19 Jun 2018 Remix 19:30 Sala Suggia Ensemble Casa da Música Coro Comunitário* Pedro Neves direcção musical José Alberto Gomes (Digitópia Collective) electrónica Raquel Couto representação 1ª PARTE Oscar Bianchi Orango, para ensemble e público (2017-18; c.30min) 2ª PARTE Philip Venables The Gender Agenda, para apresentador de concurso, ensemble, coro falado e público (2017; c.45min) Estreias em Portugal; encomendas da Art Mentor Foundation Lucerne. *Participações especiais: Balleteatro Escola Profissional Coro Sénior da Fundação Manuel António da Mota Grupo Psiquê – Grupo de Teatro do Hospital de Magalhães Lemos APOIO Entrevista ao compositor Oscar Bianchi. https://vimeo.com/275594100 Entrevista ao compositor Philip Venables. https://vimeo.com/275604491 APOIO A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE CONNECT O Público como Artista No Outono de 2015, a Art Mentor Founda‑ Para a segunda edição do projecto, foram tion Lucerne lançou o projecto de dimen‑ encomendadas duas obras a compositores são europeia CONNECT. Em colaboração pre miados – o britânico Philip Venables e o com quatro importantes ensembles de Nova italo ‑suíço Oscar Bianchi – que incluem a parti‑ Música – London Sinfonietta, Asko|Schönberg cipação do público e de amadores, através de de Amesterdão, Ensemble Modern de Frank‑ um coro comunitário. Enquanto Philip Venables furt e Remix Ensemble Casa da Música –, este transforma o público em concorrentes de um projecto pretende explorar a relação entre o concurso televisivo e contraria papéis tradi‑ público e o artista, seja ele o compositor ou cionais de género com a sua peça carregada o músico, bem como desafiar os papéis que de sentido político, na obra de Oscar Bianchi lhes são convencionalmente atribuídos. Para o público é, ele próprio, criador de sons que a cumprir este objectivo, são encomendadas integram. The Gender Agenda de Philip Vena‑ novas composições e espectáculos que lidem bles foi estreado em Londres, pela London especificamente com esta questão, tanto musi‑ Sinfonietta, a 12 de Abril de 2018; Orago de calmente como conceptualmente. O público Oscar Bianchi foi estreado em Frankfurt, pelo envolve ‑se na criação da obra musical e na Ensemble Modern, a 22 de Abril de 2018. sua interpretação, o que leva a que também os papéis do compositor e dos músicos se alterem, tornando ‑se estes parte do próprio público. Ao longo deste processo, as obras passam por um desenvolvimento contínuo de modo que cada apresentação pode ser consi‑ derada uma estreia. No primeiro ciclo do programa CONNECT, duas novas obras foram compostas: In the Midst of the Sonorous Islands de Christian Mason e The Sonic Great Wall de Huang Ruo, ambas apresentadas em várias cidades euro‑ peias no final de 2016. Na Casa da Música, o concerto do Remix Ensemble associado a este programa incluiu a obra de Mason e uma enco‑ menda a Daniel Moreira, Do Desconcerto do Mundo, que juntava ao ensemble instrumental dois coros amadores com diferentes níveis de formação musical. 3 Oscar Bianchi Philip Venables MILÃO, 1975 CHESTER, 1979 A música de Bianchi é orientada por questões A música de Philip Venables tem frequente‑ dramatúrgicas e formais. A qualidade vocal, mente como tema a violência e a política e faz presente até nas obras puramente instru‑ uso do texto falado em contexto da música mentais, é uma das suas características mais de concerto e da ópera. A sua obra tem sido marcantes. Os contrastes inesperados entre o descrita como “brutalmente eficiente” (Times) virtuosismo volúvel e a estase contemplativa e “divertida e ocasionalmente perturbadora” são a força motriz do seu instinto para o gesto (Guardian). Interpretado e gravado interna‑ dramático. A sua música é marcada por uma cionalmente, recebe encomendas de institui‑ violência rejubilante, mas pode subitamente ções como Royal Opera House, Filarmónica repousar numa oração, como se atingida por e Sinfónica da BBC, Sinfónica de Londres, um raio de luz do meio ‑dia. Wigmore Hall, London Contemporary Opera, A sua primeira ópera, Thanks to My Eyes, Endymion & EXAUDI, Ensemble 10 ‑10, Rambert encomendada pelo Festival d’Aix ‑en ‑Provence Dance Company, Teatro HAU de Berlim, Festi‑ com libreto e encenação de Joel Pommerat, val de Verão Kampnagel em Hamburgo e Teatro recebeu a aclamação da crítica e do público. da Basileia. Em 2016, estreou‑se na Royal Opera Tem sido interpretado por formações prestigia‑ com 4.48 Psychosis, uma colaboração com o das tais como Orquestra da Gewandhaus de encenador Ted Huffman e a primeira adapta‑ Leipzig, Filarmónica da Radio France, Sinfónica ção autorizada de textos de Sarah Kane, que Alemã, Ensemble Modern, Klangforum, Ictus, ganhou um UK Theatre Award (Achievement in Les Percussions de Strasbourg, ICE, Remix Opera). Colaborou com o vencedor do Prémio Ensemble, Ensemble Contrechamps, JACK ou Turner, Douglas Gordon, e a cantora Ruth Diotima. Novas obras de Bianchi estão actual‑ Rosenfeld em Bound to Hurt. O seu primeiro mente programadas por agrupamentos como disco de música de câmara com palavras é Sinfónica da Rádio da Baviera, Orchestra della lançado pela editora NMC em 2018. Svizzera Italiana, Ensemble Modern, London Philip Venables estudou na Royal Academy Sinfonietta, Asko|Schönberg, Remix Ensem‑ of Music em Londres, com Philip Cashian e ble, JACK e Collegium Novum Zürich. Entre os David Sawer, onde foi premiado com o diploma prémios conquistados destaca ‑se o 1º Prémio DipRAM e o Manson Fellowship em Composi‑ no Gaudeamus, o Grand Prix SACEM, o Prémio ção; e na Universidade de Cambridge. Recebeu do International Rostrum of Composers e o uma bolsa do Arts and Humanities Research Prémio da Crítica Discográfica Alemã. Council para um doutoramento sobre discurso, Depois de estudar no Conservatório de violência e música na Royal Academy of Milão, Bianchi prosseguiu a sua formação no Music (2012 ‑13), e foi Soundhub Associate da IRCAM (Paris) e na Universidade de Columbia Sinfónica de Londres (2012 ‑13). De 2013 a 2016, (Nova Iorque). Foi artista residente do DAAD no âmbito do seu doutoramento, foi residente Kunstlerprogramm Berlin e dos programas Pro‑ na Royal Opera House e na Guildhall School of ‑Helvetia de Varsóvia e Joanesburgo. Music & Drama. 4 Sete perguntas a Philip Venables e Oscar Bianchi “O público como artista” é o mote deste projecto, que esbate as fronteiras entre artista e ouvinte. O que significa isto no que respeita ao papel do compositor? Que elementos do projecto vos interessaram e como abordaram esta encomenda? Venables: A minha abordagem foi pensar na Bianchi: Trabalhei recentemente, entre ideia de “o público como sujeito” em vez de outros projectos, em teatro musical que incluía “artista”. Há muito que sou fã de teatro cola‑ também intérpretes não profissionais (baila‑ borativo que interage com o público, fazendo rinos e actores). Neste caso foi ‑me exposta a dos seus membros personagens do enredo. necessidade de incluir ‘não profissionais’ para Também me interesso bastante pela música produzir som e conteúdo musical que teria de e o teatro politicamente comprometidos, pelo ser simultaneamente valioso (de acordo com que, nesta peça, junto os elementos das duas os meus próprios padrões enquanto compo‑ áreas. Quero saber o que o público pensa sobre sitor contemporâneo) e dramaturgicamente a questão do género na sociedade de hoje, brin‑ digno. Assim, o projecto CONNECT surgiu car com isso, envolver as pessoas e fazer uma exactamente no momento em que eu queria peça interactiva a partir desse tema. continuar a explorar e a redefinir o meu papel enquanto compositor (…). Além de serem vários ensembles a interpretar estas peças, o principal foco é a comunicação e a interacção com o público. De que forma o público é envolvido na acção musical? V: The Gender Agenda é basicamente um B: Para evitar que o público tenha uma função concurso televisivo ou talk show. Por isso meramente ornamental, decidi fazer da plateia vamos convidar pessoas do público para parti‑ o elemento central da performance. Tanto o cipar nas actividades, questionários ou entre‑ conteúdo como a estrutura musical são, por vistas no palco. Podemos ainda ter momentos vezes, da responsabilidade do público. A estru‑ de voxpop com o público nos seus lugares. tura dos intérpretes é, assim, formada pelos Também incluí um coro comunitário de volun‑ músicos e pela plateia, e ambos se articulam tários, que vai desempenhar um papel muito em diferentes momentos da peça. Resulta que especial para chegar ao público e incentivá‑ estas duas instâncias (músicos e público) vão ‑lo a participar. partilhar o mesmo universo, tanto através da capacidade de ‘desencadear’ material musical como articulando ‑o, por si só ou em conjunto. 5 Como preparam o público? V: Antes do concerto realizam ‑se workshops B: Com os workshops antes do concerto, o com o coro comunitário para ensaiar a parte público vai aprender e ensaiar algumas formas musical. Para além disso vamos fazer ensaios de fazer música com o ensemble: desde usar a para alguns membros de forma a recrutar voz (não apenas no sentido vocal) a tocar com voluntários do público para as várias activida‑ objectos do quotidiano ou brincar com cabeças des do concurso. Há também um ‘aquecimento’ de flauta. Além de praticar e preparar a peça, com o apresentador, uma espécie de prepa‑ vamos poder partilhar com o público que fazer ração do ambiente para um concurso televi‑ música, de facto, é muito mais do que manipu‑ sivo de estúdio. lar alturas e dinâmicas. É um acto performativo, uma dimensão da vida que ocasionalmente se move da experiência táctil para dimensões ‘interiores’, envolvendo força, enraizamento, bem como humor ou leveza. De que forma o público pode influenciar a peça [antes e durante a performance]? Qual é o rácio entre os elementos pré ‑determinados e aqueles que o público pode influenciar? V: Isso funciona também como num concurso B: Estou a trabalhar com um modelo formal e televisivo, ou seja, a ‘grelha’ da peça/concurso composicional que tem como objectivo envol‑ já está pré ‑determinada mas o conteúdo – o ver e celebrar todos os protagonistas: público e que é discutido, as opiniões que emergem, etc.
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