Rc: 30191 - Issn: 2448-0959

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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 30191 - ISSN: 2448-0959 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/lava-jato Lava-Jato: uma leitura da investigação que está a serviço da ética e da moralidade ARTIGO ORIGINAL PINTO, Aloísia Carneiro da Silva [1] PINTO, Aloísia Carneiro da Silva. Lava-Jato: uma leitura da investigação que está a serviço da ética e da moralidade. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 05, Vol. 06, pp. 32-55 Maio de 2019. ISSN: 2448-0959 RESUMO O objetivo precípuo deste artigo é descrever, mesmo que brevemente, a maior operação de investigação anticorrupção que vitimou a Petrobrás. Começo por elucidar a origem do termo que nomeia a operação e logo após, descrevo as nuances do esquema, citando os envolvidos e as tarefas de cada um. Discutindo também o funcionamento do cartel nos processos de licitação entre as empresas que ajustavam entre si os resultados das licitações da Petrobrás. Trata-se de um quadro de corrupção sistêmica, a qual se constituiu num comportamento reiterado de esquema de cobrança de propina por parlamentares, executivos da estatal e também partidos políticos que mantinham nos cargos os dirigentes da Petrobrás. Descrevendo cada denúncia, percebe-se que a força das provas evidenciaram a materialidade do crime e revelou a participação de políticos, o que deu maior dimensão ao caso. A operação representa uma conquista da democracia brasileira. Há uma visão positiva no enfrentamento à corrupção, é importante seguir firme para garantir os trabalhos da investigação no sentido de punir os agentes delinquentes que criaram um sistema de privilégios decorrentes de práticas ilícitas. A operação Lava Jato começou a esgarçar o pacto pela corrupção. Palavras-Chave: Corrupção, Petrobrás, Propina, Cartel, Gestão fraudulenta. INTRODUÇÃO Insisto em discutir a corrupção. É algo que me incomoda substancialmente e acredito que artigos são um artefato de aprimoramento das observações sociais. Acreditando que esta operação demonstra o funcionamento do Sistema Judicial e da Polícia Federal, que não está a serviço de fazer valer as normas 1 / 20 Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 30191 - ISSN: 2448-0959 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/lava-jato processuais penais para prender apenas os pobres. Uma operação que mostrou que precisamos nos incomodar com a naturalização da cultura da desonestidade, e por isso vale a pena conhecer, ainda que em apertada síntese, a operação que investigou um comportamento reiterado e serial, organizado e sistêmico de corrupção que desviou milhões de dólares e reais do povo brasileiro. Este texto intenciona apresentar uma síntese da maior investigação de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Tema que está na ordem do dia, é o assunto mais falado em todos os ambientes independente de ser quando se discute ética, política ou moral. Para tratar do tema, começo por elucidar a origem do termo que nomeia a operação anticorrupção e logo após, descrevo as nuances do esquema, citando os envolvidos e as tarefas de cada um. Mais adiante, se vê o funcionamento do cartel nos processos de licitação entre as empresas que ajustavam entre si os resultados das licitações da Petrobrás. Trata-se de um quadro de corrupção sistêmica, a qual se constituiu num comportamento reiterado de esquema de cobrança de propina para parlamentares, executivos da estatal e também para partidos políticos que mantinham nos cargos os dirigentes da Petrobrás. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal trabalharam de modo integrado. Ambos foram e são essenciais para o sucesso do caso. As medidas solicitadas à Justiça e operacionalizadas pela Polícia foram feitas com o aval e concordância do Ministério Público, e as atividades dos procuradores da República contaram com a concordância e o apoio da PF. O texto evolui para demonstrar as denúncias e o método de investigação. Por fim, foi constatado que de fato havia um quadro de corrupção sistêmica na Petrobrás, em que seus contratos eram vinculados a pagamento de propinas a executivos da estatal, a agentes públicos e dirigentes de empresas fornecedoras. O que se afirmou e se comprovou nas investigações é que a propina era dividida entre políticos e partidos políticos. As investigações revelaram provas de que todo grande contrato da estatal envolveu um significativo pagamento de propina, uma captura pra finalidades privadas com o objetivo de enriquecer executivos da estatal, dirigentes de empresas e agentes políticos. A ideia do escrito é chamar a atenção para o fato de que esta investigação deu à sociedade brasileira a esperança de que a justiça funciona para responsabilizar todos os que transgridem a lei, mesmo que se envolva pessoas poderosas econômica e politicamente. CAPÍTULO I A SEMÂNTICA A denominação “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou. Trata-se da maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobrás, maior estatal do país, seja de bilhões de reais. Soma-se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia. No primeiro momento da investigação, perante a Justiça Federal em Curitiba, (a 13ª Vara Federal de Curitiba é competente para processar esses casos, pois concentra os processos em primeira instância da operação “lava jato”) foram investigadas e processadas 2 / 20 Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 30191 - ISSN: 2448-0959 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/lava-jato quatro organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobrás. O ESQUEMA A Lava Jato começou em 2009 com a investigação de crimes de lavagem de recursos relacionados ao ex- deputado federal José Janene, em Londrina, no Paraná. Além do ex-deputado, estavam envolvidos nos crimes os doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater. Alberto Youssef era um antigo conhecido dos procuradores da República e policiais federais. Ele já havia sido investigado e processado por crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro no caso Banestado, no qual Alberto Youssef, personagem central do caso Lava Jato, já foi investigado, processado e preso, em 2003, em decorrência de sua atuação no mercado clandestino de dólares, após a apuração de um dos maiores esquemas criminosos que já existiu, o “Esquema CC5”, também conhecido como “Caso Banestado”. Youssef foi um dos maiores doleiros do Brasil, atuando no mercado atacadista, em que provia dólares para outros doleiros e alguns clientes especiais. A metodologia se dava em três etapas: a primeira tratando do fornecimento de dólares em espécie (mercado de balcão), os quais, não raro, eram trazidos do Paraguai e transportados para o destino em avião, que ele próprio pilotava. A segunda era por meio do esquema de laranjas e contas CC5 (de não residentes no Brasil), utilizadas para remeter, ilegalmente, bilhões de reais ao exterior no fim da década de 1990 e início da década seguinte. A terceira forma de operação era a realização de operações de dólar-cabo, que viabilizavam a remessa de dinheiro sujo para o exterior, bem como o ingresso de ativos, de modo oculto. Em resumo, essas três formas facilitavam a lavagem de dinheiro oriundo dos mais diversos crimes. No final de 2003, Alberto Youssef assinou com o Ministério Público o primeiro acordo de colaboração clausulada da história brasileira, em que se comprometia a colaborar com a investigação e a não mais cometer crimes. A colaboração do doleiro permitiu a investigação de centenas de crimes, tendo sido colhidos documentos e dezenas de depoimentos, o que pode ser considerado uma das mais frutíferas colaborações da história. As investigações foram conduzidas por uma equipe conhecida como “força- tarefa do caso Banestado” ou “força-tarefa CC5”, formada por procuradores da República e delegados da Polícia Federal no Paraná, vários dos quais integram hoje a equipe do caso Lava Jato. No caso Banestado, foram feitos mais de 20 acordos de colaboração, recuperando-se aproximadamente R$ 30 milhões só em função dos acordos. Centenas de pessoas foram acusadas por crimes contra o sistema financeiro nacional, de lavagem de dinheiro, de formação de quadrilha e de corrupção, obtendo-se 97 condenações. As autuações fiscais decorrentes do caso chegaram a cifras bilionárias. Mais de uma centena de pedidos de cooperação internacional foram feitos, intensificando a cooperação entre o Brasil e outros países de modo nunca antes visto na história. Em julho de 2013, a investigação começa a monitorar as conversas do doleiro Carlos Habib Chater. Pelas interceptações, foram identificadas quatro organizações criminosas que se relacionavam entre si, todas lideradas por doleiros. A primeira era chefiada por Chater (cuja investigação ficou conhecida como “Operação Lava Jato”), a segunda, por Nelma Kodama (cuja investigação foi chamada “Operação Dolce Vita”); a terceira, por Alberto Youssef (cuja apuração foi nomeada “Operação Bidone”); e a quarta, por Raul Srour (cuja investigação foi denominada “Operação Casa Blanca”).

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