Obras da Autora ORLANDA AMARÍLIS FICÇÃO ~ Caes-do-Sodré té Saiamansa (contos), 1.* ed., 1974 — Ilhéus dos pássaros (contos), 1983 — A casa dos mastros (contos), 1989 LITERATURA INFANTIL Facécias e peripécias, 1990 ESCOLARES — Folha a folha. Leituras para o 1.° ano de escolaridade, 1987. (Co-autoria com Maria Alberta Menéres). CAIS-DO-SODRÉ — Folha a folha. Caderno de trabalho. (Co-autoria com Maria Alberta Menéres). TÉ SALAMANSA 2.' edição Ficha Técnica Titulo —Cais-do-Sodré té Saiamansa Autor—Orlanda Amarílis Capa e arranjo gráfico de Judite Cilia com desenho de Pedro Gregório Colecção —Africana Direcção — Manuel Ferreira Editor—ALAC-(>ífr/'ca, Literatura, Arte e Cultura, Lda.) Av. Dom Pedro V, 11-2." Oto. 2795 LInda-a-Velha Tel. 4192274 Distribuição —Diglivro Rua Ilha do Pico, 3-B —Pontinha —1675 Lisboa 1991 NOTÍCIA BIBLIOGRÁFICA Para ti, Manila, companheiro destes largos anos de luta, e também para o Sérgio e Nano. Orlanda Amarílis, de seu nome completo Orlanda Amarílis Lopes Rodrigues Fernandes Ferreira, natural de Assomada, Santa Catarina (Cabo Verde), filha de Armando Napoleão Roiz Fernandes e de Alice Lopes da Silva Fernandes. Fez os seus estudos primários na cidade do Mindelo, Ilha de São Vicente, e secundários no Liceu Gil Eanes da mesma cidade, que completaria depois em Goa, cidade de Panguim, capital do então chamado Estado da índia Portuguesa, onde Orlanda Amarílis viveu cerca de seis anos e concluiu os estudos do Magistério Pri• mário. Mais tarde, terminaria o curso de inspectores do ensino básico e já anteriormente havia completado o Curso de Ciênciais Pedagógicas na Faculdade de Letras de Lisboa. Casada com o escritor Manuel Ferreira, no ano de 1945, em Cabo Verde, quando aquele se encontrava no arquipélago inte• grando um batalhão expedicionário do exército português, durante a guerra de 1939-1945, é mãe de Sérgio Manuel Napoleão Ferreira e Hernâni Donaldo Napoleão Ferreira, o primeiro nascido em Cabo Verde e o segundo em Goa. Por laços familiares está ligada a figu• ras de várias gerações literárias, tais como Corsino Lopes da Silva, Baltazar Lopes da Silva, José Lopes da Silva, José Calazans Lopes da Silva, Félix Lopes da Silva, Armando Lopes da Silva, Gabriel Lopes da Silva Mariano, Ivone Ramos, Yolanda Morazzo Lopes da Silva, sendo ainda de registar o facto de Armando Napoleão Fer• nandes, seu pai, ter sido o primeiro a elaborar, sistematicamente, e durante muitos anos, um dicionário crioulo-português, ora publicado. Acompanhando o mar^ido em deslocações de natureza profis• sional ou especificamente cultural ou, então, a convite a ambos dirigido, visitou a Nigéria, o Canadá, Estados Unidos da América, a União Indiana e, particularmente Goa, e ainda Moçambique e Angola, chegando a conhecer o Sudão e o Egipto, tendo feito intervenções culturais públicas em Goa, Estados Unidos da Amé• rica, Itália, Canadá, Holanda, Espanha (Galiza) e inclusive Cabo 7 Verde, aquando da sua participação no Encontro sobre Cultura e Literatura Caboverdianas, realizado em 1986, sob a égide das Comemorações do 50." Aniversário da fundação da revista 'Claridade. Pertence ao Movimento Português Contra o Apartheid, ao Movimento Português para a Paz, e é membro da Associação Por• tuguesa de Escritores e do Pen Club, tendo pertencido aos corpos gerentes de ambos organismos. Iniciou a sua carreira literária colaborando na Certeza (1944), revista que, depois da Claridade, marcou um momento extrema• mente significativo da vida cultural caboverdiana. Posteriormente colaborou como ficcionista em várias revistas, tais como COLÓ- QUIO/Letras, África, Loreto 13, da Associação Portuguesa de Escri• tores e está representada em várias antologias: Escrita e Combate CAIS-DO-SODRÉ (1976); Contos —O Campo da Palavra (1985); Fantástico no Femi• nino (1985); e ainda em Afecto às Letras —Obra Colectiva de Homenagem da Literatura Contemporânea a Jacinto do Prado Coe• lho (1984), bem como na antologia em língua alemã de contistas africanos: Frauen in der Dritten Weit, RFA (1986) e na antologia de escritores caboverdianos, em língua inglesa: Across the Atlantic: An Anthology of Cape Verdean Literature, Estados Unidos da América (1988). Contos seus foram ainda traduzidos para o russo, o hún• garo, holandês e italiano, Orlanda Amarílis, publicando agora esta 2." edição da colecção de contos do seu livro de estreia, Cais-do Sodré té Saiamansa per• segue um caminho de ficcionista de grande dignidade e qualidade literária, cujo talento tem sido reconhecido por críticos portugueses como Jacinto do Prado Coelho, Duarte Faria, Fernando Assis Pacheco, Casimiro de Brito, Pires Laranjeira, Elsa Rodrigues, Isabel Ramos, Alberto Carvalho, Armando Ventura Ferreira, Ramiro Tei• xeira, e brasileiros, como Maria Lúcia Lepecki, Fernando Mendonça, Maria Aparecida Santilli; ou americanos como Mc Nab e Russel Hamilton. Por nós, e correndo todos os riscos de alguma suspeição, não receamos minimamente que seja em afirmar que, pela obra publi• cada, incluindo no âmbito da literatura infanto-juvenil, Orlanda Amarílis continua a inscrever o seu nome no grupo dos melhores ficclonistas caboverdianos. M. F. J «É devera, não estava a reconhecê-la.» Andresa rebusca na memória a família da cara parada na sua frente. Parece daquela gente de nhô Teofe, um de S. Nicolau a quem os estudantes tinham alcunhado de Benjamim Franl<lin. Ou será parente de nhô António Pitra, irmão do Faia há muito embar• cado para a Argentina? Oh gente, se encontra pessoas, como ela, vindas daquelas ter• ras de espreguiçamento e lazeira, associa-se quase sempre a uma ou outra família. Se não as conhece, bom, de certeza conheceu o pai, ou o primo ou o irmão, ou ainda uma tia velha, doceira de fama, até talvez uma das criadas lá da casa. E a conversa, por esse elo, estende-se, alarga-se, num desfolhar calmo, arrastado, saboroso quase sempre. «Sabe, eu estava a olhar para si porque vi logo ser gente da minha terra», continuou Andresa, olhando e sorrindo para a figura seca de carnes sentada a seu lado. Esta sorriu também. Um sorriso tímido e descansado. Encorajada, Andresa ainda arriscou: «Está cá há muito tempo?» «Sim, já vai para dois meses. Não é muito tempo, mas já é alguma coisa.» Andresa ajeita a mala sobre os joelhos, acaricia o fecho de tar• taruga, num gesto vago, sem atinar porque dera conversa à senhora. Conchêl, porquê? Donde? Só se for do tempo de chá de fedagosa. Sou mesmo disparatenta. Se eu era Andresa Silva, Andresa filha de nhô Toi Silva de Casa Madeira? Sim senhora, sou Andresa, sobrinha de nh'Ana, filha de nhô Toi. É sim. Mais conversa pâ mode quê? Ainda hei-de perder essas manias. Manias de dar trela a todo o biscareta da minha terra. Apareça-me pela frente seja quem for, não conheço, acabou-se. Suas unhas delineam o fecho de tartaruga e o olhar perde-se no brilho negro da mala de verniz. 11 «Bem, se não fosse a doença do Papá, eu estava agora aqui? «Não se lembra de meu pai, pois não?» Ah mô, não. Fazer o quê.» «Não», confessa Andresa. «Na verdade não me lembro muito Andresa pisca os olhos e surpreende-se a responder. És tu bem dele. Sabe, já lá vão quinze anos eu vim da nossa terra.» mesma, Andresa, és tu a dar sequência a esta conversa insípida. «Pois é, pois é.» Poderias tê-la evitado, mas as conversas são assim. Têm um fio, um E compondo outro tom. caminho a percorrer. Não te admires pois por te teres arriscado. «Meu pai era Simão Filili do Alto de Celarine.» «Ah! Seu pai está doente?» «Ah! O seu pai era nhô Simão Filili? Eu julgava (estava a mentir) «Papá morreu.» que a senhora fosse sobrinha dele.» A voz morreu também num sopro. «Éramos eu e a minha irmã Zinha que Deus-haja. Eu sou a «Desculpe, eu não sabia», lastimou Andresa. Tanha. Raparigas éramos só as duas.» A senhora procurou um lenço na carteira e assoou-se. Guar- «Recordo-me muito bem da Zinha. Estava toda certa vocês dou-o, fechou a carteira e pôs-se a olhar para a biqueira dos sapatos. eram primas (outra mentirinha para acabar de compor o ramo). Era «Ele não queria embarcar nem dado de pau na cabeça. Quando bonitinha.» Dr. Santos aconselhou-o a ser visto por um especialista e alvitrou «Era, coitada.» para apanharmos o primeiro barco, ele fez um escarcéu, nhor Deus! Agora sim, Andresa conseguiu mais ou menos os cordéis e Não vinha, não vinha! Por fim, tomou um ar arregaçado e fez uma sente-se à vontade. Quem poderia esquecer o homem pequenino e guerra lá em casa. Falou, falou. Bateu com o punho fechado em chupado daquela casa vermelha ali no Alto de Celarine? Só quem cima da mesa e avisou-nos a todos: Ninguém mandava nele, era nunca tivesse ouvido contar histórias de gongon, histórias de cor• ainda homem da sua cabeça. Foi um caso sério convencê-lo. Disse rentes arrastadas na estrada da Pontinha, em noites de ventania, por mais coisas. Brigou, brigou, até ficar a nhongor na cadeira de lona. artes de xuxo, ou das trupidas de cavalos a atravessarem a morada Estou mesmo a vê-lo, cabeça descaída sobre a queixada, mãos por volta da madrugada. O povo só se lhes referia ao barulho fra- abandonadas no regaço. De vez em quando despertava, levantava a goroso das patas raspando o empedrado. Andavam a pregar a cabeça e abria os olhos para os fechar logo e continuar a nhongor. tumba de nhô Rei Vendido, dizia-se. Nha Xenxa, viúva do nhô João Para continuar na pesca da moreia. Coitado! Estava a adivinhar.» Sena, contava, e a voz velava-se-lhe de medo, ter ouvido certa oca• Respirou pausadamente. «Costumava dizer: Se eu der uma saltada sião uma voz de entre o galopear troador.
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