Introdução Às Memórias Para Servir À História Do Brasil Pág

Introdução Às Memórias Para Servir À História Do Brasil Pág

Quadro de Armando Martins Viana (*Rio de Janeiro, 1897 – Rio de Janeiro, 1991), pertencente à Prefeitura do Distrito Federal . Memórias para servir à História do Reino do Brasil ...................... S ENADO F EDERAL ...................... Mesa Diretora Biênio 2013/2014 Senador Renan Calheiros Presidente Senador Jorge Viana Senador Romero Jucá 1º Vice-Presidente 2º Vice-Presidente Senador Flexa Ribeiro Senadora Ângela Portela 1º Secretário 2a Secretária Senador Ciro Nogueira Senador João Vicente Claudino 3º Secretário 4º Secretário Suplentes de Secretário Senador Magno Malta Senador João Durval Senador Jayme Campos Senador Casildo Maldaner Conselho Editorial Senador José Sarney Joaquim Campelo Marques Presidente Vice-Presidente Conselheiros Carlos Henrique Cardim Carlyle Coutinho Madruga Raimundo Pontes Cunha Neto . Edições do Senado Federal – Vol. 180 Memórias para servir à História do Reino do Brasil DIVIDIDAS EM TRÊS ÉPOCAS DA FELICIDADE, HONRA, E GLÓRIA; ESCRITAS NA CORTE DO RIO DE JANEIRO NO ANO DE 1821 Luís Gonçalves dos Santos (Padre Perereca) Prefácio e anotações de Noronha Santos ...................... S ENADO F EDERAL ...................... Brasília – 2013 EDIÇÕES DO SENADO FEDERAL Vol. 180 O Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em 31 de janeiro de 1997, buscará editar, sempre, obras de valor histórico e cultural e de importância relevante para a compreensão da história política, econômica e social do Brasil e reflexão sobre os destinos do país. Projeto gráfico: Achilles Milan Neto © Senado Federal, 2013 Congresso Nacional Praça dos Três Poderes s/nº – CEP 70165-900 – DF [email protected] Http://www.senado.gov.br/web/conselho/conselho.htm Todos os direitos reservados ISBN: 978-85-7018-454-2 . Santos, Luiz Gonçalves dos, 1767-1844. Memórias para servir à história do reino do Brasil : divididas em três épocas da felicidade, honra, e glória : es- critas na corte do Rio de Janeiro no ano de 1821 / Luís Gonçalves dos Santos. – Brasília : Senado Federal, Conse- lho Editorial, 2013. 562 p. : il. – (Edições Senado Federal ; v. 180) 1. Período Joanino, (1808-1821) Brasil. 2. Brasil, história, fontes, Século XIX. I. Título. II. Série. CDD 981.03 . Sumário NOTA INTRODUTÓRIA por Noronha Santos Pág. 13 Introdução às Memórias para servir à História do Brasil Pág. 33 Notas Pág. 73 Anotações de Noronha Santos à introdução das Mémorias Pág. 81 ÉPOCA I Primeira parte Felicidade do Brasil Pág. 283 ÉPOCA I Segunda parte Pág. 325 Ano de 1809 Pág. 385 Ano de 1810 Pág. 406 Ano de 1811 Pág. 446 Ano de 1812 Pág. 480 Ano de 1813 Pág. 498 Ano de 1814 Pág. 516 Ano de 1815 Pág. 530 . Nota introdutória Noronha Santos S MEMÓRIAS PARA SERVIR À HISTÓRIA DO REINO ADO BRASIL constituem valioso acervo sobre homens e cousas do go- verno do príncipe regente Dom João e do seu reinado em terras brasileiras1. Com exemplar paciência registrou Luís Gonçalves dos Santos tudo quanto ia ocorrendo sob a governança do monarca bra- gantino. Nada escapou à tarefa do esmerilhador acerca da família real portuguesa e da fidalguia transmigrada de Lisboa. Tudo ele o fez, minuciosamente, em tom apologético e, por vezes, louvaminheiro. É, sem dúvida, a fonte mais proveitosa e farta que se co- nhece no tocante às cousas públicas do Brasil nos dois primeiros de- cênios do século XIX – servindo com seus pormenores exaustivos, aos 1 Os originais das “Memórias” traçadas pelo próprio punho de Luís Gonçalves dos Santos, em cursivo caprichoso, pertencem às coleções de manuscritos do Instituto Histórico Brasileiro. Estão enfeixados em livro brochado, figurando no catálogo da douta instituição. 14 Luís Gonçalves dos Santos estudiosos da história pátria e, notadamente, à crônica da cidade do Rio de Janeiro. Abertos os portos brasileiros ao comércio de todas as nações amigas da realeza lusitana – graças à interferência do ilustrado José da Silva Lisboa 2 e a sugestão da diplomacia britânica, inaugurou-se, desde logo, uma das fases mais felizes do governo do Príncipe Regente. Foi um tempo de solenidades faustosas, de frequentes ce- rimônias religiosas, de procissões votivas, touradas, cavalgadas e encamisadas, com o pitoresco dos costumes – em dias de gala, de aniversários e batizados de pessoas reais ou de fidalgos concorrendo o povo a esses divertimentos, que se revestiam de pompa até então desconhecida. Sem o livro do padre Luís Gonçalves dos Santos, ficaría- mos privados de conhecer um dos aspectos mais característicos da- quela época. De envolta com o esplendor da corte transmigrada, criou- se um aparelho de administração para a vadiagem já bem remu- nerada. Com os “vícios e abusos” – na frase de Varnhagen, – trans- plantou-se ao Brasil o regime de sinecuras para os filhos da me- trópole, galardoando-se com bons empregos a chusma de fidalgotes que haviam emigrado. Não obstante os malefícios, privilégios e “aposentadorias” vexatórias, a trasladação da corte foi o primeiro passo a alicerçar a emancipação política do povo brasileiro. E desde o ano de 1808, a alma popular pressentiu que nova ordem de cousas se desvendara à 2 José da Silva Lisboa (Visconde de Ceará), filho de Henrique da Silva Lisboa, nasceu na Bahia, a 16 de julho de 1756. Formou-se pela Universidade de Coimbra em 1779. Foi deputado à constituinte imperial e senador pela Bahia, escolhido pelo primeiro imperador a 22 de janeiro de 1826. Faleceu no Rio de Janeiro a 20 de agosto de 1835. Memórias para servir à História do Reino do Brasil 15 vida da antiga colônia. Nas festas e cerimônias ruidosas daqueles dias, pairava no espírito de todos uma esperança de renovação, aguardan- do o advento de novos ideais. Rematavam quase sempre os brasileiros os gestos de entusiasmo com vivas ao imperador do Brasil. Em sua opulenta História Geral do Brasil, descrevendo Var nhagen os festejos de 1808, no Largo do Paço, cita-nos o dístico que se lia numa das arcadas ali levantadas, como desafio formal do espírito nacional ao sistema colonizador: A América, feliz, tem em seu seio Do novo Império o fundador sublime! As próprias Memórias, de Luís Gonçalves dos Santos – escri tos “para servir à história do Reino do Brasil” refletem, como bem indica o seu título, aqueles sentimentos de brasilidade, que alvoroçavam os patriotas. Abrangendo variados e complexos assuntos – políticos, ad- ministrativos, econômicos, militares, eclesiásticos, comerciais e in- dustriais – a obra do presbítero da irmandade de D. Pedro contém índices explicativos que orientam suficientemente o leitor, dando- lhe o mais exato e minudente informe do Brasil de 1808 a 1821. Essa ou aquela achega biográfica, posterior ao ano da par- tida do Rei D. João VI para a metrópole, poderia ser acrescentada, à guisa de anotação, com referência a umas tantas figuras da fidal- guia. Isto importaria em aumento considerável da composição ti- pográfica, que se estenderia por muitas páginas, excedentes, tal vez, duas ou mais vezes às da edição primitiva. Limitamo-nos a anotar o capítulo das Memórias, relativo aos logradouros públicos da cidade do Rio de Janeiro, no período de 1808 a 1821 e sua evolução através dos anos. 16 Luís Gonçalves dos Santos Completam a minuciosa obra do cronista joanino, além de outros, os trabalhos de contemporâneos, testemunhas presenciais dos acontecimentos dos dois primeiros decênios do século passado. Na Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, de Jean-Baptiste Debret, publicada em Paris em 1839 e reeditada pela Livraria Mar- tins, de São Paulo, em 1940 3, deixou-nos o grande pintor da Missão Francesa de 1816, curiosos flagrantes de usos e costumes e uma infini- dade de estudos, esboços e quadros históricos sobre a vida brasileira em geral e particularmente a respeito da cidade do Rio de Janeiro. Rugendas – João Maurício Rugendas, com a sua Viagem Pitoresca através do Brasil, publicada em 1835, oferece-nos apre- ciáveis subsídios em torno de costumes, ao alvorecer do Século das Luzes4. John Luccock, comerciante e viajante inglês, aqui chegado em meados de 1808, nas Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridio nais do Brasil, espelha com clareza e precisão o panorama social brasileiro, as usanças das diferentes classes e os progressos do Rio, que proporcionaram a criação de novos bairros, nos quais se levan taram aprazíveis moradas no interior de chácaras5. Dando-nos preciosos elementos para o balanço da situação econômica durante o governo de D. João, a Memória dos Bene- fícios Políticos do governo de el-Rei o Senhor D. João VI, de 3 IV vol. da Biblioteca Histórica Brasileira – sob a direção de Rubens Borba de Mo- rais. – Tradução e notas de Sérgio Milliet da Costa e Silva – 2 tomos. 4 I vol. da coleção da Bibl. Hist. Bras. – Incumbiu-se, também, da tradução, Sérgio Milliet – Edição de 1940. 5 X vol. da série da Bibl. Hist. Bras. – Tradução de Milton da Silva Rodrigues – Edição de 1942. Memórias para servir à História do Reino do Brasil 17 José da Silva Lisboa6, retraça com vigor o quadro das finanças e do regime tributário ao tempo do rei-velho. Outro depoimento, de interesse todo especial, é o que se esconde através da correspondência de Luís Joaquim dos Santos Marrocos, de 1811 a 1821. Pinta-nos a sociedade daquele tem po, com os costumeiros defeitos e as raríssimas virtudes da fidalguia enfatuada, que vivia no Rio de antanho7. As obras de Augusto de Saint-Hilaire – as suas viagens às Províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Cisplatina e Missões do Paraguai, reconstituem cenários e estudam o solo, com a sua riqueza mineralógica, a flora, a fauna e os inúmeros aspectos do hinterland. Da mesma sorte os recentes estudos de Afonso Taunay – abun dantes e opulentos de informações a obra de Oliveira Lima (Dom João VI no Brasil), em dois alentados volumes; as contribui- ções de Pires de Almeida8, de Henrique Câncio9, de Luís Edmun- do10, de Luís Norton11, de Araújo Guimarães12, de Pandiá Herman de Tantphoeus Castelo Branco13 e de Vieira Fazen da14 – para só nos referirmos aos sucessos ocorridos na série da nova corte lusitana – todos esses trabalhos representam uma riqueza biobibliográfica a 6 Trabalho publicado em 1818 e reimpresso em 1940 pelo Arquivo Nacional – com prefácio e comentários do Dr.

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