliana Pereira Ramalho e Franco Valentim Pereira por terem digitalizado uma parte do material de pesquisa e Alex Eugênio da Silva, por ter feito a imagem que usamos na tese, a partir do desenho original. Não há palavras e nem gestos que possam expressar minha gratidão aos meus pais, que mesmo longe estão sempre perto. A meu companheiro Jonas, para quem dedico este trabalho. O que posso dizer senão MUITO OBRIGADA por sua existência, por sua paciência e, principalmente, pelo seu amor que me deu força para escrever. 5 INTRODUÇÃO “Tal será a missão gloriosa do Cristóforo: facilitar a difusão do fecundo germe da civilização cristã até pelas mais incultas e remotas paragens da Amazônia.” (D. Macedo Costa, 1884.) D. Macedo Costa foi um bispo que teve projeção na esfera política e religiosa do Brasil. Seu envolvimento na chamada Questão Religiosa, ocorrida na segunda metade do século XIX, tornou-o ainda mais conhecido, pois os documentos oficiais e jornais que circulavam na Corte citaram seu nome e seus feitos. No entanto, as idéias de D. Macedo Costa ficaram circunscritas a alguns trabalhos sobre esse evento e a uma biografia escrita por Antônio de Almeida Lustosa em 1933. Analisando os documentos produzidos por ele, além de outras fontes do mesmo período, percebemos que o bispo do Grão-Pará possuía projetos sociais que divergia dos programas político-partidários dos liberais. Procuramos, então, analisar a tradição literária com a qual o bispo dialogava e entender esse jogo político-religioso. Além das fontes que referimos acima, D. Macedo Costa publicou entre 1861 e 1890 muitos artigos e livros discorrendo sobre o devir da Amazônia. Nesses textos, há vários projetos ainda desconhecidos pela historiografia relativa ao Segundo Reinado. Os assuntos abordados pelo bispo cobrem temas relacionados à questão jurídica nacional, a problemas políticos, econômicos e sociais.1 Há, nessas fontes, uma discussão sobre o regalismo, o beneplácito régio, as reformas partidárias e eleitorais, o comércio e a indústria, a educação, a 1 Estamos lidando com um discurso teológico que procurou a reafirmação da Igreja na Amazônia. Tal como afirma Roberto Romano, a Igreja reascende seu papel soteriológico face um mundo que tenta a negação da transcendência. Cf: ROMANO, Roberto. Brasil: Igreja contra Estado (crítica ao populismo católico). São Paulo: Kairós, 1979. p. 22,23. 6 catequese e a família, enfim, vários temas que eram caros também aos liberais. A Amazônia de D. Macedo Costa é, nesse trabalho, a porta de entrada para essa discussão. Os projetos de D. Macedo Costa eram, na verdade, uma conjunção de idéias teológico-laicas adaptadas à situação da diocese. O bispo se cercou de escritos bíblicos e laicos, tais como os textos de São Paulo, de Santo Agostinho, de São Tomás de Aquino, de Lamennais, de Lacordaire, entre outros. Por meio desses textos, ele construiu uma base argumentativa que propunha o uso das modernas tecnologias para reforçar a importância do Cristianismo no mundo. Como exemplo, podemos citar o uso do vapor para levar “a luz do Cristianismo” aos povos mais distantes da floresta amazônica, especialmente para os que viviam às margens do rio Purus, ponto limite da diocese. Além disso, D. Macedo Costa preconizava uma sociedade cuja direção estava a cargo de sacerdotes, num formato próximo dos antigos aldeamentos jesuítas. Essa sociedade seria, na verdade, um conjunto de pequenas comunidades agrícolas, organizadas a partir do trabalho associativo, nas quais os homens produziriam e distribuiriam por igual os alimentos, vestimentas e demais riquezas materiais, tendo no Cristianismo o ponto de referência. D. Macedo Costa pensava no progresso moral baseado na vivência comunal entre os homens, na solidificação dos laços familiares e no princípio de solidariedade. Ao contrário do que propunham os liberais, D. Macedo Costa queria uma sociedade em que o progresso técnico servisse à reafirmação da vida cristã. Muitas das afirmações do bispo foram influenciadas pelas idéias de Lamennais, que pregava a instituição de uma sociedade agrícola dirigida por sacerdotes. Vemos, nas observações de Lamennais, uma crítica à sociedade industrial, que ele considerava injusta com os menos favorecidos. Para D. Macedo Costa, a população da Amazônia também vivia em quadro de miséria e o modelo de sociedade pensado pelos liberais não resolveria este problema; pelo contrário, a adoção do padrão europeu de civilização agravaria ainda mais aquela situação. Baseando-se em 7 1amennais e outros pensadores, o bispo planejou um modelo de desenvolvimento, no qual os sacerdotes seriam os responsáveis por levar a “salvação” para os pobres do Norte do Brasil. Os jesuítas, capuchinhos, membros

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