Estudantes Rikbaktsa Em Uma Escola Não Indígena

Estudantes Rikbaktsa Em Uma Escola Não Indígena

UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI – UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ENSINO DO OUTRO LADO DO RIO: ESTUDANTES RIKBAKTSA EM UMA ESCOLA NÃO INDÍGENA Miguel Julio Zadoreski Junior Lajeado, janeiro de 2019 Miguel Julio Zadoreski Junior DO OUTRO LADO DO RIO: ESTUDANTES RIKBAKTSA EM UMA ESCOLA NÃO INDÍGENA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino, da Universidade do Vale do Taquari – Univates, como parte da exigência para obtenção do grau de Mestre em Ensino linha de pesquisa Ciência, Sociedade e Ensino. Professora Orientadora: Prof. Dra. Suzana Feldens Schwertner Lajeado, janeiro de 2019 Dedico este estudo Aos meus queridos pais, Maria de Lourdes Zadoreski e Miguel Julio Zadoreski (in memorian), Porto de partida À minha querida filha, Heloísa Vargens Zadoreski, Porto de chegada À minha amada esposa, Katia Fraitag, Companheira de jornada Ao povo Rikbaktsa, Inspiração para essa viagem. AGRADECIMENTOS À Coordenação do Programa de Pós-Graduação do Mestrado em Ensino da Univates e a toda sua equipe, pelos serviços prestados, atendendo-nos sempre de forma gentil e solícita. À Professora Dra. Suzana Feldens Schwertner, agradeço pelas orientações e, sobretudo, pela confiança depositada em minha capacidade de superar os desafios encontrados pelo caminho. Sua ajuda foi essencial para essa realização. À Professora Dra. Elisete Maria de Freitas, manifesto minha profunda gratidão por todas as suas observações e orientações no projeto de pesquisa, essas que foram fundamentais para o êxito desse trabalho final, meus sinceros agradecimentos. À minha esposa Kátia e à minha filha Heloísa, que estiveram sempre ao meu lado, dando força ao longo da caminhada com suas manifestações de carinho e de incentivo à realização deste trabalho. Nos momentos em que alguns obstáculos nesse estudo pareciam intransponíveis, o apoio de vocês foi decisivo para que pudesse superar as dificuldades e seguir em frente. Obrigado minhas amadas! Agradeço a todos os envolvidos neste estudo, professores, estudantes, pais, por terem se disposto a participar conosco atuando como verdadeiros “sujeitos” dessa pesquisa. Sem vocês esse trabalho não existiria! “A grandeza não é onde permanecemos, mas em qual direção estamos nos movendo. Devemos navegar algumas vezes a favor do vento e outras vezes contra ele, mas devemos navegar sempre, e não nos deixar levar pelo vento, nem jogar a âncora.” Oliver Wendell Holmes (1858, p.94) LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mapa de Mato Grosso destacando Juína ................................................. 15 Figura 2 - Localização de Fontanillas e Aldeia Rikbaktsa ......................................... 16 Figura 3 - Travessia dos alunos com canoa .............................................................. 17 Figura 4 - Terras Rikbaktsa ....................................................................................... 19 Figura 5 - Escola Vinícius de Moraes ........................................................................ 51 Figura 6 - Canoa virando com estudantes Rikbaktsa ................................................ 66 Figura 7 - Canoa já submersa ................................................................................... 67 Figura 8 - Canoa Rikbaktsa ....................................................................................... 68 Figura 9 - Filhote de Gavião Real .............................................................................. 69 Figura 10 - Artesanato Rikbaktsa .............................................................................. 69 Figura 11 - Periquito domesticado ............................................................................. 70 Figura 12 - Arara vermelha domesticada .................................................................. 70 Figura 13 - Autor com um papagaio domesticado ..................................................... 71 Figura 14 - Jabuti da aluna E10 ................................................................................ 71 Figura 15 - pontas de flechas Rikbaktsa ................................................................... 74 Figura 16 - Rikbaktsa demonstrando o uso do arco e flecha .................................... 75 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CEE Conselho Estadual de Educação CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CODEMAT Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso CONOMALI Companhia Colonizadora Noroeste Mato-Grossense Ltda. ECA Estatuto da Criança e do Adolescente FUNAI Fundação Nacional do Índio SESAI Secretaria Especial de Saúde Indígena IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MS Mato Grosso do Sul MT Mato Grosso ONG Organização Não Governamental OPAN Operação Amazônia Nativa PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PNE Plano Nacional de Educação PPAP Progressão Parcial com Apoio Pedagógico PPP Projeto Político Pedagógico PS Progressão Simples RCNEI/Indígena Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas SEDUC Secretaria de Estado de Educação SIL Summer Institute of Linguistics SPI Serviço de Proteção ao Índio SPILTN Serviço de Proteção e localização de trabalhadores Nacionais SUDECO Superintendência de Desenvolvimento do Centro Oeste SUS Sistema Único de Saúde TI Terra Indígena RESUMO O povo Rikbaktsa teve seus primeiros contatos com os “kadire” (homem branco) a partir da década de 1940. A história da humanidade tem mostrado que, quando duas sociedades diferentes se encontram, muitas adversidades e grandes mudanças podem ocorrer. Em se tratando da etnia Rikbaktsa na relação com o não indígena, observa-se que não foi diferente: seu contexto histórico foi inicialmente marcado por muitos conflitos e violência de ambas as partes. Esses conflitos diminuíram após a intervenção de missionários católicos, mas o contato provocou uma mudança profunda em sua cultura. Atualmente, os Rikbaktsa vivem às margens do Rio Juruena (Mato Grosso), têm convívio com a comunidade não indígena do outro lado do rio, no distrito de Fontanillas, município de Juína (MT). Desta premissa parte a investigação da presente pesquisa: o convívio no contexto escolar como um espaço intercultural. Alguns pais Rikbaktsa confiam a educação dos filhos à Escola Rural Vinícius de Morais, no distrito de Fontanillas, sendo que os estudantes atravessam um rio consideravelmente perigoso para ir à escola, mesmo que exista uma escola dentro da aldeia. Este fator intrigante serviu como subsídio para refletir sobre esta realidade que ocorre no processo de ensino de alunos indígenas da etnia Rikbaktsa em uma escola não indígena e os motivos que os levam a buscar essa escola. Para a presente investigação foram utilizados os seguintes recursos metodológicos: entrevistas, observação de campo, análise documental. Buscando compreender os motivos da preferência da escola e qual é a visão dos pais sobre a escola, foram entrevistados seis pais de estudantes Rikbaktsa, e para compreender os processos de ensino dos estudantes indígenas na escola não indígena, utilizamos a observação participante em duas salas por um período de 36 horas e análise documental dos históricos escolares e do Projeto Político Pedagógico da escola. Os dados foram organizados utilizando a análise de conteúdo proposta por Bardin. Os resultados demonstram que alguns pais dos alunos Rikbaktsa compreendem que a escola não indígena ajuda o jovem Rikbaktsa a entender a sociedade não indígena e os prepara para uma profissão, bem como alegam que na aldeia os professores faltam muito. Constata-se que na escola pesquisada o convívio intercultural ocorre com respeito e interação, os professores dialogam contextualizando muitos conhecimentos de origem indígena, permitindo uma troca de saberes em que os alunos compartilham seus conhecimentos com os docentes, e estes compartilham saberes com os alunos. Esta pesquisa mostra como as relações entre indígenas e não indígenas não se constituem apenas por perdas, mas por trocas que permitem que todos tenham benefícios: pais Rikbaktsa, estudantes (indígenas e não indígenas), professores, escola; enfim, na conquista de compreender o “outro”, sobretudo nos aspectos que concernem à educação e ao ensino. Palavras-chave: Educação Escolar; Interculturalidade; Rikbaktsa; ABSTRACT The Rikbaktsa people had their first contacts with the "kadire" (white man) from 1940 onwards. The history of mankind has shown that when two different societies meet, many adversities and major changes can occur. In the case of the Rikbaktsa ethnicity in relation to the non-indigenous, it is observed that it was no different: its historical context was initially marked by many conflicts and violence on both sides. These conflicts ceased after the intervention of Catholic missionaries, but the contact brought about a deep change in their culture. Nowadays, the Rikbaktsa live on one side of the Juruena River (Mato Grosso). They are living with the non- indigenous community on the other side of the river, in the district of Fontanillas, municipality of Juína (MT). From this premise, the investigation of the present research starts: the conviviality in the school context as an intercultural space. Rikbaktsa parents entrust their children's education to the Vinícius de Morais Rural School in the Fontanillas district, and students cross a considerably dangerous river to go to school, even if there is a school within the village. This intriguing factor served as an aid to reflect on this reality that occurs in the teaching

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