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20° Congresso Brasileiro de Sociologia 12 a 17 de julho de 2021 UFPA – Belém, PA GT 17 – Sociologia Política Análise de Correspondência Múltipla: impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República (1891-2018) Nilton Sainz* Adriano Codato* Gabryela Gabriel* *Universidade Federal do Paraná 1. Apresentação do estudo Desde o esboço de Max Weber (1994) em 1918 sobre os tipos de carreirismo político, são inúmeras as mudanças na compreensão da profissão política e dos seus agentes (ALLEN et al., 2020; VERCESI, 2018). No século XX, houve sucessivas conversões de paradigmas de referência, perspectivas teóricas e modos de tratamento empírico do problema das elites políticas (BEST; HIGLEY, 2018). E também houve transformações significativas nos próprios perfis sociais, étnicos e de gênero da classe política e nos “viveiros” de recrutamento para o mundo político (DOGAN, 1999). São múltiplas as formas de ambição e de carreirismo em função de diferentes contextos institucionais (tais como sistemas de partido ou fórmulas eleitorais). Nesse contexto, sempre é preciso encontrar expedientes metodológicos capazes de reenquadrar as formas da representação política. De modo muito genérico, há duas escolas na pesquisa sobre carreiras políticas: uma orientada para os agentes políticos, outra orientada para os contextos institucionais (VERCESI, 2018). No grupo das análises centradas nos atores, há desde as abordagens resultantes da teoria da ambição política (BLACK, 1972; NICHOLLS, 1991; SCHLESINGER, 1966) até explicações que enfatizam Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República social backgrounds, recursos profissionais e processos de socialização (GAXIE, 2018; PUTNAM, 1976). Em termos mais amplos, há ao menos três modos de entender os perfis da elite política que derivam de três disciplinas concorrentes: Sociologia da Política, Sociologia Política e Ciência Política. Segundo essa diferenciação, enquanto a Sociologia da Política enfatizaria prioritariamente variáveis sociais na explicação, a Ciência Política priorizaria apenas variáveis institucionais. A Sociologia Política se proporia a ser, idealmente, uma composição das duas perspectivas, conjugando, nas explanações, tanto variáveis institucionais como societais (COSTA et al., 2021). O objetivo desse estudo é discutir as possibilidades de interação entre variáveis institucionais e societais em um modelo de Análise de Correspondência Múltipla (ACM). Trata-se de uma discussão de caráter metodológico, que busca explorar as possibilidades e limitações dessa ferramenta nos estudos de elites. Logo, buscamos: i) apresentar a ACM como ferramenta estatística capaz de proporcionar resultados para análise de padrões em elites políticas; ii) demonstrar as limitações do método perante as interações entre variáveis institucionais e societais; iii) abordar a homogeneidade da elite política brasileira e o significado disso para pesquisas empíricas em sociologia política. Nosso foco neste estudo são as carreiras de todos os vice-presidentes do Brasil de Floriano (1891) a Temer (2018). Análise de Correspondência Múltipla é uma técnica de análise exploratória que possibilita trabalhar com dados categóricos e investigar a associação entre duas ou mais variáveis (FÁVERO; BELFIORE, 2017; LE ROUX; ROUANET, 2010). Na ACM, o objetivo é exibir geometricamente as linhas e colunas por meio de coordenadas, de modo que a proximidade no mapa perceptual indique similaridade entre esses indivíduos estatísticos (GREENACRE, 1984; HAIR JR. et al., 2009) ACM foi o método empregado nas Ciências Sociais a partir da obra A distinção, de Pierre Bourdieu (1979). A ACM preocupa-se em reproduzir, através da quantificação de seu material empírico, a realidade dos espaços e campos sociais (BLASIUS et al., 2019; LEBARON, 2010). Conforme Lebaron (2010), o uso da análise de correspondência em Ciências Sociais está associado à 2 Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República caracterização de recursos, principalmente sociais e econômicos, de que dispõem os agentes1. Este texto tem quatro seções. A seguir, apresentamos o delineamento metodológico da pesquisa. Na terceira seção, os resultados são apresentados em função de dois modelos analíticos. Na quarta seção, comparamos os dois modelos. Por fim, nas considerações finais retomamos a discussão inicial e damos uma direção para a continuidade dessas investigações. 2. Delineamento metodológico A principal fonte de informações biográficas sobre os vice-presidentes da República foram os verbetes do CPDOC-FGV (ABREU et al., 2001). Quando necessário, contamos com informações complementares dos sites da Câmara dos Deputados, Senado Federal e jornais diários disponíveis online. A prosopografia dos indivíduos considerou dados sociopolíticos dos atores. O universo de análise é formado por 24 vice-presidentes em quatro períodos históricos da República, sendo Floriano Peixoto o primeiro escolhido para o cargo (1889) e Michel Temer o último com mandato concluído (2018). A nossa periodização é a seguinte: Primeira República (1891-1930); Quarta República (1945-1964); Ditadura Militar (1964-1985); Nova República (1985 - Atualmente). No Quadro 1 apresentamos as variáveis de teste que foram consideradas para os modelos de ACM. Das variáveis apresentadas no Quadro 1, a variável “Trajetória eletiva” e “Ambição política” merecem descrições mais detalhadas. A primeira classifica, baseado no número de cargos ocupados antes da vice- presidência, aqueles que: i) não possuíam experiência em cargos eletivos (chamados aqui de “Desprovido”); ii) possuíam experiência em um único posto (chamados de “Leal”); iii) possuíam experiência em dois ou mais cargos eletivos (Acumulador). A variável “ambição política” classifica as aspirações políticas dos vice-presidentes de acordo com suas escolhas de carreira após deixarem o posto, ou seja, para onde foram no seguimento da vida político-eleitoral. 1 Alguns exemplos de uso nas ciências sociais brasileiras de ACM são (KLÜGER, 2017), (BORDIGNON, 2017), (CODATO et al., 2019) e (GONÇALVES JÚNIOR et al., 2009). Para uma explicação didática, ver (KLÜGER, 2018). 3 Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República Quadro 1: Variáveis que compõem o delineamento da pesquisa Dimensão Variável Categorias Descrição Trajetória Acumulador; Leal; Desprovido. Categorização a partir do eletiva número de cargos das trajetórias políticas eletivas dos vice-presidentes. Institucional Ambição política Progressiva; Estática; Classificação de acordo Regressiva; Discreta. com as escolhas de carreira dos vice- presidentes após deixarem o cargo. Primeira República; Quarta Classificação de acordo República; Ditadura Militar; com o período histórico Período Nova República. que cada vice-presidente Contextual histórico assume o cargo. Formação Ensino superior; Formação Classificação de acordo acadêmica militar; Sem Ensino Superior. com a escolaridade ou o tipo de formação. Societal Ocupação Militar; Professor; Advogado; Classificação de acordo Profissional Membro do Judiciário; Outros2. com a profissão de origem dos vice-presidentes antes de alcançarem o cargo. Fonte: Elaboração própria. A complexidade do sistema de cargos políticos e os múltiplos valores que as diversas posições podem admitir (BORCHERT, 2009) exige que seja adotado um método um tanto arbitrário e ad hoc de classificação para as escolhas de carreiras. Nesse caso consideramos: i) “Progressiva” para aqueles que chegaram à Presidência da República ou candidataram-se ao cargo de presidente; ii) “Estática” para os que foram reeleitos mediata ou imediatamente ao cargo; iii) “Regressiva” para os vices que optaram por cargos abaixo da Presidência da República; iv) “Discreta” para aqueles que se aposentaram das urnas após o cargo. Antes da Análise de Correspondência Múltipla foi realizado o teste de associação Qui-quadrado de Pearson com pares de variáveis que compõem os modelos presentes na análise multidimensional. Nos casos em que alguma das 2 Na categoria “Outros” foram agregadas as ocupações com baixa frequência no banco de dados, sendo elas: Jornalista; Médico; Engenheiro; Policial; Estancieiro; e Empresário. 4 Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República variáveis não possui associação estatística significativa com outra, é recomendado que esta seja excluída do modelo (FÁVERO; BELFIORE, 2015). Para complementar, relatamos os coeficientes de V de Cramer que certificam a força de associação entre as variáveis (REA; PARKER, 2014). O segundo teste estatístico antes da ACM é o coeficiente alfa de Cronbach, que mede a confiabilidade dos modelos estatísticos a partir do comportamento das correlações entre variáveis (FÁVERO; BELFIORE, 2017). O alfa de Cronbach varia de 0 a 1, sendo considerado valores aceitáveis a partir de 0,41 a 0,60, quando a consistência interna do modelo é classificada como moderada (LANDIS; KOCH, 1977). Apesar desta classificação, não há consenso sobre a aceitabilidade desses parâmetros na literatura (FÁVERO; BELFIORE, 2017). Em relação à estatística dos testes de ACM, vale destacar os valores de inércia e autovalor. A inércia é uma medida de dispersão. Quanto maior a inércia, maior a associação entre as linhas e colunas, indicando o quanto a dimensão contribui (medindo a variabilidade dos dados) para a construção de cada eixo (FÁVERO; BELFIORE, 2017; HAIR JR. et al., 2009). Ligado aos valores de inércia, as medidas de autovalor são as somas das cargas fatoriais

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