Socialismo Ou Barbárie Na Crítica De Esquerda Do Pós-Guerra Francês (1946-1967)

Socialismo Ou Barbárie Na Crítica De Esquerda Do Pós-Guerra Francês (1946-1967)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ GUILHERME BIANCHI MOREIRA MARXISMO E CRISE: SOCIALISMO OU BARBÁRIE NA CRÍTICA DE ESQUERDA DO PÓS-GUERRA FRANCÊS (1946-1967) CURITIBA 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ GUILHERME BIANCHI MOREIRA MARXISMO E CRISE: SOCIALISMO OU BARBÁRIE NA CRÍTICA DE ESQUERDA DO PÓS-GUERRA FRANCÊS (1946-1967) Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em História no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Dennison de Oliveira Co-orientador: Mateus Henrique de Faria Pereira CURITIBA 2015 I RESUMO O presente trabalho tem como objetivo central a constituição de uma análise histórica sobre o grupo francês Socialismo ou Barbárie, ativo enquanto grupo autônomo entre 1949 e 1967 cujo início remonta, entretanto, a participação nas fileiras do trotskismo francês desde 1946. O principal suporte documental a ser usado aqui serão os quarenta números da revista publicada pelo grupo entre 1949 e 1965: a revista Socialisme ou Barbarie. Dando centralidade às relações entre os intelectuais aqui estudados e o estatuto do marxismo como teoria revolucionária, tentaremos aprofundar o estudo do desenvolvimento da crítica de Socialismo ou Barbárie tendo em vista a experiência constituída por Cornelius Castoriadis, Claude Lefort e Jean-François Lyotard no seio do grupo. A hipótese central é de que uma consideração mais justa da experiência de tais autores em torno do grupo em questão passa pela necessária compreensão acerca das tensões, crises, polêmicas efetivadas através de seus entedimentos relativos à organização da classe trabalhadora, ao papel do intelectual e as interpretações sobre o fenômeno do totalitarismo. O percurso busca mostrar, no entanto, como tais temas se entrecruzam diretamente com o progressivo afastamento do grupo com o marxismo como categoria analítica e de orientação política, mobilizando certa trajetória que se encaminha de um marxismo crítico para uma crítica do marxismo. Palavras-chaves: marxismo, intelectuais, Castoriadis, Lefort, Lyotard. II ABSTRACT This study takes as its main objective the establishment of a historical analysis of the French group Socialism or Barbarism, active as autonomous group between 1949 and 1967 whose start dates back to the participation in the ranks of French trotskyism since 1946. The main supporting documentation to be used here will be the forty issues of the magazine published by the group between 1949 and 1965: the Revue Socialisme ou Barbarie. Providing centrality to the relations between the intellectuals studied here and Marxism as revolutionary theory, we will try to allow the study of the development of Socialism or Barbarism criticism considering the experience of Cornelius Castoriadis, Claude Lefort and Jean-François Lyotard within the group. The central hypothesis is that a fair consideration of such authors experience around the group in question involves the necessary understanding of the tensions, crises, controversies effected through their understandings related to the working class organization, the role of the intellectual and the interpretations of the totalitarian phenomenon. The study intends to show, however, how these issues intersect directly with the progressive distancing of the group with marxism as an analytical and political category, mobilizing a trajectory that moves from a critical marxism to a critique of marxism. Keywords: marxism, intellectuals, Castoriadis, Lefort, Lyotard. III LISTA DE SIGLAS CGT: Confédération générale du travail LCF: Ligue Communiste de France PCF: Parti communiste français PCI: Parti communiste internationaliste POI: Parti ouvrier internationaliste SB: Socialismo ou Barbárie SFIO: Section française de l'Internationale ouvrière IV AGRADECIMENTOS Essa dissertação não existiria sem o extremo cuidado com que Giulle Vieira da Mata me orientou desde os trabalhos de graduação. Agradeço principalmente a ela por toda a amizade e confiança. Agradeço à Helenice Rodrigues da Silva (in memorian) a quem pouco conheci, mas quem me encorajou a prosseguir com o plano de pesquisa que a havia apresentado ainda em 2012. Como o leitor poderá constatar, sua presença intelectual atravessa o texto a seguir. Mas, mais que sua presença intelectual através dos textos, foi por ela que conheci colegas, ex-alunos e pessoas próximas que me auxiliaram de forma determinante no processo de escrita da dissertação. Nesse sentido, não tenho palavras pra descrever o quanto devo à Raphael Guilherme de Carvalho, ex- orientando de Helenice, que me ajudou exaustivamente nas decisões sobre o caminho da pesquisa e da vida. Agradeço imensamente à Mateus Pereira, pela amizade e pela constante e exaustiva ajuda com o trabalho. Agradeço à Rafael Benthien, pelo extremo cuidado na leitura crítica dos meus textos e pelos apontamentos essenciais no exame de qualificação e na ocasião da defesa. Agradeço também à Dennison de Oliveira, pela orientação decisiva. À Lidiane Rodrigues, pelas fundamentais críticas e sugestões relativas ao meu trabalho na ocasião da defesa. Meus mais sinceros agradecimentos à Mauro Franco, por toda a amizade compartilhada desde a graduação, cujos frutos estão presentes ao longo de todo esse trabalho. Listar os amigos que, cada um de sua forma, me fizeram companhia durante o tempo de preparo da dissertação parece ser uma tarefa ingrata, mas corro o risco de parecer formalista. Agradeço imensamente à Roger Cavalheiro, Lucas Campacci, Lia Raquel, André Fabricio, Maria Franzoni, Clara Cuevas, Mateus “Bolaxa”, Alessandro Andrade, Marília Tanaka, Gabriel Augusto, Guilherme “Xinxa”, Marco Sartori, Daniella Bianchi, Felipe Bianchi, Larissa Brum, Flavia Bortolon, Lorena Brandão, Rodrigo Henrique, Jumara Pedruzzi, Valéria Bini, Daniel Mendes, e especialmente à todos os amigos da Vulvaros. À Angela Sierra. Aos professores e pesquisadores que compartilharam comigo seu tempo e conhecimento para o amadurecimento das ideias desse trabalho, especialmente Marcelo Rangel, Sérgio da Mata, Clóvis Gruner, Pablo Ortellado e Stephen Hastings-King. Aos funcionários da Universidade Federal do Paraná, especialmente Maria Cristina Parzwski, por todo o auxílio nos caminhos entre as estruturas burócraticas da universidade À meu pai Eduardo e meu irmão Danilo, pelas paixões herdadas da política, não a política dos burocratas, nem a das instituições, mas da política como categoria da verdade. No entanto, esse pequeno trabalho é dedicado inteiramente à minha mãe, Flavia Bianchi. Para o bem, sua vida sempre girou em torno do meu bem-estar. Com uma vida devotada em sobreviver ela nunca me desencorajou em fazer tudo aquilo que achei que deveria. No último ano, enquanto escrevia o presente trabalho, convivi diariamente com ela e, observando seu cotidiano, testemunhei o quanto ainda estamos distantes de uma sociedade livre de patriarcado e de patrões. Longe de significar um sintoma negativo sobre o mundo, tal experiência só intensificou minha identificação como alguém para quem qualquer possibilidade de transformação passa necessariamente pelo trabalho crítico acerca de nossa situação cotidiana. Devo isso e muito mais a ela. SUMÁRIO RESUMO....................................................................................................................I ABSTRACT.................................................................................................................II LISTA DE SIGLAS........................................................................................................III AGRADECIMENTOS.....................................................................................................IV INTRODUÇÃO.........................................................................................................1 1 TERRITÓRIOS...............................................................................................................7 1.1 O UNIVERSO DE SOCIALISMO OU BARBÁRIE: MATERIALIDADE E PROJETO.............................9 1.2 ESBOÇO GENEALÓGICO DO CAMPO INTELECTUAL FRANCÊS...............................................14 - CASO DREYFUS E OS MANIFESTOS.....................................................................................................16 - A FORMAÇÃO DE UM CAMPO INTELECTUAL..........................................................................................20 1.3 O PÓS-GUERRA COMO CASO...........................................................................................25 - ESPAÇOS POSSÍVEIS DA CRÍTICA DE ESQUERDA: MILITÂNCIA POLÍTICA, UNIVERSIDADE E CAMPO EDITORIAL............................................................................................................................ 25 - INTELECTUAIS E COMUNISMOS: SOBRE UM CAMPO DIFUSO..................................................................35 2 CRÍTICA COMO CRISE................................................................................................43 2.1 SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO “SÓCIO-BÁRBARO”...........................................44 - TROTSKY NA FRANÇA E O PROBLEMA DA BUROCRATIZAÇÃO.................................................................44 - UMA MINORIA DENTRO DA MINORIA: A CRIAÇÃO DE UMA TENDÊNCIA CRÍTICA NO SEIO DO TROTSKISMO FRANCÊS..............................................................................................................49 - RADICALIZAÇÃO DA CRÍTICA: PARA ALÉM DO SOCIALISMO DE CASERNA?...............................................60 2.2 CLAUDE LEFORT E A FENOMENOLOGIA DA VIDA OPERÁRIA..................................................70

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