Vale a Pena Ver De Novo?: Um Panorama Temático1

Vale a Pena Ver De Novo?: Um Panorama Temático1

1 Vale a Pena Ver de Novo?: um panorama temático FERNANDES, Julio Cesar (mestrando)2 GONÇALVES, Erica (doutoranda)3 Universidade Metodista de São Paulo Resumo: Este trabalho tem como objetivo resgatar brevemente a história da telenovela brasileira e contextualizar o aparecimento de um novo horário para este formato: as tardes de segunda a sexta-feira. A faixa de reprises “Vale a Pena Ver de Novo” foi fixada em 1980, pela Rede Globo, como forma de reapresentar telenovelas antigas da emissora. Neste trabalho também é apresentada uma compilação das obras já reprisadas e uma categorização dos autores mais escolhidos para a faixa vespertina, que completa 33 anos no ar este ano. Além da coleta de dados sobre as obras reprisadas e os autores mais vezes escolhidos, analisamos ainda qual das outras faixas de teledramaturgia da Rede Globo, a saber 18h, 19h e 21h, foram mais reprisadas. Palavras-chave: novela; reprise; teledramaturgia; história, Vale a Pena Ver de Novo. Introdução Este artigo tem como objeto de estudo a faixa vespertina “Vale a Pena Ver de Novo”, que foi criada em 1980 pela TV Globo com o intuito de reprisar as novelas do arquivo da emissora. Primeiramente, é feito um panorama geral da telenovela no Brasil, com os principais períodos e obras, além de um breve histórico de sua origem. Depois, são listadas todas as novelas reprisadas na faixa do “Vale a Pena Ver de Novo” com observações sobre audiência e edição de capítulos, por conta de estratégias de programação ou classificação indicativa. Por fim, é feito uma análise de alguns dados obtidos em relação às novelas 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Audiovisual e Visual, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Área de Concentração: Processos Comunicacionais - Linha de Pesquisa: Processos Comunicacionais Midiáticos da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e-mail: [email protected] 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Área de Concentração: Processos Comunicacionais - Linha de Pesquisa: Processos Comunicacionais Midiáticos da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e-mail: [email protected] reprisadas, como faixas de horários e autores mais frequentes. História das telenovelas no Brasil No Brasil, a teledramaturgia chegou um ano após a televisão, em 1951. A primeira novela, ainda não diária, transmitida pela TV brasileira foi “Sua Vida Me Pertence”, apresentada em 15 capítulos, de vinte minutos cada, a partir de 21 de dezembro de 1951. A telenovela era transmitida pela TV Tupi de São Paulo, às terças e quintas-feiras às 20h. O formato da telenovela brasileira, hoje reconhecida no mundo todo como um formato único, exportado para vários países, foi se adequando à realidade da população. No início, segundo Mauro Alencar (2004, p.17), o modelo usado no Brasil era importado de Cuba, que por sua vez havia trazido o formato de história em pedaços dos Estados Unidos com algumas modificações. Em tempo, a estrutura da história em pedaços que hoje conhecemos como telenovela teve início no rádio. Na década de 1930, nasceram nos EUA as primeiras radionovelas. Por serem patrocinadas pelas fábricas de sabão, receberam o nome de soap opera. O modelo logo foi empregado também em Cuba, porém com a inspiração nos folhetins e, ao contrário do modelo americano que privilegiava as tramas sem fim (destaque para “Days of Our Lives” que comemorou 31 anos e 8 mil capítulos em 1997), as novelas cubanas eram de menor duração, com histórias contadas com começo, meio e fim. E justamente este modelo que é trazido para o Brasil. Já no Brasil, a radionovela surge em 1941 no Rio de Janeiro e em São Paulo, até por causa do atraso que o rádio sofreu em se tornar comercial, e já com algumas regras impostas por ser um produto importado: os dramas para fazer sucesso e sempre voltados para o público feminino. O sucesso veio rápido e em apenas dois anos já haviam sido produzidas mais de 100 radionovelas no País, porém com seus enredos importados. Na década de 1950, com a chegada da TV, surgem as telenovelas, que no início eram ao vivo e não-diárias. Os profissionais da época, incluindo produtores, atores e equipe técnica enfrentaram algumas dificuldades em se adaptar, já que a maioria vinha do rádio. Segundo Ismael Fernandes (1997, p.35) “o que os homens de tevê daquela época não sabiam é que estavam lançando a maior produção de arte popular da nossa televisão. É o grande fenômeno depois do futebol.” Os folhetins televisivos agradavam ao público nacional, porém, a necessidade de mais verossimilhança com a vida do espectador ficava cada vez mais evidente. A aproximação da telenovela com a vida real começou a acontecer a partir de 1969, inaugurado pela trama “Véu de Noiva”, de Janete Clair. Teve início, então, o estilo “novela verdade”, usando toques de realidade na vida do faz-de-conta. Nesta época, apesar da rígida censura, a telenovela já estava consagrada e fazia parte do cotidiano nacional. A partir de 1969, com “Véu de Noiva” a „novela verdade‟ como dizia a publicidade -, às 20 horas, as histórias começaram a incorporar a realidade: o automobilismo era utilizado como pano de fundo com o personagem de Cláudio Marzo – ao lado de Regina Duarte, Myrian Pérsia, Geraldo Del Rey, Glauce Rocha e outros - ligado à figura de Emerson Fittipaldi, então nosso principal piloto (ALENCAR, 2004 p. 25). Com a evolução da teledramaturgia, culminando na telenovela atual, vários autores reconhecem e atestam a importância social que estes programas têm em relação aos espectadores, reforçando a imagem da televisão como principal meio de comunicação de massa e de amplificação de valores e ideias socialmente aceitos. Com a consolidação dos textos e das produções, começaram a surgir críticas em torno da telenovela, já que alguns diziam que não era legítimo fixar horários para a programação, fazendo as famílias mudarem seus hábitos para prestigiarem os programas, o que muitos já chamavam de epidemia, como afirma Ortiz (1991). Porém, como foi citado anteriormente, Fernandes aponta o hábito como a grande revolução na televisão, pois afirma que o público precisa disso. Na década de 1970, a Rede Globo padronizou horários e temas de suas telenovelas, bem como número de capítulos das tramas. Sendo assim, a telenovela começava a ser tratada de acordo com seu público-alvo, ou seja, cada horário era destinado a um público. O horário das 18 horas foi caracterizado pelas adaptações de obras literárias: O horário das 18 horas que, inicialmente, seguia uma linha pedagógica, mas sem muita audiência, deu lugar a desenhos animados e seriados americanos. Sua grande guinada ocorreu, porém, pelas mãos do diretor Herval Rossano que, a partir 1975, passou a encenar adaptações de obras literárias para a TV, que se tornariam mais tarde fonte de grande prestígio para a Rede Globo e para a televisão brasileira (ALENCAR, 2004, p. 28). Já o horário das 19 horas se estabeleceu como o horário das comédias de costume, voltadas para o público jovem, com histórias leves e românticas. Os outros dois horários de exibição de telenovelas eram as 20 e às 22 horas: O horário das 20 horas abordava temas rurais e urbanos, além de discussões sobre acontecimentos do dia-a-dia. E o horário das 22 horas, já não tão vigiado pela censura, exibia tramas adultas. A audiência dispara (ALENCAR, 2004, p. 31). A última novela do horário das 22 horas foi “Sinal de Alerta”, de Dias Gomes, exibida entre 1978 e 1979. O horário passou então a ser ocupado por teledramaturgia de menor duração. Segundo Alencar (2004, p. 32), o público deste horário sinalizava um interesse por histórias com menos capítulos e com mais análise e críticas sociais, e neste contexto a TV Globo decidiu iniciar a produção de programas em formato de seriados e minisséries. A telenovela conseguiu atingir altos índices de audiência no decorrer dos anos, se tornando uma “programação obrigatória, elemento fundamental na distribuição dos horários e dos custos” (ORTIZ & BORELLI, 1991, p. 63), tornando-se responsável pela elevação de aceitação da televisão e do aumento da audiência. Renata Pallottini (1998, p.201) afirma que a televisão acaba sendo o meio de maior penetração, principalmente nas classes baixas, o que cria um tipo de hipnose ruim. Porém, a pesquisadora vê na telenovela uma saída para mostrar os problemas da sociedade, pois “a ficção televisiva não é criada por robôs, mas sim por seres humanos, por escritores especializados, por técnicos, atores e autores que pensam e evoluem”. Em contrapartida, Ismael Fernandes (1997) acredita que a telenovela se tornou uma instituição nacional, respeitável e uma forma de arte brasileira assim como o Carnaval. Esther Hamburger (1998) diz que ao longo do tempo e da evolução do gênero, as telenovelas se tornaram grandes termômetros da vida cotidiana e dos costumes da sociedade, mostrando a vida privada para o grande público. O espectador se vê nos personagens e se identifica com as situações. Com narrativa personalizada e pouco difundida em termos ideológicos e políticos, as novelas passaram a mostrar as angústias e descontentamentos do povo com o Estado, a ética e outros temas por meio de seus personagens que representam toda uma classe, seja o povo, seja empresarial ou outras categorias. Hamburger (1998, p. 475) fala sobre a fidelidade do público com as novelas: E talvez o fascínio e a repercussão pública das novelas estejam relacionados a essas ousadias na abordagem dos dramas privados de todo dia; e o quanto a moral final corresponde a modelos convencionais ou liberalizantes com freqüência tem a ver com uma negociação imaginária indireta e cheia de medições que envolvem autores, produtores, pesquisadores de mercado, instituições como a censura, a Igreja e o público.

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