Agua Vai 4 .Pdf

Agua Vai 4 .Pdf

presente edição da revista Água Vai será mais uma vez inteiramente dedica­ ♦ da ao Congresso dos Estudantes Lusitanistas 'da Polónia. O congresso VIA­ CAMÕES INSTITUTO w GENS PELO MUNDO LUSÓFONO decorreu entre os dias 21 e 22 de março. DA COOPERAÇÃO CONGRESSO E DA LÍNGUA UMCS Literatura, artes plásticas, língua, história e música são as áreas abordadas DOS ESTUDANTES LUSITANISTAS DA POLÓNIA UNIWERSYTET MARII CURIE-SKŁODOWSKIEJ PORTUGAL W LUBLINIE L JLneSta^dição. A Profa. Dra. Barbara Hlibowicka-Węglarz - diretora do cen­ MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS VIAGENS PELO MUNDO LUSÓFONO * * tro fez a abertura^sõlenedo congresso. A cerimónia de abertura contou também com 21-22 DE MARÇO DE 2013 breves intervenções doMagmfico Reitor da Universidade Marie Curie-Skłodowska LUBLIN - Prof. Dr. Stanisław Michałowskie do presidente da Faculdade de Letras - Prof. Dr. Robert Litwiński. A palestra de abertura intitulada: E Depois do Adeus - o LITERATURA fim do Império em Almeida Faria e Lobo Antunes foi proferida pela Profa. Dra. Anna Maria Bielak - Universidade de Poznań Anabela Dinis Branco de Oliveira da Universidade de Trás-os-Montes e O BATEAU IVRE DE ARTHUR RIMBAUD E A ODE MARÍTIMA DE FERNANDO PESSOA COMO . Alto Douro. Seguiram-se as comunicações "dos estudantes de Varsó- DOIS CAMINHOS PARA ATINGIR A SENSAÇÃO TOTAL - 2 /*t \VkaS via, Cracóvia, Wrocław, Poznań e Lublin onde são lecionados os cursos de língua portuguesa e de culturas lusófonas. O congresso Karolina Skalniak - Universidade de Wrocław contou também com a projeção de documentários portugue­ ERNESTO DE MELO E CASTRO E OS INÍCIOS DA POESIA EXPERIMENTAL PORTUGUESA - 6 ses apresentados no Rios - 1° Festival Internacional de Cine- / \ ma Documental e Transmedia LÍNGUA */<'’••• e ,a exposição de fotografias S ^<4/' Julia Grabińska - Universidade de Wrocław L/y -x \ Saudade da Profa. Dra. HUNSRUCKISCH - DIALETO ALEMÃO NO BRASIL - 9 'X i X/' Joanna Partyka da X TSkN x Academia Polaca « Anna Olchówka - Universidade de Wrocław das Ciências. TUDO MENOS FUTEBOL? IMAGEM DE ORGANIZAÇÃO DO EURO 2004 EM PORTUGAL NA IM­ PRENSA - CASO DO PORTO - 13 Aleksandra Pietraszek - Universidade de Wrocław O PORTUNHOL: FRUTO DO CONTACTO LINGUÍSTICO ENTRE PORTUGUÊS E ESPANHOL - 17 HISTÓRIA Patrycja Milczanowska - Universidade Jagellónica de Cracóvia OS POLACOS NOS CAMINHOS PORTUGUESES ENTRE O SÉCULO XV E XIX - 20 Anna Śniegula - Universidade de Wrocław IMPÉRIO PORTUGUÊS NO LIMIAR DOS SÉCULOS XVIII/XIX - 23 ARTE Agata Bojanowska - Universidade de Varsóvia RUI CHAFES - 28 Weronika Gwiazda - Universidade de Varsóvia A VIAGEM AOS CRUZAMENTOS ARTÍSTICOS DA CRIAÇÃO DE HELENA ALMEIDA - 31 MÚSICA Kamila Choroszewska - Universidade de Varsóvia AS MULHERES DO FADO - A CRIAÇÃO DA FIGURA FEMININA NAS LETRAS DE FADO - 36 Michał Hułyk - Universidade Maria Curie-Skłodowska de Lublin JOSÉ AFONSO E JACEK KACZMARSKI PORTADORES DE IDEIAS E MENSAGENS UNIVERSAIS - 40 Redação / Redakcja: Justyna Wiśniewska Editado pelo Centro de Língua Portuguesa/ Camões em Lublin Lino Matos Diretor artístico / Grafika Diretora do Centro: Jorge Branco Professora doutora Barbara Hlibowicka-Węglarz O BATEAU IVRE DE ARTHUR RIMBAUD E O BATEAU IVRE DE ARTHUR RIMBAUD E A ODE MARÍTIMA DE FERNANDO PESSOA COMO A ODE MARÍTIMA DE FERNANDO PESSOA DOIS CAMINHOS PARA ATINGIR A SENSAÇÃO TOTAL COMO DOIS CAMINHOS PARA ATINGIR A SENSAÇÃO TOTAL de todas as maneiras, amar tudo de todas as for­ ainda reforçada pelo uso excessivo dos pronomes Anna Maria Bielak mas. No poema A vida de Arthur Rimbaud estão pessoais e deíticos da primeira pessoa do singu­ Universidade de Poznań já presentes os elementos da paisagem marítima: lar. Na Ode Marítima o sujeito lírico é o único Vida que abre as velas; Um mar em mim (Pessoa, homem neste cais: Sozinho, no cais deserto(.). A vida de Arthur Rimbaud foi curta, mas in­ 2005) etc. O que pode sugerir a referência direta A vida marítima a acordar, os elementos do bulí­ tensa. Tinha apenas 16 anos quando encontrou ao Barco Bêbado (uma das obras mais conhecidas cio do porto multiplicam-se: aparecem os barcos, Paul Verlaine, um dos mais conhecidos poetas da de Rimbaud) ou pelo menos à metáfora da vida rebocadores, navios pequenos... No entanto, eles época, e começou a namorar com ele. Ambos fo­ como mar; metáfora que serve como fundo das parecem ter a sua própria vida, sem qualquer ele­ ram conhecidos pelas suas provocações e abuso sensações de ambos, Rimbaud e Pessoa. Por causa mento humano: as velas erguem-se, os rebocado­ do álcool. Encantado pelo caráter rebelde e pelo disso, a comparação de Ode Marítima com Bate- res avançam, o navio deixa o cais... A solidão é génio do jovem Rimbaud, Verlaine convidou-o au Ivre parece tão interessante: através dela pode­ relacionada com incapacidade de viver na socie­ a ir para Paris onde se envolveram sexualmente. mos capturar elementos comuns das duas filoso­ dade. A inadaptação de Rimbaud surgiu também Por causa deste jovem, abandonou a sua mulher e fias de vida excessivamente diferentes, mas que no poema dele: o seu filho. É nessa época que escreve os mais co­ se materializam nas visões muito semelhantes, na Quando eu atravessava os Rios impassíveis, nhecidos dos seus poemas: entre outros, o Barco mesma imagem poética. Para percebê-las melhor, Senti-me libertar dos meus rebocadores. Bêbado (Bateau Ivre)1. No entanto, embora o seu temos de imaginar a nossa vida como uma gran­ Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis talento fosse imenso, Arthur Rimbaud parou de de viagem solitária, através de um mar infinito e Os espetaram nus em postes multicores. (Rimbaud, 2010) escrever quando tinha somente 20 anos. Embarca desconhecido. Sem qualquer ajuda ou indicação. Toda a primeira parte do Bateu Ivre trata desta para África e começa uma vida ainda mais intensa Partir é igual a expor-se aos riscos, a mergulhar no que a sua poesia. Inicia outros relacionamentos. indefinido. E se fosse possível não partir? liberação finalmente atingida. O ato é brutal, es­ Torna-se soldado (desertou) e mais tarde trafican­ Assim podemos diferenciar duas atitudes: a de pontâneo, súbito. A liberação de repente provoca te de armas. A sua vida foi preenchida: se faltou excitação e embriaguez. um lutador que aceita tudo o que o mar lhe trou­ A viagem de Álvaro de Campos começa de xer e de um homem que simplesmente não conse- algo, apenas o aborrecimento da vida quotidiana, forma diferente. Está sozinho à beira dum cais normal. Da vida sentada, estática, regrada e re- ue a coragem para sair do porto. O primeiro é o vista2 usando as palavras de Álvaro de Campos. deserto, a olhar o mar. Observa-o e contempla-o, arco, o sujeito lírico de Bateau Ivre; o segundo é ninguém pode distraí-lo. Parece contente e calmo, Rimbaud, que admitia ser um «voyant», integrou Álvaro de Campos na sua Ode Marítima. Os dois aproveitando a solidão. As primeiras sensações a lista de Fernando Pessoa nas leituras obrigató­ poemas são baseados na confrontação de dois são muito subtis. Testemunha o nascer do dia, o rias da sua juventude. Ainda assim, Pessoa nunca elementos: o Homem (ou o barco como a metá­ princípio da vida e contenta-se em usufruir desse ousou as extravagâncias deste estilo perante toda fora dele: Mas eu, barco perdido (...)) e o mar que a Paris. Preferiu a contemplação a um assunto tur­ rovoca através da viagem as várias sensações. O privilégio. omem fraco, sozinho e mortal, confrontado com Observa, com indiferença, o bulício, o tumul­ bulento, o sossego do seu quarto a viagens exó­ to da vida marítima. A sua alma une-se com as ticas. Em comparação com o rebelde Rimbaud, a sua vida (o mar inacabado, infinito, eterno mas coisas mais afastadas, acumuladas num paquete Pessoa parece um introvertido dominado pelo também transparente). O mar é cheio de perigos: pequeno que está a entrar no porto. Com a doçura medo, desprovido de vontade própria. Alguém no poema de Rimbaud são, por exemplo, tempes­ dolorosa que sobe em mim como uma náusea. É tades e monstros marinhos como Leviatãs e Bee- qdue sente o seu eu de maneira tão dolorosa, que o primeiro estímulo para acordar dentro dele um ecide parti-lo em heterónimos. Este grande po­ motes. Mergulhar o máximo possível em sensa­ movimento do «volante» : um volante começa a eta português parece ter-se recusado a participar ções para atingir a plenitude da experiência é o girar, lentamente. A partir de agora o volante vai na... vida. Assim, o seu caso foi o oposto de Rim­ objetivo principal dos dois poetas. medir o nível da sua excitação interior; vai voltar O Bateau Ivre pode ser dividido em três partes: baud, que parou de escrever e começou a viajar. regularmente como refrão nas outras partes de as primeiras cinco estrofes constituem a rutura do Perante isto, como é que Rimbaud pode ter sido Ode até a parar definitivamente. o seu mestre? No poema A vida de Arthur Rim­ poeta com as amarras que o prendiam. Depois, O barco de Rimbaud já está em alto mar: Senti­ baud, disse a Rimbaud: Invejo a tua vida começa a descrição comprida das suas experiên­ Pessoa -me libertar dos meus rebocadores. Assim, quan­ Z> e tenho dela/ Que não foi minha, como que sau­ cias e aventuras marítimas. No fim, aparece o can­ ín do de Campos observa, o Barco de Rimbaud na­ ca saço, a nostalgia e as saudades da vida normal. dades (.) (Pessoa, 2005). É muito significativo o vega. Para Rimbaud a partida significa rutura com LJ_ oc facto de que A Ode Marítima foi escrita por Álva­ A Ode Marítima começa de forma mais tranquila: OC ro de Campos. Ele foi a parte mais sombria e co­ aquelas normas que não consegue seguir, partici­ melancolia misturada com desassossego aparece par na própria vida. Para Campos não partir sig­ Z> rajosa da personalidade de Pessoa, que, segundo no princípio do poema; a excitação aumenta pro­ U X nifica ficar excluído da vida própria, mas também as palavras de Teresa Rita Lopes, ousou, através gressivamente, com a visão de Campos a dilatar­ O D£ ficar fora da sociedade: a vida passa-se no porto.

View Full Text

Details

  • File Type
    pdf
  • Upload Time
    -
  • Content Languages
    English
  • Upload User
    Anonymous/Not logged-in
  • File Pages
    25 Page
  • File Size
    -

Download

Channel Download Status
Express Download Enable

Copyright

We respect the copyrights and intellectual property rights of all users. All uploaded documents are either original works of the uploader or authorized works of the rightful owners.

  • Not to be reproduced or distributed without explicit permission.
  • Not used for commercial purposes outside of approved use cases.
  • Not used to infringe on the rights of the original creators.
  • If you believe any content infringes your copyright, please contact us immediately.

Support

For help with questions, suggestions, or problems, please contact us