DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 14• NOV-DEZ 2018 sustentabilidade ambiental e social TL NOV-DEZ 2018 3 4/5 8 10 14 16 20 22 Entrevista: Sofiane Viajando com livros Memórias de Júlio Campeonato Entrevista Teatro da Trindade Contos do Zambujal Saidi e Laura Marques Isidro gastronómico Gaye Su Akyol Inatel 6 9 12 18 23 Entrevista: A Casa na árvore Entrevista: Filipe 15 Coluna do Provedor | 21 Passatempos Joshua Ruah Duarte Santos Viagem: Turquia Notícias Ver | Ouvir ÍNDICE capa Editorial FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel Defender o Planeta e a Diversidade de Culturas, o debate da Sustentabilidade oão Fazenda é um ilustrador cuja actividade se divide entre a ilustração, o desenho, a Agenda 2030, da ONU, vem colocar o debate da susten- animação, a banda desenhada e, tabilidade a um patamar diferente. O futuro depende por vezes, a pintura. da capacidade de garantirmos os recursos planetários a Nascido em Lisboa em 1979, que o Homem possa sobreviver, a sustentabilidade am- licenciou-se pela Faculdade biental, e da capacidade humana em viver em grandes Jde Belas Artes de Lisboa antes de se urbes metropolitanas de milhões de pessoas, migrantes dedicar, a tempo inteiro, à criação de multiplicidades de culturas, e com capacidade de ilustração de imagens para uma variedade de aceitarem as diferenças e as formas de sentir e ver o Mundo. joão fazenda A histórias e diferentes mediuns. A sustentabilidade social e ambiental são assim as principais No seu trabalho tem como principal questões políticas do tempo que vivemos. Como a Social, do sé- objectivo explorar as relações entre o culo XIX para o XX. A emancipação feminina na segunda metade desenho e a narrativa, nas suas muitas do XX, sobretudo nos países mais desenvolvidos. E questão da possibilidades e diferentes caminhos. sustentabilidade nos tempos que vivemos, e no desafio de tornar Com vasta obra na imprensa e vários o mundo mais justo e igual em desenvolvimento. livros publicados, tem como clientes, A Inatel nasceu, nos anos trinta, com a questão social. Cresceu entre muitos outros, o EL País, o Público, e anda com ela, mas sempre se ligou às causas do seu tempo. Pela a Visão, o The New York Times, a The New cultura, pelo desporto e pelo turismo. Yorker, o The Wall Street Journal e o The Aqui está, de novo, no centro deste debate. Guardian. Entrou-se intensamente nos debates sobre os objetivos 2030. O livro Dança, de 2015, editado pela Homenagearam-se personalidades como Mário Ruivo, Ribeiro Pato Lógico, levou-o a juntar mais um Telles ou Cláudio Torres, exemplares neste debate da sustentabi- galardão aos muitos prémios, nacionais e internacionais, que constam do seu lidade social e cultural. Promoveu-se o Ciclo Mundos, um nome currículo: Fazenda foi o vencedor da incontornável nos diálogos interculturais, numa parceria forte 20ª edição do Prémio Nacional de com o FMM de Sines. Andamos pelas ruas do País com o Popular. Ilustração, atribuído anualmente pela Concretizamos o Festival das Culturas Mediterrânicas. O Des- Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e porto Natureza, com ligação aos territórios e às reservas ambien- das Bibliotecas (DGLAB). tais. O turismo, na economia social e com ligação ao ambiente e João Fazenda vive e trabalha entre às culturas regionais, com discriminação social positiva, como o Lisboa e Londres. 55+. Este número do TL é assim dedicado a esta causa do nosso mi- lénio e ao desafio das novas gerações. Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Lucinda Lopes Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected] Impressão Lidergraf Sustainable Printing – Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde Tel. 252 103 300 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 120.163 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt 4 TL NOV-DEZ 2018 Sofiane Saidi A vida até ao último copo de liberdade No palco, a sua voz rouca e os ritmos electrificados faziam abanar ritmicamente a multidão que enchia o Castelo de Sines. A música que canta tem uma história. Vem das ruelas marginais da Argélia e desagua nos bairros populares de Paris. É como um rio que afirma a sua liberdade Aurore Vinot momento era mágico. Chega- A palavra raï, nunca é de mais sublinhar raï parece ter o elixir da juventude. “É franceses e tomou o poder na Argélia), vam os pacotes fechados envia- significa “ter opinião”: “em resumo, raï é porque é uma música de liberdade. Não como é que a sua mãe viu o seu percurso dos pelo tio que vivia nos Esta- antes de tudo, mais que um estilo musi- é qualquer coisa que se consiga encerrar por esses meios marginais? “Ela nunca dos Unidos da América. Dentro cal, uma questão de atitude. Quer dizer: numa caixa. É uma música que exige es- se opôs à minha vida. Não gostava é que estavam os discos de capas co- eu penso, faço o que quero. Há um lado tar sempre livre. Como a água de um rio. eu chegasse a casa às seis da manhã. Ti- loridas. Álbuns de funk, discos anárquico, ‘no future’, ‘fuck la vie’ [como Uma pedra nunca impedirá a água de nha medo do que me podia suceder. Mas de Jimmy Hendrix. Em casa nos punks], aqui”, argumenta Sofiane. fazer o seu caminho”, pontua o músico. compreendia o que eu fazia. A minha Oera a mistura de culturas, ouvia a diva da O percurso musical do cantor argeli- “Tenho aliás a impressão que o raï é ainda mãe adora a música”. música egípcia Umm Kulthum. No meio no começa em Sidi Bel Abbès, cidade do mais importante no século XXI, porque o Cantava por piada. Mas o seu destino de influências tão díspares escolheu can- Oeste argelino. Zona dura em que o raï mundo sofreu uma regressão. Há cada traçou-se num casamento. “Depois dis- tar raï, que literalmente significa “tomar se electriza. E esta educação sentimental vez mais interditos e pressões no mundo so percebi que era isso que queria fazer. a palavra”. “Escolhi, porque é algo que se continua nos bares de Paris, onde Sofiane em geral e no mundo árabe em particu- Cantar. Eu sentia que era feito para isso. encontra justamente entre esses dois tipos Saidi se refugia com apenas 18 anos. Noi- lar”, diz-nos o cantor, enquanto bebemos Descobri isso com o humor, mas sobretu- de culturas, uma inglesa e americana e a tes loucas em cabarés frequentados por algo nos bastidores do Festival Músicas do com a voz”, recorda. outra árabe, representa de alguma forma uma massa de franceses, argelinos e afri- do Mundo, em Sines. Durou pouco tempo. Foi detido nas uma espécie de mistura”, diz Sofiane Sai- canos sob as estrelas da Cidade Luz. Aqui Foi por causa dessa capacidade de ser manifestações de 1988. Fugiu para Paris. di com a sua voz rouca e pontuando as a vida é consumida até ao último golo: livre e subversivo que os islamitas assas- “Era demasiado jovem para ter consciên- frases com o olhar. Na altura, na Argélia, “Como músico ganhava três pascais [nota sinaram Cheb Hasni? “Provável. O mais cia política. A única coisa que eu sabia é os jovens não tinham direito de se apro- de 500 francos] por noite. Em cada sítio significativo é que ele não cantava temas que não havia facilidade para as pessoas priarem da linguagem falada na rua e o raï serviam-me ¼ de uma garrafa de whisky. políticos, apenas falava do amor. Cantava falarem. As pessoas tinham medo de fa- fazia isso. “Era uma época diferente, um Na madrugada já tinha emborcado quase somente o amor. Ele pagou um peso pesa- lar. Havia controlos policiais por todo o pouco socialista e comunista, estávamos um litro. Todos os dias levantava-me às 18 do. Mesmo quando não cantamos política, lado. O que aconteceu é que eu vi os dis- nos Países Não Alinhados. Havia alguma horas e ia para a noite até de manhã”. cantar o amor pode levar-nos à morte. O túrbios. Vi uns rapazes correr e corri com coisa de militar, numa sociedade perma- O raï é uma forma de subversão e que amor pode ser uma grande subversão”. eles. Sabia apenas que se passava qual- nentemente mobilizada”, explica. tem a origem no início do século XX, no O raï, voltamos a sublinhar, é uma quer coisa”. Sofiane Saidi moderniza uma longa meio das ruas dos marginais da socieda- música de underground, nasceu, sobre- Passou uma semana na cadeia. Foi duro? linhagem de cantores dos becos, dos ba- de colonial. Sobreviveu vivo e contesta- viveu e desenvolveu-se no bafond e nos “Foi muito duro. Não havia comida, os res e cabarés que passavam a palavra nas tário até aos dias de hoje. Normalmente, cabarets. Sendo filho de uma resistente guardas quando passavam lançavam-nos margens da sociedade. Por isso lhe cha- as coisas envelhecem. Os jovens revolu- da FLN (Frente de Libertação Nacional, água para cima. Tudo isso traumatizou- mam “o príncipe do raï 2.0”. cionários tornam-se velhos pesados. O movimento que expulsou os colonialistas -me”. A mãe sofreu com mais este episó- TL NOV-DEZ 2018 5 dio. “A minha mãe viveu a prisão, durante a guerra da independência, reviveu esse inferno com a minha prisão”. Uma semana depois o partido único Entrevista Laura Marques caiu.
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