Folhetins E Máscaras

Folhetins E Máscaras

EDUARDO LUIZ VIVEIROS DE FREITAS FOLHETINS E MÁSCARAS a obra de França Júnior Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais, sob orientação do Prof. Dr. Miguel Chaia. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS 2002 Banca Examinadora ------------------------------------------------ ------------------------------------------------ ------------------------------------------------ AGRADECIMENTOS Professores, amigos, colegas, seres especiais, a instituição. Por onde começar? A ordem não significa precedência, mas, no caso do primeiro nomeado, reconhecimento, gratidão. Ao professor Miguel Chaia, meu orientador, pela paciência, generosidade e incentivo constantes. É uma honra caminhar ao lado de um intelectual que “vê, diz, ouve e sente” como poucos, e receber sua orientação, a palavra amiga, o carinho. À professora Vera Chaia e colegas de buscas no NEAMP, Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP. Aos meus amigos e colegas na PUC/SP, em especial Anselmo (meu segundo irmão), Chico, José Carlos, Marta, a turma do “escritório”, Sergio Rezende e Equipe do TUCA, ao professor Nagamine, Helena, Lúcia... e a tantos outros, agradeço pelos anos de convívio, aprendizado, amizade e incentivo. Ao meu amigo Pablo Moreira, diretor, por ter me apresentado o Teatro. À Lélia Abramo, atriz, lutadora, pela palavra amiga e sábia, na vida e na arte. À Celina, pelo apoio e amizade constantes, desde o primeiro momento, e pelo paciente trabalho de revisar o texto. Meu carinho e gratidão. À minha família (Luiz, Rosa, Lourdes, Maurício e Carolina), por me trazer o sentimento de pertencer, ser querido como filho e irmão, e por ter compreendido minhas ausências. Aos amigos do futebol, por terem cobrado a minha presença! Agradeço também ao CEPE, Conselho de Ensino e Pesquisa, pela concessão de horas-pesquisa no ano de 1998. Ao Luis e demais funcionários da Academia Brasileira de Letras, pela atenção com que fui recebido. Aqui está o resultado. RESUMO A pesquisa contempla as áreas do teatro e da política, propondo como objeto a obra literária e dramatúrgica de França Júnior (José Joaquim da França Júnior, 1838- 1890). Este autor cria uma dramaturgia consistente e produz num gênero híbrido de jornalismo e literatura – o folhetim, nos quais se expressam várias dimensões da sociedade brasileira, mais especificamente da sociedade carioca ou da Corte Imperial, da segunda metade do século XIX. Nos folhetins é possível fazer a leitura do pensamento e da crítica social de França Júnior, na apresentação metafórica da realidade como registro histórico e análise social (os devaneios sociológicos feitos nos folhetins). Quanto às peças, buscou-se na análise das estruturas e dos elementos internos, o entendimento das seqüências de cenas e diálogos, não só na relação com a sociedade, mas também do ponto de vista da estrutura dramática. A elaboração das carapuças, por França Júnior, com recortes do tecido social, cultural e político, elementos do mundo real, “costurados” com as técnicas e convenções do teatro, da comédia de costumes, gera uma articulação de símbolos, no palco, que (re) inventa o Brasil pela paródia, caricatura, sátira. Sua crítica tem como referência uma sociedade burguesa, moderna, civilizada, de inspiração européia, que ele não vê ocorrer na sociedade da Corte Imperial. ABSTRACT This research focus on the area of theatre and politics, using the literacy and dramatic work of França Júnior as the object (José Joaquim da França Júnior, 1838- 1890). This author creates a consistent dramaturgy and produces in a hybrid of journalism and literature – the “folhetim”, in which several dimensions of the Brazilian society of the second half of the 19th century, more specifically the Imperial Court of Rio de Janeiro society, are expressed. In the “folhetins” it is possible to interpret França Junior´s thought and social criticism, from the metaphorical presentation of reality as a historical record and social analysis (the “sociological day dream” made in the “folhetins”). As for the plays, the understanding of the scenes and dialogues were sought in the analysis of the structures and the internal elements, not only in the relation with the society but also from the drama structure standing point. França Junior´s “carapuças”, elaborated with patches from the social, cultural and political tissue - elements from the real world “tied” with the technique and conventions of the theatre, of the situational comedy, generates an articulation of symbols on the stage which (re) invents Brazil by means of the parody, the caricature, the satire. The reference for his criticism is a bourgeois, modern, civilized society, from European inspiration, opposite to the one present in the Imperial Court. Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 001 PEÇAS TEATRAIS: ................................................................................................................. 010 FOLHETINS: ......................................................................................................................... 011 I º CAPÍTULO - UMA ÉPOCA E UMA GERAÇÃO PROCURAM O BRASIL ............. 017 2 º CAPÍTULO - FOLHETINS: A REAL FICÇÃO ............................................................ 035 CIDADE(S) .......................................................................................................................... 038 COSTUMES ........................................................................................................................ 051 POLÍTICA: .......................................................................................................................... 055 3 º CAPÍTULO - TEATRO: A REAL REPRESENTAÇÃO ............................................... 077 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 138 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 147 ANEXOS APRESENTAÇÃO O riso pode, certas vezes, constituir excelente educação do olhar. Por estranho que pareça, com freqüência o desmascarar não está em ir atrás, mas simplesmente em apontar a máscara, o jogo.1 Sempre me atraíram os mistérios da política, mas algo no seu interior intrigava- me, despertando a curiosidade: o jogo, a encenação, as máscaras, o poder em cena. Unindo minha formação como cientista social na Universidade de São Paulo a vivências práticas do teatro, em peças universitárias, oficinas, festivais e cursando disciplinas na Escola de Comunicação e Artes da USP (Departamento de Artes Cênicas), começou a surgir uma preocupação intelectual, uma suspeita, a possibilidade de encontrar um caminho, a partir deste cruzamento, para chegar ao desvendamento dos mistérios da realidade política. A leitura do artigo “A natureza da política em Shakespeare e Maquiavel”2 contribuiu para materializar esta busca e para estabelecer o tema desta dissertação. Este texto também foi utilizado como ponto de partida para o artigo “Teatro e Política: em busca do elo perdido”, que publiquei em 19973, reafirmando os parâmetros da “aproximação entre arte e política” e da “proximidade entre indivíduo e poder”. Ainda 1 Renato Janine RIBEIRO – “O entusiasmo, o teatro e a revolução.”, in: Adauto NOVAES, (org.) – Tempo e história - São Paulo : Companhia das Letras : Secretaria Municipal de Cultura, 1992, p. 326. 2 Miguel CHAIA - “A natureza da política em Shakespeare e Maquiavel”, in: Revista Estudos Avançados – IEA/USP, ano 9, n. 23, 1995, pp. 165-182. 3 Eduardo Luiz VIVEIROS DE FREITAS - “Teatro e Política: em busca do elo perdido”, in: Revista da APG (Associação dos Pós-Graduandos da PUC/SP), ano VI, nº 11, agosto de 1997, pp. 7-11. 2 Chaia indica que a política... “não é só uma forma de conhecimento, mas também uma técnica a ser aplicada, avaliando-se cada momento, situação e oportunidade.”4 O teatro é o local privilegiado, que apresenta com nitidez a “aproximação entre arte e política e a proximidade entre indivíduo e poder”, e, como inúmeros exemplos, podemos lembrar a Grécia Antiga (Sófocles, Ésquilo, Eurípides), Shakespeare e Maquiavel no Renascimento e, mais recentemente, Piscator, Brecht, Heiner Müller, Dias Gomes, Vianinha, Gianfrancesco Guarnieri, entre outros. Fica mais clara a aproximação da política com o teatro, no fato de que ambos se valem de técnicas a serem aplicadas, “avaliando-se cada momento, situação e oportunidade”. Como na política, no teatro interessa saber não quais ações os homens executam, mas como executam. O que é motivo para intrigas, segredos, articulações, na política, torna-se transparência, iluminação e aclamação, no teatro: o como (astúcia, virtú, inteligência etc) da política e o como (talento, genialidade, técnica, construção da personagem, verossimilhança do drama etc) do teatro. Florestan Fernandes, tratando da dimensão política no teatro de Shakespeare, escreveu: Ele (Shakespeare) apanha o trágico e o cômico, a ambição e a loucura, a grandeza e a mesquinhez, a inveja e a equanimidade, o altruísmo e o egoísmo, a vaidade e o ridículo, o histórico e o rotineiro, enfim, o poder especificamente político, que atravessa o governo e o seu terrível percurso devastador ou construtivo na personalidade humana, nas instituições e na sociedade.

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