08-03-2017 r- DN+ E ter C ,) c T iú P.) Igualdade de género. Em dezembro de 1977, as Nações Unidas decretaram o Dia Internacional da Mulher. Em 1976, a Constituição Portuguesa consignou a igualdade na lei. Em 2017, 11 anos depois das quotas na política, o governo fez avançar as quotas nas administrações das empresas. Há quem ache que isso diminui as mulheres e quem lembre que ao ritmo atual levará quase dois séculos para que se chegue à igualdade no mercado de trabalho. `As quotas são o preço que pagamos para que as nossas filhas não tenham de o pagar" administradora do Facebook, Sheryl primeira presidente. Teria sucedido sem não, responderam, estavam ali há anos. FERNANDA CANCIO As Sandberg, conta como ao receber a de- a lei? "Muito provavelmente o facto de "Será possível que eu fosse a primeira legação de uma empresa, composta por mulheres Paulo Portas ter reparado em mim, de mulher a ser recebida naquela empre- As mulheres merecem ganhar pior por- homens e mulheres, eles se sentaram na estão em ter entrado no CDS e chegado à lideran- sa?", questiona Sandberg. "Ou nenhuma que são mais pequenas, mais fracas e mesa principal e elas escolheram cadei- ça faz parte dos resultados da lei de 2006. tinha tido de fazer chichi?" menos inteligentes. A frase, de um eu - ras na retaguarda "Temos de nos sentar maioria Havia poucas mulheres no CDS; repa- Virgínia Ferreira sorri. "Porque é que rodeputado polaco, foi repetida em à mesa", concluiu Sandberg, que tem 47 nas rou em mim por ser mulher. Aliás houve as miúdas começam os estudos de En- tom de escândalo pelo mundo fora. anos e foi eleita para o conselho de ad- uma reunião do partido em que se rego- genharia e desistem? Aconteceu com a Certo: é uma frase escandalosa. Pelo ministração do FB em 2012. "É só assim universi- zijou por termos uma percentagem filha de uma amiga minha, não aguen- menos para quem acredite que mulhe- que chegamos lá." dades, em maior de mulheres nas listas do que a tava o ambiente, predominantemente res e homens valem o mesmo - que é o Portugal obrigatória por lei e disse-lhe que só se masculino. Quando se fala das opções que as constituições dos países civiliza- "Homens dai quotas não escritas" estava a referir à percentagem, a conta- das mulheres em relação às áreas de es- dos estatuem e o que, acredita-se, as Assunção Cristas, 42 anos, presidente do são 60%. bilizá-la, porque a lei existia. Temos um tudo e se pergunta por que não esco- pessoas civilizadas defendem. Mas, se CDS/PP desde 2016, suspira: "Historica- Há mais grupo quase paritário e essa transfor- lhem determinadas áreas... Elas fazem assim é, porque é que, mesmo nos paí- mente, as mulheres foram-se habituan- mação, estou convicta, não teria acon- opções por realismo. E mesmo a ques- ses ditos civilizados como Portugal é do a um papel de segunda linha, de re- doutora- tecido se não fosse a lei. Embora conti- tão dos salários... As mulheres encon- suposto ser, as mulheres ganham gene- cato e contenção. Porque a sociedade é das do que nue a haver muita autoexclusão das mu- tram poucas oportunidades, ajustam as ricamente quase 25% menos dogue os organizada há muitos séculos por uma lheres na política Há muito por fazer." suas expectativas para baixo." Mas é ver- homens - e ganham menos mesmo perspetiva masculina. A esse propósito, doutora- Porquê tanta autoexclusão?Asoció- dade também, reconhece a socióloga, quando têm a mesma idade e forma- dou sempre o exemplo das minhas alu- dos, mas logaVirgínia Ferreira, 63 anos, da Facul- que mesmo quando chegam a quadros ção e experiência - e estão sub - repre- nas, que falavam menos do que os alu- con tinuam dade de Economia da Universidade de superiores elas "são menos ambiciosas sentadas nos cargos de poder? Porquê, nos e quando eu perguntava porquê di- Coimbra, investigadora do Centro de Es- na forma como negoceiam. Pedem me- se as mulheres estão em maioria nas ziam: "Eles gostam tanto de falar e de se a estar sub- tudos Sociais e na presidência da Asso - nos dinheiro, valorizam mais outras re- universidades (são 60% em Portugal), ouvir." Dá uma gargalhada. "Se lei já es- -represen- ciação Portuguesa de Estudos sobre as galias, como ter mais tempo, por exem- se há mais doutoradas do que doutora- tabelece a igualdade? Sim. Diz imensas Mulheres, cita a também socióloga Ro- plo. Essa atitude nota-se logo nas estu- dos, se em termos de formação acadé- coisas. Mas não chega. Isto leva muito tadas nos sabethMoss Kanter, americana, profes- dantes de Gestão, que fazem uma mica dão cartas? O que é que se passa? tempo a mudar." Frisando que uma so- cargos sora em Harvard: "Ela fala da mulher autoprojeção para posições menos am- O quê é que falha? ciedade equilibrada tem mulheres em token, asmulheres que são minoritárias biciosas do que os colegas. As mulheres Eles são educados para o espaço pú- todas as áreas, Cristas vê uma mistura de de poder. numa função ou grupo, e que estão mui- tendem a integrar tudo o que há contra blico, elas para o privado. Elas são one- fatores na exclusão. "As mulheres não Porquê? to expostas, como se estivessem numa elas". Esse é também um dos motivos radas, como por decreto divino, com o são chamadas, não são escolhidas, e vitrine. Funda-se aí a ideia de que é pre- pelos quais, defensora da imposição de cuidado dos filhos e o trabalho domésti- também se autoexcluem." Defensora, O que é que ciso atingir um limiar crítico, um núme- quotas numa versão mais ambiciosa do co. Uma carga que justifica em grande contra a maioria do seu partido, das se passa? O ro mínimo de mulheres para que as coi- que a da proposta do governo-conside- parte a diferença salarial, como concluiu quotas, quer na política quer nas admi- que falha? sas mudem." Kanter descreve o tokenis- ra que deveriam aplicar-se, como suce- um estudo recente de uma economista nistrações das empresas cotadas, expli- mo como urna espécie de estratégia das deu em Espanha e França, às adminis- dinamarquesa: as mulheres com filhos ca porquê: "Os homens são escolhidos organizações para fingir que são inclusi- trações de empresas acima de uma cer- têm mesmo menor produtividade, algo por serem homens, por quotas não es- vas, recrutando um pequeno número de ta dimensão e não apenas às cotadas em que não se passa, pelo contrário, com os critas, não assumidas. Às vezes é puro pessoas de grupos minoritários ou dis- bolsa -, Virgínia Ferreira propõe que se homens com filhos. E as mulheres sem desconhecimento - porque é hábito, criminados para refutar a ideia de dis- fale "de quotas máximas para os homens filhos, cuja produtividade não é inferior porque há urna replicação. É um mode- criminação. Funcionando como uma em vez de quotas mínimas para as mu- à dos homens, são prejudicadas pelo lo que se replica porque os contextos so- espécie de álibi, as pessoas token estão lheres. Ajuda a perceber o que está real- preconceito contra as mulheres. ciais repetem modelos." num ambiente hostil, em que são um mente em causa". Por outro lado, as expectativas que se Alei das quotas de género, contra a corpo estranho. Sandberg-outra vez ela projetam nas crianças desde muito ce- qual o CDS votou, é de 2006. No ano se- -conta mais um episódio ilustrativo: um Eles incentivados, elas questionadas do, desde os brinquedos que lhes ofere- guinte, Paulo Portas reparou nela num dia, foi a uma reunião numa empresa e Perspetivas. Ana Paula Marques, 43 cem às atitudes que se estimulam e se programa de TV (um dos Prós e Contras no intervalo para o café perguntou onde anos, economista, única mulher admi- castigam, e continuam a projetar-se nas sobre o referendo do aborto, em que de- era a casa de banho feminina. O anfi- nistradora executiva da NOS, desde 2013 pessoas ao longo da vida, moldam so- fendia o não) e ligou-lhe para a convidar trião, que era homem, não sabia. Espan- (são seis os membros, o que significa que nhos e ambições. Numa famosa pales- a entrar no CDS. Nove anos depois, na tada, perguntou se a empresa tinha mu- ela constitui 17% da comissão executi- tra sobre desigualdade, a única mulher saída de Portas, o partido elegeu-a como dado de instalações há pouco tempo - va), cita também Sandberg: "Aos ho - ► 08-03-2017 08-03-2017 —1 • DN+ C C VU FERNANDA CANCIO Como varia a desigualdade salarial em Portugal entre mulheres e ho- mens em função da profissão e da for- mação académica? Dois economistas da Universidade do Minho, Luís Aguiar-Conraria e Miguel Portela, estão a tentar perceber. Constataram que as mulheres são 2/3 nas profis- sões mais mal pagas e só 1/3 nas mais bem pagas. E que a maior diferença salarial -30% - se encontra nos salá- rios entre 800 e 1000 euros. O que é o vosso estudo? Miguel Portela (M.P.) - Isto começou com o interesse que temos pela per- formance ao longo do tempo de mu- lheres e homens no mercado de tra- balho. E decidimos olhar para duas coi- sas, salários e promoções, através de um instrumento que existe desde 1985 e que são os quadros de pessoal do setor privado português (não estão os tra- balhadores independentes nem o setor público, a administração pública, mas inclui por exemplo a CGD). Pegámos ►mens costuma-se dizer que a carreira é grande problema com isso, já temos centagem de mulheres nas posições Maria João nesses quadros, que são enviados pelas como uma maratona, que é importante 30% de mulheres nas direções.
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