Proibida a venda! Este jornal é GRÁTIS Quinta-Feira 6 de Setembro de 2018 Semanário | Ano: 7|Edição Nº 317 Director-Geral: Evaristo Mulaza JES: o adeus à política activa O congresso do MPLA, marcado para este sábado, vai escolher o novo presidente do partido que governa Angola desde 1979. É um momento histórico que sucede à saída de José Eduardo dos Santos da Presidência da República. João Lourenço vai ser eleito o novo líder do partido. Tal como prometera, há dois anos, José Eduardo dos Santos deixa a vida política e partidária. O NG faz uma viagem pelo que foram os últimos 40 anos: os sucessos políticos, os fracassos económicos, os aliados e os inimigos, a gestão do silêncio e do MPLA. Foram quase quatro décadas de um homem que se assumiu como um “desportista emprestado à política”. Págs. 10 a 17 Manuel Tomás Manuel Tomás Foto 10 anos a viver em chapas Bebida não entra Crime sobe 30 por cento Apesar das promessas, já com uma década, mais de três João Lourenço não gostou de ver o Memorial Números oficiais da Polícia Nacional indi- mil famílias continuam a viver em casas de chapa, com Dr. Agostinho Neto ser invadido por bebi- cam que o número de crimes disparou. Entre três metros quadrados de dimensão. Foram obrigadas a das. Além da publicidade, eram garrafas pelo Janeiro e Junho, foram mais de 32 mil. Cerca deixar a Ilha de Luanda e agora têm uma vaga esperança chão. Exonerou Jomo Fortunato, que liderava de um terço a mais do que no ano passado. de receber terrenos. Até lá, mal sobrevivem e assistem a a instituição, exigindo “respeito” pelo espaço. Pág. 7 mortes diárias. Págs. 2 e 3 Págs. 30 e 31 2 Quinta-feira 6 de Setembro 2018 Sociedade Falta de dinheiro trava realojamento Há quase 10 anos à espera de uma casa Em Luanda, as mais de três mil famílias desalojadas, algumas desde 2007, vão continuar a viver em cubatas e chapas degradadas de três metros quadrados. A falta de dinheiro pode condicionar a mudança. As administrações admitem ceder terrenos, mas não arriscam dizer quando. Em Janeiro, completaram-se quatro anos desde que as famílias que vivem na Quiçama foram retiradas do Kilombo, na Praia do Bispo. l Teresa Fukiady Zango, Costa Gabriel, admite improvisam pequenos compar- o “triste cenário” e as condi- timentos, em que cabe apenas ções “precárias” em que aquelas Com o aproximar das uma sala e um quarto. As refei- famílias vivem, reconhecendo chuvas, o receio é maior. “Não sabemos ções são feitas do lado de fora sonho de dias “não serem adequadas” para a porque a ‘suposta sala’ é usada tranquilos e em vida humana. “Estamos preo- como vai ser”, lamenta. como quarto. Sem quarto de casas com melhor cupados”, afirma, justificando “Estamos sempre doentes. Aqui tem banho, as necessidades são fei- comodidade que “a actual situação finan- muitos mosquitos”. tas em sacolas e depois levadas Opoderá conti- ceira do país não favorece a para o lixo, já os banhos decor- nuar a ser mira- distribuição de casas”. rem em casas de banho impro- gem para as mais de três mil Em conjunto com a adminis- TRÊS METROS o cenário é pior: para se visadas, usadas, cada uma, por famílias que vivem em cubatas tração de Viana, está em fase de QUADRADOS ter uma noção, por mais de cinco famílias. de chapas no Zango e na Qui- preparação de terrenos para os Sem água potá- exemplo, um joga- Costa Gabriel assegura que çama, após terem sido desaloja- lesados. “Não prometemos um vel, energia eléc- dor como o bas- a administração está a par de das pelo governo provincial, no prazo. Estamos a prepará-los e, trica e saneamento quetebolista André todos os problemas, mas explica âmbito do projecto de requali- a qualquer momento, podem ser básico, as famílias Gomes Kikas, de que não são os únicos, tendo em cação da Ilha de Luanda. Desde distribuídos”, explica o respon- enfrentam grandes dois metros, não con- conta que o distrito não é uma 2009, aquelas famílias espe- sável, que prevê o cadastramento dificuldades. Vivem seguiria car de pé. E “zona infra-estruturada”. “Eles ram que a promessa de terem de 10 mil lotes no Zango, Tandy em chapas de zinco Rosa Tavares, nem conseguiria sequer estão cansados de viver nessas novas moradias se concretize. e Vila Flor para mais de 10 mil que, devido ao tempo, moradora da Ilha colocar uma cama. A condições. Compreendemos, Na altura, o tempo de espera famílias que vivem em condi- já estão enferrujadas e Dourada maioria das casas têm a mas infelizmente estamos limi- seria de 90 dias. Mas já se pas- ções de risco. “Numa primeira com vários furos, o que dimensão de três metros tados”, resigna-se saram nove anos. fase, vão ser contempladas mil se torna uma porta de entrada quadrados. As casas têm chão O administrador avisa que a Ao NG, o administrador do famílias”, avança. para os mosquitos. No interior, sem cimento. Lá dentro, cortinas ajuda às famílias poderá car- 3 Quinta-feira 6 de Setembro 2018 Angola vai gastar cerca de 243,8 milhões de euros na modernização dos caminhos-de-ferro, com a aquisição de 10 novas locomotivas da Alemanha e da China, e a construção de um parque oficinal para manutenção. O acordo entre as partes foi assinado na segunda-feira. Falta de dinheiro trava realojamento Há quase 10 anos à espera de uma casa aproximar das chuvas, o receio é maior. “Não sabemos como vai ser”, lamenta. “Estamos sem- Manuel Tomás pre doentes. Aqui tem muitos Fotos: mosquitos”. O posto médico mais próximo da zona tem apenas um enfermeiro. Apeli- dado de ‘Acaba de me matar’, o posto está aberto apenas durante o dia. Em casos mais graves, são obri- gados a deslocarem- -se até à Muxima, que dista mais de 35 quilómetros. Longe da cidade, muitos ficaram desempregados e, para sobreviver, têm de trabalhar como agriculto- res nas lavras. Outro morador, Ladislau diz senti- rem-se “esquecidos”. O jovem, ex-atleta de futebol de salão, agora é comerciante de per- -se apenas pela entrega de ter- fume e chinelas. “A vida é renos. “O ideal seria atribuir difícil”, queixa-se. casas, mas a situação económica As obras da construção do país não permite”, lamenta. Eles estão cansados de viver das possíveis casas de Iso- Em nais de Janeiro, a admi- nessas condições. Compreendemos, mas por, destinadas aos desalo- nistração de Viana anunciou jados, foram canceladas por que, em Março, poderia lotear infelizmente estamos limitados. falta de pagamento do governo terrenos nas zonas do Tandy e provincial. Vicente Soares, Musseque Baía para os desalo- administrador da Quiçama, jados do Zango. Cada bene- reconhece a falta de dinheiro ciário poderia receber não só de crianças, por doenças diar- dores apelidaram-na de Ilha e admite que uma das soluções o espaço, como também uma reicas e cutâneas por causa do Dourada. Mas a realidade está poderá passar por ceder espa- planta-modelo da casa, o título consumo de água imprópria. “A longe de fazer jus ao nome por Mário Mujetes ços às famílias para construção. de posse, algumas chapas e ‘cro- água é comprada na vizinhança não se tratar de uma ilha, mas Foto: Ao NG, uma fonte da Comis- quis’ de localização, tendo em por preços altos e é conservada de uma mata. Aqui os case- são Administrativa da Cidade de conta o nível de vida de cada um em tanques”. bres têm como vizinhos capins Luanda armou que o assunto e por cada agregado familiar. e bichos. “Dormimos com os ultrapassa as suas competên- Um dos lesados e morador COM OS BICHOS bichos”. Horas antes tinha aca- cias, pois era res- do Zango, Luís Artur, assegura DA QUIÇAMA bado de matar uma cobra que Costa Gabriel, ponsabilidade do que, ano após ano, a adminis- Em Janeiro, completaram-se quase mordia os gémeos recém- administrador Governo Provin- tração tem prometido resolver a quatro anos desde que as famí- -nascidos. Rosa Tavares afirma do Zango cial, que tam- situação, mas lamenta a demora. lias que vivem na Quiçama já terem visto terrenos cedidos bém se demarca Aquele morador destaca o índice foram retiradas do Kilombo, pela administração, mas que se de qualquer responsabilidade na de mortalidade, principalmente na Praia do Bispo. Os mora- negaram a ir para lá. Com o falta de realojamento das famílias. 4 SOCIEDADE Quinta-feira 6 de Setembro 2018 (re)flexões leigas Ñana Kakuengu e Ñana Ñunji Soberano Kanyanga Escritor Angola usa apenas tecnologia nuclear na saúde, agricultura e D.R. construção civil. Fotos: Reza a oratura que... exis- Cabanga (ex-árbitro de fute- Mais de 1.800 toneladas de lixo produzidas tiu em terras de Kuteka, bol em Luanda) Jacinto Abreu Lubolu (Libolo), entre os ‘Cabanga’, o Cabanga, que é anos 1870 – 1930, um cida- soba da aldeia de Muxinda, em dão de nome Kabanga ‘Soba Malanje, entre outros. Material radioactivo Ngana Kakungu’, originário Antes da aventura mili- de Banza de Mukongu, de onde tar, pelo Kuteka (comuna de fora enviado para a região de Munenga), Ngana Kakungu Ndala-ya-Xipo (Dala-Caxibo), trabalhou como contratado na ao ‘deus-dará’ Kibala, onde desencadeou lutas fábrica de pólvora, em Luanda, expansivas do ‘reino’ e contra a cuja experiência lhe permitiu Mesmo sem produzir Pedro Lemos, promete o “desman- também usada para vericação da presença europeia. Esse, sem- fabricar armas rudimentares energia atómica, Angola telamento” destes locais para num integridade das infra-estruturas, pre que voltasse vitorioso, tra- (kanyangulu) com que pro- já tem mais de 1.800 período de três anos o Governo na construção de pontes e estra- zia como troféu uma esposa.
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