Revista De Jfatropofa|Ia Direção De ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO Gerencia De RAUL BOPP

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ANNO I - NUMERO I 500 rs. MAIO - 1928 Revista de Jfatropofa|ia Direção de ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO Gerencia de RAUL BOPP ENDEREÇO: 13, RUA BENJAMIM CONSTANT - 3.° PAV. SALA 7 - CAIXA POSTAL N.° 1.269 SÃO PAULO ABRE-ALAS ,— MANHÃ Nós éramos xifópagos. Quási chegamos a ser deródimos. Hoje somos antropófagos. E foi assim que chegamos á perfeição. Cada qual com o seu tronco mas ligados O jardim estava em rosa, ao pé do Sol pelo figado ( o que quer dizer pelo ódio) mar­ E o ventinho de mato que viera do Jaraguá chávamos numa só direcção. Depois houve uma Deixando por tudo uma presença de água revolta. E para fazer essa revolta nos unimos ainda mais. Então formamos um só tronco. De­ Banzava gosado na manhã praceana. pois o estouro: cada um de seu lado. Viramos ca­ nibais. Tudo limpo que nem toada de flauta. Aí descobrimos que nunca havíamos sido outra cousa. A geração actual coçou-se: apare­ A gente si quizesse beijava o chão sem formiga, ceu o antropófago. O antropófago: nosso pai. A bocea roçava mesmo na paisagem de cristal. principio de tudo. Não o índio. O indianismo é para nós um prato de muita sustância. Como qualquer outra Um silêncio nortista, muito claro! escola ou movimento. De ontem, de hoje e de As sombras se agarrando no folhedo das árvores amanhã. Daqui e de fora. O antropófago come o índio e come o chamado civilizado: só êle fica Talqualmente preguiças pesadas. lambendo os dedos. Pronto para engulir os ir­ O Sol sentava nos baricos, tomando banho-de-luz. mãos. Assim a experiência moderna (antes: con­ tra os outros; depois: contra os outros e contra Tinha um sossego tão antigo no jardim, nós mesmos) acabou despertando em cada con­ Uma fresca tão de mão lavada com limão viva o apetite de meter o garfo no vizinho. Já Era tão marupiara e descansante começou a cordeal mastigação. Aqui se processará a mortandade (esse car­ Que desejei... Mulher não desejei não, desejei... naval). Todas as oposições se enfrentarão. Até Si eu tivesse a meu lado ali passeando 1923 havia aliados que eram inimigos. Hoje há Suponhamos, Lenine, Carlos Prestes, Gandhi, um desses !... inimigos que são aliados. A diferença é enorme. Milagres do canibalismo. No fim sobrará um Hans Staden. Esse Hans Na doçura da manhã quasi acabada Staden contará aquillo de que escapou e com os Eu lhes falava cordialmente:—Se abanquem um bocadinho dados dele se fará a arte próxima futura. E' pois aconselhando as maiores precauções E havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixes que eu apresento ao gentio da terra e de todas Ou descrevia Ouro Preto, a entrada de Vitoria, Marajó, as terras a libérrima REVISTA DE ANTRO­ Coisa assim que puzesse um disfarce de festa POFAGIA. No pensamento dessas tempestades de homens. E arreganho a dentuça. Gente: pode ir pondo o cauim a ferver. Antônio de Alcântara Machado. MARIO DE ANDRADE "ftli vem a nossa comida pulando" (V. Hans Staden - Cap. 28) Revista de Antropofagia RESOLANA Poema O mormaço é a fumaça da macega. Ella vae sozinha, tropeçando nas colheitas. Treme o longe diluído na quentura. Bate-lhe o sol nos hombros. Ella sente que um gosto. O boi desce a recosta em procura da sombra humano mas pára logo, abombado. deflora-lhe a bocca e illumina-a de absurdos. Lá no alto, voando, voando, bebendo o azul, Parece que um choro quer sorrir dentro de si. subindo sempre — urubu. Parece que o sangue dentro de si quer matal-a Feliz... e jogar-lhe clarões por cima. O calor queima a terra, ferve no ar. Aquillo é o universo que se despenha dos seus cabellos. (Memória de marulhos gosto de espuma limo areia branca) (Pará) ABGUAR BASTOS A cabeça do alazão é uma chamma esbelta cortando o campo a trote largo. Vejo as orelhas agudas que se movem, sinto o corpo fremente do cavallo. URA, E ha tanta harmonia entre o choque dos cascos os films que assombram o mundo e o meu tronco agitado na vibração febril, que eu compreendo a gloria animal da carreira: REPRESENTANTE vou! enrolado na força do sol. Gustavo Zieglitz (Rio Grande do Sul) RUA DOS ANDRADAS, 42 Do livro "Giraluz" SÃO PAULO AUGUSTO MEYER Estão no Prelo Vacca Christina LARANJA DA CHINA A vacca Christina, de madrugada, DE Vem de belengue no longo da rua. Antônio de Alcântara Machado Uei, Olha o leite da vacca Christina! E MACUNAIMA No Bango lambido de luzes escassas Estira-se a larga madrugada molle. DE Amontoa-se a garoa miúda. E lá adeante. Mario de Andrade Roda a carroça do lixo da noite. Uei, Quem quer leite da vacca Christina? A sair brevemente E a vacca bohemia, de pata pitoca, Vae toda faceira, enfeitada de fita M arti m-Sererê Vae ver as comadres atraz dos tabiques Uei, VERSOS Viva as tetas da vacca Christina! DE Cassiano Ricardo E passa a patrulha noturna da zona. E' a hora em que o Bango cansado cochila. E Somente enche o resto da noite deserta O belengue molango no longo da rua: Republica dos E. U. do Brasil Uei, POEMAS Quem que o leite da vacca Christina? DE Jacob Pim>Pim. MENOTTI DE PICCHIA Do livro a sahir: "Ai, seu Mé". Revista de Antropofagia MANIFESTO ANTROPÓFAGO Só a antropofagia nos une. Social­ pobre declaração dos direitos do Só podemos attender ao mundo mente. Economicamente. Philoso- homem. orecular. phicamente. A edade de ouro annunciada pela America. A edade de ouro. E todas Tínhamos a justiça codificação da Única lei do mundo. Expressão as girls. vingança A sciencia codificação da mascarada de todos os individualis- Magia. Antropofagia. A transfor­ mos, de todos os collectivismo. De Filiação. O contacto com o Brasil mação permanente do Tabu em to­ todas as religiões. De todos os trata­ Carahiba. Oú Villeganhon print ter- tem. dos de paz. re. Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa Contra o mundo reversivel e as Tupy, or not tupy that is the ao Romantismo, á Revolução Bol- idéas objectivadas. Cadaverizadas. question. chevista, á Revolução surrealista e O stop do pensamento que é dyna- ao bárbaro technizado de Keyserl- mico. O indivíduo victima do syste- Contra toda as cathecheses. ing. Caminhamos. ma. Fonte das injustiças clássicas. contra a mãe dos Gracchos. Das injustiças românticas. E o es­ Nunca fomos cathechisados. Vive­ quecimento das conquistas interio­ Só me interessa o que não é meu. mos atravez de um direito sonam- res. Lei do homem. Lei do antropófago. bulo. Fizemos Christo nascer na Ba­ hia. Ou em Belém do Pará. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Ro­ Estamos fatigados de todos os ma­ teiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. ridos catholicos suspeitosos postos Mas nunca admittimos o nasci­ em drama. Freud acabou com o mento da lógica entre nós. O instincto Carahiba. enigma mulher e com outros sustos da psychologia im­ Morte e vida das hypothe- pressa. ses. Da equação eu parte do Kosmos ao axioma Kosmos O que atropelava a verdade parte do eu. Subsistência. Co­ era a roupa, o impermeável nhecimento. Antropofagia. entre o inundo interior e o mundo exterior. A reacção Contra as elites vegetaes. contra o homem Em communicação com o solo. vestido. O cinema americano informa­ Nunca fomos cathechisados. rá. Fizemos foi Carnaval. O indio vestido de senador do Império. Filhos do sol, Fingindo .de Pitt. Ou figuran­ mãe dos viventes. do nas operas de Alencar cheio Encontrados e ama­ de bons sentimentos portugue- dos ferozmente, com zes. toda a hypocrisia da saudade, pelos im- Já tínhamos o migrados, pelos tra­ communismo. Já tí­ ficados e pelos tou- nhamos a língua ristes. No paiz da surrealista. A eda­ cobra grande. de de ouro. Catiti Catiti Foi porque nun­ Imara Notiá ca tivemos gram- Notiá Imara maticas, nem col- Desenho de Tarcilu 1928 De um quadre que figurará na sua próxima exposição de Junho Ipejú lecções de velhos na galeria Pcrcier, em Paris. vegetaes. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e Contra o Padre Vieira. Autor do A magia e a vida. Tínhamos a re­ continental. Preguiçosos no mappa nosso primeiro empréstimo, para lação e a distribuição dos bens phy- mundi do Brasil. ganhar commissão. O rei analpha- sicos, dos bens moraes, dos bens di­ Uma consciência participante, beto dissera-lhe: ponha isso no papel gnados. E sabiamos transpor o ínys- uma rythmica religiosa. mas sem muita lábia. Fez-se o em­ terio e a morte com o auxilio de al­ préstimo. Gravou-se o assucar bra­ gumas formas grammaticaes. sileiro. Vieira deixou o dinheiro em Contra todos os importadores de Portugal e nos trouxe a lábia, consciência enlatada. A existência Perguntei a um homem o que era palpável da vida, E a mentalidade o Direito. Elle me respondeu que era a garantia do exercício da pos­ prelogica para o Sr. Levy Bruhl O espirito recusa-se a conceber o sibilidade. Esse homem chamava-se estudar. espirito sem corpo. O antropomor- Galli Mathias. Comi-o fismo. Necessidade da vaccina an- Queremos a revolução Carahiba. tropofagica. Para o equilíbrio contra Só não ha determinismo - onde ha Maior que a revolução Francesa. A as religiões de meridiano. E as in­ mistério. Mas que temos nós com unificação de todas as revoltas ef- quisições exteriores. isso? ficazes na direcçâo do homem. Sem nós a Europa não teria siquer a sua Continua na Pagina 7 Revista de Antropofagia SEIS ROETAS PBDRO-JUAN VIQNALE — Sen- A ascensão de Jorge de Lima é «ma Henrique de Resende, Rosário Fus­ tímiento de Germana — Buenos delícia. De soneto Acendedor de lam- co e Ascanio Lopes — Poemas — Cataguazes — 1928.

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