Universidade De São Paulo Escola De Comunicações E Artes Curso Superior De Audiovisual

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Universidade De São Paulo Escola De Comunicações E Artes Curso Superior De Audiovisual RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO ALUNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (IC) PIBIC/USP/CNPq Cinema e Política em O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho Período: Agosto / 2018 a Julho / 2019 João Pedro Martinez Oliveira Pesquisa sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Victorio Morettin em nível de Iniciação Científica Bolsista PIBIC/CNPq São Paulo 2019 Sumário Objetivos ................................................................................................................................... 3 Introdução ................................................................................................................................ 4 Atividades Desenvolvidas ........................................................................................................ 9 Metodologia ............................................................................................................................ 12 Resultados ............................................................................................................................... 15 Análises ................................................................................................................................... 16 Conclusões .............................................................................................................................. 79 Referências.............................................................................................................................. 83 Anexos ..................................................................................................................................... 84 2 1. Objetivos Esta iniciação científica teve como objetivo identificar e analisar temas e questões políticas levantadas no cinema de Kleber Mendonça Filho, nos filmes O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), e de que forma os elementos cinematográficos são utilizados para abordar tais questões. Para isso, analisamos sequências que consideramos primordiais para entender este caráter. Nesta pesquisa pretendeu-se também analisar a recepção crítica e acadêmica destes filmes1, uma vez que o aspecto político de um filme também se dá fora das salas de exibição, a partir de interpretações e de situações política do país. Portanto, foi importante explorar o que se disse sobre as obras, como foram encarados pela crítica e, quando possível, pelos próprios espectadores. A partir da análise individual dos dois filmes, da sua comparação, e da sua análise da recepção crítica e acadêmica foi possível ter uma visão mais ampla sobre a sua importância para a cinematografia brasileira, preocupado com o primor técnico sem se descuidar de um crítico e político. Ao percorrer esse material, esta foi a nossa intenção. Procuramos também, sempre que possível, estabelecer pontos com o cinema brasileiro contemporâneo, produção que vem ganhando espaço e visibilidade no cenário nacional e internacional, como atesta a sua circulação em diversos países e a premiação recebida em festivais cinematográficos importantes. 1 Realizamos extenso levantamento da recepção crítica dos dois filmes, material que foi lido e parcialmente utilizado no presente relatório. No Anexo A apresento a relação das críticas e estudos a O Som ao Redor. No Anexo B, a Aquarius. 3 2. Introdução Este relatório se refere ao projeto Cinema e Política em O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, que tinha por objetivo analisar e discutir conceitos estéticos e políticos presentes nos dois filmes, de forma a desenvolver uma relação entre cinema e política. Pretendemos aqui apresentar os principais resultados obtidos ao longo desta pesquisa. Na cinematografia brasileira recente há uma série de filmes que se preocupam em analisar as questões sociais e políticas, obras que se debruçam sobre a situação da sociedade brasileira, procurando, de certo modo, imprimir a sua marca no debate. Dessa forma, percebe-se que essa questão está impregnada na cinematografia brasileira de modo geral, tanto em filmes comerciais, como por exemplo Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro (2010), ambos de José Padilha, quanto nos filmes que interessam a esta pesquisa, advindos de um cinema autoral não comercial, como é o caso de Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), dirigidos por Kleber Mendonça Filho. No Brasil, parte expressiva da produção segue uma perspectiva autoral2. Isso significa que se trata de um cinema mais preocupado com a expressão artística, valorizando-se a mise- en-scène, por vezes adotando uma estética inovadora, trazendo uma reflexão estética sobre a forma de se ver o mundo e tendo, por fim, a figura do diretor como centro desta força criativa. Há mais de uma década o cinema de Pernambuco ganhou destaque e se consolidou nessa perspectiva, sendo reconhecido nacional e internacionalmente, com filmes como Febre do Rato (2011) de Cláudio Assis, Tatuagem (2013) de Hilton Lacerda, A História da Eternidade (2014), de Camilo Cavalcante, Boi Neon (2015), de Gabriel Mascaro, O Som ao 2 Conceito criado na França dos anos 1940, por teóricos do cinema como André Bazin e Alexandre Astruc e tornado chave no exercício da crítica por meio das páginas da revista Cahiers du Cinéma. Um dos primeiros movimentos a manifestá-lo foi a Nouvelle Vague e, no Brasil o Cinema Novo teve um caráter autoral muito forte. Para um histórico da questão no Brasil ver BERNARDET, Jean-Claude. O autor no cinema: a política dos autores: França, Brasil anos 50 e 60, 2018. 4 Redor (2012) e Aquarius (2016), ambos de Kleber Mendonça Filho, esses últimos sendo o alvo desta pesquisa. A produção cinematográfica recente de Pernambuco normalmente tem uma tensão comum nas obras, a fricção entre o moderno e a tradição. É no mundo urbano e globalizado que é possível perceber resquícios de uma tradição pautada na cultura violenta e patriarcal, sinal de origem que explica a situação presente. É nesse choque que está a base de várias obras pernambucanas, como Amarelo Manga (2002) de Cláudio Assis, Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) de Marcelo Gomes, Árido Movie (2005) de Lírio Ferreira, Boi Neon (2015), entre outras. O Som ao Redor articula esse mesmo encontro do arcaico com o moderno, anunciando desde o início que este confronto estará presente. O primeiro paralelo se dá com o corte da sequência inicial de fotografias da década de 1970, em preto e branco, com a próxima cena de crianças brincando no condomínio, nos dias atuais. Faz isso de forma mais reiterada do que a maior parte da filmografia pernambucana, mostrando que o passado não desaparece, porém se recicla no presente. Como afirma José Geraldo Couto3, a obra radiografa sua época sem perder de vista o processo histórico de longa duração em que ela se insere. Não se perde nas aparências do presente, não fetichiza o novo, mas, pelo contrário, revela a presença do arcaico no moderno, a reiteração sob novas formas de um modelo civilizatório ao mesmo tempo perverso e fascinante – tudo isso sob a aparência de uma prosaica crônica urbana ambientada num bairro recifense de classe média. Kleber Mendonça, jornalista de formação, foi crítico cinematográfico na revista Cinética, e nos jornais O Globo, Folha de São Paulo e Jornal do Commercio, além de gerir o site de crítica CinemaScópio, nome também da produtora de seus filmes4. 3 COUTO, José Geraldo. O som sutil e a fúria contida. Blog do IMS. 04/01/2013. Disponível em: https://blogdoims.com.br/o-som-sutil-e-a-furia-contida/. Acesso em: 14/11/2018. 4 KLEBER Mendonça Filho. Filme B. Disponível em: http://www.filmeb.com.br/quem-e-quem/diretor- roteirista/kleber-mendonca-filho. Acesso em: 16/01/2019. 5 Como realizador iniciou sua trajetória artística em vídeo em 1997, com Enjaulado, dando início a este cinema crítico e reflexivo, característico de seu trabalho. Posteriormente fez uma série de curtas-metragens, com destaque para Eletrodoméstica (2005), que narra a vida de uma dona de casa na década de 1990, e Recife Frio (2009), um falso documentário que narra um resfriamento súbito do Recife. Além disso, em 2008 lança seu primeiro longa-metragem Crítico, um documentário que discute o cinema a partir de entrevistas de críticos e cineastas, abordando as diversas visões sobre a indústria cultural e o fazer cinema. Seu primeiro longa-metragem ficcional foi O Som ao Redor (2012), um dos filmes brasileiros mais aclamados do ano, rodando por diversos festivais e recebendo alguns prêmios. Como disse Luiz Zanin5, “não sem motivos, críticos (incluindo este que aqui escreve) o consideram o mais importante filme nacional dos últimos anos”. O Som ao redor retrata a chegada de um grupo de seguranças particulares que oferece proteção à rua de classe média em Recife, sendo Clodoaldo (Irandhir Santos) o chefe. Trata-se de uma vizinhança já repleta de proteções e grades e que procura mais uma forma de se sentir segura. Francisco (W.J. Solha), dono de muitas propriedades da região, se sente incomodado com a chegada do grupo, como se estivessem a invadindo. Enquanto Bia6 (Maeve Jinkings), dona de casa e mãe de dois filhos, se incomoda com os latidos constantes de um cão de um vizinho e procura maneiras de lidar com isso. Por sua vez, João (Gustavo Jahn), neto de Francisco, cuida dos negócios da família, atuando como corretor de imóveis. Ele tem um relacionamento com Sofia (Irma Brown). 5 ZANIN, Luiz. Casa Grande & Senzala – O Som ao Redor. O Estado de São Paulo. 13/01/2014. Disponível em: https://goo.gl/K9zz9x. Acesso em:

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