Paulo Afonso: Um Muro, Duas Cidades∗

Paulo Afonso: Um Muro, Duas Cidades∗

Paulo Afonso: Um Muro, Duas Cidades∗ André Luis Oliveira Pereira de Souza Universidade Federal de Sergipe – Brasil Índice Francisco – CHESF, que foi o que impul- sionou o surgimento do município. Desse 1 Resumo 1 modo o vídeo e o texto, percorrem os ca- 2 Introdução 2 minhos históricos da região, identificando os 3 Objetivos 2 cenários, personagens e acontecimentos que 4 Desenvolvimento 2 juntos contribuíram para a construção desta 4.1 A Região ............. 2 trama, apresentando os fatos e preparando o 4.2 A Cidade ............ 4 espectador, antes da chegada do tema cen- 4.3 O Acampamento CHESF e a tral. Apesar de não aprofundar as relações Vila Poty ............. 6 entre o urbanismo e a formação da identi- 5 Memorial Descritivo 10 dade cultural da cidade, este estudo lança 6 Metodologia 10 algumas linhas de interpretação a respeito 7 Conclusão 18 do tema, e o vídeo funciona como um su- 8 Referências Bibliográficas 19 porte para a pesquisa etnográfica, já que 8.1 Bibliografia Consultada ..... 19 as relações comunicativas nos dias de hoje 9 Anexos 20 passam pelo visual, a imagem vinculada à 9.1 Textos Off ............ 21 pesquisa etnográfica ganha um valor sim- bólico, fazendo surgir novos modelos tex- tuais de representação. O vídeo intitulado 1 Resumo Paulo Afonso: Um muro, duas cidades, uti- liza as características do filme documentário O tema central deste projeto é a história da analisadas por Manuela Penafria, do Biodo- formação da cidade de Paulo Afonso – BA, cumentário uma das categorias do cinema e a existência de um muro que a dividiu em direto analisado por Canevacci e do Vídeo dois bairros por mais de trinta anos. O traba- experimental analisado por Patrícia Silveiri- lho se apresenta em antes e depois da ins- nha, estes elementos são o ponto de partida talação da Companhia Hidrelétrica do São do vídeo em questão. ∗Projeto Experimental realizado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Co- municação Social habilitação em Radialismo e Tele- visão, sob a orientação da professora Lílian Cristina Monteiro França. 2 André Luis Oliveira Pereira de Souza 2 Introdução cidade de Paulo Afonso – BA. A escolha do tema surgiu espontaneamente Objetivos Específicos no decorrer da passagem do aluno pela Uni- Realizar um levantamento acerca da histó- versidade, o ingresso no curso de Ciências ria de Paulo Afonso – BA; Sociais e a inclinação para a pesquisa etno- Identificar moradores que possam, através gráfica, se cruzaram coincidentemente, no da história oral, servir como fontes para con- curso de Radialismo, com a disciplina Te- tar essa história; oria da Comunicação III (Antropologia da Comunicação) onde além das questões liga- Analisar a influência do muro que divi- das às relações entre comunicação e cultura, diu a cidade em suas origens, e suas con- aprofundou-se também a linguagem do filme seqüências na formação de uma identidade documentário, como uma possibilidade de para seus habitantes; trazer para o âmbito da pesquisa etnográ- Contar a história de Paulo Afonso – BA, fica, uma proposta de trabalho prático, am- através da produção de um vídeo documen- pliando as potencialidades de representação tário que tem como mote a presença de um visual do objeto estudado. muro divisor entre a área destinada à mora- A cidade de Paulo Afonso foi escolhida, dia dos trabalhadores da CHESF e dos de- pelo fato de representar um sentimento nor- mais habitantes. destino, em seu estágio maior, pois nela a soma de características culturais de vários estados da região, além de promover a for- 4 Desenvolvimento mação de um caráter único, serviu para o for- 4.1 A Região talecimento do homem que vive no eterno combate pela sobrevivência numa das re- A cachoeira! Paulo Afonso! O abismo! giões mais secas do país. A briga colossal dos elementos! Este trabalho justifica-se pela importância Castro Alves da cidade para o nordeste, sua função estra- tégica no processo de aceleração industrial A luta entre o homem e a natureza sempre desta região, como projeto nacional de re- foi uma constante na região, a força dos ele- versão das diferenças econômicas e sociais mentos da natureza sempre exigiu de quem entre o norte e o sul do país, a pouca infor- nela habitasse um certo esforço. Pelo que se mação sobre o tema, e principalmente, o des- sabe, os primeiros habitantes da região foram caso em relação à preservação da memória povos ameríndios, muitos vieram do litoral na cidade, motivaram a realização deste pro- fugindo dos portugueses, que “descobriram” jeto. o Rio São Francisco no dia 04 de outubro de 1501, para os índios o grande fio d’água 3 Objetivos era o “Opará”, que significa rio-mar, os colo- nizadores o batizaram com o nome de “São Objetivo Geral Francisco”, por ter sido descoberto no dia do Produzir um vídeo documentário sobre a santo católico. Hoje, entretanto, são poucas www.bocc.ubi.pt Paulo Afonso: Um Muro, Duas Cidades 3 as reservas indígenas, em Paulo Afonso atu- brasileiro, e fica no chamado “polígono da almente na reserva ecológica Raso da Cata- seca” do alto sertão nordestino. rina vivem os índios da tribo Pankararé. O maior fascínio dos viajantes pela região Alguns registros afirmam que em 3 de ou- sempre esteve ligado aos acidentes geográfi- tubro de 1725 o sertanista Paulo de Vivei- cos, como os cânions e a Cachoeira de Paulo ros Afonso teria recebido uma sesmaria nas Afonso, o poeta Castro Alves, que não che- terras da província de Pernambuco, cujos li- gou a conhecê-la, dedicou-lhe um poema, mites chegavam as Quedas D’água conhe- “Cachoeira de Paulo Afonso” que intitulou cidas como “Cachoeira Grande”, “Forqui- um de seus livros, no dia 20 de Outubro de lha” (pelo seu formato) ou “Sumidouro”, an- 1859 o então imperador D. Pedro II e sua co- tes desta data não existe nenhum registro no mitiva, também conheciam a tão falada Ca- Brasil ou Portugal que cite a cachoeira sob choeira. o nome de Paulo Afonso. O sesmeiro te- Como fazia parte da trilha do Cangaço, a ria fundado no lado baiano das terras uma área da Cachoeira também serviu de escon- pequena tapera conhecida como “Tapera de derijo para Lampião, as cavernas do Cânion Paulo Afonso”, onde hoje fica o bairro Cen- conhecidas como, as “Furnas do Morcego”, tenário, que seria o primeiro núcleo habitaci- abrigou o cangaceiro e seu bando, fato que onal da cidade. segundo o historiador Antônio Galdino ainda é questionado. A região sempre serviu de rota para vi- Mas foi no Raso da Catarina onde Lam- ajantes, a travessia do rio era feita na ci- pião viveu por muito tempo. Foi lá tam- dade de Santo Antônio das Glórias, atual- bém onde Lampião conheceu e casou-se com mente “Nova Glória”, da qual Paulo Afonso Maria Bonita, que nasceu num povoado cha- fazia parte (e que só viria a se emancipar em mado Malhada da caiçara no Riacho (Paulo 1958), por ali passou a “rota dos bois” no pe- Afonso), porta de entrada da reserva ecoló- ríodo de colonização, “Curral dos bois” foi o gica Raso da Catarina. nome dado à região e “rio dos currais” era O jornalista Luiz Maciel Filho em uma como chamavam o São Francisco neste pe- matéria para a revista “Os Caminhos da ríodo, que servia de pouso de boiadas nas Terra”, assim o descreveu, “o Raso da Cata- longas viagens, os viajantes e seu gado ma- rina é seco e esquecido como um deserto..., tavam a sede e o cansaço nas margens do rio, não tem cidades, nem estradas. É uma man- era caminho dos colonizadores que povoa- cha branca no mapa da Bahia” (Galdino – ram e cultivaram as terras dos sertões. Mascarenhas, 1995:112), um vazio entre o Nesta região, onde geograficamente se en- rio Vaza Barris e o São Francisco, habitado contram os estados da Bahia, Pernambuco, pelos índios da tribo Pankararé e menos de Alagoas e Sergipe (além de estar muito pró- uma dezena de homens, foi no Raso que ximo de outros estados nordestinos como Lampião reinou durante anos sem ser pego. Ceara e Paraíba), o São Francisco assume A abertura da reportagem “Raso da Cata- uma importância estratégica, pois ajuda a di- rina – O sertão do sertão” escrita por Cláudio minuir os agravantes índices desta que é uma Bajunga para a revista Good Year “traz uma das áreas mais secas e pobres do território opinião contundente: ‘Deus estava zangado www.bocc.ubi.pt 4 André Luis Oliveira Pereira de Souza quando criou a caatinga mais braba da terra, o primeiro presidente da empresa, o enge- marcada por três guerras de fim de mundo – nheiro Antônio José Alves de Souza, que ti- Canudos, a Coluna Prestes e o Cangaço – e nha como objetivo imediato a construção da onde a vida, a morte, as lendas se entrelaçam primeira usina do complexo, a usina “Paulo num deserto sem serventia” (Galdino – Mas- Afonso I”, aprovada a linha de crédito para carenhas, 1995:112). instalação e construção, as obras iniciam um Em toda a história da região, nenhuma ano depois em 1949. das figuras foi mais importante que Delmiro O cenário desértico da caatinga passa a re- Golveia, pois ele enxergou no rio a possi- ceber diariamente toneladas de material im- bilidade de exploração do potencial energé- portado que descarregava no porto de Glória tico da Cachoeira, aliado a um programa de a caminho da área onde começavam as obras desenvolvimento da região, com a constru- de Paulo Afonso, no lugar só existiam alguns ção da Usina Angiquinho em 1913, de onde poucos moradores com suas casas “vernácu- saiam 1.500 HP de energia que alimentavam las”1 de sopapo ou taipa, como eram chama- a Companhia Agro-Fabril Mercantil e a vila das as primeiras habitações.

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