MANUAL DA CALÇADA PORTUGUESA THE PORTUGUESE PAVEMENTS HANDBOOK Direcção Geral de Energia e Geologia 2009 AUTORES António Manuel Esteves Henriques António A. Casal Moura Francisco Amado Santos DESIGN Ana Cristina Simões FOTOGRAFIA E IMAGENS Sofia Rivas Oliveira Ernesto Matos Nuno Soromenho CAPA Cristina Simões EDITOR Direcção Geral de Energia e Geologia Av. 5 de Outubro, 87 - 1069-039 Lisboa Telf: 217 922 700 – Fax: 217 939 540 Email:[email protected] www.dgge.pt PROMOTOR EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro, SA R. Sampaio e Pina, nº1 - 3º Dtº 1070-248 Lisboa Tel: 213 859 121 - Fax: 213 856 344 Email: [email protected] www.edm.pt COORDENAÇÃO GERAL Comedil – Comunicação e Edição, Lda. Rua Enfermeiras da Grande Guerra, 14-A 1170-119 Lisboa Telf: 218 123 753 – Fax: 218 141 900 Email: [email protected] PRÉ-IMPRESSÂO - IMPRESSÃO SIG - Sociedade Industrial Gráfica, Lda. 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PREFÁCIO 5 Na convivência no dia-a-dia com a Calçada Pretende-se ainda com esta publicação em Portuguesa, a grande maioria dos portugueses edição bilingue sensibilizar todas as entidades desconhece o “percurso” que esta forma de públicas e privadas, que em diferentes momen- arte muito portuguesa percorreu ao longo dos tos intervêm desde o processo produtivo da séculos bem como a expressão deste patrimó- pedra para calçada até à aprovação dos projec- nio que hoje está espalhado por todo o mun- tos que se vão traduzir em novas expressões de do. Em oposição a este aspecto positivo estão arte, e o público de uma forma geral, para que as dificuldades que esta actividade atravessa contribuam para a preservação desta expressão para se conseguir manter nos tempos vindou- cultural tão portuguesa. ros, atendendo aos desafios que se colocam à produção da matéria-prima. Quero ainda deixar aqui um agradecimento à equipe que esteve envolvida neste projecto, Esta expressão cultural portuguesa é pois e em especial ao apoio insubstituível do meu uma herança histórica de um misto da cultura amigo António Esteves Henriques, director da e tecnologia de construção dos romanos e dos revista Rochas e Equipamentos, principal res- árabes, que acabou por se impor em Portugal ponsável pela concretização do projecto e sem no século XIV durante o reinado de D. João II. o qual este “Manual da Calçada Portuguesa” não seria possível. Pese embora hoje todo o mundo reconheça e aprecie esta arte, a produção da matéria-pri- ma nela utilizada passa por dificuldades de di- versa ordem que poderão comprometer o seu futuro. Por outro lado não podemos esquecer que por detrás desta expressão cultural está Carlos A. A. Caxaria uma importante actividade extractiva artesa- nal e especializada com grande relevância so- cial e que é o alimento de milhares de famílias que dependem quase que exclusivamente da Subdirector Geral produção da pedra de calçada. Área dos Recursos Geológicos São pois estas as principais razões que le- varam a Direcção Geral de Energia e Geologia a abraçar este projecto e a preparar um “Manual da Calçada Portuguesa”, que pretende ser uma obra de referência nesta matéria, apresentan- do-a desde o “nascimento” da matéria-prima até à finalização das inúmeras obras de arte que hoje estão espalhadas por todo o mundo. Porto Ernesto Matos INTRODUÇÃO 9 A originalidade da Calçada Portuguesa con- do de Calçada Portuguesa, aliados à sua funcio- fere-lhe um estatuto muito particular no do- nalidade, levaram a que o seu uso se alargasse mínio dos pavimentos. Pode ser definida como a muitas das cidades portuguesas e das antigas “um pavimento empedrado, cujos componen- colónias incluindo o Brasil, onde muito rapi- tes são de pedra natural, com base em calcários, damente se generalizou, sobretudo durante o assentes e dispostos no solo de forma mais ou Século XX. Os mestres calceteiros portugueses menos homogénea”. Alia as características de eram chamados para além fronteiras mostra- durabilidade e de grande beleza estética às da rem a sua arte e eram depois convidados a ficar vantagem económica de, utilizando a pedra por lá… e muitos ficaram, pois as compensações originalmente aplicada, poder ser restaurada financeiras eram substancialmente maiores. sempre que houver necessidade de realizar tra- Ao mesmo tempo decorriam exposições, balhos que obriguem à remoção do pavimento onde Portugal se fazia representar por estes ar- ou de ser reconstruída quando ocorra abati- tesãos e aí eram galardoados e reconhecidos pela mento do substrato. Tem-se revelado ideal para arte do seu trabalho, como aconteceu em Paris ser utilizada em zonas de circulação de peões, (1900), Rio de Janeiro (1906), Cidade do Cabo como em passeios, jardins e habitações, centros (1909), Sevilha (1929 e 1969), entre outras dis- comerciais, mas também em ruas e praças com tinções. A actividade cresceu de tal forma que, circulação restrita de veículos. por volta de 1930, a Câmara de Lisboa tinha a Cada calçada é única, não só porque são di- seu encargo, aproximadamente 400 artífices. versos os motivos utilizados (motivos geométri- À vontade dos homens e à qualidade da cos, motivos figurativos, motivos alusivos a acti- mão-de-obra juntava-se então a necessidade de vidades ou especificidades regionais ou locais), promover estas obras nas cidades, sobretudo mas também porque o seu efeito final depende nas zonas de maior movimento pedonal e co- da qualidade da produção e da mestria do artí- mercial. Rapidamente a ideia “saiu” de Lisboa fice encarregado de efectuar o assentamento. e se espalhou pelo restante território nacional Com efeito, a confecção de um pavimento e por vários países europeus. A funcionalidade de Calçada Portuguesa envolve duas fases dis- aliada à arte criava por todo o mundo autên- tintas. A primeira fase corresponde à extracção ticas obras-primas, que ao contrário de quase da pedra e à produção da calçada, transfor- todas as outras estavam à vista de todos. mando a rocha em bruto em paralelepípedos No Brasil tornou-se uma apreciada referên- de reduzida dimensão e com forma regular. A cia da Arte Lusa, a ponto de, nos tempos ac- segunda fase consiste no calcetamento, em que tuais, ter vindo a gerar acirradas polémicas em se procede à colocação dos paralelepípedos no sua defesa na perspectiva de que constitui um solo utilizando técnicas adequadas em função património indiscutível, tal é o sentimento que das diversas utilizações previstas e obedecendo levou a considerá-la como fazendo parte da sua a padrões variados, muitos deles de agradável própria tradição. Com efeito, temos conheci- efeito, primando pelo bom gosto artístico e mento de argumentações a favor dos pavimen- pela harmonia. tos de Calçada Portuguesa e do levantamento O agrado geral pelos atributos do empedra- de movimentos cívicos visando impedir a sua 10 destruição na sequência de reorganizações ur- Dezembro de 2006, foi inaugurado um monu- banísticas em Salvador, no Recife e no Rio de mento ao calceteiro na Baixa Pombalina. Janeiro. Neste Manual são oportunamente abor- Actualmente, é reconhecida e apreciada dados, ainda que apenas nos seus aspectos es- internacionalmente como uma bem sucedida senciais, os factores que já atrás considerámos manifestação da nossa cultura, facto que ex- de maior importância para a qualidade de um plica, designadamente, a sua exportação para trabalho de Calçada Portuguesa: a qualidade da Espanha, França e outros países da União Eu- pedra, a qualidade da produção e a qualidade ropeia, para a Austrália, Estados Unidos, Japão do assentamento. e China, neste caso por influência de Macau. Obviamente, caberá a todos, exploradores, Ainda muito recentemente foi pavimentada produtores, prescritores, utilizadores, institui- uma praça em Bruxelas com recurso a esta nos- ções e à administração pública a divulgação sa apreciada técnica, sendo que para isso foram desta Arte, em que a Expo 98 foi um bom exem- convidados calceteiros portugueses. plo, pois ao Mundo foram dadas a conhecer as Como consequência do reconhecimento da potencialidades da Calçada Portuguesa, contri- importância da técnica de aplicação da Calçada buindo decisivamente para um aumento das Portuguesa como manifestação genuinamente exportações, o que para muitas empresas veio nacional, em 1986 foi criada a Escola de Cal- possibilitar um maior desenvolvimento, quer ceteiros da Câmara Municipal de Lisboa e, em na vertente económica, quer na social. 11 1 AS ORIGENS DA CALÇADA PORTUGUESA 13 A Calçada Portuguesa é uma herança his- em sistema de espinha ou espiga para apro- tórica da cultura e da tecnologia de constru- veitamento das águas. ção dos Romanos, de que existem inúmeros É no século XIV que, no reinado de D. João vestígios em Portugal, entre eles a Estrada II, nas cidades de Lisboa e Porto a opulência Romana situada em Alqueidão da Serra, con- e o luxo trazido pela rentabilidade comercial celho de Porto de Mós. abre caminhos a uma nova sociedade que leva A arte romana de empedrar não se limi- à criação das chamadas “Ruas Novas” junto tou à técnica empregue na pavimentação de às áreas ribeirinhas, onde se concentravam as vias comunicação; restam entre nós exemplos grandes fortunas e as lojas de mercadorias.
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