UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO JOSIANE BROLO ROHDEN MEMÓRIAS CRIANCEIRAS E SEUS DESPROPÓSITOS: UMA INVESTIGAÇÃO HISTÓRICO-POÉTICA DO BRINCAR – BRICOLEUR DE MENINOS E MENINAS DO/NO m/MATO CUIABÁ – MT 2019 Foto: Valmir Cordasso, 2015. JOSIANE BROLO ROHDEN MEMÓRIAS CRIANCEIRAS E SEUS DESPROPÓSITOS: UMA INVESTIGAÇÃO HISTÓRICO-POÉTICA DO BRINCAR –BRICOLEUR DE MENINOS E MENINAS DO/NO m/MATO Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação no Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para obtenção do título de Doutora em Educação na área de Concentração Movimentos Sociais e Educação, Linha de Pesquisa Movimentos Sociais, Política e Educação Popular. Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Passos Coorientador: Prof. Dr. Josivaldo Constantino dos Santos Orientador do Doutorado Sanduíche: Prof. Dr. Noah W. Sobe CUIABÁ - MT 2019 Foto: Valmir Cordasso, 2013. Casa de madeira, sem tintura. As velas e o lampião Iluminavam a casa escura. [...] Frestas que se via tudo do lado de dentro e de fora. Eu gostava de espiar, Haviam mistérios por entre as frestas. [...] A casa era sem o teto, Apenas umas míseras telhas. A noite se enxergava as estrelas por entre o pouco coberto. Eu as contava. Tinha uma em especial, Era a do meu mano que tinha ido morar com Deus. Conversávamos todas as noites. Ele me respondia: Piscava uma vez: respondia sim, Duas era pra dizer não. O pai quis vir para o Mato Grosso Para esquecer do acontecido: Para não sofrer a morte do mano. De nada adiantou. A estrela estava lá, todas as noites. Eu e minha estrela conversávamos pelo olhar, Ela não descuidava de mim. Estava tão perto, Que eu sentia até seus suspiros, quais se confundiam com os meus. E quando caía no sono, brincávamos: De polícia e ladrão. Ele, a estrela, sempre era a polícia. E eu era quem roubava. Era um sono de corre-corre, Polícia e ladrão. Acordava até cansada. Só queria roubar Dedico ao meu irmão Ricardo Antônio Aquela estrela Brolo (in memoriam). Sua breve Seria minha, existência me fez aprender a poetizar a Pra sempre! vida e a fazer dela um pleno estado de (JOSI ROHDEN, 2013) infância. Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto. Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era Homenageio os migrantes desta pesquisa: o menino e as árvores. meninos e meninas do/no M/mato. Manoel de Barros A andorinha. Site PNGTREE. Deixei uma ave me amanhecer. Manoel de Barros Sopros de Gratidão Pássaros da Amazônia anunciam a manhã que se achega, o dia que se vai embora. pássaros da Amazônia, são poeminhas de asas, são sons aveludados ao entardecer. pássaros da Amazônia são manhãs ensolaradas, são pousos rasantes nos riachos da mata. pássaros da Amazônia cantam para agradecer. A gratidão é um dom de aves. (Josi Rohden, 2019) E assim, o ... Sete-cores-da-Amazônia canta... Ao querido orientador e “pai” Prof. Dr. Luiz Augusto Passos pela sapiência, generosidade e amorosidade ao comungar de forma tão bela seus saberes comigo e com todos. Uirapuru-estrela canta... Ao meu coorientador e amigo Prof. Dr. Josivaldo Constantino dos Santos pela cumplicidade, pelo cuidado, pela poesia da partilha das angústias e das alegrias na construção desse trabalho. Anambé-de-peito-roxo canta... Ao orientador do Doutorado Sanduíche Prof. Dr. Noah W. Sobe por sua dedicação e zelo para com minha pesquisa e pelo acolhimento fraterno na Loyola University em Chicago, USA. Udu-de-coroa-azul canta... Aos membros da banca de qualificação e defesa: Professores e Professoras: Dra. Solange Terezinha de Lima Guimarães, Dr. Danilo Romeu Streck, Dra. Michèle Tomoko Sato, Dra. Márcia dos Santos Ferreira, Dr. Carlos Edinei de Oliveira, Dra. Ozerina Victor de Oliveira, pelas riqueza das contribuições, pelo trato com esse trabalho, pela disposição da leitura atenta, pelos diferentes olhares que se fizeram presentes nessa travessia. Sabiá-barranco canta... Aos professores do Doutorado Profa. Dra. Ozerina Victor de Oliveira, Profa. Dra. Filomena Monteiro, Prof. Dr. Luiz Augusto Passos, Profa. Dra. Michèle Tomoko Sato, pelos ensinamentos para a liberdade do voo. Assobiador-do-castanhal canta... À coordenadora do PPGE/UFMT, Profa. Dra. Rute Cristina Domingos da Palma, por todo auxílio, toda disponibilidade em todos os momentos que necessitei, especialmente no período em que estive em intercâmbio de estudos nos Estados Unidos. Bentivizinho-do-brejo canta... Aos queridos e queridas que movimentam os trabalhos do PPGE, à Marisa C. Voltarelli, Luiza M. Teixeira S. Santos, Marcos London, Nilson B. Duarte Junior, pela atenção, pelo cuidado, pelo atendimento humano e amoroso que recebi em todas as ocasiões solicitadas. Guarda-Várzea canta... À CAPES, pela oportunidade de estudos na Loyola University, por todo suporte de garantia de estudos e pesquisa fora do país. Saíra-do-bando canta... Ao Grupo de Pesquisa GPMSE, pelos saberes compartilhados, pela acolhida no ninho no meio da travessia. Rendadinho canta... À Reitoria e Pró-Reitoria de Pesquisa da UNIR, à Direção do Campus de Vilhena e aos colegas do DACIE por todos os esforços para a minha liberação para a qualificação, pelo companheirismo e compromisso para com minha formação docente. No chão da água luava um pássaro por sobre espumas de haver estrelas A água escorria por entre as pedras um chão sabendo a aroma de ninhos. Manoel de Barros, 2010. Fotos: Valmir Cordasso, 2013. Há muitos ainda para agradecer que voaram junto, que compartilharam do sonho, que vivenciaram dos risos e das lágrimas, das alegrias e das dores dessa travessia. Para eles também, todo canto em formato de amor, em sopros de gratidão... “Dentro da mata no entardecer o canto dos pássaros é sinfônico” Manoel de Barros, 2010 Assim, que toda a sinfonia da mata, se faça cantos... Ao Matheus, meu filho, canto do sentido da vida e do mais puro amor; À minha irmã Franciane Brolo, meu cunhado Fernando Zamignan, minha prima Francieli Formigoni, canto de apoio e acolhimento familiar; Aos meus sobrinhos Otávio, Leonardo, Helena e Alice, canto de alegria que enche a casa; À Alessandra Abdala, Catiane Peron e Helen Arantes, canto do amor da irmandade e da mais pura cumplicidade. Canto do colo, do ninho, da extensão do meu lar; Ao Valmir Cordasso, canto do olhar-passarinho pela sensibilidade de suas lentes fotográficas que embelezam toda essa escritura; Aos colegas da Turma do Doutorado 2015/2019, canto de partilha e de admiração construída; Às professoras Elizabeth Madureira Siqueira, Marlene Gonçalves, Nilse Vieira. C. Ferreira, cantos do ensinar e aprender amar a história; Ao professor Silas Borges Monteiro, cantos de devir-criação pelo primeiro “sim” no que viria a tornar-se a minha constituição acadêmica; Aos migrantes, sujeitos dessa pesquisa, canto das mais belas memórias crianceiras; À Mel, cantos de doçura e lealdade; Ao meu pai Nelsi Brolo, in memoriam, canto do colo além-vida, canto de amor e saudades; Ao Deus que em mim habita, canto de toda inspiração de vida nessa composição. Que os sabiás da manhã, Que têm brilho na voz. Recitem meu agradecer... PARTITURA (SUMÁRIO) ASSOBIO/RESUMO/14 AFINAÇÃO/16 CANTO 1 – DO UIRAPURU: ENTRE CACOS DE MEMÓRIAS/37 1.1. ENTRELACE DE MEMÓRIAS: EU-O OUTRO-O MUNDO) /38 1.2. EXPERIENCIAMENTO DE PRESENÇAS “NOSSA! QUANTAS MEMÓRIAS ME VEIO!!” /50 1.3. MEMÓRIAS EM ESTÁGIO DE ÁRVORES: “CADA UM TINHA UMA ÁRVORE PRÓPRIA/70 CANTO 2– DO BEIJA-FLOR: POR UM TRATADO DE PÁSSARO/111 2.1. ENTRE CANTOS E GRITOS DA TERRA/112 2.2 AMAZÔNIA: ENTRE ÁGUAS E SANGUE/121 2.3. NA FRONTEIRA AMAZÔNICA: ENTRE O SONHO, A ESPERANÇA E A AMBIÇÃO/136 2.4. SINOP-MT: “UM PASSO DE CONQUISTA NA AMAZÔNIA” /152 CANTO 3 – DO BEM-TE-VI: DAS GRANDEZAS DO BRINCAR DE MENINOS E MENINAS NO/DO m/MATO /183 3.1. BRINCAR DE FAZER COMUNHÃO COM AS COISAS: “TUDO ERA TRANSFORMADO EM ALGUMA COISA DE FAZ-DE-CONTA” /184 3.2. BRINCADEIRAS DE INVENCIONÁTICA: DE CRIANÇAS- NATUREZA E DE RESTOS/202 3.3 BRINCAR SOB O ‘TIC-TAC’ DA ESCOLA: “TOCAVA O SINO ERA UMA DEBANDADA PORTA AFORA” /225 ECOS: MEMÓRIAS DO CARACOL/258 RESTOS NUMA TESE-NINHO: CANTOS DO AMANHECER/272 ELENCO DE FIGURAS/290 NOTAS DE SIGLAS/292 VOOS COM/293 HÁ- NEXOS/308 14 ASSOBIO (RESUMO) Esta é uma composição de cantos de memórias, uma escritura de percepções singulares, uma junção de muitas travessias, um ensaio de experimentações que anseia uma Tese, qual se apresenta como possibilidade de sentir-pensar os fragmentos nas narrativas de memórias crianceiras de adultos que viveram a infância, deslocando nosso olhar para as lembranças do brincar bricoleur em meio à Floresta Amazônica no processo de colonização da cidade de Sinop- MT, historicamente entre os anos de 1973 a 1983.
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