Imagem E Pensamento Comunicação E Sociedade

Imagem E Pensamento Comunicação E Sociedade

imagenepensamento.qxp:Apresentação 1 31/03/11 13:28 Página1 23 Comunicação e Sociedade José Bragança de Miranda, Moisés de Lemos Martins Moisés de Lemos Martins Madalena Oliveira Jacinto Godinho José Bragança de Miranda Madalena Oliveira Aparentemente a imagem superou o pensamento, já não Jacinto Godinho necessitando dele. Trata-se de um resultado paradoxal, se repararmos que a filosofia ocidental, a de Platão, por Imagem e Pensamento exemplo, começa precisamente num conflito com as ima- gens. Esse conflito é resolvido através das ideias eternas, Imagem e Pensamento um procedimento que abre caminho ao «conceito», de que a técnica digital é a culminação. No momento final deste processo, a relação entre imagem, palavra e texto tornou- -se praticamente num enigma, sendo nosso propósito, neste ensaio plural, escrito a muitas mãos, interrogá-lo, debatê-lo e clarificá-lo, na medida do possível. www.ruigracio.com Universidade do Minho Grácio Editor Grácio Editor Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página2 Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página3 Moisés de Lemos Martins, José Bragança de Miranda, Madalena Oliveira e Jacinto Godinho (Eds) IMAGEM E PENSAMENTO Grácio Editor Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página4 Ficha técnica Título: Imagem e Pensamento Editores: Moisés de Lemos Martins, José Bragança de Miranda, Madalena Oliveira e Jacinto Godinho Colecção: Comunicação e Sociedade — n.º 23 Director da colecção: Moisés de Lemos Martins Centro de Estudos Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho Capa: Grácio Editor Coordenação editorial: Rui Grácio Design gráfico: Grácio Editor Impressão e acabamento: Tipografia Lousanense 1ª Edição: Abril de 2011 ISBN: 978-989-8377-12-8 Dep. Legal: © Grácio Editor Avenida Emídio Navarro, 93, 2.º, Sala E 3000-151 COIMBRA Telef.: 239 091 658 e-mail: [email protected] sítio: www.ruigracio.com Reservados todos os direitos Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página5 ÍNDICE Prefácio Especular com Imagens ..................................................................7 Moisés de Lemos Martins, José Bragança de Miranda, Madalena Oliveira, Jacinto Godinho I. O pensar das Imagens 1. Reflexos de Vénus: pensar com o Imaginário ...........................11 Bernardo Pinto de Almeida 2. Metafísica da imagem de Tomás de Aquino a Ch. S. Peirce........21 José Augusto Mourão 3. Da imagem da linguagem.........................................................29 Maria Augusta Babo 4. Imagens e palavras. (Palavras para imagens).........................39 Lucília Marcos 5. A imagem luminosa e a imagem sombria. Claridade, mediação e revelação na cultura visual moderna....................47 José Bártolo II. Práticas de Imagem 1. Com quantas imagens se faz um crime ....................................57 Jacinto Godinho 2. A oscilação da imagem entre fotografia e cinema....................63 Maria João Baltazar 3. Imagem Web 2.0: algumas redes sócio-conceptuais mediadoras da Wikipédia ........................................................77 Pedro Andrade 4. O problema da aparição nas imagens: da imagem idolátrica à imagem técnica......................................................89 Jorge Leandro Rosa III. Novas Imagens Técnicas 1. A dois tempos: Imagens da máquina na cibercultura .............99 Jorge Martins Rosa 2. Comunicação nos blogues: potencialidades e riscos associados ao software, ao género e ao ecrã............................107 Zara Pinto Coelho 5 Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página6 3. O empobrecimento da experiência perceptiva e o carácter aditivo nas novas imagens-ecrãs do social software. Uma primeira aproximação ....................119 José Pinheiro Neves 4. O que podem as imagens. Trajecto do uno ao múltiplo..........129 Moisés de Lemos Martins IV. Imagem e Imaginário 1. Como nunca ninguém o viu ....................................................139 Albertino Gonçalves 2. De passagem. Nos rastos de um percurso imaginário ...........167 Helena Pires 3. A imagem do monstro nas sociedades pós-modernas ............189 Jean-Martin Rabot 4. Memória e paisagem urbana: a construção da imagem patrimonial de Braga desde os acervos ilustrados e fotográficos de referência ......................................................211 Miguel Bandeira 5. O postal e a modernidade: memória, imagem e técnica ........237 Maria da Luz Correia & Moisés de Lemos Martins V. Imagem e Arte 1. A prosa das imagens ...............................................................257 José Bragança de Miranda 2. Da fotografia de imprensa à fotografia de arte: quando a actualidade se presta ao olhar artístico.................277 Madalena Oliveira 3. Imagem, pensamento: aproximações a Guy Debord ..............289 José Gomes Pinto 4. “Desanestesia” — chamar a atenção para a atenção à chamada ..............................................................................297 Fernando José Pereira 5. O voo suspenso do tempo: estudo sobre o conceito de imagem dialéctica na obra de Walter Benjamin ...............305 Maria João Cantinho 6 Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página7 ESPECULAR COM IMAGENS Ouve-se dizer, como quem convoca uma sabedoria que se perde na memória dos tempos, que uma imagem vale mais do que mil palavras. Palavra e imagem remetem, no entanto, para uma controvérsia antiga. Entende a metafísica platónica, por exemplo, que todas as imagens são suspeitas, por serem vãs, e mesmo falsas, de nada valendo contra os con- ceitos, enunciáveis apenas pelo logos. Foi, no entanto, a revolução óptica do século XIX que separou, de um modo aparentemente definitivo, as palavras e as imagens. A hegemonia da civilização numérica, de produção tecnológica, apressou a queda do regime analógico, representacionista, e permitiu o advento de um mundo autotélico, autónomo, um mundo de realidades separadas. A cultura do livro, e também a cultura católica, haviam controlado rigidamente as ima- gens, que precisaram sempre de autorização para poderem aparecer. A tradição judaico-cristã pressentira nelas um perigo, vendo nas imagens uma fonte e um motivo de «tentação». Mas foi com as tecnologias ópticas, primeiro com a fotografia e o cinema, depois com o vídeo e as imagens digitais, que a imagem pôde ganhar peso, autonomizar-se, e escapar final- mente à infinita ekphrasis imposta pela linguagem. A sabedoria popular sobre a relação entre as imagens e as palavras, aparentemente convincente, convoca a crença estonteante no poder mos- trador das imagens. E compõe também uma ideologia, que tem organi- zado, na cultura ocidental, as relações entre imagens e palavras. Ao mesmo tempo que atribui à imagem uma força encantatória, sedutora (as ima- gens recebem-se sem esforço, são imediatas, directas, gulosas), o aforismo de «uma imagem vale mais do que mil palavras» culpabiliza a palavra por ser trabalhosa, tortuosa, pesada, dolorosa. Além disso, parece querer afir- mar que a imagem é, sem margem para dúvidas, a solução da palavra. As imagens conseguiriam realizar sem esforço o que as palavras arduamente procurariam sem o alcançarem. As palavras, que andam sempre de dizer em dizer, tornar-se-iam, por isso, um peso para os indivíduos. O que é certo é que esta ideologia que envolve as imagens — a ideia de que elas não precisam de ser trabalhadas, que se impõem por si próprias — lhes foi criando uma via autónoma de produção no Ocidente, raramente penetrada pelo pensamento e pelas palavras. Para criar uma imagem basta uma máquina, como antes bastava a natureza que as produz pro- fusamente. Agora, a imagem é forte, porque produzida sem intervenção humana, limpa, pura, liberta de metafísicas. 7 Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página8 IMAGEM E PENSAMENTO Aparentemente a imagem superou o pensamento, já não necessitando dele. Trata-se de um resultado paradoxal, se repararmos que a filosofia oci- dental, a de Platão, por exemplo, começa precisamente num conflito com as imagens. Esse conflito é resolvido através das ideias eternas, um procedi- mento que abre caminho ao «conceito», de que a técnica digital é a culmi- nação. No momento final deste processo, a relação entre imagem, palavra e texto tornou-se praticamente num enigma, sendo nosso propósito, neste ensaio plural, escrito a muitas mãos, interrogá-lo, debatê-lo e clarificá-lo, na medida do possível. Com efeito, a sibilina frase de Giordano Bruno, «Pen- sar é especular com imagens», parece repercutir hoje intensamente na nossa cultura, retomando um destino que não pára de nos surpreender. Foi a 5 e 6 de Dezembro de 2007 que investigadores do Centro de Estu- dos de Comunicação e Linguagens (CECL), da Universidade Nova de Lis- boa, e do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Uni- versidade do Minho, se reuniram no Seminário Imagem e Pensamento, Museu/Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Os tex- tos aqui apresentados repõem uma boa parte do debate desses dias. Moisés de Lemos Martins José Bragança de Miranda Madalena Oliveira Jacinto Godinho 8 Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página9 I O PENSAR DAS IMAGENS Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página10 Imagem e Pensamento:Layout 1 31/03/11 12:52 Página11 REFLEXOS DE VÉNUS: PENSAR COM O IMAGINÁRIO Bernardo Pinto de Almeida1 «Entre nós e as palavras Há metal fundente» Mário Cesariny Começarei por sustentar que a noção de experiência estética ganhou, desde Baudelaire, com o correlativo par que o poeta designou de Moder- nidade, uma significação conceptual e operativa cada vez mais precisa,

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