N. 03 Nov / 2016

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REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO n. 03 nov / 2016 1 EXPEDIENTE SESC - SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DeparTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES TÉCNICO-SOCIAL Joel Naimayer Padula COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini ADMINIstRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANejameNTO Sérgio José Battistelli GERENTES CENTRO DE PESQUIsa E FORMAÇÃO Andréa de Araujo Nogueira AdjUNTO Mauricio Trindade da Silva ARTES GRÁFICas Hélcio Magalhães AdjUNta Karina Musumeci CENTRO DE PESQUisa E FormaçÃO COORDENADORA DE PROGRAMAÇÃO Rosana Elisa Catelli COORDENADORA DE CENTRAL DE ATENDIMENTO Carla Ferreira COORDENADOR ADMINISTRATIVO Renato Costa COORDENADOR DE COMUNICAÇÃO Rafael Peixoto PESQUISADORES ORGANIZADORAS Dulcilei da Conceição Lima e Flavia Prando EDITOR RESPONSÁVEL Marcos Toyansk PROJETO GRÁFICO E DIagRAMAÇÃO Denis Tchepelentyky ILUstRAÇÃO DE CAPA Veridiana Scarpelli ILUstRAÇÃO DE FICÇÃO Juliana Brecht sescsp.org.br/revistacpf 2 SUMÁRIO DossiÊ: ENTRE LETras, IMAGENS E SONS: as MULHERES E A PRODUÇÃO da CULTURA 7 Carla Cristina Garcia 10 As mãos de minha avó: Conhecimento tradicional e arte na obra de escritoras latino-americanas Carla Cristina Garcia 22 Itinerário de uma viajante brasileira na Europa: Nísia Floresta (1810-1885) Ligia Fonseca Ferreira 45 Apontamentos sobre campos de guerra Norma Telles 57 Mulheres compositoras no Brasil dos séculos XIX e XX Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel 73 Arte e água na obra de Sandra Cinto Miguel Chaia 83 A dissonante representação pictórica de escritoras negras no Brasil: o caso de Maria Firmina dos Reis (1825-1917) Rafael Balseiro Zin 102 A arte performática, corpos e feminismo Leonilia Magalhaes Priscilla Cruz Leal ARTIGos 116 Cor e Gênero no cinema comercial brasileiro: Uma análise dos filmes de maior bilheteria Marcia Rangel Candido Verônica Toste Daflon João Feres Júnior 136 Literatura para crianças e jovens: viagem e desafio Susana Ventura GESTÃO CULTURAL 147 Teatro no SESC: pensamentos e aproximações: do amador ao internacional Sérgio Luís Venitt de Oliveira 169 Breve análise das politicas públicas culturais para o Teatro em Portugal e no Brasil: uma visão da atuação nas cidades do Porto e São Paulo Carina Moutinho 186 Cultura e primeira infância: perspectivas para as crianças de pouca idade Lucelina Rosseti Rosa 207 Gestão cultural em música erudita no Sesc-SP Priscila Rahal Gutierrez 227 Com que roupa eu vou? Produção cultural independente e a busca por caminhos de autonomia Gustavo de Oliveira Costa 3 SUMÁRIO continuação RESENHA 241 Mulher, mãe, esposa, pianista e compositora: vida e obra de Clara Schumann Camila Fresca ENTREVISTA 252 Entrevista com Amy Allen FicçÃO 256 Estradeira Elizandra Souza 4 Aos Leitores Eu asseguro que alguém se lembrará de nós no futuro. Safo de Lesbos Por que não houve grandes mulheres artistas? Em 1971, a historiado- ra da arte Linda Nochlin publicou um artigo propondo algumas respostas para essa questão, que se coloca diante do fato de que são pouquíssimas as mulheres que passaram à posteridade reconhecidas por sua genialidade artística. Décadas antes, em 1929, Virginia Wolf havia publicado Um teto todo seu, onde buscou reconhecer seus pares na história, mulheres escri- toras perdidas nas brumas do tempo. Ambas escrevem a partir da inquietação quanto a aparente ausência (ou escassez) de mulheres que tenham se dedicado ao fazer artístico. Em- bora separadas por quatro décadas, as autoras partem de pressupostos comuns, de que existiram muito mais mulheres artistas do que se tem notícia e que condições econômicas, sociais e morais seriam os principais fatores responsáveis pela discrepância numérica entre artistas do sexo masculino e do sexo feminino. Linda Nochlin contesta o pressuposto de que maestria e grandiosida- de são produtos do talento, qualidade inata que agraciaria mais a homens do que a mulheres. A resposta estaria, portanto, nas condições socioe- conômicas, no lugar social destinado à mulher (o ambiente doméstico) e nas oportunidades de aprendizagem artística. Virginia Wolf, em 1929, já destacava a centralidade das condições materiais para o pleno desenvol- vimento do trabalho artístico ao propor, como requisitos básicos para a escrita, o acesso a uma renda e a um “teto todo seu”, condições que permi- tiriam às mulheres dedicação integral à arte. As profundas mudanças ocorridas ao longo do século XX oportuniza- ram um acesso inédito das mulheres ao fazer artístico em todas as lingua- gens. No entanto, a persistência da desigualdade de gênero segue sendo uma realidade também no campo da cultura. O coletivo de artistas Guer- rilla Girls, em atuação desde 1985, vem sistematicamente denunciando a discriminação de gênero no mundo da arte. Em posters e autocolantes, as artistas do coletivo provocam a partir de questões como “As mulheres pre- cisam estar nuas para entrar nos museus?”, em alusão à abundância de pinturas de nus femininos em contraponto ao pequeno número de traba- lhos de artistas mulheres nas coleções das instituições museais. Michelle Perrot, historiadora francesa, destaca a importância da escrita da his- tória das mulheres como forma de tirá-las do silêncio ao qual foram confinadas. Escrever uma nova história da arte a partir da proposição de Perrot, é fazer justiça a mulheres como Christine de Pizan, cronista da história da França, escritora e poe- tisa que viveu no século XII e que foi tão próspera em seu tempo que vivia de sua arte; Sofonisba Anguissola, artista renascentista que angariou a admiração de Mi- chelangelo e Van Dyck e influenciou gerações de mulheres artistas antes de cair em completo esquecimento; Camille Claudel, que passou à posteridade como amante de Rodin, enquanto seu trabalho escultórico permaneceu subestimado; Julieta de França, escultora brasileira, primeira mulher a vencer o mais importante prêmio da Escola Nacional de Belas Artes, praticamente desaparecida da história da arte bra- sileira; ou Tia Ciata, a quem nunca se fez justiça quanto a participação na composi- ção daquele que é considerado o primeiro samba gravado no Brasil, Pelo telefone. A edição de número 3 da Revista do Centro de Pesquisa e Formação – CPF traz, em seu dossiê, uma contribuição que vem se somar a outras ações do Sesc SP na busca pela valorização e ampliação de visibilidade do trabalho artístico de mulhe- res, como o projeto Damas da voz, do Sesc Campo Limpo; Mulheres em cartaz, do Sesc Belenzinho; Corpos insurgentes, do Sesc Vila Mariana; Empodera!, do Sesc Osasco; Degeneradas, do Sesc Santana; e os cursos, palestras e debates promovidos pelo próprio CPF. O dossiê Entre letras, imagens e sons: a produção cultural de mulheres, orga- nizado por Carla Cristina Garcia – que assina o texto de apresentação – é composto por sete artigos. O primeiro deles, As mãos de minha avó: conhecimento tradicional e arte na obra de escritoras latino-americanas, é da própria Carla Cristina Garcia. Os leitores encontrarão, na sequência, os textos Itinerário de uma viajante brasilei- ra na Europa: Nisia Floresta (1810-1885), de Ligia Fonseca Ferreira; Apontamentos sobre campos de guerra, de Norma Telles; Mulheres compositoras no Brasil dos séculos XIX e XX, de Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel; Arte e água na obra de Sandra Cinto, de Miguel Chaia; A dissonante representação pictórica de escri- toras negras no Brasil: o caso de Maria Firmina dos Reis (1825-1917), de Rafael Balseiro Zin; e A arte performática, corpos e feminismo, de Leonilia Magalhães e Priscila Cruz Leal. Na seção Gestão Cultural, ex-alunos do Curso Sesc de Gestão Cultural assinam cinco artigos frutos dos trabalhos de finalização do curso. Ao final da revista, os leitores encontrarão ainda a resenha de Camila Frésca so- bre o livro Clara Schumann: compositora x mulher de compositor (Ficções Editora, 2011), a entrevista com Amy Allen, professora de Filosofia da Universidade Penn State e, fechando esta edição, a poesia Estradeira, de Elizandra Souza. REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 3, novembro 2016 Entre letras, imagens e sons: as mulheres e a produção da cultura ENTRE Letras, IMAGENS E SONS: as MULHERES E A PRODUÇÃO da CULtura Carla Cristina Garcia Toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. Todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou ar- tística da sua autoria. Artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos Se examinarmos as listas de clássicos da literatura, das coleções de pinturas e escultura dos museus e das partituras que as grandes orques- tras interpretam, a escassez de obras de autoria feminina poderia nos levar a conclusão de que, com efeito, a cultura e a arte são feitas por ho- mens. Tal escassez tem múltiplas causas que poderiam ser resumidas ao fato de que, ao longo da história, as mulheres se depararam com diversos tipos de obstáculos para se tornaram artistas: para criarem, difundirem suas obras e para deixarem sua marca na história das artes. Como em outros âmbitos da vida social, a presença das mulheres no campo da pro- dução da cultura revela a mesma condição de invisibilidade que em outros campos da vida pública. Essa situação apresenta consequências específicas que merecem um exame adequado. Começando pelos números. Ainda hoje, apesar dos avan- ços obtidos com a crítica feminista e das várias manifestações

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