JOÃO MANUEL HIPÓLITO FIRMINO DA COSTA UM CASO DE PATRIMÓNIO LOCAL A TOMADA DE LISBOA PELOS ASCENSORES Dissertação apresentada à Universidade Aberta para obtenção do grau de Mestre em Estudos do Património. Orientador: Professor Doutor PAULO OLIVEIRA RAMOS UNIVERSIDADE ABERTA Lisboa — 2008 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Professor Doutor Paulo Oliveira Ramos, pela disponibilidade, incentivo e apoio, bem como pela amizade que transmitiu ao longo de todas as etapas que culminaram no presente trabalho. Ao Arquivo Municipal do Arco do Cego, pela forma como facilitou a consulta do seu acervo, assim como à equipa de apoio à Sala de Leitura, pelo seu profissionalismo, dedicação e cordialidade. À Companhia Carris de Ferro de Lisboa, pelas facilidades concedidas no acesso a instalações e arquivo, com destaque especial para o Dr. José Lagrange, responsável do Museu. À Arquitecta Helena Delgado, por me ter disponibilizado documentação inacessível à consulta pública. À Drª Maria Isabel Carneiro, do MOPTC; ao Dr. Fernando Moser, do IPPAR; à Dª Paula Martins, da BPMP; ao Sr. Salomão Vieira, da APAC e à Engª Fernanda Pinto, da REFER, pela sua ajuda no acesso a documentos ou instalações. Aos senhores Michel Azéma, Joe Thompson e Jens Merte, pela bibliografia que sugeriram. Aos meus colegas do Mestrado, pelo seu importante estímulo e camaradagem. RESUMO O presente trabalho, realizado no âmbito do Mestrado em Estudos do Património, da Universidade Aberta, incide sobre os ascensores históricos de Lisboa. Tendo como preocupação dominante a valorização, pelo conhecimento, daquele património recentemente classificado, e partindo da constatação que a informação disponível sobre os ascensores lisboetas é insatisfatória, muitas vezes lacunar e por vezes incorrecta, procura-se interpretá-los através da tecnologia utilizada, desde o assentamento até à electrificação. Nesse sentido, interrogando sempre que possível as fontes primárias e analisando-se complementarmente as linhas desaparecidas bem como as apenas idealizadas, de caminho procura-se também avaliar se o papel do Engº Raul Mesnier de Ponsard, cujo nome está indelevelmente associado aos ascensores, corresponde ao que é espelhado pela unanimidade da bibliografia dedicada àqueles equipamentos. Adicionalmente, interroga-se a memória colectiva recorrendo às publicações periódicas, especialmente nos momentos mais significativos, assim como se analisa o processo formal de Classificação dos ascensores sobreviventes como Monumentos Nacionais. PALAVRAS-CHAVE: — Património — Memória Colectiva — Ascensores — Funicular — Tramway- cabo — Raul Mesnier de Ponsard — Século XIX — Lisboa. ABSTRACT The present work, developed during the Masters Degree in “Estudos do Património” at the "Universidade Aberta" is based on the historical “ascensores” —funiculars and cable tramways— in the city of Lisbon. Having as main concern the valorisation through knowledge of that recently listed Heritage, and assuming that the information usually available on those equipments is unsatisfactory, often incomplete and sometimes incorrect, one seeks its interpretation through the used technology, from its construction until its electrification. For that purpose, one always questions whenever possible the primary sources and complementarily analyzes the dismantled tramlines as well as those merely idealized, along this path also seeking to verify if the role of Eng. Raul Mesnier de Ponsard, whose name is unquestionably connected to the Lisbon “ascensores”, corresponds to what is accepted by the unanimity of the bibliography dedicated to those equipments. Additionally the Social Memory is questioned by running through the periodic news publications, specially in the most significant moments, as is analysed the formal process of listing the surviving “ascensores” as National Monuments. KEYWORDS: — Heritage — Social Memory — Ascensores — Funicular — Cable Tramway — Raul Mesnier de Ponsard — 19th Century — Lisbon. ABREVIATURAS UTILIZADAS AAC ARQUIVO MUNICIPAL DO ARCO DO CEGO AFL ARQUIVO FOTOGRÁFICO MUNICIPAL AIM ARQUIVO INTERMÉDIO MUNICIPAL - CAMPOLIDE CARRIS COMPANHIA CARRIS DE FERRO DE LISBOA CCFL COMPANHIA CARRIS DE FERRO DE LISBOA CML CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA CAML COMPANHIA DOS ASCENSORES MECHANICOS DE LISBOA CVF COMPANHIA DE VIAÇÃO FUNICULAR CVUV COMPANHIA DE VIAÇÃO URBANA A VAPOR GEO GABINETE DE ESTUDOS OLISIPONENSES IPPAR INSTITUTO PORTUGUÊS DO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO NCAML NOVA COMPANHIA DOS ASCENSORES MECHANICOS DE LISBOA PS PROCESSOS DE SECRETARIA ÍNDICE Página INTRODUÇÃO 1 I PARTE CAPÍTULO 1 – ÂMBITO, ENQUADRAMENTO E PROBLEMÁTICA 2 1.1 – Contexto patrimonial 2 1.2 – Enquadramento genérico 3 1.2.1 – Entre o rio e as colinas 3 1.2.2 – As circunvalações e a demografia 4 1.2.3 – Os melhoramentos da capital 6 1.2.4 – A Avenida da Liberdade e as Avenidas Novas 7 1.2.5 – A Planta da cidade 8 1.2.6 – Os transportes públicos urbanos 9 1.2.7 – Ascensores e Elevadores 10 1.3 – Apresentação de questões 13 1.3.1 – Primeira questão: aspectos tecnológicos dos ascensores de Lisboa 13 1.3.2 – Segunda questão: os ascensores idealizados 15 1.3.3 – Terceira questão: os ascensores na memória colectiva 15 II PARTE CAPÍTULO 2 – ASCENSORES HISTÓRICOS DE LISBOA: INTERPRETAÇÃO PELA TECNOLOGIA 16 2.1. – Nota etimológica 16 2.2 – Os sistemas funicular e tramway-cabo 17 2.3 – Ascensores lisboetas: a primeira série 18 2.3.1 – Antecedentes ( I ) 18 2.3.1.1 – O pioneirismo de Marsh e de Riggenbach 18 2.3.1.2 – O caso do Ascensor do Bom Jesus do Monte, em Braga 20 2.3.1.3 – Os contratos prévios 21 2.3.2 – O Ascensor do Lavra 27 2.3.2.1 – O traçado da linha e atrasos na construção 27 2.3.2.2 – A cremalheira, o cabo e o carro 30 2.3.2.3 – Em busca de vestígios da época do vapor 33 2.3.3 – O Ascensor da Glória 45 2.3.3.1 – A Nova Companhia e os atrasos na construção. 45 2.3.3.2 – A cremalheira, o cabo e o carro. 47 2.3.3.3 – O “álbum Vieira da Silva” 51 2.3.3.4 – O túnel do Rossio 53 2.3.3.5 - Em busca de vestígios da época do vapor 56 2.3.4 – O sistema Riggenbach-Mesnier 70 2.4 - Ascensores lisboetas: a segunda série 72 2.4.1 – Antecedentes ( II ) 72 2.4.1.1 – O pioneirismo de Hallidie e de Eppelsheimer 72 2.4.1.2 – A “metamorfose tecnológica” 76 2.4.1.3 – Novos actores em cena 77 2.4.1.4 – Renegociação de contratos 79 2.4.2 – O Ascensor da Estrela 83 2.4.2.1 – O traçado 84 2.4.2.2 – A linha, a tracção e os carros 85 2.4.2.3 – A garra 88 2.4.2.4 – Os terminais da linha 89 2.4.2.5 – A casa das machinas e o barracão-cocheira 93 2.4.3 – O Ascensor da Bica 98 2.4.3.1 – O traçado da linha e as concessões 98 2.4.3.2 – O tipo de linha e o sistema de tracção 99 2.4.3.2.1 – A alegada cremalheira 100 2.4.3.2.2 – Funicular ou tramway-cabo? 102 2.4.3.2.3 – Contrapeso ou vapor? 103 2.4.3.3 – Os trilhos e o carro 106 2.4.3.4 – A electrificação 108 2.4.4 – O Ascensor da Graça 112 2.4.4.1 – A questão da data do encerramento 112 2.4.4.2 – O traçado da linha 114 2.4.4.3 - Principais aspectos do funcionamento e os tipos de carro 115 2.4.4.4 – A casa das machinas e o barracão 120 2.4.5 – O Ascensor de São Sebastião 123 2.4.5.1 – O traçado da linha e as transferências da concessão 124 2.4.5.2 – A linha, os carros e a casa das machinas 128 2.4.5.3 – O fim da linha 138 2.5– Interpretação sobre o papel de Raul Mesnier 142 2.5.1 - Sistemas de funcionamento e interesses relacionados 144 2.5.2 - Projectos técnicos, gerais e/ou detalhados 145 2.5.3 - Direcção do assentamento e funções técnicas de assistência à exploração 146 2.5.4 – Para lá das questões técnicas 147 CAPÍTULO 3 – ASCENSORES IDEALIZADOS 148 3.1 – Os Prejudicados de 1884 149 3.2 – De 1885 aos finais de 1887 152 3.3 – De 1888 a 1891 153 3.4 – Os Prejudicados de 1891 155 3.5 – Em suma 159 CAPÍTULO 4 – OS ASCENSORES NA MEMÓRIA COLECTIVA 162 4.1 – Os ascensores na imprensa periódica 162 4.1.1 – Reacção à novidade 162 4.1.2 – Até ao fim da fase do vapor 166 4.1.3 – Da electrificação à classificação 173 4.1.3.1 – Os anos de 1926-27 (e 1934) 173 4.1.3.2 – As décadas seguintes 177 4.2 – O processo de classificação 180 4.2.1 – Documentação de 1987 180 4.2.2 – Documentação de 1995 180 4.2.3 – Documentação de 1996 182 4.2.4 – Documentação de 1997 182 4.2.5 – Documentação de 1998 e anos seguintes 184 CONCLUSÃO 186 Cronologia 187 Bibliografia 191 Anexos 197 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho incide sobre os ascensores históricos lisboetas, em especial aqueles exemplares que — dos vários que foram construídos em Lisboa nos finais do séc. XIX — chegaram até aos nossos dias e aos quais em 2002 foi reconhecido valor patrimonial, tendo sido então classificados como Monumentos Nacionais. Além do seu valor histórico, seja ele no âmbito do urbanismo, dos transportes ou da arqueologia industrial, os ascensores têm uma inquestionável carga identitária, designadamente a nível local. Para analisar essa dupla valência, sentimos a necessidade de alargar o objecto de estudo, considerando não só os ascensores ainda existentes mas também os equipamentos entretanto desmantelados1 porque, a nosso ver, os primeiros não se interpretam adequadamente sem ter em conta os segundos que, com aqueles, formavam um conjunto coerente. Adicional e acessoriamente, apesar da sua imaterialidade, afigurou-se-nos necessário considerar também os ascensores que não passaram da fase de projecto ou de intenção, procurando, através deles, esclarecer os motivos das opções tomadas pelos agentes de então, deste modo acrescentando significado aos equipamentos efectivamente construídos e, por conseguinte, ao subconjunto sobrevivente.
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