CORRESPONDÊNCIA COMPLETA DE CASIMIRO DE ABREU Academia Brasileira De Letras

CORRESPONDÊNCIA COMPLETA DE CASIMIRO DE ABREU Academia Brasileira De Letras

Coleção Afrânio Peixoto Academia Brasileira de Letras CORRESPONDÊNCIA COMPLETA DE CASIMIRO DE ABREU Academia Brasileira de Letras Casimiro de Abreu Coleção Afrânio Peixoto Correspondência Completa de Casimiro de Abreu Reunida, organizada e comentada por Mário Alves de Oliveira Rio de Janeiro 2007 COLEÇÃO AFRÂNIO PEIXOTO Antonio Carlos Secchin (Diretor) José Murilo de Carvalho ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Diretoria de 2007 Presidente: Marcos Vinicios Vilaça Secretário-Geral: Cícero Sandroni Primeira-Secretária: Ana Maria Machado Segundo-Secretário: Domício Proença Filho Diretor Tesoureiro: Evanildo Cavalcante Bechara PUBLICAÇÕES DA ABL Produção editorial Monique Mendes Revisão Mário Alves de Oliveira Projeto gráfico Victor Burton Editoração eletrônica Estúdio Castellani Catalogação na fonte: Biblioteca da Academia Brasileira de Letras 869.6B Abreu, Casimiro de, 1839-1860 A148c Correspondência completa / de Casimiro de Abreu ; reunida, organizada e comentada por Mário Alves de Oliveira. Rio de Janeiro : Academia Brasileira de Letras, 2007. XX, 271 p., [16] f. de lâms. : il., fac-síms., retrs. ; 21 cm. – (Coleção Afrânio Peixoto, 77) ISBN 978-85-7440-113-3 1. Abreu, Casimiro de, 1839-1860. 2. Correspondência. I. Oliveira, Mário Alves de. II. Título. III. Série. Dedicado à Ilma. Sra. D.a Maria José de Abreu Sampaio de Lima Carneiro Pacheco de Andrade, da cidade do Porto, prima em quarto grau de Casimiro, gentilíssima e nobre representante dos mais altos valores espirituais do bravo povo português. Casimiro de Abreu em foto de Joaquim José “Insley” Pacheco. (Col. Dr. Waldyr da Fontoura Cordovil Pires) Viveu, cantou, morreu. Clímaco Ananias Barbosa de Oliveira A Casimiro de Abreu Viveu como uma flor tão curta vida, Ou foi uma esperança falecida, Ou sonho que acabou; Sem gozar dos festins que o mundo afaga, Como um batel que a tempestade traga, Os dias seus passou. Cantou suas passadas primaveras, Tendo saudades dessas lindas eras Em que tudo é sonhar; Seus pesares gemeu e suas dores, Esperanças cantou o seu penar. Morreu inda na flor da mocidade Entoando uma nênia de saudade Por sobre os sonhos seus! Foi saudar nova vida, novo sol; Subiu ainda da vida no arrebol, Alegre aos pés de Deus. (em “Tristes e Íntimas”, F. Waldemar Livreiro-Editor, Rio de Janeiro, 1863) Paisagens infantis de Casimiro á muitas controvérsias envolvendo a vida de Casimiro de HAbreu. Uma das mais persistentes, das que mais têm desperta- do a curiosidade dos que se interessam pela sua história, é a que se re- fere ao local do seu nascimento, que ele próprio, sutilmente, fez ques- tão de camuflar. Já houve quem o desse como nascido em cinco ou seis diferentes pontos do território fluminense. E como seria motivo de orgulho para qualquer município saber-se berço natal do autor de Pri- maveras, é compreensível que a velha questão siga rendendo seus frutos. Depois de quinze anos de obstinadas pesquisas, depois de ler quase tudo que se escreveu a respeito, devo dizer que, hoje, se me perguntarem: “Afinal de contas, onde nasceu Casimiro?”, responde- rei sem pestanejar que foi em Rio das Ostras. Mas se me pedirem a resposta por escrito e com a firma reconhecida em cartório, me nega- rei a dá-la, por não dispor de um documento que a comprove expres- samente. Nisso, contudo, não me diferencio em nada dos demais biógrafos do poeta, uma vez que, pelo existe de provas documentais, ninguém pode, de modo honesto e seguro, reconhecer a firma em cartório. Nisso estamos quites. XII Casimiro de Abreu Sabe-se que Casimiro nasceu em 1839 no primitivo e jovem município de Macaé, que fora criado 26 anos antes, em 1813. Di- vidido em quatro imensas Freguesias (São João Batista, Nossa Se- nhora das Neves, Nossa Senhora do Desterro de Quissamã e Sacra Família do Rio São João), o citado município era maior do que muitos dos países que têm assento na ONU. Sua superfície abarca- va os territórios de seis grandes municípios fluminenses atuais, a saber, Macaé, Carapebus, Quissamã, Conceição de Macabu, Casi- miro de Abreu e Rio das Ostras. Sabe-se mais, que Casimiro nasceu na quarta das freguesias acima, a da Sacra Família, cuja área correspondia à soma dos atuais municípios de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras. Quanto a isso, não há dúvida; o seu termo de batismo é uma prova inconteste. Aliás, o próprio poeta o disse claramente ao ditar o testamento a Bernardino José Fernandes dos Reis: “Sou filho de José Joaquim Marques de Abreu já falecido, e de D. Luísa Joaquina das Neves; nascido e batizado nesta Freguesia da Sacra Família, da Vila da Barra de São João.” A sede da citada freguesia era o Arraial (depois Vila e depois Cida- de) de Barra de São João. Além do arraial sede, a freguesia contava com uma enorme quantidade de lugares espalhados por seu vasto terri- tório. Dou apenas vinte exemplos: Águas Livres, Ipuca, Lontra, Três Morros, Iriri, Quarenta, Indaiaçu, Rio Dourado, Vila Verde, Lumiar, Palmital, Rio das Ostras (ou Rio d’Ostras, como diziam os portugue- ses), Cantagalo, Purgatório, Samambaia, Serra Seca, Corujas, Itape- bussus, Descoberto e Jundiá. Ora, no dia 15 de setembro de 1859 (uma semana após Casimiro haver publicado no Rio de Janeiro o livro Primaveras), a Freguesia da Sacra Família passou à condição de Vila, desligando-se do município de Macaé e se tornando ela própria município; o município de Barra de São João. Com isso, de cidadão macaense, Casimiro passou a cida- dão sanjoanense. Tinha apenas vinte anos e alguns meses de idade e Correspondência Completa de Casimiro de Abreu XIII morreria um ano e pouco depois. Dele, portanto, se pode dizer que nasceu macaense e morreu sanjoanense. Pois bem. Com o surgimento do novo município, passou-se a se tomar o todo pela parte. Passou-se a se dizer que Casimiro nascera em Barra de São João, pura e simplesmente, dando margens a se pensar que ele nascera dentro do antigo arraial sede, quando o mais adequado seria dizer que ele nascera em algum dos muitos “lugares” da antiga freguesia. Trata-se de uma distorção perfeitamente aceitável, pois sempre se apela para o nome de maior destaque quando se quer dar alguma referência geográfica. Casimiro nasceu sim na Sacra Família. Mas não na sua sede, o ar- raial. Disso estou convencido, como convencido estou também de que não nasceu no Indaiaçu, embrião da atual cidade de Casimiro de Abreu. Em sua famosa página em prosa “A virgem loura”, ele diz de modo qua- se afirmativo que nasceu à beira mar, o que afasta a hipótese de que te- nha sido no Indaiaçu, quase 30 km distante do litoral. Sei que poderão me lembrar que Barra de São João (refiro-me ao antigo arraial) estava (está) plantada à beira-mar. E é verdade. Mas leiam atentamente “A vir- gem loura”. Procurem ali pelo Rio São João e pelo Morro de São João, duas das mais belas e famosas referências visuais daquela localidade. Não acharão. É como se alguém falasse de Paris e não lembrasse o Rio Sena, falasse do Rio de Janeiro e não citasse o Corcovado ou não notas- se o Pão de Açúcar. Em contrapartida, o poeta se refere a campos, a pra- doseaumriacho que não existiam (e não existem) na estreita faixa de terra em que Barra de São João se encontra assentada, mas que passam a existir quando se avança uns dois ou três quilômetros para o norte e se entra em terras do atual município de Rio das Ostras. Aí, sim; há de tudo isso. Ou pelo menos havia, quando o local não passava de uma modesta povoação à beira mar, ladeada de planícies e prados que rece- biam “de longe”, “da montanha”, “o perfume das florestas”. Há cartas e documentos datados de 1840, 1845, 1847e 1849, que dão seu pai, José Joaquim Marques de Abreu, como residente em Rio XIV Casimiro de Abreu das Ostras. Era ali que ele tinha a sua casa de comércio e fazia parte de um esquema de tráfico de escravos, desembarcados por ele ao pé do Morro do Limão, morro esse que, não por acaso, era propriedade sua. E mais. Todo o arco de praia que vai do pé desse morro até 37passos além da Rua Maria Letícia era testada de um gigantesco lote que tam- bém lhe pertencia. Eram 440 metros de frente para o mar, por quase um quilômetro de fundos, área superior a 40 campos de futebol. Co- incidentemente, nesse arco de praia é que se encontra a figueira cente- nária, atração turística de Rio das Ostras, provavelmente a mesma “fi- gueira velha que me viu nascer” a que Casimiro se refere em “A virgem loura”, onde aliás, habilidosamente, quis apagar as pegadas do pai, ne- gando-se a identificar o local que amava mas lhe trazia vergonha: “Nasci em ... não, não digo o nome do lugar onde eu nasci.” Desastradamente, ignorando que por 15 anos, de 1835 a 1849, os pais de Casimiro haviam vivido na Freguesia da Sacra Família do Rio São João, Nilo Bruzzi, o mais polêmico de seus biógrafos, o deu como nascido no município de Capivari, hoje Silva Jardim (RJ), onde a mãe do poeta era dona da Fazenda da Prata, que herdara do marido, Ma- noel da Silva Teixeira Travanca, falecido em 1.o de janeiro de 1835. Nos capítulos 2a5deCasimiro de Abreu e seu pai: uma tragédia luso-afro- brasileira, o principal dos seis livros que estou preparando e que forma- rão o conjunto “Em torno a Casimiro de Abreu”, publico e analiso documentos que desfazem essa tese, desfazendo também uma outra; a de que o poeta tenha nascido no trapiche de Barra de São João, a atual “Casa de Casimiro de Abreu”.

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