Tecnobrega: a Legitimação De Um Estilo Musical Estigmatizado No Contexto Do Novo Paradigma Da Crítica Musical

Tecnobrega: a Legitimação De Um Estilo Musical Estigmatizado No Contexto Do Novo Paradigma Da Crítica Musical

Lydia Gomes de Barros TECNOBREGA: A LEGITIMAÇÃO DE UM ESTILO MUSICAL ESTIGMATIZADO NO CONTEXTO DO NOVO PARADIGMA DA CRÍTICA MUSICAL Recife 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO TECNOBREGA: A LEGITIMAÇÃO DE UM ESTILO MUSICAL ESTIGMATIZADO NO CONTEXTO DO NOVO PARADIGMA DA CRÍTICA MUSICAL LYDIA GOMES DE BARROS Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPG-COM) como requisito parcial para a obtenção do título de doutor (a) em Comunicação, sob orientação do Prof. Paulo Cunha. Recife, maio de 2011 Catalogação na fonte Bibliotecária Gláucia Cândida da Silva, CRB4-1662 B277t Barros, Lydia Gomes de. Tecnobrega: a legitimação de um estilo musical estigmatizado no contexto do novo paradigma da crítica musical / Lydia Gomes de Barros. – Recife: O autor, 2011. 226 p. : il. Orientador: Paulo Cunha. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, CAC. Comunicação, 2011. Inclui bibliografia e anexos. 1. Comunicação. 2. Tecnologia. 3. Música. I. Cunha, Paulo. (Orientador). II. Titulo. 302.23 CDD (22.ed.) UFPE (CAC2011-80) FOLHA DE APROVAÇÃO Autor do Trabalho: Lydia Gomes de Barros Título: Tecnobrega: a legitimação de um estilo musical estigmatizado no contexto do novo paradigma da crítica musical BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Paulo Carneiro da Cunha (Orientador) Doutor em Arts et Sciences de l'Art pela Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne Universidade Federal de Pernambuco _________________________________________________ Felipe Trotta Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal de Pernambuco _________________________________________________ Jeder Janotti Jr. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com estágio de doutoramento na McGill University (Montreal) Universidade Federal de Pernambuc _________________________________________________ Paulo Marcondes Ferreira Soares Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco _________________________________________________ Maria Eduarda da Mota Rocha Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo Universidade Federal de Pernambuco Recife, __ de junho de 2010. Dedico este trabalho ao pequeno/grande João. Aos amores que fazem da vida uma experiência menos solitária, mais prazerosa e muito mais generosa. A Luanda, Diana, Christiano e aos meus pais. AGRADECIMENTOS Há sempre o risco dos esquecimentos, por isso agradeço, sem nominar, aqueles que me apoiaram, incentivaram e ajudaram nesse percurso tantas vezes difícil. Ao companheirismo e compreensão da minha família, à confiança e insights de Paulo Cunha, às conversas e “provocações” de Felipe Trotta, à atenção e interesse de Will Straw, às pessoas que conheci em Belém e que contribuíram, direta ou indiretamente, para o desenvolvimento deste trabalho. Ao tecnobrega, afinal, que me possibilitou compreender que as fronteiras ainda são sólidas, mas se tornam cada dia mais vulneráveis. “The main characteristic of our society is a willed coexistence of very new technology and very old social forms” (Raymond Williams). RESUMO Esta tese de doutorado pretende apontar a emergência de um novo paradigma de legitimação da música popular brasileira, baseado no aumento da circulação do acervo musical produzido globalmente e na acessibilidade às ferramentas tecnológicas que possibilitam autonomia de criação e de distribuição. Essa hipótese é defendida com base na análise do circuito paraense do tecnobrega, estilo musical que atualiza com recursos da música eletrônica uma tradição musical desprezada pelas elites – a música brega romântica do Pará, produzida entre as décadas de 1980 e 1990 –, que introduziu a informalidade no negócio da música no país, puxando os números de uma indústria paralela milionária. Entende-se que essa nova “esfera pública musical”, apesar de mais inclusiva, não desfaz inteiramente as distinções sociais na construção de valor das mercadorias musicais. Defende-se, por outro lado, que a partilha de um conhecimento tecnológico mediado pela música constitui-se em “capital” para sujeitos socialmente excluídos, impactando positivamente nas construções discursivas em torno dessa música e abrindo margem a intervenções democráticas nas esferas da cultura e da vida social. Palavras-chave: Tecnobrega; esfera pública musical; legitimação musical; circulação; tecnologia. ABSTRACT This doctorate theses intends to show the rise of a new paradigma of the Brazilian popular music legitimation, based on the circulation increase of the musical repertory produced globally and on the accessibility to the technological tools which provides autonomy of creation and distribution. This hypothesis is defended based on the analysis of the tecnobrega scene from Pará (Brazil), musical style that updates itself with resources from electronic music and musical tradition despised by the elites - kitsch romantic music from Pará, produced between the decades of 1980 and 1990 - , that introduced informality in the Brazilian music business, pulling over the numbers of a millionaire parallel industry. It is understood that this new "musical public sphere", even though more inclusive, do not undo entirely the social distinctions on the construction of the musical merchandise values. It is defended, on the other hand, that the sharing of a technological knowledge mediated by music constitutes itself in "capital" for subjects socially excluded, impacting positively in the discursive constructions around this music and opening fields and democratic interventions in the spheres of culture and social life. Keywords: Tecnobrega; musical public sphere, musical legitimation, circulation, technology. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 11 1.1 O que pretende esta investigação? ........................................................................ 11 1.2 As razões que me levaram ao tecnobrega ............................................................. 13 1.3 Caminhos metodológicos ..................................................................................... 15 1.4 Como se estrutura esta tese ................................................................................... 18 2 UM OBJETO NO SEU LOCUS, UM OBJETO EM CIRCULAÇÃO .............................. 22 2.1 Cartografia de Contrastes ..................................................................................... 22 2.2 Uma cena se faz com personagens ....................................................................... 27 2.3 Belém do Pará, uma periferia digital .................................................................... 40 2.4 Entre a pirataria e o establishment ........................................................................ 46 2.5 Circulação cultural: novos processos sociais........................................................ 51 2.6 Uma virada crítica? ............................................................................................... 56 2.7 Políticas de reconhecimento ................................................................................. 61 3 O LUGAR DA CLASSE NO CONSUMO CULTURAL ........................................... 69 3.1 A marca de classe do tecnobrega .......................................................................... 69 3.2 O fim do primado das classes? ............................................................................. 72 3.3 A estrutura na formação do gosto ......................................................................... 81 3.4 Reprodução social e ideologia .............................................................................. 87 3.5 Disputas de sentidos ............................................................................................. 93 3.6 Prazeres construídos; alianças provisórias ........................................................... 99 3.7 Música popular brasileira, sem Maiúscula ......................................................... 106 3.8 Assimilação e recalque ....................................................................................... 114 3.9 Conhecimento musical recontextualizado .......................................................... 119 4 A NÃO INSTRUMENTALIDADE DAS PRÁTICAS TECNOLÓGICAS ....................... 128 4.1 Tecnologia e cultura: campo de lutas ................................................................. 128 4.2 Tecnologia e poder: uma via de mão dupla ........................................................ 137 4.3 Novos paradigmas econômicos .......................................................................... 141 4.4 Margens de manobra .......................................................................................... 149 4.5 Entre Heidegger (a ontologia) e Bourdieu (o habitus) ....................................... 158 4.6 Práticas sociais, táticas tecnológicas .................................................................. 170 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 184 5.1 Um paradigma mais inclusivo ............................................................................ 184 5.2 A velha questão de classe ................................................................................... 187 5.3 O capital simbólico da tecnologia ...................................................................... 191 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

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