A Produção Jornalística

A Produção Jornalística

MIRIAM CAJADO GOMES DE OLIVEIRA AS INVERSÕES NA PRÁXIS JORNALÍSTICA Estratégias e (des) caminhos na construção do noticiário Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO São Paulo 2004 1 MIRIAM CAJADO GOMES DE OLIVEIRA AS INVERSÕES NA PRÁXIS JORNALÍSTICA Estratégias e (des) caminhos na construção do noticiário Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Comunicação e Semiótica - Signo e Significação nas Mídias, sob a orientação do Prof. Dr. Norval Baitello Junior. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO São Paulo 2004 2 BANCA EXAMINADORA ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 3 À minha mãe-amiga, Jacyra, grande companheira dedicada de todas as horas e em todos os empreendimentos. 4 AGRADECIMENTOS À minha irmã Fátima, pelo incentivo e presença amiga. À minha irmã Márcia (in memoriam), que muito me ajudou, comemorou a meu lado o ingresso no mestrado e não teve tempo de me ver concluí-lo, já que a vida, em uma perversa inversão, levou precocemente para muito longe quem família e amigos queriam bem perto. Ao Prof. Dr. Norval Baitello Junior, orientador entusiasta, por confiar em mim e me conduzir para novos conhecimentos. Aos Profs. Drs. Fabio Cypriano e José Eugenio de Oliveira Menezes, por toda a atenção e pelas contribuições apresentadas no exame de qualificação. Aos Profs. Drs. Irene Machado, Cecilia Almeida Salles, Amálio Pinheiro e Eugênio Trivinho, pelo acolhimento e por propiciarem meu crescimento acadêmico. À Professora Flamínia M.M. Lodovici, pela cuidadosa revisão desta dissertação. À grande amiga Ana Cosenza, que me incentivou a ingressar no mestrado e me ajudou a nele permanecer, pela paciência para me ouvir e por sanar tantas dúvidas. 5 A todos os amigos da Cúria Metropolitana de São Paulo, em especial, Leandro Siqueira, Juliana Satie, Analu Braggio, Cloves Reis, Magali Godoy, José Carlos Jerônimo e Rita Ribeiro, que me acompanharam mais de perto no percurso desta pesquisa. Aos queridos amigos do trio, Andréa Florentino e José Mauricio Conrado, pelos encontros de estudo, pelas sugestões e, acima de tudo, pela demonstração de companheirismo e lealdade. A todos os colegas do mestrado, em especial os do Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia, pela amizade e carinho. Ao cardeal dom Paulo Evaristo Arns e ao cônego Antônio Aparecido Pereira, pelo apoio. À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pela concessão da bolsa de estudos que permitiu a realização desta pesquisa. 6 RESUMO Esta pesquisa trata das formas de inversão presentes na práxis jornalística, demonstrando o que são, onde estão e como são operacionalizadas, iniciando com um mapeamento dos conceitos teóricos acerca dos processos comunicativos. Com Ivan Bystrina e Mikhail Bakhtin, discute a inversão como uma solução cultural encontrada pelo homem para superar seus medos e dificuldades, abolindo regras e hierarquizações. Transportada para o âmbito do jornalismo, desta vez a partir da perspectiva das instituições e não da do povo, esta liberação configura também uma solução cultural encontrada pela imprensa para se livrar das pressões a que está sujeita, como, por exemplo, a necessidade de trazer a novidade mais recente, no menor tempo possível e antes dos concorrentes. Invertendo a própria inversão, transforma-se de solução para o produtor em problema para o consumidor do produto jornalístico, ao qual é negado o direito a informações completas, devidamente contextualizadas, como aponta Edgar Morin, e livres de distorções. Com Perseu Abramo, traz as inversões nas diferentes formas como se apresentam nas matérias jornalísticas, trocando de lugar fato e versão, informação e opinião, forma e conteúdo, parte e totalidade, dentre outros. Os estudos de Pierre Bourdieu sobre os “mecanismos invisíveis” do campo jornalístico fornecem os subsídios para entender algumas das causas da incidência das inversões apontadas por Abramo. Por fim, analisa matérias alusivas a três temas: reforma agrária e sem-terra, marketing pessoal de personalidades e disputa eleitoral, apontando as inversões presentes. Palavras-chave: inversão; comunicação; jornalismo; cultura. 7 ABSTRACT This research deals with the current forms of inversion in the journalistic praxis, demonstrating what they are, where they are and how they become operational, starting by mapping the theoretical concepts relating to the communicative processes. With Ivan Bystrina and Mikhail Bakhtin, it argues that the inversion is a cultural solution found by man in order to overcome his fears and difficulties, abolishing rules and hierarchical systems. When assigned to the field of journalism, this time from the perspective of the institutions and not of the people, this liberation is also shaped as a cultural solution found by the press to free itself from the pressures to which it is subject, for instance, the need to bring the most recent newness, in the lesser possible time and ahead of the competitors. Inverting the inversion itself, it transforms itself from solution for the producer into a problem for the consumer of the journalistic product, to whom the right to broad information, duly conceptualized, as pointed by Edgar Morin, and free of distortions is denied. With Perseu Abramo, it brings the inversions in the different forms they appear in the journalistic writings, changing places of fact and version, information and opinion, form and content, part and totality and others. The studies of Pierre Bourdieu about the “invisible mechanisms” of the journalistic field provide the subsidies to understand some of the causes of incidence of the inversions pointed by Abramo. Finally, it analyzes allusive journalistic writings to three subjects: land reform and landless people, personal marketing of public figures and electoral dispute, pointing the current inversions. Key words: inversion; communication; journalism; culture. 8 SUMÁRIO Introdução 09 CAPÍTULO 1 A imprensa e seus mecanismos de produção 1.1 Os códigos culturais, segundo Ivan Bystrina 16 1.1.1 Os quatro universais da cultura 19 1.2 Com Mikhail Bakhtin, carnavalizando a notícia 22 1.2.1 Ambivalência 24 1.3 O estabelecimento de novos sentidos 26 1.4 Os fundamentos dos padrões apontados por Abramo 32 1.4.1 Padrão de ocultação 33 1.4.2 Padrão de fragmentação 35 1.4.3 Padrão de inversão 43 1.4.3.1 Inversão da relevância dos aspectos 44 1.4.3.2 Inversão entre forma e conteúdo 44 1.4.3.3 Inversão entre versão e fato 44 1.4.3.4 Inversão entre opinião e informação 46 1.4.4 Padrão de indução 47 1.4.5 Padrão global ou específico do jornalismo de televisão e rádio 47 CAPÍTULO 2 O cotidiano da mediação invertida 2.1 Distorções abrigadas 50 2.1.1 Os sem-terra existem? 51 2.1.2 Silvio Santos: a morte como espetáculo 60 2.1.3 Imprensa na disputa eleitoral 64 2.1.3.1 Em pauta, a interpretação dos números 65 2.1.3.2 O apoio no discurso alheio 69 2.1.3.3 A informação em último lugar 73 2.1.3.4 Vale-tudo verbal 76 Considerações finais 79 Bibliografia 81 Anexos 91 Glossário 131 9 Introdução A imprensa1 assume cotidianamente em seus discursos o compromisso com a liberdade e a isenção, reservando, inclusive, espaços em seus projetos editoriais para asseverar sua independência. Conforme Motta (2002: 15), a imprensa insiste em defender uma posição própria de imparcialidade no jogo político, de neutralidade e de distanciamento na observação e no relato dos eventos públicos. Apesar de tais discursos, nossa pesquisa parte da hipótese de que nem sempre a situação seja exatamente a que é apregoada. É possível pensar que existem fatores impeditivos que acabam por estabelecer o modo de produzir e transmitir informação para uma sociedade determinada, criando e recriando o noticiário, sejam eles os mecanismos estruturais do campo jornalístico, conforme veremos mais adiante com Pierre Bourdieu (1997), sejam eles fatores ligados a interesses dos veículos de comunicação, de seus jornalistas ou dos grupos aos quais estejam mais ligados econômica ou politicamente ou sejam ainda uma conjugação destes e de outros elementos. 1 No presente trabalho, utilizamos o termo “imprensa” genericamente, referindo- nos ao conjunto de seus vários suportes (rádio, TV, jornal etc.) - independentemente de suas grandes ou pequenas infra-estruturas ou de quaisquer outras características -, bem como aos jornalistas que neles atuam. A generalização explica-se pelo fato de entendermos que a inversão, nosso objeto de estudo, pode ser parte integrante de todos os mecanismos da cultura - havendo ou não intencionalidade -, aí inclusas a grande imprensa, a imprensa sindical, a imprensa religiosa etc. Naturalmente, sabemos também que - felizmente! - nem todos os veículos de comunicação ou jornalistas deixam-se enredar pelas inversões, motivo pelo qual não estamos particularizando que apenas este ou aquele veículo ou jornalista o faça, mas, sim, estamos tratando a questão do ponto de vista estrutural do jornalismo. Apenas no segundo capítulo, quando apresentamos as análises de casos, somos obrigados a exemplificar e, para isso, optamos pela imprensa escrita em nosso recorte, trazendo produções de diferentes veículos. 10 Assim introduzimos nosso objeto de estudo, a inversão, que pode ser duplamente caracterizada: em primeiro lugar, como uma contradição entre o discurso da imprensa e sua prática efetiva, ou, podemos dizer, possível; e em segundo lugar, por sua presença trazida à tona nas notícias. É necessário esclarecer, porém, que não trabalhamos com os aspectos dos discursos da imprensa em relação a seus valores e/ou independência, o que seria demasiado extenso para o âmbito da presente dissertação, detendo-nos, portanto, apenas na análise da inversão presente nas matérias jornalísticas, o que, em alguns casos, pode incluir a avaliação que o próprio veículo faz tão somente em relação à matéria específica. A palavra “inverter” vem do latim invértere e significa mudar a ordem dos objetos, dispor de maneira contrária ao normal, transformar uma coisa em outra (Cf.

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