NOME: Filipe e Ricardo IDADE: 7 anos PAÍS: Portugal CIDADE: Miranda do Douro Filipe e Ricardo-PT.indd 1 6/24/10 8:20:13 PM HISTÓRIA Filipe e Ricardo 1 no Inverno Mirandês É Inverno. O frio é intenso, próximo dos zero graus. Filipe e Ricardo preparam-se para ir para a escola. Como são irmãos gémeos e, por isso, muito parecidos, escolhem roupas diferentes para que a professora os possa distinguir com mais facilidade. Vivem na cidade de Miranda do Douro, no extremo Nordeste de Portugal, mesmo junto à fronteira com Espanha. Com 7 anos, frequentam ambos o 2º ano e gostam muito da escola. Também amam a sua cidade, tão cheia de história e tão especial: é a única do país em que se fala outra língua além do Português! Não há muitos habitantes que conheçam esta língua, o Mirandês, mas são cada vez mais. Filipe e Ricardo aprendem-na na escola. Divertem-se a ensaiar diálogos que quase ninguém entende e a chamar “grave”, como os outros mirandeses, ao Português. O primeiro período escolar está quase a terminar. Em breve serão férias do Natal. Filipe e Ricardo estão ansiosos que cheguem esses dias. Pelo Natal, esperam receber os livros do Astérix em Mirandês, que pediram, e está combinada, com o pai, uma aventura pelas fragas do concelho, em busca do ouro das mouras encantadas. A avó Belarmina contou-lhes recentemente muitas lendas e os irmãos estão certos de que poderão encontrar um dos tesouros que os mouros deixaram escondidos, antes de partirem para a mourama, há muitos séculos. Mas faltam, ainda, alguns dias para o descanso e, hoje, é dia de aulas. A escola fica perto da sua casa, apenas alguns minutos a pé. Filipe e Ricardo enterram os gorros até às orelhas e esfregam as mãos para as aquecer. Tão diferente do Verão, em que mal se suporta a roupa no corpo, de tanto calor! À hora do almoço estarão de volta. Espera-os a avó, que tem sempre pitéus apetitosos para os mimar. Hoje é dia de posta Mirandesa, e os dois irão deliciar-se com a boa carne de vitela da região. 1 Uma vez que tem de incluir diversas temáticas a trabalhar no módulo, o texto é demasiado longo Finalmente, chegam as férias do Natal. Logo no primeiro fim-de-semana, saem cedinho para a capacidade de concentração com o pai. A geada cobre os campos de branco. Tiveram que vestir os agasalhos mais das crianças deste nível etário. Consequentemente, deve ser lido quentes, para que a mãe os deixasse sair. Dirigem-se às altas fragas sobranceiras em pequenas sequências narrativas, ao rio Douro. Que belo é tudo ali. Há uma grande paz naquela paisagem. De vez em quando, seguidas, sempre, de diálogo relativo uma ave de rapina cruza os ares, no seu voo alto e majestoso. Os gémeos estão tão ao contexto, finalizando com questões do tipo:” Querem saber o que encantados que até se esqueceram do cansaço. Mas logo se lembram, quando o pai os chama aconteceu, a seguir, com o Filipe para seguirem caminho até à nascente de um ribeiro, mais acima na montanha. e o Ricardo?” Filipe e Ricardo-PT.indd 2 6/24/10 8:20:36 PM - Diz-se que as mouras encantadas guardam os lugares que dão para o interior da terra. Quem sabe encontramos uma aí?! Os gémeos deixam-se cair sobre uma pedra, a meio caminho. Não têm mais forças. O pai guia-os de regresso a casa. Foi um belo dia, pena não terem encontrado nenhum tesouro, para comprar a mais bela prenda de Natal para a mãe... As férias do Natal passaram rápido. Entretidos com as leituras dos livros que receberam, os gémeos nem se aperceberam da chegada do seu fim. É já o primeiro domingo depois do Dia de Reis. Envergando a imponente Capa de Honra, o pai acompanha-os à exibição dos pauliteiros de Miranda. O tio António também lá estará, ostentando a bandeira. Os gémeos treinam desde os 5 anos e, agora, já podem participar nas apresentações do seu grupo. Os dois têm muito orgulho em partilhar, hoje, na festa do Menino Jesus da Cartolinha2, 2 Para mais informações sobre as danças que aprenderam. Empunham os paulitos e as castanholas que, em breve, farão a lenda que deu origem à veneração a esta imagem, consultar http://www. soar. Junto à Sé de Miranda, junta-se muito povo. Alguns vieram de longe para ver estas cm-mdouro.pt/cartolinha/ e http:// danças, tão antigas e tão diferentes de todas as outras. Filipe e Ricardo sentem um nervoso www.bragancanet.pt/picote/portugues/ miudinho. Será que tudo irá correr bem? Do meio da multidão, a mãe acena, carinhosa. imprensa/dn_menino_jesus.htm Os tocadores fazem soar a gaita-de-foles, o tamboril e a flauta pastoril. Começa a exibição, 3 Os “lhaços” constituem o repertório aberta pelo grupo de 8 meninos a que Filipe e Ricardo pertencem. Dançarão apenas alguns dos Pauliteiros e englobam música, “lhaços”3, deixando o resto para os mais crescidos e experientes. Parece que lutam, mas sem texto e coreografia. que ninguém se magoe. Os paulitos entrechocam e os dançadores aproximam-se e afastam-se, 4 Prato tipicamente mirandês. O bulho nas voltas da dança. Filipe e Ricardo querem continuar por muitos anos a aprender os “lhaços” é enchido na bexiga e no bucho, dos pauliteiros e, um dia, serem capazes de pular por cima de uma torre de companheiros e especialmente nas tripas mais largas do porco, e é feito em equilíbrio, fazendo o “Assalto ao Castelo”. das carnes e ossos do espinhaço e, eventualmente, também, algumas No fim da apresentação, espera-os o tio Eduardo, em casa de quem será, neste domingo, costelas. As cascas são o resultado da secagem das vagens dos feijões, o almoço de família. O tio vive fora da cidade, na aldeia de Palaçoulo. São recebidos pelos bons cortadas e postas a secar ao sol. cheiros dos enchidos ao fumeiro. Mal podem esperar para provar os deliciosos chouriços, Trata-se de um prato muito forte, alheiras e o bulho com cascas4. Precisamente no momento em que a tia os chama para razão pela qual é confeccionado preferencialmente nas refeições a mesa, Filipe e Ricardo ouvem um estranho zurrar. Que saibam, o tio não tem nenhum de Inverno, decerto para aconchegar burro! Correm para trás da casa e, qual não é o seu espanto ao avistarem um bonito burrinho o estômago nos longos e gelados castanho-escuro5, preso a uma corda, olhando-os mansamente. invernos mirandeses 5 Filipe e Ricardo receberam de - É o vosso presente. Por serem tão bons dançadores! presente um burro mirandês. Filipe e Ricardo-PT.indd 3 6/24/10 8:20:50 PM Filipe e Ricardo não cabem em si de contentes. - Chamamos-lhe “Mouro” e será o nosso companheiro nas próximas férias, em busca do ouro das mouras encantadas. Montados nele, não nos cansaremos a trepar às serranias! Filipe e Ricardo não desistem de encontrar mais um tesouro, para juntar à felicidade de viverem numa terra tão especial. Filipe e Ricardo-PT.indd 4 6/24/10 8:21:05 PM INFORMAÇÕES6 Miranda do Douro Geografia e história Do palácio episcopal, vítima de incêndio no início do século XVIII, resta, hoje, o andar Miranda do Douro é uma cidade portuguesa, térreo com uma arcada contínua de amplas localizada no extremo Nordeste do território, proporções. Numa rua da cidade, conservam- junto à fronteira com Espanha. Pertence -se, ainda, várias casas quintanistas ao distrito de Bragança e é sede do concelho de portas rectangulares e janelas estreitas do mesmo nome, abarcando 17 freguesias. floridas, entre as quais sobressai uma moradia toda de pedra, com janelas Ergue-se no cimo de uma encosta abrupta, geminadas e cachorros medievais esculpidos a 687 m de altitude, na margem direita do rio no granito. O velho edifício dos antigos Douro, no troço internacional que separa Paços do Concelho alberga, hoje em dia, a província portuguesa de Trás-os-Montes o valioso Museu Municipal. da província espanhola de Castilla y León. O clima do planalto transmontano é variável Miranda do Douro reúne marcas culturais e contrastante, oscilando entre o muito frio, de origens e épocas distintas. Achados no rigoroso Inverno, e um Verão de temperaturas arqueológicos remontam a sua origem altas, com breves períodos amenos, à Idade do Bronze. Em 1136, D. Afonso na Primavera e em alguns dias no Outono. Henriques viu nela um ponto estratégico É de tal maneira extremo o clima desta região para a resistência ao poderio do Reino que reza um provérbio assim: “Em Miranda, de Leão, razão por que lhe concedeu Carta nove meses de Inverno e três de Inferno.” de Foral e mandou erigir o castelo. No ano de 1117, D. Sancho I manda edificar muralhas, Economia de forma a abranger a população que entretanto crescera. Miranda do Douro Trata-se de um concelho eminentemente passa a cidade no reinado de D. João III, rural. A população dedica-se à cultura na mesma altura em que se torna diocese de cereais, à criação e pastorícia de gado episcopal (1545), privilégio perdido, em bovino - raça mirandesa, ovino - raça churra 6 Estes dados informativos destinam-se 1764, passando a fazer parte da Diocese de galega7 mirandesa e suíno, do qual decorre exclusivamente ao educador, para que, sempre que necessário, possa dar Bragança e Miranda, mas conservando a o fabrico de especialidades de fumeiro. informação às crianças, em linguagem sua igreja matriz o estatuto de Sé. Nela é, O curtimento de couros e fabrico de tecidos acessível ao seu nível etário.
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