PRÁTICAS E POSSIBILIDADES NA AVENIDA PAULISTA Juliana Monferdini 1 PRÁTICAS E POSSIBILIDADES NA AVENIDA PAULISTA JULIANA AOUN MONFERDINI DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA À FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE MACKENZIE PARA OBTENÇÃO DE TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO ORIENTADOR Prof. Dr. Abílio Guerra PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO SÃO PAULO – 2013 3 M742p Monferdini, Juliana Aoun Práticas e possibilidades na Avenida Paulista / Juliana Aoun Monferdini – 2013. 145 f. : il. ; 21cm. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013. Bibliografia: f. 137-143. 1. Avenida Paulista . 2. Projeto Urbano. 3. Espaço público I. Título. CDD 711.4098161 4 BANCA EXAMINADORA Dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo apresentada à faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Trabalho aprovado com distinção e louvor pela seguinte comissão avaliadora: Professor Dr. Abilio Guerra Instituição: Universidade Presbiteriana Mackenzie Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________ Professora Dra. Maria Isabel Villac Instituição: Universidade Presbiteriana Mackenzie Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________ Professor Dr. Vladimir Bartalini Instituição: Universidade de São Paulo Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________ 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, amavelmente, contribuíram para a conclusão desta pesquisa. Ao professor Abilio Guerra, pela confiança em mim depositada. Por me ajudar a encontrar o caminho e a me apaixonar pelo tema. Aos professores Doutores Maria Isabel Villac e Vladimir Bartalini, por suas contribuições tão precisas na ocasião de meu Exame de Qualificação. Ao Projeto M900 e aos queridos amigos que lá encontrei. A cada um, agradeço a sincera acolhida. Aos amigos e colaboradores diretos Vivian Costa e Petrus Lee, pelo diálogo constante, sempre compartilhando idéias. Aos tios Jamir e Ana Luiza Bittar, por serem minha família em São Paulo. À mãe e pai, por aguentarem a saudade. Um carinhoso agradecimento ao Fábio Brianezi Giraldez, por fazer comigo esse percurso. 6 Esse trabalho é dedicado à Avenida Paulista e a todos os amigos que lá encontrei. 7 PRÁTICAS E POSSIBILIDADES NA AVENIDA PAULISTA 9 ÍNDICE Resumo | Abstract ...pág 11 Introdução A construção do olhar ...pág 16 Os caminhos de Alice ...pág 18 A fala dos passos ouvidos Marcha sensível ...pág 118 Mirante cegado ...pág 22 Castelo de um homem só ...pág 122 Identidade em trânsito ...pág 30 Se essa rua fosse minha ...pág 126 Surfistas urbanos ...pág 38 Cemitério de bitucas ...pág 44 Conclusão ...pág 130 Caverna do automóvel ...pág 50 Galeria de Fotos ...pág 134 Toca de lobisomem ...pág 56 Bibliografia ...pág 142 Arte pública, para qual público? ...pág 64 Tabela de imagens ...pág 154 Subindo ladeiras, descendo cataratas ...pág 72 Jogo de amarelinha ...pág 76 Desmatada ...pág 80 Ciclo faixa ...pág 86 Mar de histórias ...pág 90 Rolê nas calçadas ...pág 96 Os cegos ...pág 104 É proibido sentar ...pág 110 Só falta o ascensor ...pág 114 10 RESUMO ABSTRACT Reflexão sobre a qualidade dos espaços públicos da Avenida Reflection on the quality of public spaces on Avenida Pau- Paulista, baseada na observação direta da utilização desses lista, based on direct observation of the use of these spaces espaços pela população. Registro de episódios cotidianos by the population. Record of the avenue daily episodes, rec- da avenida, reconhecidos como situações extremamente ognized as extremely informative situations, able to point informativas, capazes de apontar sentidos plurais para es- to these spaces plural meanings and unsuspected potential ses espaços e potencialidades insuspeitas de seu aprimora- for its improvement by urban redesigning. mento, através do redesenho urbano. Palavras- chave: Avenida Paulista; Projeto Urbano; Práticas cotidianas. Key-words: Avenida Paulista; Urban Planning; Everyday practices. 11 Em Brasília, admirei. Não a niemeyer lei, a vida das pessoas penetrando nos esquemas como a tinta sangue no mata borrão, crescendo o vermelho gente, entre pedra e pedra, pela terra a dentro. Em Brasília, admirei. O pequeno restaurante clandestino, criminoso por estar fora da quadra permitida. Sim, Brasília. Admirei o tempo que já cobre de anos tuas impecáveis matemáticas. Adeus, Cidade. O erro, claro, não a lei. Paulo Leminski, Ruinogramas, anos 1980 13 INTRODUÇÃO OS TRÊS ASSUNTOS – espaços públicos da as situações do cotidiano da avenida a partir do Avenida Paulista, seus usos e sentidos para a pressuposto de que a qualidade dos seus espaços população – são os eixos em torno dos quais gi- não pode ser avaliada de forma profunda se não ram todos os ensaios reunidos neste trabalho. A for considerada sua utilização casual pelo homem idéia de realizar um estudo urbano da Aveni- comum, que evidencia suas necessidades mas da Paulista a partir de ensaios, que na verdade também sua atribuição de valores e afetos. são relatos de episódios de seu cotidiano, surgiu Não é de surpreender, então, a incontestável durante nossa banca de qualificação, como mé- inspiração no livro A invenção do cotidiano, de todo proposto para alcançar o objetivo de ten- Michel de Certeau, especialmente pela atitude tar entender as lógicas que se entrecruzam no de pesquisa que propõe o envolvimento direto encontro desses três assuntos, e o modo como, do pesquisador, como sujeito ativo, com o fenô- através deles, ressignificamos, a todo momento, meno observado, evitando a posição de observa- a cidade construída. dor distanciado e pretensamente neutro. Certeau Em nosso percurso tivemos a felicidade de propõe analisar o ordinário, em seu movimento nos depararmos com um grupo de estudantes de transformação/ultrapassagem do comum, até de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, com cruzar a fronteira do que chama de sabedoria. os quais pudemos participar da realização de Por isso, sua obra faz um constante vaivém do um projeto de leitura e interpretação dos perso- teórico para o concreto e, depois, do particular nagens e lugares da Avenida Paulista, denomi- para o geral. Essa tática é condizente com a pró- nado Mapa 900, ou M900. Quase todos os episó- pria natureza dinâmica do fenômeno estudado: dios apresentados aqui foram escritos durante as práticas do cotidiano são fujonas, brincalho- ou depois da discussão dos temas com esses es- nas, protestantes... timados alunos. Seguimos esse mesmo vaivém entre os episó- Fazendo uma retrospectiva, constatamos que dios que registramos na Avenida Paulista e as te- dificilmente o método poderia ser outro: observar orias que visitamos, buscando nesta interação a 15 construção de sentido. Assim, tentamos elaborar tropologia urbana e da filosofia. Essa conflu- uma argumentação a partir do reconhecimento ência de disciplinas foi necessária, sobretudo das situações abordadas como premissas gerais quando se considerou a enorme complexidade que constroem o horizonte para a ação, que, den- da área de estudo, buscando construir um olhar tro do campo da arquitetura e urbanismo, consis- que capturasse suas qualidades, texturas, ten- te na prática projetual. A partir de interpretações sões e fragmentações. de episódios cotidianos vivenciados na Avenida Dessa forma, dois trabalhos de Nelson Brissac Paulista e aqui narrados, identificamos algumas – “O olhar do estrangeiro” e “Ver o invisível: a das novas vocações e conflitos dos espaços, e, ética das imagens” – muito colaboraram na ta- em alguns casos, chegamos até a lançar hipóte- refa de examinar o conjunto urbano e arquitetô- ses de caminhos para seu aprimoramento. É exa- nico da via como imagens visuais a se decifrar, tamente esse ponto, nos parece, que torna produ- significantes que criam cadeias de significado tiva a pesquisa desenvolvida. ao se relacionarem uns com os outros; por sua vez, cada um pôde se revelar de uma maneira A CONSTRUÇÃO DO OLHAR particular, expondo teorias, crenças, práticas, A tentativa de encontrar caminhos para compre- memórias, permanências e transformações que ender o significado da avenida, a partir do estu- lhe são próprias. Para Brissac, a cidade se apre- do das práticas urbanas da população, confere senta como um campo a ser habitado tanto em uma característica especial a essa aproximação sua dimensão física, como no horizonte do senti- da cidade, pois, em geral, essas práticas não são do, e foi essa a postura que tentamos adotar em consideradas, quando se realizam estudos urba- nossas leituras da avenida. nísticos. O antropólogo Marc Augé, por outro lado, Buscamos, então, nos apoiar em uma base nos alerta em seu livro Não-lugares sobre os conceitual proveniente de diferentes disciplinas, ambientes da cidade que não possuem senti- especialmente da arquitetura e urbanismo, an- do algum, seja pela sua materialidade propo- 16 sitalmente desumana, seja pela nossa própria exercem sobre seus usuários. incompreensão, vítimas dos excessos de nossa Por outro lado, se, ao longo de nosso trabalho, era, que o autor chama de supermodernidade: ingressamos no mundo das situações cotidianas o excesso de tempo (um tempo “sem-tempo”), vivenciadas pela população, não poderíamos excesso de espaço (a pretensa integração pro- deixar de consultar as tentativas de seu enten- porcionada pelos transportes) e o excesso de in- dimento, desenvolvidas pelo grupo de intelectu- formação (a superabundância factual). ais Situacionistas, encabeçados por Guy Debord. No âmbito das práticas urbanas realizadas Para
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages165 Page
-
File Size-