CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES E SUA COLEGIADA

850.° ANIVERSÁRIO DA BATALHA DE S. MAMEDE (1128-1978)

VOLUME II

COMUNICAÇÕES

GUIMARÃES . 1981 PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442

por JOSÉ MARQUES

1. A história da Colegiada da Senhora da Oliveira, tão intimamente ligada à da vila e cidade de Guimarães, apesar dos estudos que lhe foram já dedicados \ em muitos aspectos continua ainda desconhecida por com­ pleto. A afirmação, de modo geral válida para a totalidade dos seus oito séculos de existência, é sobremaneira evidente para o período medieval, no tocante aos aspectos económicos, sector em que a ausência de estudos sobre esta instituição é absoluta. Nem é de estranhar que tal aconteça, dados o atraso com que se iniciaram entre nós os estudos de história econó­ mica e a dispersão do antigo cartório da Colegiada pelos arquivos Municipal de Guimarães, da Universidade de Coimbra 2 e Nacional da Torre do Tombo,

1 ALMEIDA, Eduardo de — Os Cónegos da Oliveira, in «Revista de Guimarães», Guimarães, 35, 1925, pp. 104-125, 206-226, 282-308; 38, 66-80...; FARIA, João Lopes de — Santa Maria de Guimarães. A jurisdição da sua igreja. Visitas, in «Revista de Guima­ rães», 31, 1921, pp. 206-215, 317-323...; 36, 1926, pp. 8-13; Idem — Arquivo da Colegiada de Guimarães, in «Revista de Guimarães», 31, 1921, pp. 13-19...; 37, 1927, pp. 11-15...; GUIMARÃES, João Gomes de Oliveira — Os D. Priores da Collegiada de Guimarães, in «Revista de Guimarães», 13, 1896, pp. 49-59; BRÁSIO, António — O Dr. João das Regras, Prior da Colegiada de Santa Maria da Oliveira de Guimarães, in «Anais» da Academia Portuguesa da História, II Série, Lisboa, 23 (1) 1975, pp. 157-170; OLIVEIRA, Manuel Alves de Oliveira — História da Real Colegiada de Guimarães, in «Boletim de Trabalhos Históricos», 28, 1975, pp. 109-232. 2 COSTA, P.e Avelino de Jesus da — Documentos da Colegiada de Guimarães, separata da «Rev. Port. da História», tomo III, Coimbra, 1947. 214 JOSÉ MARQUES onde se encontra catalogada apenas a documentação referente ao período medievo, mais exactamente até ao fim do século XV. Neste contexto, o presente estudo constitui a primeira abordagem da sua história económica do período medieval, tornando-se, por isso, necessário alargar-lhe o âmbito neste e nos períodos seguintes, até ser possível a desejada síntese final. Não se ignora que um estudo desta natureza, confinado a um só ano —1442 — apresenta graves restrições, sendo a principal a impossibilidade de apontar o sentido da evolução económica da instituição. Bem mais desejável e importante seria, sem dúvida, apreciar, durante um período suficientemente longo para ser significativo, o ritmo das características oscilações inerentes aos movimentos de expansão e contracção económica, decorrentes de múltiplos faetores. Tal verificação, porém, só é possível através de séries contínuas, que para a Idade Média raramente se conse­ guem. No caso da Colegiada de Guimarães, embora se esteja longe desse objectivo, a escassez documental não é tão dramática como noutras insti­ tuições similares da região. Com efeito, para o século XV, dispomos de um conjunto de treze livros, guardados no Arquivo Municipal de Guimarães, que fazem a cobertura, embora irregular, dos anos compreendidos entre 1440 e 1482, sendo dois anteriores a 1450 e os restantes da segunda parte do século 3. Sem constituírem uma série completa — e nem sequer regular — quando devidamente estudados permitirão conhecer com relativa segurança o sentido da evolução económica da Colegiada na última década do priorado de D. Rui da Cunha — a quem se deve a primeira tentativa conhecida de organização da contabilidade desta instituição — e durante o de D. Afonso Gomes de Lemos (1449-1487). Sobre ela trabalhamos presentemente, espe­ rando poder apresentar, em breve, resultados capazes de confirmar ou mesmo corrigir o que a tal propósito noutro lugar escrevemos com base em documentação de tipo diferente 4. Apesar das referidas limitações, o presente estudo revelará à maneira de instantânea visão de conjunto, a diversa natureza e dispersão geográfica do património da Colegiada bem como a especificidade e o montante das suas rendas e proporcionará importantes informações e até conclusões de

3 Segundo as datas que os códices ostentam, fazem a cobertura dos anos 1440, 1442, 1450-51, 1453, 1454-56, 1462-63, 1469-70, 1479-80, 1481-82. As correcções que fazemos em relação às datas dos dois primeiros aconselham a rever as dos outros. 4 Ver o nosso trabalho intitulado A Colegiada de Guimarães no priorado de D. Afonso Gomes de Lemos (1449-1487), publicado a pp. 237-304 deste volume. PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 215

ordem económica e social. Permitirá, ainda, compreender como era possível conservar ao serviço da Colegiada tão elevado número de pessoas, num período de profunda e generalizada crise económica, que ela bem sentia, a ponto de ter solicitado e obtido do papa Eugênio IV a redução drástica dos efectivos capitulares de trinta e sete para trinta 5. Se a este número acrescentarmos os vinte e dois coreiros6, os nove oficiais permanentes7 e os moços do coro, que deviam ser algumas dezenas, fácil se torna prever os pesados encargos a que era necessário obviar. É certo que muitos clérigos adstrictos à Colegiada tinham também outros benefícios e os casos de acumulação não eram raros8. No entanto, esta igreja, para não ver diminuído o esplendor do seu culto, deveria poder oferecer-lhes prebendas e rações condignas, evitando assim as deserções em busca de melhores condições de subsistência. As rendas provenientes dos bens da Colegiada eram reforçadas pelo pé-do-altar, dízimos, lutuosas e eventuais ofertas dos fiéis habituais e romeiros, mas os capitulares e coreiros não deveriam estar dependentes desse casual incerto e tornava-se necessário organizar a vida económica da Colegiada de forma a poderem subsistir independentemente de entradas ocasionais. O livro que vamos estudar é a melhor prova da louvável e previdente iniciativa tomada nesse sentido.

2. Antes de prosseguir, importa recordar que a constituição deste patri­ mónio está ligada à expansão do culto de Nossa Senhora da Oliveira, forte­ mente incrementado após a batalha de Aljubarrota (1385), como se conclui do estudo dos livros dos testamentos9. Na base deste impulso está a reper­ cussão dessa vitória, frequentemente atribuída por D. João I à intervenção da Virgem Maria. Fernão Lopes descreveu em pormenor a romagem de agradecimento que o fundador da dinastia de Aviz fez a Santa Maria da

5 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (A.N.T.T.), Colegiada de Guimarães. Documen­ tos eclesiásticos e pontifícios, maço 4, nn. 19 e 20. 6 A.N.T.T., Colegiada de Guimarães. Does. ecles. e pontif., m. 5, n. 14. 7 A.N.T.T., Leitura Nova. Além Douro, livro 4, fl. 158. 8 Sobre este assunto são elucidativas as numerosas informações fornecidas pelo Livro das confirmações e comissões de D. Fernando da Guerra, guardado no Arquivo Distrital de (A.D.B.). 9 TEIXEIRA, Rosa Maria Saavedra — Testamentos e doações feitos à Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira (séc. XIV-XV), relatório do Seminário dirigido pelo Prof. Doutor Luís António de Oliveira Ramos, Faculdade de Letras do Porto, 1977. Dactilografado. 216 JOSÉ MARQUES

Oliveira 10, e são bem conhecidas as preciosas ofertas ali deixadas pelo monarca e alguns dos seus mais directos colaboradores u. Pouco depois, .quando em 16 de Maio de 1386, estando no arraial da Vilariça, el-rei elevou Santa Maria de Azinhoso à categoria de vila, subtraindo-a à jurisdição de Penarroias e de Mogadouro, motivou assim a concessão de tal priviléigo: «... consirando as muytas graças e merçees que de sempre recebemos de nosso Senhor Deus Padre e da Virgem Sancta Maria sua Madre Raynha dos anjos especialmente depois que a elles prouve d’avermos ho rregimento destes Reynos e nos darem outrosy vitorea sobre nossos imiigos, protestamos em carrego grande de lhe dar muytas graças e louvores quanto mais podia- mos. E porque adicta Virgem Maria nos aja sempre em sua goarda e encomenda e rreja sob seu defendimento e rogue ao seu filho beento por nos ...»12. Não foi, pois, por acaso que nas duas últimas décadas do século XIV as doações e disposições testamentárias a favor desta igreja aumentaram significativamente em relação às anteriores. No século XV continuaram em ritmo crescente até 1460, verificando-se a seguir uma quebra impressionante, para a qual noutro lugar apontamos explicação13. Além das doações, as compras e os escambos figuram também na dinâ­ mica do processo de constituição do património existente em 1442, que nos propomos estudar. Convém ainda sublinhar que a dispersão do património fundiário da Colegiada permite definir, em certo modo, a área de maior implantação da devoção à Senhora da Oliveira, podendo desde já adiantar-se que ela cobre os concelhos de Guimarães, , , ,

10 LOPES .Fernão — Crónica de D. João I, II parte, Porto, Livraria Civilização, 1949 (cap. 61), pp. 161-162: «Estando el Rei asi em Samtarem ... hordenou de partir daquela vila por comprir sua romaria que prometera amte que emtrasse a batalha, a quoal hera que vencêdoa como em Deus tinha esperança, que fose de pee a Samta Maria dOliveira, que he na vila de Guimarais, espaço de corenta léguas ... onde o receberão cõ grão precisão cleriguos e frades e toda outra gemte. E feita sua oração e oferta, deu muitas esmolas e tornou se ao Porto». n TEIXEIRA, Maria Emília Amaral — Nota histórica sobre o loudel de D. João 1, in O loudel de D. João I, Lisboa, M.E.N., 1973, pp. 11-22. Cf. ainda o inventário de 1 de Abril de 1476, de que existem cópias nos A.N.T.T., Colegiada de Guimarães, Documentos particulares, cx. 9, m. 60, n. 31 e Arquivo Municipal de Guimarães (A.M.G.), A. 5-4-123, publicado no nosso trabalho referido na nota 4. 12 A.N.T.T., Leitura Nova. Além Douro, liv. 3, fls. J64v-166. 13 Cf. o trabalho citado na nota 4. PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 217

Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, , Braga, Famalicão, Maia, Vila Nova de Gaia, Terra de Penafiel de Sousa e Amarante, num círculo*' envolvente da antiga vila e termo de Guimarães, como consta do mapa que ilustra este trabalho.

3. A base para este estudo é fornecida por um dos Livros da fazenda, erradamente atribuído ao ano de 1440 e considerado o primeiro. Trata-se de um códice cartáceo de 111 fólios de 290 x 210 mm, a que foram cortados alguns, talvez em branco, como se pode verificar em certos casos. Após minucioso estudo, concluímos que de preferência a Livros da fazenda, como estão rotulados, este e os demais do mesmo núcleo devem ser designados Livros do prebendeiro. É que, além do rol das propriedades e da renda devida por cada uma delas, registam os quantitativos das várias prestações anuais — em princípio pagas pelo Natal, Páscoa e S. João ou S. Miguel de Setembro — mencionam despesas de interesse feitas ao longo do ano e conservam contas correntes do prebendeiro com os dignidades, cónegos e capelães, de harmonia com as funções inerentes a este cargo da administração da Colegiada 14./ A análise interna revelou-nos que o livro em causa não é de 1440, mas de 1442. Com efeito, quando da sua elaboração, ao mencionar as casas da Colegiada na rua Escura, o amanuense limitou-se a copiar do volume anterior: «Item os paços do conde na Judaria VI libras» 1S. Pósteriormente, a palavra conde foi cortada e substituída por duque, que, em letra da mesma mão, mas tinta diferente, lhe foi sobreposta. Este pormenor, sem constituir prova apodí- tica, logo nos fez supor que o códice se referia ao ano da elevação do conde de Barcelos, D. Afonso, a duque de Bragança —1442 — ou a algum dos anos imediatos, pois em relação a 1440 tal substituição carecia de sentido. Pouco depois, tivemos a confirmação da hipótese quando relacionámos o citado pormenor com a seguinte passagem do elenco das casas da Colegiada na rua de S. Tiago: «Item as casas em que morou Vasco da Fonsequa emprazadas a Afonso Boom por m maravidis na era do Senhor de IfflcXXVTI annos.

14 Por um doc. do A.N.T.T., Col. de Guimarães. Does. ecles. e pontif., m. 4, n. 34, sabemos que a Colegiada de Guimarães se regia pelos «statutos, rregras e ordenanças» do cabido da Sé de Braga. As funções do prebendeiro estão definidas no contrato que o cabido bracarense fez, em 20 de Junho de 1466, com Mendo Afonso, escudeiro e criado do arcebispo D. Fernando da Guerra, para ser prebendeiro durante dez anos (A.D.B., Prazos do Cabido de Braga, tomo III, fl. 11). 15 A.M.G., Livros da fazenda, n. 1, fl. 22. 218 JOSÉ MARQUES

Derom lhe XV annos. Som acabados em Sam Miguel de mil IIITXII annos» 16. À primeira vista, a última frase parece absurda, mas tudo se esclarece entrando em linha de conta com o lapsus calami que deixou o X aspado incompleto, ou melhor, reduzido a um simples X. Nestas condições, o número final não se deverá ler 1412, mas 1442, que é precisamente o ano da concessão do título de duque a D. Afonso, conde de Barcelos, e corresponde ao termo dos quinze anos de renda, em 1427, perdoados a Afonso Bom. Como esse termo ocorreu em S. Miguel de Setembro, ficamos a saber que o livro em causa se refere ao ano económico decorrido entre o S. João de 1442 e o de 1443. A corroborar a nossa dedução lá está o livro n.° 2 deste importante núcleo — também ele mal datado, como de 1442, quando, afinal, é o n.° 1 — em que a palavra conde não foi corrigida, porque sendo, como é, anterior — talvez de 1441 ou mesmo 1440 — não havia lugar para a citada correcção.

4. Os dados que vamos apresentar condensam a riqueza do conteúdo deste precioso manuscrito quatrocentista e dão uma imagem quantificada do património e das rendas da Colegiada, em 1442. Dada a sua extraordinária importância para a história regional — impor­ tância que a frieza dos números não revela suficientemente — lamentamos- não ser possível publicá-lo aqui na íntegra, apesar de estar, há muito, trans­ crito e anotado. É que neste, como nos outros livros do referido núcleo, encontram-se informações para a história social, do urbanismo e da topo­ nímia vimaranenses, que mais nenhuma fonte contém de forma tão abun- te. Além disso, só através da leitura do manuscrito e cartografia de muitos dos seus dados à escala da micro-história local se poderá conhecer com rigor a dispersão do património rural da Colegiada e para isso será imprescindível ter presente o manuscrito. Apresentaremos, por isso, em síntese, apenas o resultado do estudo efectuado, esclarecendo que sem pretendermos conduzi-lo às últimas conse­ quências — desaconselháveis neste momento — proporcionará uma visão de conjunto do património e das rendas desta pluricentenária instituição, dei­ xando, desde já, antever o extraordinário interesse de um estudo de con­ junto, em que sejam utilizados todos os elementos contidos nesses treze volumosos códices. Ao longo da exposição combinaremos, na medida do possível, os pro­ cessos de análise e de síntese, de modo a facilitar a compreensão do assunto

ie Ibid.. n. 1. fl. 12. PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 219 que nos propomos tratar. Com o objectivo de deixar entrever a tentativa de organização da contabilidade da Colegiada no priorado de D. Rui da * Cunha, respeitaremos, em geral, os grandes títulos deste códice, certos de que isso facilitará as análises necessárias ao nosso estudo. Ocupar-nos-emos, assim dos seguintes pontos: a) Igrejas anexas à Colegiada b) Bens sitos nos limites da vila de Guimarães c) Almuinhas d) Moinhos e) Bens dispersos por 125 f) Bens do couto de Moreira de Cónegos e S. Paio de Vila Cova.

A história económica perde sentido quando divorciada da história social, da história dos grupos humanos, que são o elemento dinâmico da economia e da própria História. Por isso, neste breve trabalho, apesar de condicionados pelos limites de tempo e espaço, não podermos entrar em pormenores de carácter social relativos às numerosas paróquias mencionadas no documento em estudo, não deixaremos de consagrar um breve apontamento de história social à vila de Guimarães, que é também o único centro urbano represen­ tado neste códice e o centro onde se encontra o polo aglutinador do patri­ mónio disperso da Colegiada.

• a) Igrejas anexas à Colegiada

No período medieval e na época moderna era prática corrente anexar igrejas, isto é, paróquias a determinadas instituições para com os rendimentos das primeiras ampliar as disponibilidades económicas das segundas. Conhece-se bem o que neste domínio se passava na arquidiocese de Braga no século XV, em particular durante o governo pastoral de D. Fernando da Guerra (1417-1467) 17, período em que se insere o presente estudo. A partir da fonte que vimos utilizando, verifica-se que, em 1442, além das dezassete igrejas constante do respectivo quadro, estavam ainda anexadas à Colegiada de Guimarães as igrejas de S. Paio de Vila Cova e a de Moreira de Cónegos e seu couto, que, por motivos específicos, serão tratadas à parte18.

17 A.D.B., Livro das confirmações e comissões de D. Fernando da Guerra. 18 O, tratamento especial dos bens possuídos pela Colegiada nestas duas freguesias decorre do facto de as rendas serem pagas quase exclusivamente em espécie, como abaixo se verá. 220 JOSÉ MARQUES

Sobre a Colegiada impendia a responsabilidade pastoral destas paró­ quias, devendo, por isso, apresentar oportunamente ao prelado diocesano os curas designados para cada uma delas, a fim de serem confirmados nessas funções. As rendas pertenciam à Colegiada na sua totalidade, mas compe­ tia-lhe prover à honesta sustentação dos curas, suportar as despesas cor­ rentes e responder pelos encargos que oneravam cada uma das igrejas. O processo de administração directa dessas igrejas, em particular no tocante à recolha dos diversos direitos, além de não ser fácil, era dispen­ dioso, pouco eficaz e dispersivo da vida interna da Colegiada. Por isso se recorria, sistematicamente, ao arrendamento das rendas. A interposição de rendeiros entre as igrejas e a Colegiada implicava uma redução dos quan­ titativos a receber, mas oferecia a vantagem de se poder contar com verbas

U1 * o 0} IGREJAS a R eais Arrendatários t-.o o o • L ib ras O V elhos N ovos M arcos

1 S. João de Barqueiros .... i 2 S. Miguel do Inferno .... 20 3 Gandarela ...... 3 4 S. Paio de Vila Cova .... 1 5 S. Martinho do Conde .... 14 6 Santa Ovaia de Nespereira . . 3 7 S. Tiago de Candoso .... 80 Lopo Afonso 8 S. Vicente de Mascotelos . . . 6 Luís Afonso, cónego 9 Santa Maria de Silvares . . . 3 «Contad. da prata» 10 S. Tomé de Caldeias .... l 11 S. Tiago de Sobradelo .... 2.5 12 S. Mamede de Aldão .... 20 • 13 S. Pedro de Azorém .... 8,5 14 S. Miguel do Castelo .... 4 Gonçalo Martins, 15 Santo Estêvão de Urgeses . . 2 escudeiro • 16 S. João de Ponte...... 117,5 17 5.500 17 S. Paio de Guimarães .... Ofertas do padroado e o pé- 7.200 Diogo Rodrigues, -d o -a lta r ...... conego Primícias arrendadas a Gil P ir e s ...... 7 Gil Pires TOTAIS 33,5 251,5 8,5 17 12.700

* Tanto neste como nos quadros seguintes, trata-se de marcos de prata. PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 221 fixas e programar despesas. No entanto, este sistema enfermava de um grande defeito que a técnica económica quatrocentista não conseguiu corrigir: a impossibilidade de actualização das rendas, que a Colegiada recebia predo­ minantemente em numerário, num período de desvalorizações monetárias constantes. (Ver página anterior).

Por este quadro, a que devemos acrescentar S. Paio de Vila Cova e Moreira de Cónegos ficamos a conhecer as dezanove igrejas anexas à Colegiada, em 1442, quanto recebia de cada uma delas e ainda alguns rendeiros, dado que o Livro do prebendeiro omite os nomes de mais de dois terços. A avaliar pelos seis conhecidos, dos quais dois eram cónegos de Santa Maria da Oliveira, um escudeiro e outro «contador da prata», os demais deviam ser pessoas de certa posição social e de consideráveis recursos económicos, para garantir o pagamento nos prazos estatuídos. Com os seus nomes escapam-nos também os estamentos sociais em que estavam situados. Apesar de todas estas limitações, vale a pena ler com atenção os dados obtidos. Analisando o presente quadro à luz das leis monetárias estabelecidas por D. Duarte, pouco antes, em 1435, verifica-se que na sua quase totalidade a anexação destas igrejas é anterior a essa data e que as igrejas tabeladas mais altas eram as de S. João de Ponte, S.Paio de Guimarães, S. Tiago de Candoso, S. Vicente de Mascotelos, S. Pedro de Azorém e S. Miguel do Castelo.

b) Bens sitos nos limites da vila de Guimarães

Um dos mais importantes núcleos do património da Colegiada era cons­ tituído pelos bens que ela possuía na vila de Guimarães. A diversidade dos títulos de posse que o Livro do prebendeiro, de 1442, nos revela ajuda a recortar a imagem desta vila, que aparece ainda salpicada de espaços verdes, constituídos por campos, vinhas, almuinhas e herdades e por rossios, que podiam ou não ser cultivados. Com os dados fornecidos pelo códice em estudo, elaborámos o seguinte quadro-síntese dos títulos patrimoniais da Colegiada nesta vila e das rendas a ela por eles devidas: Rendas

« 0 ) & "3! cortume 0) Casas Campos Latas Lugares Eixidos Marcos Pardieiros Pedras do Libras Dinheiros Galinhas A lm uinhas » P 5 O

1 Santa M aria ...... 31 i : 1 « 5 2 40 138 76,5 20 20 2 Sabugal ...... 2 2 4‘ 8 30 3 E n f e s t a ...... 3 2 • i 6 7 4 4 Do C a ste lo ...... 3 i 4 99 5 Do G a d o ...... 3 1 4 ! 2 80 6 Vale de Donas .... 6 6 ; 7 3 ! 4 1 7 S. T iago...... 7 7 j 12 20 3 i 8 F o rja ...... 3 3 ! 3 120 • 9 Sapateira...... 21 1 22 i 62 | 9,75 70 ! 8 10 Arrochela ...... 4 4 6 65 í 2 11 Alcobaça ...... 1 4 4 , í 14,5 ! 2 12 Nova do Muro .... i ; ! 15 ! 16 36 34 77 ' 5 13 Ferrarias ...... i I 8 i 8 22 10 100 1 14 Felgueiras e S. Paio . . 3 3 i 5,5 15 M e r c a d o r e s...... 8 8 31 16 i j1 16 P o s tig o ...... 3 3 | 28® 1 17 Trespão ...... 5 . 5 13 8 18 N o n a is ...... 5 1 6 !: ii,5 1 !| 19 Escura ...... 8 13,5 9 80 í 8 i 20 Açougues ...... 2 • 2 í 2 20 200 21 Judiaria...... 5 5 ; 18,5 237 < 22 Mostaceiras...... 8 8 j;i 73 12 6 23 Praça ...... 1 2 íi 23 24 C o i r o s ...... 3 1 4 5b • 25 C aldeiroa...... 10 1 11 3,5 15 20,5 37,5 2 26 De G a to s...... 4 1 1 6 6,5 0,5 50 27 Dos Pelames...... i 3 4 20

TOTAIS 175 3 1 13 2 i 1 i 202 ! 532,5 240,75 1.288,5 45,5 42 1

a Maia 4 coroas. b Mais uma onça de prata. PLANTA DA VILA DE GUIMARÃES (Reconstituição) 224 JOSÉ MARQUES

A clareza do quadro dispensa grandes comentários, bastando observar que os 202 títulos se distribuem por 27 ruas, situando-se 40 (19,8%) na de Santa Maria, 22 (10,9%) na Sapateira e 16 (7,92%) na Nova do Muro, estando os restantes dispersos pelas outras vinte e quatro. No conjunto sobressai o número de 175 casas, equivalente a 86,63% dos 202 títulos. As ruas em que havia maior concentração de casas da Colegiada eram precisamente as três acima referidas: 31 (17,71%) na de Santa Maria, 21 (12%) na Sapateira e 15 (8,57%) na Nova do Muro, sendo nas restantes as percentagens inferiores a 5,71%. A documentação utilizada, pela sua finalidade específica nada revela dos tipos de casa, número de sobrados ou pisos, divisões internas, materiais de construção etc., mas, dada a abundância de granito e árvores de grande porte na região, é muito provável que, na generalidade, fossem construídas em pedras e carpintaria.

c) Almuinhas

Na vila de Guimarães e arredores, possuía a Colegiada cinquenta e cinco almuinhas ou terrenos vedados, próprios para cultivo de hortaliças, pomares, vinhas, frutos diversos e até ervas 19, que, à semelhança de outros bens, andavam também aforados.

19 SANTA ROSA DE VITERBO, Frei Joaquim de — Elucidário das palavras e frases que em antigamente se usavam e que hoje regularmente se ignoram, ed. crítica por Mário Fiúza, vol. II, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 1965, p. 423 (s. v. álmuinha). PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 225

Seguindo o critério usado pela fonte em que nos apoiamos, apresentá- -las-emos agrupadas de acordo com um critério toponímico, dispondo em paralelo com elas as rendas correspondentes:

Rendas Número Numerário Localidades de Cera Galinhas títulos (libras) Marcos Coroas Reais

M açoulas...... 5 43,5 i — 2 — Trigais, Chousas do Prior, Carrapatosa, Campo da Feira

e Vila Pouca ...... 11 118 2 — 12 —

R a m a d a ...... 15 104 2 — 15 0,5

Carrapatosa e R. Caldeiroa20 13 82 — 57 12 —

Rua de Gatos...... 3 17 — — 4 —

M olian as...... 4 52 — — 6 —

A par das Gafas...... 4 13 — 36 — —

TOTAIS 55 429,5 5 93 51 0,5

d) Moinhos

Os moinhos, com o forno e o lagar, constituíam na Idade Média, notáveis fontes de receita para os seus possuidores. Não é, pois, de estranhar que na contabilidade da Colegiada de Guimarães lhes fosse dedicado um capítulo especial, que, no entanto, não é suficientemente minucioso, como desejaría­ mos. Assim, em relação a quatro não aponta a sua localização e noutros casos fala-se tão só em moinhos, sem menção do número e da renda indi­ vidual. Mesmo assim, é possível saber que eram mais de vinte e conhecer a sua dispersão geográfica e tabelamento total. Confrontando este considerável número de moinhos com as rendas globais por eles pagas à Colegiada, é impressionante o seu baixíssimo rendimento, para o que só encontramos explicação nas precedentes crises de falta de

20 Há mais de duas almuinhas, sitas nas ruas Caldeiroa e de Gatos, incluídas no quadro dos bens da Colegiada na vila de Guimarães, que não foi possível separar por se desconhecer em quanto estavam individualmente tabeladas.

15 226 JOSÉ MARQUES

pão, que teriam motivado tão baixo tabelamento, e na possível existência de outros, provocando a dispersão dos seus utentes.

1 i 1 1 Número Rendas Localidades de títulos Marcos Coroas Reais i

Rua de Gatos . : ...... ?• 21 50

Ribadas2 2 ...... ?« 21 — — 30

N e g a ...... 3 quinhões 3,5 —

Ponte de A ve ...... 5 — — 45

Verdengo ...... 3 1 —

C erd eira ...... 1 — — 40,5 ? 21 Caneiros (S.u Veda de Ferm.) • 12 2 1| A tão...... ?• 21 9 — \ Mosteiro da Costa23 . . . . — — —

Couto de Moreira de Cónegos 23 — — — —

S. Cosme de Lobeira23 . . . — — — — (O m issa)...... 4 1 31,5

TOTAIS (Mais de 20) 26,5 2 197,0

e) Bens possuídos em 125 freguesias

Para além de quanto fica exposto sobre o património da Colegiada de Guimarães, uma rápida observação do quadro abaixo obriga-nos a concluir que a maior parte dos bens desta importante instituição eclesiástica era cons­ tituída por propriedades rústicas, dispersas pelas dioceses de Braga e Porto. A cartografia destes bens ajudar-nos-á a delimitar também a área de mais intensa devoção à Senhora da Oliveira durante o período medieval, à qual está intimamente ligado o ritmo da constituição deste património, como acima referimos:

21 Aparece apenas a designação moinhos, sem indicação do seu número. 22 Com ele andavam campos e uveiras. 23 As rendas destes moinhos foram contadas nas freguesias a que pertencem. São referidos aqui com o objectivo expresso de calcular o número aproximado de moinhos pertencentes à Colegiada. £ o 29 30 25 31 32 26 24 23 33 28 27 10 22 21 20 11 19 17 18 14 16 13 12 15 de ordem 4 2 7 e 3 8 5 1 9

. asio e iea . . de Faustino S. . . . Abação de Tomé S. . atno e Penacova de Martinho S. . oo e avs . . . . Calvos de João . S. Rebordões de Tiago S. . atno e ads . . Candoso . de Martinho Candoso S. de Tiago S. vorei a ir e r o lv o P Urgeses de . Estêvão Santo . . Costa da Mosteiro lo e d a u b a T s a i f n I o ir e h in P . Creixomil de Miguel S. (Guimarães) Vila da Paio S...... e d l i g a a i T r F Vila la e r a d n a G . ao e ia e Vizela de Riba de Paio S. Vizela de Riba de Jorge S. . . Conde . do Martinho S. Campo do Martinho S. ilarinho...... V . . . . Caídas das . João S. Caídas das Miguel S. . orno e avs . Calvos de Lourenço S. a ir e r e sp e N actls Bglo . Bugalhos e Selho . do Mascotelos Riba . de Jorge . . S. Gondar do . João Inferno S. do Miguel S. . rsóã d Rb d Se do Riba de Cristóvão ...... s S. e r a ilv S ia e iea . . . . Vizela de Riba ...... ocalidades L ...... transportai A

em ho

1 ! \ i 1 i ! 3 < ! 4 ! 10 86 8 2 3 1 1 3 2 2 1 6 5 6 2 2 3 2 5 1 1 1 5 1 1 1 330 l Casais 24 5 i í í 229 Campos \ i i f 1 i j 1 12 2 2 2 2 1 1 1 1 Quintas i i i 6 i i i 2 362 i Herdades ATI IO N Ó TRIM PA 1 21 12 1 i 1 273 1 1 131 Vinhas ; 2 2 1 7 i 1 Lugares í ! i i i 1 ; | 1 1

Quebradas ítulos T i i i Vilares | i i | ! 10 132 l 26 8

28 Devesas

1 1 Herdamentos I I I I I ’ I t i I, j i ; i i l : í 1 ' ! : 1 f : 1 1 í 2

236 Leiras e courelas 1 I i i * ! ! i ; 1 i i Pardieiros » i i i M oinhos 2

2 25 2 Designações om issas 13 22 15 156 11 5 7 4 3 5 2 1 2 4 1 1 4 3 3 3 7 3 7 2 4 1 5 1 1 ! 6 1 1 1 7 1 1 Total de títulos em cada localidade : i 1 í 1 105 681,25 25,5 17 25 14,5 45 27,5 38 12 30 37 36,5 35 32,5 63 16,5 21 13 10 1534 1535 2 4 9,25 9 9 6 7 1 M arcos 101 24 65 300 43 12 15 4 7 3 8 3 8 7 . L ib ras merário um N 2 2 2 2 5 13

- Coroas * ! 1 280

50 l 60 50 43 10 30 10 14 13 R eais ! 5 ! 3 RENDAS 8 D inheiros 1 ' * 33 * j 1 1 1 i i • i Serviços

— G eiras i amudes) (alm

Milho éneros G i

Centeio i f i i ' i ■ “ 122 12 14 12 18 4 2 2 2 4 2 4 4 2 2 4 2 2 6 6 4 2 8 4 G alinhas Aves

Capões 1 l i i i i \ 1 1 ( i 1 ! PATRIMÓNIO RENDAS

T ítulos m xs0) G éneros o cá N um erário Serviços Aves s ^ TJ (alm udes) 'do í-. 71 £3 cá 0 o U i o w 71 o d 71 d t-, o Cá o » ? % .Hc *r-H w 3 'O 03 «w 01 71 d d 2 iS ei Q3 01 V cí & u Cl 'd T3 bJD p cá *3w O z Q o « JC r* bJD d) d > *-« ÍH 03 O a O 3 Cl ci 0) O d 03 ^ E *3 CP cá cá Casais Campos

Herdades <13 R eais Quintas f c M arcos Qi Coroas P O Q w P A L ib ras A O o O O i

T r a n s p o r te 86 5 12 6 21 í 1 10 1 156 681,25 300 13 280 8 — 122 1

1 )1 34 G ê m e o s ...... 2 2 19 i

1 35 S. Miguel de Cerzedo .... 2 1 2 5,5 i 36 S. Martinho de Fareja . . . 4 1 3 8 28 2 i 30 1 2137 1 2 37 Vila Nova das Infantas . . . 1 1 2 r 1 2 38 M a ta m á ...... 4 38 i 1 5 9,5 5 i 11 39 S. Romão de Mesão Frio . . . 9 2 29 1 2 39' 1 16 54 47,5 4<> 19 1 | i 40 S. Mamede de Aldão .... 1 1 1 7 1 41 Santa Cristina de Caíde . . . 6 1 7 46,5 6 41 4 42 Santa Maria de Atães . . . 1 1 2 5 1 43 S. Cosme de Lobeira .... 3 3 7 5,5 ■ 40 j 1 4 42 44 S. Torquato...... 6 6 33 i 45 S. Pedro F in s ...... 2 1 3 29 i 6 2 46 Gonça ...... 1 j 1 1 i 2 4 5 47 G om inhães...... 1 1 l 48 S. Romão de Rendufe .... 1 1 1 3 8 14 30 5 49 G a r fe ...... 3 ; 1 4 22 j1 2 50 S. Pedro de Freitas .... 3 3 4,5 5 ! 1 i i 2 51 C astelões...... 1 : 1 5 4 52 Sobradelo ...... 1 4 • 5 16 ! 12 i 53 V ieira ...... 1 1 1 3 54 G u ilh o fr e i...... 343 3 55 2 29 2 20 Travassos ...... 2 56 S. Vicente de Paços .... 1 2 3 3 1 1 [ 4 57 S. Lourenço de Golães . . . 2 [ 2 12 1 2 58 ! Santa Comba de Montelongo . 1 1 2 22 59 S. Martinho de Armil .... 1 i !i 16 60 |Antime...... 1 1 í 9 2 36 1 * 61 S. Martinho de Paços .... 1 3 8 ) 2 40 62 S. Romão de A rões...... 10,25 1 11,25 61 1 4 2 63 Santa Cristina de Arões . . . 4 4 34,5 2 27 64 S. Pedro de Azorém .... 4 1 12 55,5 2 30 44 65 Santo Tirso de Prazins . . . 4 1 5 32 390,5 31 550 11 A transportar 163,25 9 26 27 26 10 3 2 10 1 3 285,25 1.241,75 £ "d O a o 95 90 80 70 97 96 88 86 84 79 77 76 75 74 94 92 91 89 87 85 83 82 81 78 73 68 66 72 71 69 67 93 de ordem vite...... rv o C ...... e f n o ...... R o t i r o B d e ir e u ig F erio (Braga)...... ) a g a r B ( Ferreiros s e itõ e L dos Portela Priscos Priscos ondisalves...... G ...... ) a g a r B ( Palmeira ...... Joane . Fermentões de Ovaia Santa . orno e eers . . . . Celeiros de Lourenço S. e lh e m . e S . . Trandeiras ou Cova Vila ouquim M de Couto ) a g a r B ( Victor S. Sande de Nova Vila Caldeias de Tomé S. Lageosa ot d Vmer e a Aveleda da e Vimieiro de Couto Esporões . )...... a g (Braga) ra (B Lanhas Maximinos de Paio S. Cláudio S. selo en P de João S. . er eEcdio (Braga) Escudeiros de Pedro S. te n o P de João S. Sande de Clemente S. . spinho E de Briteiros Portela de Leocádia Santa at Efma e ia e Ave de Riba de Eufémia Santa Selho de Riba de Lourenço S. ( iiscos P ( ...... ocalidades L Aperões ) o i o r C { ...... ) ...... ) ransport r ta r o p s n a tr A ...... te r o p s n a r T ...... 243,25| 163,25 17 2 2 2 2 4 3 6 2 2 1 1 4 3 4 2 6 4 2 47 2 47 2 48 1 47 2 48 1 25 1 48 1 48 1 l 48 1

C asais 48 í i 9 9 Cam pos 1 i 31 26 1 2 1 1

* Q uintas i 38 27 2 1 1 1 1 í 2 36 2 36 2 H erdades ARMÓNIO Ó PATRIM I j 1 1 1 t 1 ; ' 1 i 26 26 V inhas 1 i i i 16 10 3 1 í l

L u g ares 48 1 1 | 1 ■ j 1 i ! i 5 2 3

Q uebradas ítulos T i ; . í • ^ i ! i > 2 2 & » m 1 i 1 1 i i ! t í \ f i 1 1 1 i } ! 1 i l 10 o ! io D evesas t f t i i * l

Herdamentos 2 2 Designações omissas 389,25 285,25 & 2 10 d ^ 3 £ 20 o 0 W T3 2 3 2 1 6 2 4 2 2 s 3 3 2 1 4 6 1 2 1 9 5

1 1 1 6 o 1 2 5 1 1 1 3 w

1 i 1.241,75 1.744,75 141,5 57,5 27 35 37 24 60,5 13,5 14 14 11 2 5 9 8 9 2 5 4 6 9,5 7,5 1 Marcos 390,5 542,5 19 32 15 70 9 7 Libras Numerário 6 31 41 4 Coroas » i 1 100 550 805 40 30 40 30 15 Reais

• 42 « j 1 n u Dinheiros RENDAS | 1 Serviços *♦46 — — G eiras , i 1 18 19 (alrnudes) í

Milho éneros G 1 1 — 10 10 Centeio | | i 1 1 l | t 184 272 20 4 4 8 4 6 6

4 2 2 6 6 Galinhas 4 2 6 2 2

Aves \ 1 ! 3 3 Capões PATRIMÓNIO RENDAS

T ítu los Numerário Géneros Aves Serviços (almudes) i i i í j

o | rs3 i u ! í 03 o O ! Localidades 73 Zs i »o 02 o o» a l M 75 t f 03 72 1 m O 0"* tf 1 73 0) 03 72 r» • «V bfl 73 C3 •tf •M O £ w E su r*

Total Total de títulos tf s O o> o

C asais L u g ares Herdamentos ♦H Leiras Marcos Campos Dinheiros Libras Coroas Milho

Centeio 1 > e courelas A Q tf O o ----- | | Q uintas i

f i ^ 1 T r a n s p o r te 243,25 9 31 38 26 5 2 10 1 1 389,25 1.744,75 542,5 41 805 272 3 i i! 16 t n 19 1 10 i i 1

1 1 1 1 1 3 98 Prado e S.ta Marinha de Oleiros 1 | 4 1 1 1 1 1 ! 1 99 S. Martinho de Seidões49 . . 1> 1 1 1 1 1 100 Terra de Vermoim e Santa i i • 1' • . . . : 4 1 Marinha da Portela 1 1

101 T e lh a d o ...... 1 : 1 t 1 4 1 1 1 1 \i . . 2 36 1 1 4 j 3 2 i 102 S. Tiago da Forca (Cruz) 2 ! - ; 1 103 S. Cosme do V a l e ...... 1 i i ! 1,5 104 V ia to d o s ...... 1 ! i i 8 2 1 1 Tebosa (Tavoosa) ...... 1 ! i i 1 105 i * ! i i 2 106 Basto e Ribas...... 1 j 1 i i 3 5 104 i 107 S. Nicolau de Cabeceiras . . 2 : | 2 20 108 Santa Senhorinha (de Basto) 1 ! ! I 1 5 ■ 1 2 29 i 2 109 C e lo r ic o ...... ! ! 2 í 110 Amarante e Gestaçô .... 1 1 50 2 36 0,33 j i 4,33 5 51 41 1 4 111 S. João do V inhal...... 2 ! ; 2 10 1 4 1 | í 1 2 1 112 Terra da M aia ...... I 6 2 113 Cantelães (Catrelães) .... 1 ! j 1 | 3 114 Águas Santas ...... 2 47' 2 2 2 1 1 8 í 1 115 Vieira de A vin tes...... í 116 Santa Lucrécia ...... 1 1 1 1 . i 117 Santo André de Sobrado I I r I 1 2 (em Aguiar de Sousa) . . | 1 1 4 1 30 118 Santa Maria de Fregim . . . 1 i i 2 9 1 » 1 1 2 i ! 119 S. Pedro de Jugueiros . . . 1 i 1 6 [ 1 ! I i 1 i 18 l 120 S. Salvador de Sendim . . . 1 i 1 1 í i 1 4 !, 1 52 1 6 1 1 121 Pom beiro...... i ! 4 53 4 122 Ribeira de Soás ...... í í 6 1 9 8 2 . 50 1 í 123 Santo Estêvão de Geraz . . . í 4 Í 5,5 í 1 l 1 l | i < í l 124 Ponte do Porto e S. Paio de l i 1 l i í 1 | 1 1 E Pousada ...... i : 1,5 1 i | i »i } j 20 125 Louredo ...... 1 1 i » i i í [ 1 - — I 1 i í 1 1 307 ! 3 1.837,25 727,5 45 923 u 19 i 10 TOTAIS 270,25 10 34 55 26,33 16 5 3 1 10 1 441,58 ] 1 l 1 i i GALIZA

1 250.000 TUl 0.

A V

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+ * ft\°V

VIANA DO CASTELO

CANTELÀES

ÁGUAS SANTAS OLEIROS VIEIRA

POUSADA GERAZ

PRADO STA. LUCRÉCIA GUILHOFREI PALMEIRA BRAGA • SOBRADELO SEMELHE 73 LOUREDO # CABECEIRAS » • • (S. Nicolau) GONDIZALVES ^ CASTELÕES RIO CAVADO BRITEIROS 04 GARFE ESPORÕES 95 GONÇA^ # FREITAS PRISCOS 97 ------• w 92 w 65 TRAVASSOS STA. SENHORINHA • # “ • 79# V 6 ? * 4Í 4# RRENDUFE^pACOS E N D U F E J ;a c o TEBOSA « *|? 66 * 57) BASTO (S. Clemente) STA. COMBA (Fafe) VIATODOS 101 *100 77 76 ^6

% * «* (L AMARANTE *****l FREGIM MAIA

SOBRADO

PORTO DIOCESE DO PORTO

10 Kms. RIO DOURO AVINTES

1 Os números apostos aos pontos que no mapa refereciam as localidades correspondem aos números de ordem dos quadros com as 125 freguesias, onde a Colegiada possuía bens. Para eles remetemos o leitor, dispensando-nos, por isso, de repetir aqui essas localidades.

2 — Algumas freguesias, embora poucas, não constam do mapa, quer porque foram extintas e incluídas noutras aqui representadas, quer porque, estando omissas no mapa dos Serviços Geográficos e Cadastrais na escala de 1:250.000, se tornou praticamente impossível a sua correcta localização. PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 227

Em relação à de S. Martinho de Seidões não constam do códice em análise as propriedades que aí tinha a Colegiada. Estão igual­ mente omissas as rendas dos bens sitos nas freguesias de Maximinos, Esporões, Gondisalves, Semelhe, Priscos e Celeiros, todas do couto de Braga, e de algumas outras propriedades, por não terem sido transmitidas ao prebendeiro informações sobre elas. O facto é sinal de uma deficiente administração das propriedades mais afastadas.

24 Traz associado um moinho. 25 É metade da Cantonha, mas não diz o que é. 26 Associadas a vinhas. 27 Uma é designada bacelo. 28 Associada a uma vinha. 29 São pelo menos dois, pois emprega o plural. 30 Omite a renda de um casal. 31 A vinha está na herdade. 32 Junta com a devesa. 33 Os três marcos correspondentes a uma geira já estão incluídos nos 45. 34 Quatro marcos aqui incluídos procedem de um contributo pessoal. 35 O casal da Costa não tem indicação da renda. 36 São pelo menos duas. Emprega o plural. 37 Inclui 5 marcos do pagamento de um escambo. 38 São pelo menos 4. Omissa uma renda. 39 Omissa a renda de umas quebradas em Gominhães. 40 Paga mais meia libra de cera. 41 Paga mais meia libra de cera. 42 Paga mais meia marrã. 43 Não indica renda destas herdades. 44 Parcialmente omissa a indicação da renda de uma herdade. 45 Correspondem à dizima de transportes feitos para o Porto, em carros. 46 Vinte reais correspondem ao pagamento de uma geira. 47 Não indica a renda de um casal. 48 Não indica o valor da renda. 49 Espaço em branco. 50 Quinta de Gatão. 51 Esta quantia refere-se a 1 adega, 1 casa, 1 lagar e 2 eixidos que possuía em Amarante. Não se registam neste quadro por falta de espaço. 52 Tem anexo um forno. 53 Omite a indicação da renda de uma herdade. 228 JOSÉ MARQUES

f) Bens no couto de Moreira de Cónegos e S. Paio de Vila Cova

Para completar a apresentação do património da Colegiada da Senhora da Oliveira, com suas rendas, fora da vila de Guimrães, impõe-se-nos fazer menção dos bens por ela possuídos na freguesia de S. Paio de Vila Cova e no couto de Moreira de Rei e a certas propriedades existentes fora dos limites do couto, mas a ele unidas. A impossibilidade de os integrar nos quadros anteriores não resultou .da natureza dos bens, mas dos tipos de rendas a pagar. Com os bens destas duas localidades e os das 125 freguesias acima apresentadas organizámos o seguinte quadro sinóptico que proporciona uma visão global do património da Colegiada disperso por 127 freguesias, fora as da vila de Guimarães.

1 1 Número de títulos Número de títulos Títulos em S. Paio de Vila TOTAIS em 125 freguesias Cova e no Couto de Moreira de Cónegos

C asais...... 270,25 33 303,25 C a m p o s ...... 10 11 21 Q u in t a s ...... 34 1 35

Herdades ...... 55 — 55 V inhas...... 26,33 2 28,33

Lugares ...... 16 — 16 Quebradas ...... 5 6 11

Vilares...... 3 — 3

Devesas ...... 10 — 10

Herdamentos...... 1 — 1 Leiras e cou relas...... 6 5 11

P ard ieiros...... 1 — 1 M o in h o s...... 2 2 4

B a c e l o s ...... — 2 2

(Designações omissas) .... 2 — 2

TOTAIS 441,58 62 503,58

A análise dos totais em cada um dos tipos de propriedades registadas no Livro do prebendeiro revela que dos 503,58 títulos de posse dispersos por 127 freguesias das dioceses de Braga e Porto, 303,25 são casais, que repre­ sentam 60,21% do total. Observe-se, contudo, que esta percentagem, válida PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 229 quanto ao número de unidades inventariadas, deve ser ainda supervalori- zada em ordem ao real dimensionamento do património, dado que, se excep- tuarmos os casais e quintas, os restantes tipos reuniam pequenas proprie­ dades, como sugerem as baixas rendas pagas por elas e a própria termi­ nologia. Não se dispõe de elementos para calcular, mesmo só de forma aproxi­ mada, as áreas e estruturas das numerosas parcelas deste património, mas, com base numa relativa proporcionalidade entre as rendas e as propriedades a que dizem respeito, não será temerário afirmar que além de unidades maiores — casais e quintas — o domínio da Colegiada incluía também uma constelação de fracções agrárias de reduzidas dimensões. Nesta matéria só se poderá vir a ter um conhecimento mais exaoto, tentando a identificaçãb dos topónimos à escala da micro-história local e regional e estudando as centenas de contratos de emprazamento, testamentos e sentenças, outrora guardados no cartório de Santa Maria da Oliveira. .Tal estudo só poderá ser conduzido a bom termo por uma equipa especializada. Depois da apresentação analítica dos bens e rendas da Colegiada de Guimarães em 1442, respeitando na medida do possível os grandes capítulos contemplados na contabilidade da instituição ao tempo do prior D. Rui da Cunha, torna-se indispensável oferecer uma visão de conjunto. Para o efeito organizámos o quadro-resumo, que além de nos dar indicação rigorosa do número de propriedades ou títulos de posse, permite verificar a diver­ sidade de tipos de rendas e compreender a complexidade inerente à sua recolha, derivada, além de outras condicionantes, dos sistemas de equiva­ lências monetárias e das medidas de capacidade, e que se intercala entre páginas 230/231. 230 JOSÉ MARQUES

Da análise deste quadro conclui-se, que em contraste com o que se passava com S. Paio de Vila Cova e com o couto de Moreira de Cónegos, as rendas da Colegiada eram predominantemente pagas em numerário, com preferência para a moeda antiga, sendo irrelevantes os pagamentos em moeda corrente. Em S. Paio de Vila Cova e em Moreira de Cónegos, as rendas eram pagas em prestações muito diversificadas: em géneros, produtos manufacturados, animais e seus derivados e em serviços. Nota-se, porém, uma tendência para o pagamento em numerário, pois em muitos casos indicam-se as equiva­ lências em moeda. Isso nos permitirá proceder a uma simplificação do quadro anterior, no tocante às rendas destas duas localidades. Eis o quadro das equivalências que nos servirá de base e que, ao mesmo tempo, tem algum interesse para a história dos preços: 1 homem de cava (jornaleiro)...... 6 reais 1 dia de carreto com os bois...... 12 reais 1 cabrito ...... 6 reais 1 espádua (de porco) ...... 35 reais 1 marrã (de porco) ...... 30 reais 1 /2 marrã ...... 15 reais 1 vara de pano de bragal...... 6 reais 1 bragal (= 7 varas) ...... 42 reais 1/2 geira ...... 70 reais 1 gcira ...... 151,5 reais

54 Cf. notas 40 e 41. 55 Além destes elementos, indispensáveis para a conversão em causa, oferecemos mais os seguintes:

1 ••• • • • ••• ••• • *• • ••• • • • ...... 20 reais 3,5 varas de Irlanda a 32 ...... • « « M • ••• 112 X JLm » 2 côvados de condado ...... • • • • • • • t 1 Uw » 5 côvados de pano de pardo a ...... 36 » (fl. 105) 1 • • • • • ♦ ••• • • • ...... 120 » (fl. 106) 3 côvados de pardo a ...... • • * • • ♦ ••• U24 A » (fl. 106) 1 jul3cl0 ••• •«• •«• • • • ••• •«• ••• •*« • • * ...... 58 » 2,5 d'Ançamua (?) ...... 125 » (fl. 107) 3 almudes de vinho ...... 108 » (=almude a 36 reais) 2,5 varas de Irlanda...... 100 » 8 côvados de pardo a ...... ••• «*« o5 » 6 varas de Irlanda e 2 de Ançamua (?) ...... 380 » 1,5 de pano vermelho ...... ♦ • ♦ • • • 77 1 1 ^ » X Câ^)0lo • *• ••• ••• ••• • • * ••• ••• • •• • • • V50 v » QUADRO SINÓPTICO DO PATRIMÓNIO E DAS RENDAS DA COLEGIADA, EM 1442

PATRIMÓNIO RENDAS i

Produtos Prestação Numerário Animais e seus derivados Géneros manufacturados de serviços í Pão meado Carne Reais Centeio Milho Trigo Vinho Castanhas Cera Pano de bragal (milho e centeio) de porco Dias

Títulos Totais 1 tn de Mara- o Libras tn W t c serviço 1 Marcos Coroas Dinheiros o> o> Verdes Secas W c vedis m a 'd TJ tn a Geiras com os • P< de cava o> u Homens t ** Varas

Novos cd Regueifas Ovos Velhos

— — — — — — — — — — — — — — — — — — — Ig re ja s...... 17 33,5 — 251,5 8,5 17 12.700 — — — — — —

Bens sitos nos limites de Vila i — — — — — — — — — — — — — — — — 42 — de Guimarães ...... 202 532,5 240,75 4 i 1.288,5 — 45,5 — — — —

— — — — — — — — — — — — — — — ■ — — 51 — A lm u in h a s ...... 55 429,5 5 — — — — — — — — 0,5

i — — — — — — —■ — — — — — - — — — — — — — M o in h o s...... Mais de 20 26,5 — 2 197 — — — — — — — • 1 i 1 . 2 — — * — — — — 1 54 — ■ 307 3 — — 19 — Bens possuídos em 125 fregues. 441,58 1.853,55 727,5 45 923 11 — — — 10 t

i Bens sitos no Couto de Moreira \ i 18 — í 30 3 6,5 1.5 27 3 — — — 8 2 4 49 3 1,5 1,5 42 4 10 de Cónegos e S. Paio de V. Cova 62 49 6 255 — — 17 7 82 14,25 i

418 3 1 30 3 6,5 3,5 27 3 TOTAIS 797,58 2.924,55 6 1.219,75 64,5 2.680,5 12.700 56,5 17 7 82 24,25 i 27 2 4 49 3 1.5 1,5 1.5 42 4 10 . i i 1 s 'i 1 ? 1. i 1

l Suo as 4 coroas referidas na nota 1 do quadro dos bens e rendas da Colegiada na vila de Guimarães. PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 231

Em relação às rendas pagas em géneros agrícolas, consideramos impor­ tante proceder à redução das antigas medidas de capacidade às actuais para clarificar o seu valor real. Nem sempre é fácil fazer o ajustamento destas medidas, dada a grande variedade de região para região. Lendo, porém, atentamente a obra de Viterbo 56, optámos por aquelas equivalências que no tempo e no espaço, de acordo com a documentação por ele aduzida, supomos estarem em uso na região vimaranense, ou ao menos dentro dos limites da arquidiocese de Braga, em 1442. Poderemos, assim, fixar os seguintes padrões: 1 dozao ...... 4 quartilhos (ou 2 litros) 1 almude ...... para secos: 2 alqueires para líquidos: 2 cântaros de 12 litros 1 puçal ...... 9 almudes ou 18 cântaros 1 teiga ...... 4 alqueires 56a 1 moio ...... 64 alqueires 1 quarteiro ...... 16 alqueires 1 quarta...... 4 alqueires

1 CâDã ...... 270 reais 1 «alba de pano per a velha» ...... 55 » X ••• • • • ••• • • • • ••• • • • ••• • • • 40 » 1 vârs do Ivlcmdci ...... 40 » X mânliâo ••• «»• ••• *«* ••• ••• ••• ••• •>• ••• ••• 19 » ? — 50 reais em pano de Arras

evangelhos ...... • •• •• i 300 »

1 corda para o sino • • • • a • • • • • •• ♦ • • a ♦ a a a a 4 » (fi. n u reparar os badalos ...... • • • • • • 15 » (fi. n u

2 cordas ...... a a a a a a a a 1 8 «correger 9 capas com linhas» 70 »

2 alvas com suas cintas e cordas i ♦ ♦ ••• ••• 20 »

1 badalo do sino pequeno ••• ••• > • • • • • • • 6 »

3 cordas • •• ••• ♦ ♦ • • • • • ♦ • ♦ • • ••• ♦ ♦ • > • • ♦ • 12 » 1 «vaqua mouca sem corno e sem orelhas e sem rabo

e sem e lhe cargar» ... i • • # • • • • • • • • • • • •' 30 »

6 varas de burel i • a a a • •• ••• M • • • • 60 » 56 SANTA ROSA DE VITERBO, Frei Joaquim de — Elucidário ...; BARROS, Henrique da Gama — História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV, 2.® ed. dirig. por Torquato de Sousa Soares, vol. I, Lisboa, Sá da Costa, s/d, pp. 41 ss. 56a Sobre o valor do alqueire cf. COSTA LOBO — Hist. da soc. em Port. no séc. XV, Lisboa, 1903, p. 271. 232 JOSÉ MARQUES

1 /2 lib ra ...... 1 arrátel 1 arrátel ...... 459 grs 57 Para efectuar a redução dos totais em numerário a marcos seguiremos as leis monetárias de D. Duarte, datadas de 1435. Por isso, tratando-se de moeda antiga, como acontece na maior parte dos casos, teremos quatro libras em marco de oitenta reais brancos ou setecentos reais brancos da moeda corrente, valendo um real branco dez reais pretos; um real preto equivalia a um dinheiro58 e uma coroa correspondia a cento e vinte reais brancos 59. O maravedi valia vinte e sete reais59a. Efectuadas as operações necessárias, chegámos aos resultados conden­ sados no seguinte quadro-síntese das rendas da Colegiada, em 1442:

NUMERÁRIO ESPÉCIES

M edidas P e so s Onças M arcos de Designações prata A lqueires L itro s Quilogramas •

3.390,26 Pão meado (milho e centeio) . . 476 C enteio...... 52,5 M i l h o ...... 52 T r i g o ...... 4 Castanhas .... 12 Vinho ...... 2.046 (isto é: 4 pipas e 46 litros) C e r a ...... 1,377

3.390,26 1 * TOTAIS 598,5 2.046 1,377

* Referida no quadro das rendas dos bens sitos na vila de Guimarães.

57 SANTA ROSA DE VITERBO, Frei Joaquim de — Elucidário ... (s. v. arrátel). 58 MARQUES, A. H. de Oliveira — A moeda portuguesa durante a Idade Média, in Ensaios de história medieval portuguesa, Lisboa, Portugália Editora, 1965, p. 290; FERRO, Maria José Pimenta — Estudos de história monetária portuguesa (1383-1438), Lisboa, 1974, pp. 39 e 79-82. 59 COSTA LOBO, A. de Sousa Silva — História da sociedade em Portugal no séc. XV, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, p. 367. 59“ é esse 0 valor constante do livro do prebendeiro. A mesma cotação lhe é atri­ buída num documento de 1498 (A.N.T.T., Fundo antiga, n. 272, fl. 279). PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 233

Este total de marcos, além das outras espécies monetárias reduzidas a esse padrão, inclui, igualmente, o valor da conversão em moeda de diversas rendas pagas em animais, produtos e serviços, constantes do quadro sinóptico do património e das rendas da Colegiada, em 1442. No conjunto destes resultados sobressaiem as baixas quantidades de trigo e cera recebidas, não se podendo também considerar elevadas as prestações em vinho. No entanto, sendo na sua grande maioria as rendas pagas em numerário, a insignificante quantidade de trigo recebido— 4 alqueires — não permite só por si concluir por uma acentuada contracção no cultivo deste cereal, mas já outro tanto se não pode dizer, tendo presente o que sobre o assunto nos foi dado apurar, quando nos detivemos sobre as rendas da cabido de Braga. Antes de terminar este ponto, cumpre observar que os valores finais atingidos não devem ser tomados como absolutos, mas somente como aproxi­ mativos, importantes, contudo, no âmbito da história das nossas instituições mediévicas, sobre as quais é raro chegar a números tão elevados, desta natureza e qualidade. O facto deve-se às omissões do códice quanto às rendas de bens sitos em algumas freguesias, à insuficiência de informações contidas em afirmações vagas como esta: paga o terço da produção, e, ainda, à possibilidade de reajustamento nos padrões utilizados na elaboração da presente súmula. Acrescente-se, finalmente, que a análise dos registos das prestações pagas ao longo do ano — três, na maioria dos casos — não revela sintomas da existência de um movimento anti-senhorial contra a Colegiada, traduzido na recusa de pagamentos, como detectámos a partir de 1449 até 1477 60.

5. Tal como anunciámos, afigura-se-nos indispensável uma aproximação dos foreiros da Colegiada, que na vila de Guimarães constituem um número significativo, procurando saber quem e quantos eram e os grupos e esta­ mentos sociais em que se integravam. Percorrendo atentamente a documentação referente aos bens da Cole­ giada sitos na vila de Guimarães, pudemos contar 182 foreiros nominalmente designados. Para a presente abordagem sociológica começamos por distri­ buí-los em dois grupos: aqueles de que se conhece apenas o nome sem qualquer menção de dignidade, profissão liberal ou mester a que pertenciam e aqueles que, além do nome, nos aparecem com alguma destas notas indivi-

60 Cf. o trabalho referenciado na nota 4. 234 JOSÉ MARQUES

€ duantes. No segundo grupo incluímos também os designados simplesmente pela dignidade possuída ou profissão exercida, por tal circunstância se revestir de interesse para este apontamento, ao contrário do nome que só por si nada esclarece. Com tais dados organizou-se o seguinte quadro, que revela os componentes de cada grupo, distribuídos pelas diversas ruas da vila:

1 Condição social RUAS TOTAIS Não Especificada especificada

Santa M aria ...... 18 15 33

Sabugal ...... — 3 3 E n festa...... » 5 — 5 C astelo...... 4 — 4

G ado...... 3 — 3 Vale de D onas...... 4 1 5 S. Tiago ...... 4 1 5 F orja...... 2 1 3

Sapateira...... 9 10 • 19 A rrochela...... 4 — 4 Alcobaça ...... 2 2 4 Nova do M uro...... 10 6 16 F errarias...... 6 2 8 Felgueiras e S. P a io ...... 3 — 3 M erca d o res...... 2 6 8 P ostigo...... 2 1 3 Trespão ...... 2 3 5 N o n a is ...... ; . 1 4 5 Escura ...... 6 3 9 Açougues ...... 1 1 2 J u d ia r ia ...... 5 — 5 Mostaceiras...... 6 — 6 Praça ...... 1 1 2 '• C o ir o s...... 2 1 3 C aldeiroa...... 7 3 10 G a t o s ...... 4 1 5 P e la m e s ...... 3 1 4

TOTAIS 116 66 182 • to to o Ol o GO

A d v o g a d o s Alfaiates

A lm o c re v e s Almoinheiros

Almoxarifes Barbeiros Besteiros Braceiros

Cam areiras Carniceiros Carpinteiros

Chanceleres Clérigos Comendadores

Condes (Duques) C o n v e rso s

Correeiros C ortidores Criados Cutileiros

Demanda dores Escrivães

Feitores Feijoeiros Ferradores

Ferreiros Ju d e u s M ercadores Mostaceiros

Pateiros a oeid, eetrs o bn sitos bens dos detentores Colegiada, da a ia e umre, eaia a 1442. a relativas Guimarães, de vila na rqêca ds rfsõs o foreiros dos profissões das Frequências Pedreiros Peliteiros Pintores Porteiros Pregoeiros S ap ateiro s

Seleiros Serralheiros Tabeliães Tan o eiro s

T e ce lõ e s T e n d e iro s

T o sa d o re s

- - -- i ------1 _ 2 1 m < \ 2 E-1 ■s g /->v •o i 1 3 | 05 2 £ RUAS 0 1 ff. í W O « W 2 W S S 2 P co 2 cn P P ‘ã j S P w P j J W ca m ! wO £ ^ £$ . *£ w o g w o £ w S icd .5: ® — o í-.O T3 O W u 0 p ,5 o p »- .h P *-> <1> fO- = 3 d o a . b o ^ o ‘õJPtí.b C3^ O o3 'O g 0> g 1 •- o o0 cj

Clérigos (em geral) Cortidores s Braceiros Camareiras (do Conde) Barbeiros Criados (servidores) 1 Cutileiros Advogados Alfaiates Almoinheiros Almocreves Almoxarifes m 0 63 ' fe i! k ' 18 1 9 61 1 2 62 1 67 Santa Maria...... i 2 i 1 E n festa ...... 2 1 1 4 C a stelo ...... : 1 í I, 1 1 3 Do Gado ...... 2 1 I 4 Vale de Donas .... í 1 163 j 1 1 4 S. T i a g o ...... 1 1 ' 1 1 2 Forja ...... 1 73 . 2 9 1 | 1 64 4 4 S a p a teira ...... 1 1 1 A r r o n c h e la ...... 1 2 1 ,2 Alcobaça ...... 1 1 t 1 i io Nova do Muro .... 1 74 i i 1 65 1 1 68 II 1 6 1 69 1 70 i Ferrarias ...... 1 2 68 1 71 1 72 i 1 1 1 3 Felgueira e S. Paio . . 1 1 2 M ercad ores...... 1 2 P o stig o ...... í 2 Trespão ...... J75 i 1 1 86 N o n a is ...... 176 6 1 78 3 37 1 79 Escura ...... 1 80 1 1 1 Açougues ...... 1 i 5 J u d ia r ia ...... 1 82 1 381 j 183 6 Mostaceiras...... 4 *>4 1 1 1 85 1 Praça ...... I 2 2 C o ir o s ...... 1 1 1 188 l C ald eiroa...... 187 1 | Gatos ...... 191 1 2 3 Pelam es...... 1 * 2 3 1 í 1 7 3 5 1 2 1 1 1 1 ÍÍ32 X 5 1 3 12 116 TOTAIS 2 2 2 i 3 3 i 1 1 2 1 1 23 1 1 1 4 1 5 1 i * • * PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 235

Dos 182 foreiros apurados, conhece-se a posição social de 116 (63,73%); dos restantes sabe-se apenas o nome, que não permite qualquer espécie de tratamento sociológico. Em paralelo com o que se verificou ao analisar o património da Cole­ giada nesta vila, também agora é notória a maior concentração de foreiros, que em geral poderemos considerar inquilinos, nas ruas de Santa Maria, Sapateira, Nova do Muro, Caldeiroa, Escura, Mercadores e Ferrarias. Em várias ruas, identificam-se todos os foreiros pelo nome e profissão e só num caso, concretamente na rua do Sabugal, é que nos escapam as profissões dos três foreiros que aí tinha a Colegiada. Com os 116 identificados pelas profissões elaborou-se novo quadro, que, embora parcelarmente, oferece uma panorâmica do ambiente social da vila de Guimarães, em 1442: 236 JOSÉ MARQUES

É curioso notar o elevado número de grupos sociais que, através dos seus membros, estavam ligados à Colegiada por contratos de emprazamento, donde se pode mais uma vez deduzir que ela constituía um importante senhorio com marcada influência económica e social. O que se deixa exposto é uma simples análise parcelar da sociedade vimaranense, em 1442, deve, porém, ter-se presente que o tipo de documen-

61 Este número inclui o chantre, o tesoureiro e sete cónegos, sendo um o abade de Polvoreira. 62 São os criados do almoxarife e do abade do Pinheiro. 63 «Servidor» do abade de Vila Cová. 64 «... porteiro que foy da camara». 65 D. Frei Gonçalo Borges, primeiro abade comendatário de S. Miguel de Refojos de Basto. 66 Lopo Afonso, escrivão da sisa. 67 Pedro Afonso, escrivão da fazenda. 68 Durão Pires e Fernando Anes, cónegos. 96 Luís Domingues. 70 Estêvão Anes, escrivão da Câmara. 71 Senhorinha Pires, «servidor» (criada) de Brás Afonso, escrivão da puridade do arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra. 72 Gonçalo Domingues. 73 A mulher que foi do almoxarife. 74 Pero Lourenço. 75 A mulher do advogado Pero Lourenço. Inscrevemo-la sob esta rubrica para marcar a mudança de residência. 76 Vicente Afonso. 77 Vicente Martins, Martim Fernandes e Lourenço Esteves, cónegos. 78 Inês Pires. 79 D. Afonso, conde de Barcelos e l.° duque de Bragança. 80 Pedro Eanes. 81 Mestre Marcos, Abraão Garção, Rafael Judia. 82 Lourenço Esteves, cónego. 83 Gabriel (judeu?). 84 Gonçalo Pires, Álvaro Eanes, Diogo Rodrigues e Gil Vasques, cónegos. Há refe­ rências à filha do cónego Gonçalo Pires. Viveria com o pai? 85 João Pires, «que foy tabeliam». 86 A «servidor» que foi do abade de Cortegaça. 87 Gil Afonso, cónego. 88 Rodrigo Eanes, tabelião. 89 Afonso Domingues. 90 A «mulher que foy do pintor». 91 Afonso Pires, «que foy almoxarife». PATRIMÓNIO E RENDAS DA COLEGIADA DE GUIMARÃES, EM 1442 237 tação é de natureza a traduzir alguma assimetria social, como acontece em relação ao clero, representado por 23 elementos, dispersos por nove ruas. Mesmo assim, detectámos 13 sapateiros, 7 ferreiros, 5 mercadores, 5 tabe­ liães, 5 criados, 4 coreiros, 3 almoxarifes ou ex-almoxarifes, 3 judeus e diversos outros mesteirais e homens de profissões livres. (Ver gráfico).

Entre os clérigos inquilinos das casas da Colegiada figuram o chantre, o tesoureiro, D. Gonçalo Borges —primeiro abade comendatário do mos­ teiro de S. Miguel de Refojos de Basto92 — e ainda dezoito cónegos, sendo um deles o abade de Polvoreira. Quanto a outros estamentos sociais, cremos desnecessário insistir, porque, além da panorâmica traçada no quadro e gráfico anexo, as notas que lhes apusemos são suficientemente elucidativas. A toponímia vimaranense, onde figuram as ruas dos Pelames, Caldeiroa, Coiros, Mostaceiras, Judiaria, Açougues, Mercadores, Ferrarias, Sapateira, Forja e do Gado, aponta para uma concentração quer étnica, como no caso dos judeus, quer de oficinas artesanais ou de mesteirais. Apesar desta realidade, a análise parcelar que a documentação nos permitiu, sem ser apodítica, dado o seu âmbito restrito, revela uma generalizada dispersão dos mesteirais, exceptuando-se os judeus. Inclusive no caso dos sapateiros, apesar de morarem quatro na rua que lhes estaria originariamente reser­ vada, nove — mais de dois terços — distribuíam-se por sete ruas. Segundo esta amostragem, a característica dominante é, pois, a dispersão. O facto levanta um problema de interpretação. Cremos porém que não se trata propriamente de uma desorganização do sistema corporativo medieval, de cujas instituições de assistência temos importantes referências documentais posteriores a 1450 93, mas de uma fase de crescimento em termos de maior flexibilidade, mais consentânea com os novos tempos, De quanto se disse transparece, de forma inequívoca, a importância assumida pela Colegiada no contexto económico e social da região vima­ ranense do segundo quartel do século XV, ficando bem patente a premente necessidade de se aprofundar a história desta instituição eclesiástica para uma melhor compreensão da história da vila e cidade de Guimarães.

92 A.D.B., Livro das confirmações de D. Fernando da Guerra, fl. 9v; ALMEIDA, For- tunato de — História da Igreja em Portugal, Nova edição, preparada e dirigida por Damião Peres, vol. I, Porto, Portucalense Editora, 1967, p. 325. 93 A.N.T.T., Fundo antiga, n. 272.