1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA) DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

PEDRO LUIS V. DE BARROS

JORNALISMO ESPORTIVO E HUMOR: UM ESTUDO DO PROGRAMA JOGO ABERTO

CUIABÁ-MT 2018 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA) DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

PEDRO LUIS V. DE BARROS

JORNALISMO ESPORTIVO E HUMOR: UM ESTUDO DO PROGRAMA JOGO ABERTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, sob orientação do Prof. Ms. Thiago Cury Luiz.

CUIABÁ-MT 2018 3

JORNALISMO ESPORTIVO E HUMOR: UM ESTUDO DO PROGRAMA JOGO ABERTO

PEDRO LUIS V. DE BARROS

Aprovada em: ___/ ___/ ___

BANCA EXAMINADORA:

______Prof. Ms. THIAGO CURY LUIZ (Universidade Federal de Mato Grosso)

______Prof. Dr. BRUNO ARAÚJO (Universidade Federal de Mato Grosso)

______Prof. Dr. MAURÉLIO MENEZES (Universidade Federal de Mato Grosso)

4

Agradeço à luta diária, ao amor a mim dedicado durante toda a vida e por sempre estarem ao meu lado. Meu pai, Nelson Luis Borges de Barros, e minha mãe, Erivã Garcia Velasco, vocês são meus maiores exemplos de vida. Dedico este trabalho a vocês!

Agradeço aos meus irmãos pela conquista, além, é claro, da minha namorada Leticia Oliveira, que teve muita paciência comigo durante toda a graduação e, principalmente, durante a construção deste trabalho. Aos amigos que fiz durante toda a faculdade, esse mérito também é de vocês. Amigos que não hesitaram em me dar carona para casa ou pro Restaurante Universitário.

Também dedico esse trabalho a todos professores que contribuíram diariamente e constantemente com meu conhecimento e dedicação e que foram importantes na minha jornada acadêmica. Em especial ao professor Thiago, que se dedicou junto comigo na elaboração deste trabalho e esteve ao meu lado até o seu desfecho. Também expresso meus agradecimentos à banca, composta pelos professores Maurélio e Bruno, pela orientação e encaminhamentos que me foram dados.

5

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo de caso do programa esportivo Jogo Aberto, da TV Bandeirantes, cuja análise anseia compreender como se dá a inserção de humor à medida que as informações jornalísticas são divulgadas. Para tanto, lançamos mão de dez edições do programa, entre os dias 2 de julho e 7 de agosto de 2018, denominada de semana composta. Para o entendimento acerca do objeto, tomamos como base os seguintes critérios de análise: cenário, figurinos, textos e as expressões (faciais e gestuais). Como resultado, notamos que o humor auxilia e ajuda na informação jornalística, pois essa característica promove uma percepção maior do telespectador para com a notícia. Ele auxilia e se torna mais uma ferramenta para fazer com que o público se prenda a tal programação. Logo, distante daquilo que alguns imaginam, este artifício faz com que a notícia fique mais atrativa e alcance cada vez mais um número maior de pessoas.

Palavras-chave: Jornalismo esportivo; humor; Jogo Aberto.

6

SUMÁRIO

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...... 8 CAPÍTULO I ...... 10 NOS MEANDROS DA IMPRENSA E DO JORNALISMO ESPORTIVO ...... 10 1.1 Circulando notícia: do século XV ao XX ...... 10 1.2 O jornalismo no século XXI ...... 13 1.3 A imprensa especializada em esporte ...... 17 1.4 As técnicas do jornalismo esportivo ...... 20 CAPÍTULO II ...... 26 O HUMOR ...... 26 2.1 Entendendo a história ...... 26 2.2 O humor nas mídias ...... 29 2.3 O humor na televisão ...... 33 2.4 O humor no jornalismo brasileiro ...... 35 CAPÍTULO III ...... 38 ESTUDO DE CASO DO JOGO ABERTO ...... 38 3.1 Descrição do programa esportivo Jogo Aberto, da TV Bandeirantes ...... 38 3.2 Metodologia de análise ...... 38 3.3 Edição de 02/07/2018 (segunda-feira) ...... 39 3.4 Edição de 10/07/2018 (Terça-Feira) ...... 43 3.5 Edição de 18/07/2018 (Quarta-Feira) ...... 46 3.6. Edição de 26/07/2018 (Quinta-Feira) ...... 49 3.7 Edição de 03/08/2018 (Sexta-Feira) ...... 51 3.8. Edição de 06/08/2018 (Segunda-Feira) ...... 55 3.9 Edição de 14/08/2018 (Terça-Feira) ...... 59 3.10 Edição de 22/08/2018 (Quarta-Feira) ...... 62 3.11 Edição de 30/08/2018 (Quinta-Feira) ...... 64 3.12 Edição de 07/09/2018 (Sexta–Feira) ...... 67 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 71

7

Índice de Figuras Figura 1: Imagem do estúdio com os comentaristas ...... 40

Figura 2: Ronaldo fantasiado ...... 41

Figura 3: Estúdio com os comentaristas ...... 44

Figura 4: Estúdio com o Denílson e a Renata ...... 49

Figura 5: Imagens de vídeo com o Denílson ...... 52

Figura 6: Discussão entre Ronaldo e Héverton e estúdio com comentaristas ...... 54

Figura 7: Denílson fantasiado ...... 56

Figura 8: Estúdio com a apresentadora e comentaristas ...... 58

Figura 9: Renata Fan no estúdio ...... 60

Figura 10: Os comentaristas Chico Garcia e Denílson no estúdio ...... 62

Figura 11: Denílson com uma máscara ...... 65

Figura 12: Renata Fan com “mãozinha” do Internacional e Denílson na cadeira ...... 67

8

INTRODUÇÃO Os pressupostos da ciência e do senso comum cravam que o jornalismo tem a missão de informar, mas ele vai muito além disso. Também, deve levar informação ao público com critérios, fundamentações, buscando as verdades dos fatos e, principalmente, levando ao conhecimento os acontecimentos relevantes e de interesse público, sejam eles da área política, econômica, cultural ou esportiva. Por falar em esporte, sabemos que ele tem um papel de suma importância na área de sociabilização e composição da cultura. Talvez seja a vertente mais importante e palpável de transmissão de valores fundamentais e essenciais para a sociedade, como união, companheirismo, disputa sadia, respeito ao próximo. O poder de transformação do esporte nos seres humanos é um dos pontos fundamentais desta dimensão, que vem ganhando cada vez mais força em nossa sociedade. Com isso, a mídia televisiva – mas não só –, ao observar o alcance que o esporte atinge e o interesse que as pessoas têm pelo mesmo, divulga e ocupa cada vez mais os espaços de suas programações sobre o assunto. No tema deste trabalho, temos o jornalismo esportivo aliado ao humor, sendo este uma ferramenta tão capaz de fazer mudanças na sociedade, assim como o esporte. O humor e seu discurso têm uma absorção sobre questões como desigualdade econômica, gênero, etnia, sexualidade e corpo, campos discursivos que têm grande impacto no fazer jornalístico. Assim, o objetivo final desta pesquisa é compreender as relações entre humor e jornalismo, por meio de um estudo de caso do programa Jogo Aberto, da TV Bandeirantes. Já os objetivos intermediários são: problematizar as práticas jornalísticas a partir da análise do conteúdo, além de analisar o humor como ferramenta para um entendimento do jornalismo a partir do risível que pode extrapolar o modo tradicional de informar. Baseando-se em uma amostra de dez edições veiculadas entre os dias 2 de julho e 7 de agosto do ano de 2018, denominada de semana composta, a pesquisa foi feita com base na observação dos apresentadores, repórteres e comentaristas desempenhando suas atividades, tendo como base os seguintes critérios de análise: comportamentos, falas, cenários e figurinos. Dessa forma, foi possível identificar as rotinas de trabalho desempenhadas em cada função, como: a sua apresentação, edição, abordagem dos repórteres, entrada e fala dos comentaristas. Com todos esses fatores foi possível ver, analisar e responder como se desenvolve o programa, quando ele está no ar. 9

Esse programa foi escolhido em razão de ser especializado no tema que o autor se propôs a estudar, o esporte, e também por ter materiais e profissionais que fazem – ou tentam fazer – uso do humor, além de ser um dos mais conhecidos e acompanhados pelo público, uma vez que veiculado em TV aberta. Duas questões nos moveram neste estudo: até que ponto a notícia esportiva pode ser vista como informação ou entretenimento? O jornalismo esportivo no Jogo Aberto cumpre a sua função social ou não? A partir daí, aventamos um par de hipóteses: o jornalismo esportivo cumpre a sua real função de informar ou o humor atrapalha a veiculação das informações especializadas em esportes. Ao abordar aspectos do jornalismo esportivo e humor, pretende-se responder ao questionamento inicial sobre o cumprimento da função principal e primordial do jornalismo ao cobrir esportes. Para entendermos a epistemologia do jornalismo esportivo e do humor e como ela sustenta o estudo de caso, propomos a seguinte estruturação: o primeiro capítulo traz a história do jornalismo e do jornalismo esportivo, as suas técnicas e conceitos; o segundo propõe uma breve definição e história do humor e sua atuação no jornalismo brasileiro. Por fim, o terceiro capítulo se encarrega da análise do nosso objeto de estudo.

10

CAPÍTULO I

NOS MEANDROS DA IMPRENSA E DO JORNALISMO ESPORTIVO

1.1 Circulando notícia: do século XV ao XX A palavra “journaliste” é a junção de duas palavras francesas “jour”, cuja tradução corresponde a “dia”, e “analyste”, que significa “analista”. As duas em conjunto acabaram por definir a palavra e a profissão jornalista como “analista do cotidiano”. Apesar de desde o começo estar ligado ao surgimento de novas tecnologias, a imprensa surgiu no século XV, em especial com a montagem da prensa de Gutenberg, mas, a partir dessa fase, continuou a se renovar e crescer com o passar dos anos e a modernização da profissão. Apesar do tempo transcorrer e novos meios de comunicação surgirem à medida que a tecnologia vai avançando, a definição de jornalismo nunca muda. Ela significa a busca, investigação e a análise de informações para se produzir e divulgar à população, seja qual for o meio de comunicação, todos os envolvidos no acontecimento e que mexem com todos os sentimentos da sociedade. A publicação desses fatos pode ser feita por impressão, como em jornais e revistas, além de televisão, rádio e internet. Segundo o jornalista, escritor, autor e pesquisador Luiz Beltrão (2006, p. 31), responsável por desbravar e abrir os caminhos das pesquisas em comunicação no Brasil, o jornalismo tem três finalidades:

1º) informar, orientar e entreter o leitor. Este visa: informar-se do novo, do imprevisto, do original e, através dele ou por causa dele, recordar-se do passado, do já sabido, do quase perdido nos arcanos da memória; 2º) receber uma mensagem de advertência ou orientação, isto é, orientar-se para o futuro, para a ação; 3º) entreter-se, descansar das preocupações no humor, na ficção, na poesia, nas belas letras, na arte. Daí a extensão do campo jornalístico a todos os quadrantes da atividade humana a todos os seres, às coisas, à natureza, a todos os domínios da inteligência e da sensibilidade.

É dito também, além, é claro das técnicas e dos saberes para fazer jornalismo, que os assuntos relacionados ao imediatismo e interligados aos acontecimentos sociais fazem parte do saber fazer notícia. Por seu turno, a imprensa engloba toda a produção do saber e conhecimento social. 11

Já outros jornalistas fazem uma definição mais sucinta e direta sobre a imprensa, como se o jornalismo fosse uma conquista de mentes e corações de seus destinatários, no caso os leitores, telespectadores, ouvintes, público etc, que usa de uma arma muito potente perante as outras: as palavras e as imagens. Mas, apesar de a definição do que é jornalismo variar de um para outro, o estudo de toda sua história é importante para analisarmos e entendermos como foram os caminhos da construção social através da produção midiática que, com o passar dos anos, passou por muitas mutações. E o estudo do jornalismo a partir da origem da imprensa é de grande importância, pois acarreta em significados e caminhos sobre o tempo em que o homem mudou e começou a sentir o dever de se comunicar para determinado ouvinte. A história do jornalismo, segundo Ciro Marcondes Filho (2000), é classificada em duas fases: a primeira, de 1789 à metade do século XIX, marcado por caminhas em um período tipificado por convicções iluministas (fase famosa por abrir espaço para o esclarecimento político e ideológico do povo), depois literários e, no final, por uma fase mais avançada marcada na política com fins ideológicos. Já a segunda etapa é definida por aquela mudança para o jornal como empresa capitalista interessada em lucrar, impulsionada pela vinda das tecnologias do século XIX. De acordo com Marcondes Filho, as duas etapas são parecidas, elas apenas se separam no quesito da responsabilidade ideológica: a primeira, mais política; e a segunda envolvida com o capital (dinheiro). Nessa segunda fase, as mudanças nos procedimentos de produção do jornal fizeram com que este meio ficasse mais independente, mas que, ao mesmo tempo, também se tornasse escravo dos grandes custos de todo o seu crescimento. Consequentemente, acabou sendo refém das imposições do capital. A partir dessa transformação, a informação se torna moeda de troca, pois ela passa a ser valorada não apenas como sua forma de qualidade e importância, mas pelo seu valor como produto de mercado. Já no século XX, o crescimento do jornalismo se manteve principalmente pela vinda de novos meios de comunicação social, como o rádio e a televisão. Na atualidade, todos vivem mais uma nova convulsão no jornalismo devido à Era da Informação e do Conhecimento, que necessita de uma vasta variedade de novas mudanças e adaptações dos antigos meios de comunicação que devem se unir e abrir novas portas, principalmente para o jornalismo online. 12

Mas foram necessárias muitas mutações sociais para acontecer esse “boom” do jornalismo, em especial todo aquele sistema de urbanização e escolarização da sociedade, fatores que intensificaram o avanço de todas as futuras metrópoles. Segundo Sodré (1999), a expansão da imprensa também foi impulsionada pela liberdade, por meio da conquista de direitos fundamentais e da democracia como nova forma de governo. Os jornais passaram a ser reconhecidos como um meio de denunciar as mazelas e injustiças sociais. Desse modo, o jornalismo passou a figurar como um aliado da democracia e a ser considerado como o Quarto Poder.

O poder do jornalismo e dos jornalistas aponta para a importância das suas responsabilidades sociais. A afirmação do reconhecimento das suas responsabilidades, por parte dos jornalistas e também por parte das empresas jornalísticas, não é possível reduzindo a notícia a uma simples mercadoria, e ignorando a existência dos ideais mais nobres do jornalismo, que fornecem uma manta de legitimidade ao negócio (TRAQUINA, 2005, p. 217-208).

O exercício na forma social do jornalismo é a de oferecer ao seu público informação verdadeira e objetiva, de um jeito que essa informação contribua para o aumento do conhecimento da população e a coloque com uma capacidade a mais de entender e fazer parte da vida democrática. Com isso, pode se dizer, o jornalismo é uma profissão entrelaçada com a sociedade, de modo que a afeição com a devida causa reflete na outra esfera: no caso, a população que recebe a informação. Segundo Nelson Traquina (2005), a democracia define que o jornalismo tem o papel de constituir um mercado de ideias em que todas as vozes devem ser ouvidas e discutidas. Com isso, o conceito do jornalismo mudou e passou a ser um produto com base em fatos acontecidos, e não em opiniões do próprio jornalista. Logo, o jornalismo passou a ser aquele que espalha informação, e não propaganda. A partir desse estalo nos responsáveis pela empresa jornalismo, a informação passou a ser tratada como mercadoria, e isso se tornou ainda mais evidente com o aparecimento de uma imprensa sensacionalista no final do século XIX. Mas, para entender mais a fundo o novo método dentro do jornalismo, foi preciso dar uma quebra na sua sequência, justamente para colocar tudo de novo que poderia vir com essa criação. Para Pena, a objetividade dessa questão não pode ser definida como contra a subjetividade, pois ela surge não para excluí-la, mas sim para reconhecer sua inevitabilidade. 13

Seu verdadeiro significado está ligado à ideia de que os fatos são construídos de forma tão complexa que não se pode cultuá-los como a expressão absoluta da realidade. Pelo contrário, é preciso desconfiar desses fatos e criar um método que assegure algum rigor científico ao reportá-los. A objetividade, então, surge porque há uma percepção de que os fatos são subjetivos, ou seja, construídos a partir da mediação de um indivíduo, que tem preconceitos, ideologias, carências, interesses pessoais ou organizacionais e outras idiossincrasias. E como estas não deixarão de existir, vamos tratar de amenizar sua influência no relato dos acontecimentos. Vamos criar uma metodologia de trabalho (PENA, 2005, p. 50).

Com o advento do lead, tudo fica mais fácil nas redações. A divisão de tarefas fica mais nítida e direta. Embora tudo esteja bem relacionado e colado, os pauteiros, repórteres e editores têm suas próprias missões pré-estabelecidas e bem ordenadas. Para Pena, o outro marco na história do jornalismo foi a criação da estrutura narrativa conhecida como “pirâmide invertida”, em 1861, registrada pela primeira vez em um jornal de Nova York. Ela consiste em um relato que prioriza não a sequência cronológica dos fatos, mas escala em ordem decrescente os elementos mais importantes, os essenciais, em uma montagem que os hierarquiza de modo a apresentar inicialmente os mais atraentes, terminando por aqueles de menor apelo. Mas não podemos falar de modernidade no jornalismo sem falar de Joseph Pulitzer. O editor e jornalista húngaro foi o responsável por definir o padrão de jornalismo moderno, chamado de quarto poder. Além de usar alguns espaços do jornal para colocar publicidade para garantir a independência financeira e não ficar refém de partidos políticos, em um tempo em que os outros jornais eram reflexo da vontade dos chefões da cidade. Ele dizia que “um jornal tinha que ter circulação ampla, para ter publicidade e, com isso, dinheiro para ser independente”. Até hoje, Pulitzer goza de muito prestígio pelo mundo inteiro, tanto que seis anos após a sua morte, em 1917, começou a entrega do Prêmio Pulitzer de Jornalismo, que têm como objetivo reconhecer grandes trabalhos jornalísticos e literários. Essa premiação, como forma de homenagem ao jornalista, é realizada até hoje.

1.2 O jornalismo no século XXI Antigamente, as informações eram passadas de uma pessoa a outra, de geração a geração, por meio de pinturas rupestres. Logo, o jeito de transmitir essa história para o público também ficava antiga. Mas isso foi mudando à medida que o tempo transcorreu, 14 e vários fatores começaram a mexer no que se definia como o que era ou não de fato notícia. Com essas transformações, muitos e múltiplos fatores dentro da “esfera” do jornalismo passaram a interferir em toda construção da notícia, assim como deduções cognitivas, padronizações e pré-julgamentos que sempre rondaram toda a sociedade. Segundo Nelson Traquina (2005), ao jornalismo são reivindicadas a autoridade e legitimidade de exercer um monopólio sobre o poder de decidir como os acontecimentos serão noticiados e suas problemáticas. Como atuais métodos que decretam a produção jornalística, Traquina (2005) destaca que a construção das notícias ocorre de acordo com interesses das empresas jornalísticas, bem como de editores, grupos de poder e dos próprios jornalistas; as relações entre jornalistas e fontes podem determinar o que será transformado em notícia e de que forma será noticiado; o caráter compartilhado dos valores noticiosos, que possibilitam o saber de reconhecimento do que é notícia, é um aspecto essencial da cultura do jornalismo; as políticas editoriais firmadas e específicas de cada organização também influenciam o processo de produção das notícias; e os textos jornalísticos (notícias, matérias, reportagens) são sempre redigidos de forma semelhante, como se seguissem um modelo pré-determinado. Os textos parecem ser moldados. Ainda sobre texto e visão, Traquina (2008) salienta nas técnicas de produção das notícias outro parâmetro que influencia as produções: a comunidade jornalística. Ele elucida que um jornalista sempre executa seus textos de acordo com a opinião de determinadas variantes. Por exemplo, em uma redação, como um repórter, editor, fonte, veículo, público, assessor etc. E isso faz com que eles, quase sempre, fiquem alertas sobre a opinião de outros jornalistas, e acabam criando seus textos e falas para que de alguma forma fique de acordo com aqueles que o julgam: não é o público que irá receber as informações, mas sim outros jornalistas. A partir desse ideal errado de se fazer um texto, os seus pares devem construir uma imagem sobre determinado jornalista. É nítido que ainda há uma procura incansável por reconhecimento dentro da própria área das notícias. Isso faz com que os próprios jornalistas exerçam o papel de avaliadores de seus próprios companheiros.

15

O cerne da questão é que ninguém segue as notícias tão de perto como os jornalistas. Os jornalistas monitoram a cobertura uns dos outros. Mesmo quando não estão em contato direto, os jornalistas confiam fortemente no trabalho uns dos outros, como prática institucionalizada, para ideias de histórias e confirmação de seus critérios noticiosos (TRAQUINA, 2008, p. 26). Nesse sentido, não só na área jornalística, mas o julgamento do trabalho feito pelos próprios colegas sobrepõe uma apreciação vinda de fora, que, certamente, seria rechaçada pelos próprios. Com isso, falar que os profissionais da comunicação ligam mais para a aceitação de outros da mesma área do que com aqueles que, invariavelmente, recebem as notícias, não é nenhum excesso. Segundo Jorge Pedro Souza (2004), quando um jornalista é integrado a um ambiente de trabalho novo, o mesmo procura apreender as políticas internas da organização, observando e imitando os colegas de trabalho com mais experiência. E todo esse caminho acontece como uma maneira de sociabilização mais cordial. No terreno mais corporativo, organizacional, os jornalistas se socializam de uma forma mais ordenada a alguns jeitos. Traquina (2001, p. 72- 73) descreve esses processos: os jornalistas têm medo de sofrer punições ou retaliações profissionais e, dessa maneira, são estabelecidas a ordem e a autoridade institucionais; os jornalistas, em grande maioria e assim como diversos outros profissionais, sempre almejam uma carreira ascendente e, para tanto, tendem a cumprir as normas das empresas de comunicação para as quais trabalham; os jornalistas, assim como diversas outras categorias profissionais, possuem superiores aos quais prestam respeito e subordinação; o ambiente de trabalho jornalístico é relativamente pacífico; os jornalistas, geralmente, valorizam as oportunidades de conhecer em primeira-mão os acontecimentos importantes e de estarem sempre envolvidos em diferentes tarefas e assuntos; a atividade jornalística é orientada pelo objetivo de se conseguir um número de notícias maior do que a concorrência, preferencialmente furos de reportagem, notícias exclusivas e inéditas. Essa prática harmoniza os interesses dos jornalistas com os dos editores e proprietários da organização. Agora, no âmbito profissional dos jornalistas, Traquina (2005) fala da invenção do “ethos’, uma forma de costume e cultura da área que serve para orientar a aplicação do jornalismo, fazendo com que o conhecimento no processo de técnica de notícias se mantenha. Segundo esse “ethos”, os jornalistas têm o direito e o dever de informar a sociedade. 16

Para Sousa (2004, p. 93), “o ethos jornalístico é ideológico, pois concentra o conjunto de ideias que sustentam os interesses da comunidade jornalística. Seu objetivo é legitimar o jornalismo em dois vetores: a objetividade e o profissionalismo”.

A ideologia da objetividade leva os jornalistas a construírem notícias de maneira a que estas “espelhem” o melhor possível a realidade; a ideologia do profissionalismo alimenta o sentido de missão dos jornalistas, contribuindo para uma atividade de vigilância ativa dos poderes (SOUSA, 2004, p. 26).

Nesse contexto, a cultura profissional é tema de diversos estudos sobre o jornalismo, profissão na qual os jornalistas trocam preceitos, crenças, conceitos e convicções de se ver e fazer determinadas ações. Isso faz com que eles estabeleçam uma sabedoria marcada por partilhar valores e formas de ver e fazer as coisas, estabelecendo, assim, uma cultura caracterizada por conhecimentos da profissão bem particulares. Cristina Ponte (2005) destaca que esses conhecimentos, além de os conectarem a uma cultura jornalística, também encaminham a produção de notícias e ao ofício de jornalista. São eles: saberes de reconhecimento – capacidade de reconhecer o que é notícia; saberes de procedimento – capacidade de recolher e processar informação, verificar fatos, assimilar respostas, fazer entrevistas, saber quais fontes consultar e quais métodos usar para interrogá-las, como desenvolver um tema e como gerir o tempo; e saberes de narração – domínio das técnicas de redação jornalística e boa argumentação para justificar ações caso sejam questionadas. Luiz Beltrão (2006) considera o jornalismo como “a história que passa no presente”. Porém, segundo o próprio autor, a profissão não tem apenas a missão de trazer informações sobre os acontecimentos significativos para a população, mas também tem a incumbência de analisar todos eles, sugerir alguma solução e conceber alguns aprendizados. Traquina (2005) enfatiza a liberdade e também a objetividade como dois valores do jornalismo que levantam discussões. O reconhecimento dos jornalistas pela liberdade de imprensa é pela soberania deles em correlação aos demais dirigentes sociais, e a objetividade das atividades da profissão é confirmada através de sistemas que eles próprios usam para garantir fiabilidade ao seu serviço. Como exemplo, a checagem em um acontecimento de ambos os lados envolvidos no fato. Rotineiramente, os jornalistas procuram se afirmar como o meio que liga o público à informação da realidade social, mas eles fazem isso agarrados em algo que eles pensam 17 que é objetivo, mas é apenas imaginativo, já que as notícias são representações figurativas da realidade social desenhadas e esculpidas sob um olhar total dos jornalistas e dos meios de comunicação. Portanto, não podem ser direcionadas como reações concretas da verdade. Sobre o processo de produção de notícias, Sodré (1999, p. 78) aponta que:

o jornalismo muitas vezes é considerado como o espelho da realidade, mas seu reflexo é subjetivo e depende de diversos pontos de vista. Esse reflexo é apenas uma dimensão na construção e percepção da realidade que ocorre de forma discursiva. Ocorre um recorte da realidade, por meio de um viés do próprio jornalista, da organização para qual ele trabalha ou de grupos ideológicos que ele tem em mente quando pauta determinados acontecimentos e outros não.

1.3 A imprensa especializada em esporte E por se tratar mais da paixão e do amor das pessoas, o jornalismo esportivo merece atenção especial, embora, segundo afirma Paulo Vinícius Coelho (2003, p. 7), o escritor Graciliano Ramos, no início do século XX, tenha dito que “futebol não pega, tenho certeza; estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho”. PVC, apelido de Paulo Vinícius Coelho, ainda escreve que Graciliano parecia convencido de que o jogo dos ingleses não iria conquistar adeptos no Brasil. Embora tenha afirmado isso, o escritor não era contra o futebol, ele apenas achou que o que vinha de fora não iria cair no gosto dos brasileiros. Graciliano tinha o poder na época, pois talvez tenha sido o primeiro palpiteiro sobre esportes. Aliás, duvidar da permanência do futebol foi uma máxima até mesmo entre as pessoas mais experientes, que viviam de escrever para os cadernos especializados. Outro figurão que também questionou sobre o esporte no país foi João Saldanha, que, além de escritor e jornalista, também foi treinador de futebol. Saldanha disse no final dos anos 60 sobre um tal aventureiro que resolveu lançar uma revista inteira dedicada ao futebol, na época era o lançamento da revista “”. Além de falar que a revista não passaria de alguns exemplares nos primeiros meses. Fato totalmente errado, visto que Placar, apesar das várias mudanças tanto nas editorias quanto nas gráficas, manteve-se durante muito tempo como um pilar do esporte no país. Mas, antes da Placar, os veículos de comunicação que começaram a se dedicar mais ao esporte vieram bem mais cedo. E os primeiros anos de cobertura esportiva no Brasil foram complicados. Os jornais não valorizavam o esporte e muitos acreditavam que uma matéria sobre futebol não pudesse justificar meia página de matéria. 18

Pouca gente acreditava que o futebol fosse assunto para estampar manchetes. [...] Assunto menor. Como poderia uma vitória nas raias – ou nos campos, nos ginásios, nas quadras – valer mais do que uma importante decisão sobre a vida política do país? [...] A primeira cesta no Brasil, o primeiro saque. Tudo foi registrado. Tudo meio a contragosto. Porque nas redações do passado – isso se verifica também nas de hoje em dia – havia sempre alguém disposto a cortar uma linha a mais dedicada ao esporte (COELHO, 2003, p. 7, 9).

O jornal ‘Fanfulla”, na década de 1910, foi um dos primeiros veículos no Brasil a divulgar notícias sobre esportes, mas sem muito alcance. Já 20 anos mais tarde, nos anos 30, surgiu o primeiro jornal exclusivamente dedicado aos esportes, o “Jornal dos Sports”, na cidade do Rio de Janeiro, cujo fundador foi o jornalista Mário Filho, irmão rubro-negro do dramaturgo e jornalista tricolor Nelson Rodrigues (COELHO, 2003). Na mesma época, mais exatamente em 1938, o Brasil começou a aparecer com mais destaque na imprensa internacional, e isso fez com que despertasse o interesse pela divulgação do esporte. Apesar do começo desse interesse mais atento ao esporte, só na segunda metade dos anos 60 que o Brasil entrou na lista dos países com imprensa esportiva de larga extensão, motivado pelo surgimento do jornal “Caderno de Esportes” em São Paulo, que originou o “Jornal da Tarde”, uma das mais importantes experiências de grandes reportagens do jornalismo brasileiro, com foco em escândalos da administração e do futebol jogado extracampo. Apesar desse notável crescimento, visibilidade e espaço nas páginas dos jornais, a publicação crescente de novas notas acabou por divulgar ainda mais o esporte. Ainda existia um pé atrás sobre os desdobramentos desse tipo de editoria. A hora da virada do esporte mais amado pelos brasileiros foi com o surgimento dos irmãos Mário Filho e Nelson Rodrigues. Nelson e Mário mudaram a forma como eram feitas as coberturas de futebol, com um estilo mais criativo e mais amor do que razão nos textos. Os dois até hoje têm fãs, fato que não deve mudar tão brevemente. Os dois, num tempo em que não havia todos os recursos da televisão, eram referências, com a propagação de jogadas espetaculares, gols, jogadas descritas com muito fervor e de jogos que os torcedores mais rivais esperavam. Além de levar multidões aos estádios, os irmãos davam ao esporte um ambiente apaixonado, caricato e místico. Dessa forma, o futebol começou sua caminhada para o interesse cada vez maior do público e, consequentemente, dos jornais. 19

As colunas esportivas de Nelson Rodrigues reverenciavam os jogadores e relatavam de forma dramática e emocionante partidas que o míope jornalista sequer havia visto. Ao leitor, ficava a impressão de um jogo mágico, imperdível. A lente de aumento de Rodrigues e de seu irmão Mário Filho – que hoje empresta nome a um dos estádios mais famosos do mundo, o Maracanã – ajudou a popularizar o futebol no país, fez crescer as torcidas das equipes cariocas e ajudou a gerar no brasileiro uma paixão pela bola. Por exemplo, quando Nelson, em 1963, com seus 51 anos, escreveu sobre a lembrança do fracasso da seleção brasileira na Copa de 1950, num trecho retirado do jornal GGN, de São Paulo, em 2014, mas que foi escrito por Nelson, para a Manchete Esportiva, em 1963.

O uruguaio Obdulio ganhou de nosso escrete no grito e no dedo na cara. Não me venham dizer que o escrete é apenas um time. Não. Se uma equipe entra em campo como nome do Brasil e tendo por fundo musical o hino pátrio — é como se fosse a pátria em calções e chuteiras, a dar botinadas e a receber botinadas. Pois bem. Depois da experiência bíblica de 50, passamos a rosnar, por todas as esquinas e por todos os botecos do continente, o seguinte juízo final sobre nós: — ‘O brasileiro é bom de bola, mas frouxo como homem’. É o que diziam, sim, de nós, com feroz sarcasmo, os craques da Argentina e os craques do Uruguai. Até que vem aquele famoso Campeonato Sul-Americano de 1959. Há o jogo Brasil x Uruguai. E, de repente, estoura um sururu monstruoso. Brigaram até as cadeiras. Foi uma página de Walter Scott. O próprio Chinesinho, com o seu tamanho de anão de Velasquez, levou e deu bordoada. Lindo, lindo foi quando Didi tomou distância, correu e saltou. Por um momento ele se tornou leve, elástico, acrobático. E enfiou duas chuteiras em flor na cara do inimigo. Quando parou a guerra e continuou o jogo, demos um banho de bola. Ora, há uma nítida relação entre a passividade de 50 e a agressividade do tal Sul-Americano. As duas coisas estão ligadas e uma justifica a outra. Certo e brilhante confrade dizia-me ontem que ‘futebol é bola’. Não há juízo mais inexato, mais utópico, mais irrealístico. O colega esvazia o futebol como um pneu, e repito: — retira do futebol tudo o que ele tem de misterioso e de patético. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural. Eu diria ainda ao ilustre confrade o seguinte: — em futebol, o pior cego é o que só vê a bola” (Nelson Rodrigues, Manchete Esportiva, 18/11/1963).

Já o ano de 1970 não foi marcado somente pelo tri da seleção brasileira na Copa do Mundo no México, mas também como a primeira vez que a competição foi transmitida ao vivo para todo o público. Fato que só faria aumentar cada vez mais o interesse do povo pelo esporte. E junto dos telespectadores estava o locutor Geraldo José de Almeida, responsável por transmitir toda a emoção de dentro de campo para os apaixonados pelo esporte. Foi dele, inclusive, que saiu o apelido de “seleção canarinho”. Um fato interessante é que o 20 jogo no México, contra a seleção da Inglaterra, no dia 10 de junho, atraiu mais telespectadores do que a transmissão da chegada do homem à lua no ano anterior. E isso só aconteceu porque a notícia de que os jogos seriam transmitidos ao vivo pela televisão provocou uma corrida desesperada da população às lojas de eletrodomésticos, que venderam milhares de televisores nos meses que antecederam a Copa. Embora o jornalismo esportivo brasileiro no início tenha enfrentado dificuldades para estabelecer a sua importância na sociedade, o esporte sempre foi caracterizado pela paixão e interesse das pessoas. Já é perceptível que o esporte como um todo faz parte da realidade e do cotidiano de grande parte da população brasileira. Logo, a editoria de esportes, seja ela em um jornal, TV, rádio, já é bem vista e lida. E com o crescimento da tecnologia em todos as áreas, o jornalismo também seria afetado. Em especial em situações em que o registro de uma imagem ou acontecimento contribui para que qualquer leigo no assunto se torne um comunicador. Com o avanço da tecnologia, mostrar tal fato nunca foi tão hábil, e tal ocorrido afeta diretamente o papel do jornalista, visto que uma pessoa comum pode fazer a função mesmo que da forma mais amadora possível. Por exemplo, hoje em dia é bastante comum vermos reportagens sobre os gols da rodada, em que aparecem os lances na visão dos torcedores. Isso é a forma mais pura e direta do que está acontecendo no jornalismo. Não é mais tão raro encontrar reportagens que tiveram origem de vídeos ou fotos registrados por cidadãos ou uma mensagem numa rede social se torna motivo para as mais diversas pautas. O jornalismo esportivo no ambiente online é como outro qualquer produto na área. A notícia com todos os seus fatos é a base da sustentação de um veículo de comunicação. Sem isso a empresa não vai ter nenhuma noção sobre a sua grandeza ou potencial de crescimento. A audiência da publicação dessa notícia reflete diretamente no faturamento, e o mundo possibilita novas vertentes que contribuem para prender atenção do público.

1.4 As técnicas do jornalismo esportivo Na introdução do livro “Manual do Jornalismo Esportivo”, Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel (2006) afirmam bem que o jornalista que trabalha na editoria de esportes é um profissional capacitado para captar, tratar e divulgar as notícias sempre com base nas regras da ética e do interesse público. Tal jornalista deve entender e dominar as técnicas jornalísticas de checagem dos fatos, das fontes e das versões, além, é claro, de ter como objetivo e missão não perder de vista todos os lados de uma mesma história. 21

Afinal, como bem afirmam os autores, “jornalismo é jornalismo: seja ele esportivo, político, econômico, social” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 13). Com isso, seja ela feita em qualquer diretriz do jornalismo, a essência de mostrar os fatos e os pontos de vista para o público não se altera. É assim que deveriam atuar, pelo menos como dizem nos livros, os jornalistas esportivos, antes de tudo, como jornalistas. Já um pouco mais distante dos livros e das teorias, na prática, no entanto, esse padrão é fundamental para se desenvolver o jornalismo esportivo sério, comprometido e atento com a apuração, checagem e divulgação dos fatos relevantes para o interesse público e de acordo com as regras da ética. Porém, segundo Barbeiro e Rangel (2006), trabalhar nesta editoria é estar sujeito a algumas especificidades. Uma certa instabilidade existe, pois, muitas vezes, “o jornalismo esportivo se confunde, frequentemente, com puro entretenimento” (Idem, 2006, p. 13). Por envolver fatores que não estão privilegiados em outros setores do jornalismo, o principal deles sendo o fator emocional, o jornalismo esportivo muitas vezes perde o foco do que é a sua função social. Por isso, até hoje, existe aquela polêmica de que um narrador grita o gol mais emocionante para tal time ou um repórter faz uma matéria mais bem alinhada com um clube do que com aquele outro, ou um comentarista elogia mais esse do que aquele. Um dos maiores envolvidos nessa questão, se não o maior, é o jornalista esportivo Mauro Beting. Com 51 anos, 28 dedicados ao jornalismo esportivo, Mauro nunca escondeu de ninguém seu amor pelo Palmeiras. Tal paixão foi herdada do pai, o também jornalista Joelmir Betting, um dos principais jornalistas esportivos e econômicos do Brasil, mas que fez sua fama por romper a barreira e sempre mostrar para todos o amor pelo Verdão paulista. Apesar de vivermos em uma época em que reina a intolerância sobre todos e acontecem tragédias com brigas entre torcidas nos estádios, Mauro não se abstém disso e reafirmar seu carinho pelo clube e, ao mesmo tempo, ainda é respeitado pelos rivais e por muitas pessoas. Atualmente, ele trabalha como apresentador no canal Esporte Interativo, na rádio Jovem Pan e escreve para o seu blog no site UOL. Durante uma entrevista para o site “torcedores.com”, realizada em 2017, Mauro disse que é mais difícil ter que lidar com a relação entre os palmeirenses e o seu trabalho jornalístico.

22

Parece uma namorada que fica brava quando vê uma carta de amor para outra. Não adianta explicar que é meu ofício. Encaram como traição. Reclamam que alguns colegas são parciais demais com os clubes deles e exigem que eu também seja. Que eu não defendo o Palmeiras1.

Ele diz que entende a relação e que fica lisonjeado. Mas que essa cobrança precisa ser balanceada, afinal, alguns torcedores se queixam do “clubismo”2 de alguns, mas exigem o mesmo de mim e de outros colegas? Apesar de ser palmeirense assumido, Mauro Beting não se limita a viver para o clube. Ele tem texto do Grêmio que querem fazer placa de bronze na Arena. Textos do Atlético Mineiro e do Internacional nos sites oficiais. Texto da Portuguesa lido no conselho e afixado em um banner. Vários do São Paulo e de Rogério Ceni. Nos livros, já mencionou outros clubes. Além de vários textos que são repercutidos por mostrarem que lugar de torcedor é em todo lugar. Mas o que Beting gosta mesmo é da relação de respeito que criou com quase todas as torcidas rivais, apesar de ser um torcedor assumido do Palmeiras. Ele disse que é bom

Poder ir de madrugada receber o Borja e postar isso numa boa. Sem receio de nada. Abrindo o jogo você fica mais exposto. Mas em condição também de não te cobrarem por algo que você não esconde. Não invento que torço pelo 31 de Abril de Presidente Timóteo. Sou Palmeiras. Aqui e em todos os lugares. E adoro quando alguém vem me zoar. É uma delícia zoar e ser zoado pelo futebol3.

Já quando o assunto é produção das informações feita por um jornalista, algumas bases são de suma importância para fazer o trabalho da imprensa esportiva de maneira diferente. O primeiro deles é fazer perguntas boas e bem colocadas.

Uma boa reportagem depende de perguntas feitas para as pessoas certas no momento adequado. Se fizer bom uso deste instrumento de trabalho,

1 Disponível em: . Acesso em: 13/08/2018 2 Clubismo é quando determinado torcedor de um clube, independente do desempenho daquela equipe, vive em cem por cento a sua paixão, deixando totalmente de lado a sua razão. 3 Disponível em: . Acesso em: 13/08/2018

23

o repórter esportivo tem tudo para ser um bom profissional (Idem, 2006, p. 20).

Uma entrevista bem feita se torna a “grande estrela” do jornalismo esportivo, pois, se bem produzida e alinhada, é capaz de tirar do entrevistado respostas jamais antes respondidas. Todavia, afirmam que este fator tão importante é utilizado de forma inapropriada, já que “a maioria das entrevistas na área esportiva é totalmente viciada” (Idem, 2006 p. 36). Eles dizem que as perguntas em si já tão batidas, induzem as próprias respostas. “Uma boa reportagem depende de boas perguntas feitas para as pessoas certas no momento adequado. Se fizer bom uso desse instrumento de trabalho, o repórter esportivo tem tudo para ser um bom profissional” (Idem, p. 20). Afinal, tem coisa mais chata do que aquele clichê do “graças a Deus conquistamos os três pontos, ou treinar para vencer a próxima partida, etc.?”. Segundo os autores, não. Para eles, “nada irrita mais o torcedor do que as mesmas e velhas perguntas dos repórteres e as respostas dos jogadores depois das partidas” (Idem, p. 84). Mas existe uma coisa que pode mudar isso. Para os autores, entre profissionais esportivos atuais e mais antenados e aqueles da geração antiga há uma larga diferença em vários quesitos. Barbeiro e Rangel (2006) acreditam que os jornalistas esportivos de hoje chegam mais preparados em virtude do acesso fácil à informação, e, por esse motivo, têm conhecimento amplo de outras modalidades esportivas, não só o futebol. Entretanto, por deterem o maior número de informações, os novos profissionais já entram nas redações de nariz empinado e com o ego inflado e bem lá no alto. Os autores entendem que a nova geração chega às redações demonstrando mais arrogância e autossuficiência, o que classificam como “incompatíveis com a profissão”, e acabam refletindo na qualidade da matéria (Idem, p. 20). Essa afirmação demonstra uma característica bem negativa, principalmente para os jornalistas que trabalham na televisão. Para os autores, existe uma de várias confusões no jornalismo esportivo, pois muitos profissionais, por estarem há bastante tempo entranhados no meio esportivo e por serem conhecidos por tal trabalho, se encaram como ídolos do esporte e acabam por confundir totalmente os papeis, o que coloca em dúvida a qualidade do produto final, ou seja, a notícia. Para Barbeiro e Rangel (2006), os jornalistas precisam ter consciência do que significa ser jornalista, sem colocar na dúvida sua credibilidade. 24

Eles também sugerem para todos os profissionais que, para fazer uma boa reportagem, o jornalista deve ser curioso e aprender a fuçar cada vez mais na notícia, não esquecendo de toda sua fundamentação teórica e prática. Também fica o questionamento importante, mas dessa vez sobre os jogadores: por que eles respondem sempre a mesma coisa. Os pesquisadores dizem que, muito provavelmente, é porque ouvem sempre as mesmas perguntas. O único fator que os separa é o espaço e tempo. Após essas passagens fica claro que o profissional – não só esportivo, mas em qualquer área – precisa ter repertório, pois toda a transmissão, tanto no aspecto da qualidade quanto da quantidade, depende dos repórteres e de suas pesquisas sobre o fato. Um fator comum que, com frequência, nós vimos nas transmissões esportivas é aquela do repórter sempre dizer as mesmas coisas que a grande maioria do público já sabe. Isso é um sinal de que o profissional não pesquisou e tem só aquilo para dizer, o denominador comum. Por outro lado, o repórter mais dedicado estará sempre munido de detalhes e vai acrescentar aquelas informações diversificadas que pouca gente sabe, além de ajudar a esclarecer o que está acontecendo ou o que ainda vai proceder posteriormente. Segundo Barbeiro e Rangel (2006), fugir da mesmice é o passo para fazer uma boa reportagem, sem deixar de informar, mas procurar ver por outro ângulo, sair do factual, “fuçar” e achar informações, não notificando apenas um fato, mas detalhando-o. Porém produzir esse contexto fora da mesmice e do senso comum é complicado, ainda mais quando se deve manter todo o contexto da história e da narração da própria. E ainda citando Barbeiro e Rangel, dessa vez sobre a linguagem colocada nas matérias, os dois dizem que a linguagem deve ser clara e precisa e que não se deve poupar em didatismo, que é a forma de ensinar e mostrar àqueles que ainda não conhecem sobre futebol. “A linguagem da reportagem deve ser acessível a qualquer interessado. Ainda que o jornalismo esportivo seja dirigido a um público-alvo direcionado, os termos técnicos não podem poluir o entendimento” (Idem, p. 22). Assim, dizem que fugir do lugar comum é importante. Os autores também falam que “mais do que qualquer outro assunto, o jornalismo esportivo precisa evitar o uso exagerado de adjetivos, principalmente, sensacional, extraordinário, dramático etc” (Idem, p. 23). Além, é claro, do tão falado e comentado sensacionalismo, colocado à força na imprensa esportiva e em outras áreas do jornalismo. Outro fator dito por Patrícia Rangel e Heródoto Barbeiro é a questão envolvendo a vida privada daqueles que trabalham no futebol. Os dois afirmam que não se deve envolver vida profissional com 25 pessoal e que os profissionais existem para falar do desempenho de todos quando os próprios estão em ação, sejam eles atletas ou dirigentes. Mas tudo isso pode ser derrubado dependendo de como o profissional se relaciona com a profissão e seus devidos deveres. É aí que entra a pressão que o jornalista esportivo sofre a todo momento, que começa com os torcedores. Falar e escrever sobre esportes é gerenciar uma única coisa que se torna gigante para qualquer pessoa que vive o esporte, que é a paixão. Sentimento que não vem somente do torcedor mas também do próprio jornalista. Afinal, assim como todos os torcedores, ele é um ser humano e, provavelmente, escolheu trabalhar com isso por amar o esporte bem antes de trabalhar com ele. Apesar de a mistura de paixão com profissão impedir o fator comum em algumas matérias, também é falado que o jornalista não deve de maneira alguma perder essa paixão. Mas, quando se está trabalhando, o posicionamento deve ser de um profissional que vai mostrar todos os fatos que ali estão acontecendo, deixando alheio o seu lado torcedor. Pois a primeira coisa que atrapalha o jornalista é o seu sentimento de torcedor. O repórter não deve e nunca pode ser abraçado por esse sentimento porque “a paixão emperra a apuração, incentiva a notícia sem acurácia e atrapalha a busca contínua da isenção e da ética” (Idem, p. 22).

A pátria não está de chuteiras, nem de sunga, nem de capacete, nem de biquíni, nem de maiô, enfim, a pátria não se confunde com uma competição, seja ela qual for, com finalidades políticas e populistas, alguns governos, com apoio da mídia, favorecem isso. Cabe ao jornalista fazer a separação e denunciar a manipulação de um entretenimento como instrumento político (Idem, p. 47).

A objetividade, um dos valores jornalísticos mais defendidos para se trabalhar, na editoria de esportes é o local com mais empecilho para se impor tal fundamento. Por isso, este grande quesito é mais do que importante usar em suas falas ou textos. E como o jornalista tem acesso às informações antes do torcedor, ele é um privilegiado e deve usar tal privilégio para entender o assunto e mostrar ao público tal entendimento. Se não fosse para isso, qualquer pessoa poderia gozar da profissão de jornalista. Como foi falado antes, o jornalista esportivo deve fazer o seu papel de investigador, procurando dados, números, contas, alguma falha que os envolvidos em tal caso nem sabiam que existiam. Esse é o seu papel. E com a devida investigação, averiguação dos fatos e, por fim, a veiculação das informações, o jornalista agrada alguns e desagrada outros. “Não se faz jornalismo sem 26 se fazer vítimas, ou melhor, sem provocar algum reflexo social. Se não provocar, não é jornalismo” (Idem, p. 116).

CAPÍTULO II

O HUMOR

2.1 Entendendo a história Quando se pergunta sobre a definição mais concreta e exata do significado da palavra humor, logo lembramos daquela risada mais longa e fácil de ser notada. Mas o humor não vem de hoje ou de pouco tempo atrás. Segundo Bremmer e Roodenburg (2000), entende-se por humor qualquer mensagem expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou músicas, cuja intenção é a de provocar o riso ou um sorriso. E seu primeiro registro, segundo o livro “Uma história cultural do humor”, foi na Inglaterra em 1682. Por isso, esse entendimento de humor é parcialmente novo. Antigamente, todo e qualquer sentimento que expressasse um tom risonho significava disposição mental ou temperamento. Na obra “Sensus communis: um ensaio sobre a liberdade da graça e do humor”, de 1709, escrita por Lorde Shaftesbury, o humor é definido como uma facécia, um tipo de zombaria, comicidade, e é menos intelectual e mais agradável que o chiste4. Eles também mostram os caminhos do humor em diversos países, como Inglaterra, Holanda, França etc. Na origem francesa, o filósofo Voltaire, indo na contramão da origem inglesa, dizia que o humor era um tipo de zoeira, uma brincadeira natural, sem nenhum tom de maldade. E, 200 anos depois, somente em 1870, os franceses começaram a pronunciar a palavra. De fato, como os primeiros passos do humor foram dados na Inglaterra, os outros países europeus usaram dessa base para desenvolverem suas particularidades sobre a palavra. Na Holanda, ainda em 1765, o humor vindo da Inglaterra era visto como algo que eles se familiarizavam apenas em localidades específicas, uma característica única. Já na Alemanha não foi muito diferente, ela também importou a palavra dos ingleses. Mas em 1810, aconteceu uma mudança:

4 Expressão criada pelo psicanalista Sigmund Freud, no qual define o chiste como uma espécie de válvula de escape de nosso inconsciente, que o utiliza para dizer, em tom de brincadeira, aquilo que verdadeiramente pensa. 27

A primeira menção de um termo novo nem sempre implica o surgimento de um novo fenômeno, como ilustrado pelo Witz (chiste) alemão ou mop holandês. Estas duas palavras relativamente recentes descrevem um fenômeno que há muito as antecede, isto é, a piada curta que atinge abruptamente o clímax (BREMMER; ROODENBURG, 2000, p. 14). Os dois termos estavam bem habituados já no século XVII, mas eles, literalmente, só apareceram, respectivamente, nos séculos XVIII e XIX. E, apesar da proximidade, são totalmente adversos entre si. Embora essa discussão acerca do limite do humor esteja em pauta nos tempos atuais, a definição de que o humor provoca o riso, mas o mesmo nem sempre ser originado do humor, procede desde sempre. Segundo Bremmer e Roodenburg (2000), esse tal riso pode ser bastante ameaçador, pois ele sempre começa com uma exibição mais agressiva dos dentes. Mas eles também acalmam, afirmando que o humor e o riso também são favoráveis à felicidade, pois eles podem ser muito libertadores e relaxadores. Afinal, todos nós lembramos de um episódio de humor que, de repente, foi capaz de sanar um clima pesado e tenso em um ambiente. Foram muitos os estudiosos e pesquisadores que buscaram saber a medida certa para o humor. Filósofos, sociólogos, antropólogos, todos focados em achar uma equivalência do humor e do riso.

Uma falha comum a todas estas tentativas é o pressuposto tácito de que existe algo como uma ontologia do humor, que humor e riso são transculturais e anistóricos. Contudo, o riso é um fenômeno tão determinado pela cultura quanto o humor. Algumas tribos riem facilmente, enquanto diz-se que outras são austeras e tristonhas. (BREMMER; ROODENBURG, 2000, p. 14).

Desde muito tempo atrás existem essas diferenças na questão do senso de humor de acordo com a cultura da pessoa ou até de onde essa pessoa está morando. Por exemplo, na Europa, alguns povos achavam comum e rotineiro rir até caírem no chão. Já o homem mais moderno pensa isso como uma atitude antiga. Segundo os estudiosos da época, a atitude certa de um reconhecimento do humor é apenas uma risada tímida entre os dentes, nada muito exagerado e extravagante. 28

Já o nível daquela atenção mais acadêmica e estudiosa do humor era dado sempre em obras de literatura e nos diversos contos populares.

O humor foi estudado pela primeira vez de forma sistemática na Antiguidade. Infelizmente, não é possível acompanhar as teorias antigas de humor de modo satisfatório, já que o segundo livro da Poética de Aristóteles, dedicado à comédia, se perdera para sempre – tema brilhantemente explorado em O nome da rosa, de Umberto Eco – assim como Sobre a comédia e Sobre o absurdo, de seu discípulo Teofrasto (BREMMER; ROODENBURG, 2000, p. 17). Na versão do filósofo e escritor Umberto Eco, a Poética se perdeu, assim como todo o estudo sobre a comédia. E que sem a presença das prensas gráficas, os exemplares dos livros restringiam-se a números bem menores em questão de alcance e todos escritos à mão. Alguns dos trechos do livro perdido de Aristóteles também foram inseridos na discussão sobre o humor em “De oratore”, de Cícero, uma fonte importante do dicionário romano do humor. Na obra, ele foca naquela mão do humor da piada e da zombaria, algo muito semelhante ao que estamos vivendo hoje. Ele também deu atenção à graça, aos contos daquelas histórias mais absurdas e dos trocadilhos, algo também muito forte nos dias atuais.

Segundo o próprio Cícero, o humor de boa qualidade conhece seus limites e evita a todo custo a imitação e as atitudes de mímicos e bufões. E ele fazia tudo isso, segundo estudos, para leitores da classe de elite, com o objetivo de apenas divertir as pessoas sem perder sua dignidade. Na mesma interpretação, o escritor Baldassare Castiglione também se disponibilizou para separar a graça do conteúdo e da forma, mas adicionou mais um estudo dele próprio, a burla ou o trote brando. Ele, assim como Cícero, negava-se a aceitar que chorar e rir ou imitar os gestos e as maneiras de outras pessoas, pois eles acreditavam que eram gestos de grosseria. Mas nem sempre esses preceitos eram seguidos à risca: Sofia, mãe de George I, zombava de tudo e de todos, apenas para o prazer dos demais. Mas o humor presente nas mulheres era bastante raro na época, ainda mais o tipo de humor de Sofia, aquele tipo mais pesado e impiedoso. As mulheres eram autorizadas, quando muito, a verem apenas as comédias gregas. No geral, elas ficavam apenas em casa e não em espaço público, esse papel era feito pelos homens. Para as mulheres, o primeiro registro foi na Grécia Antiga. Na Idade Média, esses registros são quase zero.

29

Devido à natureza de nossas fontes predominantemente masculinas, o humor entre as mulheres é difícil de se encontrar. Além do mais, estudiosas feministas têm mostrado o quanto o humor masculino era misógino antigamente e a frequência com que historiadores do sexo masculino evitaram admitir este fato. (BREMMER; ROODENBURG, 2000, p. 19).

A exclusão das mulheres no criar e fazer humor era muito forte e bastante preconceituoso. Tal conjuntura persistiu durante muito tempo, e isso só passou a mudar de uns anos para cá, quando começaram a surgir muito mais mulheres no humor. Essas mudanças, assim como a entrada das mulheres e da classe mais baixa, começaram no norte da Europa, mas serviram apenas para maquiar e funcionar com um sustentáculo para a hierarquia já existente. Segundo Bremmer e Roodenburg (2000), o humor passou por três fases de evolução. O primeiro foi a transformação nos diferentes períodos do discurso dominante. Ou seja, com o passar dos anos era de se esperar que nos tempos modernos os psicólogos e os sociólogos dominassem o primeiro plano. O segundo demonstra o revezamento entre os produtores de humor. Nesse momento, o humor da Grécia e de Roma mostrou-se mais moderado, e se tornou dominante. E a terceira fase, mas não menos importante, é a evolução do humor em suas próprias características. Essa etapa pergunta até que ponto o humor mudou através dos séculos, se houve mudança no senso de humor das pessoas com o passar dos anos. Já na visão do historiador inglês Peter Burke houve uma desintegração do humor tradicional, que teve início no século XVI. Nessa época houve uma queda acentuada dos domínios, ocasiões e locais da arte cômica. Com isso, o clero, as damas e os cavalheiros já não participavam de certos tipos de humor, pelo menos não em público.

2.2 O humor na mídia Nas diversas teorias do humor e do riso, que, segundo Aristóteles, apenas o homem é o animal que ri, passa a mudar a partir do início do século XVII. E, nesse aspecto, a teoria clássica do riso voltou a ser usada com base em uma visão mais humanista, como uma atitude da nobreza, que tinha e via no riso um sinal de desprezo, falta de autoestima, além de achar que era uma ameaça à paz, já que naquela época o riso era uma expressão de ódio, e tal sentimento poderia gerar briga. 30

Com o passar deste século, o significado do humor se afastava da acepção original criada por Hipócrates, considerado o pai da Medicina, e começa a ganhar repercussão na arte, de efeito estético, filiado a uma representação que leva ao riso. Seguindo a cronologia do tempo do humor, da comédia e do riso, nos séculos XIX e XX, vários teóricos se lançaram a buscar e definir o humor, a comédia, a comicidade e o riso. Para Charles Baudelaire:

Assim como riso é essencialmente humano, é essencialmente contraditório, quer dizer, ao mesmo tempo é signo de uma grandeza infinita e de uma miséria infinita, miséria infinita em relação ao Ser absoluto do qual possui a concepção, grandeza absoluta em relação aos animais. O riso resulta do choque perpétuo desses dois infinitos. O cômico, a potência do riso está em quem ri e não no objeto do riso. Signo de superioridade no que concerne às bestas, e incluo nesta denominação os numerosos párias da inteligência, o riso é um signo de inferioridade no que concerne aos sábios que, pela inocência contemplativa de seu espírito, se aproximam da infância (ROSSETI apud BAUDELAIRE, 1988, p. 28).

Com isso, ele tenta fazer uma teoria do riso, e retoma o ser cristão da Idade Média ao afirmar que o riso é diabólico porque vem da ideia que o ser humano é superior. Outro pensador que pesquisou sobre o riso foi o filósofo Henri Bergson (2007). Ele afirma que o riso nasce das ações humanas praticadas dentro do âmbito social, uma vez que não há comicidade fora do que é humano, e o riso é sempre o riso de um grupo. Com tal afirmação, Bergson quer mostrar que o riso só é um riso propriamente dito quando se alcança um certo nível social em valores quantitativos e um número significativo de pessoas. Essa tal “função social” do riso, na verdade, se relaciona a uma repreensão ordenada por um certo agrupamento sobre uma também já pré-determinada deformidade social ou global. Outro fato também bem notado por Bergson foram as transformações em sua época, simultâneas à segunda fase da Revolução Industrial e o surgimento de criações como o cinema e o automóvel. Com essas comutações, ele percebeu que o cômico nas ações humanas estava reduzido a gestos calculados. Ele disse que as atitudes, gestos e movimentos do corpo humano são risíveis na medida exata em que esse determinado corpo nos faz pensar em uma simples mecânica. Com tal afirmação, ele demonstra que, com o advento das novas tecnologias, como as 31 máquinas e carros à combustão, o riso das pessoas passou a ser de uma forma automática e bem menos natural que em tempos anteriores. No livro “O Riso: Ensaio sobre a significação da comicidade” do próprio Bergson, o autor trata a diferença feita por Aristóteles entre tragédia e comédia, na qual a primeira é relativa aos indivíduos sem pares e a outra, de generalizações de pessoas que se encaixam a alguma falha de caráter. Ele acredita que entre a arte e a vida existe uma ponte, e que ela é a comédia. Ou seja, a comédia tem um papel importante na sociedade, e isso já havia sido dito há muito tempo. Das diversas análises relacionadas à comicidade e ao riso que Bergson fez, por último ele relacionou o cômico ao inconsciente. De acordo com o pensador, a pessoa disposta de um caráter cômico não vê sua comicidade, pois o cômico é inconsciente, mas tal característica é totalmente visível para o resto das pessoas, justamente para que provoque o riso universal. Com isso, ele confronta aquelas pessoas bem engraçadas, como se elas mesmas não pudessem enxergar esse viés mais cômico. Além disso, as pessoas que veem esse indivíduo com caráter cômico riem de uma forma natural e espontânea. O psicanalista Sigmund Freud, cinco anos depois de Bergson, também pesquisou e relacionou o humor ao sonho em seu estudo sobre o chiste e sua relação com o inconsciente. O objetivo principal de Freud com essa análise era descobrir a fonte do prazer que se obtém do humor. Segundo ele, tanto o humor como o sonho expressam desejos inconscientes. Com isso, para Freud:

O riso compensava, em seus efeitos, o dispêndio contínuo de energia exibido para manter as proibições que a sociedade impõe e os indivíduos internalizam. Toda essa explanação, fartamente ilustrada com exemplos de sua prática psicanalítica, caminhava no sentido de rastrear as notáveis semelhanças entre o trabalho do chiste e o trabalho do sonho (FREUD, 1996, p. 66).

Para o austríaco, no humor existe uma diferenciação entre o próprio chiste, o cômico e o humor. Segundo Freud, o primeiro provoca o riso por meio de palavras ou ideias e cria o prazer da inibição. Já o cômico aparece a partir do ser lúdico, da gozação, do ser alegre. E o humor fica mais visível com a postura de dar menos importância à adversidade, causando o riso ao ver o lado engraçado, arrematando o sentimento. O significado de chiste, segundo Freud (1905), é qualquer evocação consciente e bem-sucedida do que seja cômico, seja a comicidade devida à observação ou à situação. 32

Ele também separa o termo em duas categorias: aquela que oferece total satisfação aos desejos sexuais reprimidos e a que pode dar livre curso às tendências agressivas. É normal vermos o humor ser relacionado diretamente à sexualidade e ao obsceno. Recapitulando todas as ideias sobre o humor, em primeiro lugar temos o aspecto de Aristóteles, que idealiza o humor como uma imitação de indivíduos com atitudes mais mesquinhas. Já mais na teoria psicanalítica do humor, temos Freud, que parte da suposição de que o humor é essencialmente da natureza sexual do ser humano e que produz os prazeres desejados. O programa Jogo Aberto atua especialmente no terreno dedicado ao jornalismo, mas, ao mesmo tempo, usa da arte do fazer rir para noticiar informações de uma forma mais leve e engraçada. Ou seja, programas mais voltados para o humor, que se juntam às informações sérias e corretas, destacam-se em meio àqueles que fazem só o mais básico. Mas, para haver a conexão da dose certa e exata de humor com a veiculação dos fatos, é preciso algum fator mais determinante do que o próprio riso em si. Para isso, segundo Bergson (2007), o dom de rir e fazer rir é estritamente fechado para os humanos. Mas têm casos em que animais nos provocam muitas risadas. Segundo o autor, isso carrega uma explicação lógica, apesar de não haver comicidade fora daquilo que é propriamente humano, como uma paisagem e um animal. Rimos disso por tais aspectos ou ações se aproximarem de uma atitude ou expressão relacionada a nós, humanos. Ao notar que o fazer rir é humano, e somente apropriado à nossa espécie, o chamamos de função social, pois ele é estimulado a convencer um fundo crítico, que sirva de alerta à falha coletiva.

O riso deve ser alguma coisa desse tipo, uma espécie de gesto social. Pelo medo que inspira, o riso reprime as excentricidades, mantém constantemente vigilantes e em contato recíproco certas atividades de ordem acessória que correriam o risco de isolar-se e adormecer, flexibiliza, enfim, tudo o que pode restar de rigidez mecânica na superfície do corpo social. O riso, portanto, não é da alçada da estética pura, pois persegue (de modo inconsciente e até imoral em muitos casos particulares) um objetivo útil de aperfeiçoamento geral (BERGSON, 2007, p. 15).

Tendo o riso uma atuação social, é natural que ele alerte o indivíduo acerca de alguma deficiência gritante ou latente. Mas o impacto deve servir para colocar em ordem o elemento que destoa da normalidade necessária. O humor, diante da relevância que tem, abriu a sua forma de análise bem antes de programas televisivos o revestirem. 33

2.3 O humor na televisão Agora, devidamente bem explicado o surgimento do humor, desde a comicidade, o cômico e o riso, entramos no surgimento das mídias e o seu entrelaçamento com o humor. E esse início se deu com a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, quando o sistema capitalista se alicerça totalmente, originando novas relações sociais e viabilizando o surgimento de novas formas de comunicação voltadas para toda as sociedades que abrigam uma população crescente. Logo com esse clique das mudanças do novo mundo, os meios de comunicação de massa, como o jornal impresso, as revistas, o cinema, o rádio e a televisão, não ficam para trás. Com isso, eles passam a fornecer informações e alimentam o imaginário das pessoas. Além, é claro, de lucrar muito com tudo isso. E para ganharem dinheiro e cativarem o público, os meios recorreram a fórmulas que dão certo até os dias atuais, os gêneros ficcionais, ou seja, as famosas novelas. Com isso, elas se transformam em produtos rentáveis e lucrativos. O humor entrou em todos esses processos, pois desde a segunda Revolução essa foi uma das principais formas da Indústria Cultural para seduzir e amarrar os telespectadores, na época apenas receptores-consumidores. Como um anúncio, ele pode ser encontrado em todos os meios de massa: jornais, revistas, cinema, rádio, TV, internet. Mas, nessa época em que vivemos, numa sociedade de calúnias e espetáculos, o humor já nasce com seu prazo de vida definido. Mas o humor não serve apenas para o entretenimento das pessoas. Ele também é bastante usado para instigar ideias, criticar governos, tacar o dedo na hipocrisia e fuçar as mazelas das nações. Esse viés continua sendo mais ácido e expõe todas as faces das pessoas, seja de qual classe social ou nível educacional. O humor tem e deve manter essa função de rir, mas sua missão vai muito além disso. Ele também tem o dever crítico de apontar os defeitos em várias áreas e pessoas. O cinema se agigantou introduzindo o humor como o ingrediente principal de sua receita de sucesso. Mas sobre o seu surgimento não há consenso entre os estudiosos. Alguns dizem que foi em 1894, já outros falam que foi em 1896, com os famosos irmãos Lumière. Apesar dessa discussão, não se pode negar que durante todo a história muitos personagens importantes surgiram, como Chaplin, o Gordo e o Magro, Mister Bean e, aqui no Brasil, personagens como Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi, entre tantos outros. 34

Ainda no Brasil, na época do governo do Presidente Getúlio Vargas, as rádios começaram a se popularizar, pois o então presidente permitiu que emissoras vendessem espaços na grade para colocar anúncios publicitários. Com isso, esse meio de massa ficou bem mais popular e chegou a sua era de ouro até a vinda da televisão, em 1950. Nas rádios do Brasil, o humor caminhou por fases diferentes. O abre-alas foi caracterizado por um único humorista que se apresentava na frente do microfone. Logo em seguida, surgiram as duplas cômicas, característica ainda muito forte até hoje. E para fixar os programas humorísticos nas rádios e principalmente na cabeça dos ouvintes, foram utilizados pequenos acontecimentos ficcionais, as chamadas esquetes, com personagens que repetiam seus bordões. Essa força das rádios durou até o início de década de 1950. Essa década foi marcada pelo início das transmissões televisivas aqui no país. Com isso, o meio radiofônico foi perdendo sua força, como meio de comunicação de massa. Com essa queda, a radionovela, tão famosa na época de ouro do rádio, foi substituída pela telenovela, e os programas humorísticos televisivos tomaram o lugar das atrações radiofônicas. Muitos nomes que se firmaram na televisão começaram no rádio, como o programa da TV Globo “Casseta e Planeta” e o mestre do humor e dos personagens, Chico Anísio. Em 1957, veio o programa “A Praça da Alegria”, criado por Manoel de Nóbrega, exatamente a mesma que o seu filho, Carlos Alberto de Nóbrega, apresenta hoje no SBT, mas como o nome diferente, “A Praça é Nossa”. Apesar do nome estar mudado, os trejeitos se mantiveram, com o banco como personagem central. Outro famoso nome da televisão é Jô Soares, que, antes de se tronar apresentador, foi comediante. Jô idealizou diversos programas de humor na TV nas décadas de 70 e 80. Todos eles se apoiavam em esquetes com personagens e seus bordões de impacto. Mas o mais importante é que, já naquela época, ele colocava uma sátira política. Já nos anos 1980, houve uma mudança mais drástica na questão do fazer humor, pois nessa época foi criada a “TV Pirata”, que introduziu a metalinguagem no humor de televisão, satirizando e parodiando a programação da TV, algo parecido com que faz hoje o programa da Globo “Tá no Ar”. A “TV Pirata” lançou diversos atores, que hoje já são consagrados, como Claudia Raia, Regina Casé, Diogo Vilela, Luiz Fernando Guimarães, além de contar com Ney Latorraca. Voltando um pouco mais no tempo, mais exatamente à década de 1950 nos Estados Unidos, lá ocorreu a criação de uma das formas mais conhecidas do humor 35 televisivo, que é a sitcom ou comédia de situação. Nesse formato de humor, normalmente se utiliza apenas um cenário, como a sala de estar de um apartamento no “Sai de Baixo”. A sitcom tem elenco fixo, mas pode receber convidados novos a cada programa e costuma ser gravada em um teatro, diante de uma plateia.

As sitcoms não visam, basicamente, fazer o público rir. São mais uma forma de o escritor passar a um grande público suas ideias e opiniões sobre a sociedade em que está inserido. A graça, o riso fácil, são consequências de um texto bem escrito e personagens bem elaborados dentro de um contexto bem apresentado. De forma satírica, ela diz a verdade sobre questões sociais, políticas e familiares de uma determinada cultura (ROSSETI apud FURQUIM, 1999, p.5).

Após muita análise sobre o humor, o teórico norte-americano, Berger, afirma que toda forma de humor é um processo que pode ser separado em várias partes e analisado. Em sua pesquisa, existem diversas técnicas que geram humor, e alguma coisa é engraçada ou humorística, não por causa de seu objeto ou o tema, mas pelas técnicas empregadas por aquele que cria o humor. Ele agrupa as técnicas de humor utilizadas em piadas em quatro categorias: a de linguagem, na qual o humor é verbal, como alusão, exagero, ironia, trocadilhos, sarcasmo, sátira; a lógica, com o absurdo, analogia, coincidência, ignorância, repetição, engano; a identidade, com a caricatura, grotesco, imitação, paródia, estereótipo; e a ação, como a confusão, velocidade, tempo. Mas essas formas já mudaram bastante. No século XXI, o humor está espalhado em todos os ambientes e locais, e se torna obrigatório em uma sociedade que comemora o prazer de consumir tudo o que for capaz. E as mais diversas formas de humor podem ser encontradas, principalmente, na internet. Sites como o Youtube viraram febre para a construção de personagens e pessoas engraçadas que fazem do site um forma de emprego e ganham muito dinheiro com isso.

2.4 O humor no jornalismo brasileiro Apesar de nos tempos atuais haver a discussão entre a inserção de humor no jornalismo, os dois já vêm caminhando juntos desde muito tempo. Mais precisamente antes do Brasil virar República, com histórias cômicas nos jornais semanais da época. Já na mudança do período para a nossa atual República, um momento marcado por muitas diferenças políticas, a criação e a produção de sátiras cresceram e escancararam toda a 36 rixa entre os políticos. E não muito diferente do que vivemos hoje, momento em que o humor é usado para mostrar para a população as mazelas. Já naquela época, essa artimanha era usada como uma forma de expressão de todo ódio e indignação da sociedade. Na última década do século XIX, o ciclo foi marcado pela chegada da evolução tecnológica na imprensa. Com isso, apareceu um novo modelo de jornal. Como sequência, normalmente, aquela representação mais cômica da época de República ganhou mais força ainda. No final do século XIX, os periódicos ficaram mais modernos e refletiam toda a alma daquele povo, dando espaço e tempo para suas opiniões, sonhos e conquistas. Juntamente com a modernidade vieram as revistas humorísticas, motivadas pelo crescimento das técnicas na impressa e reprodução. Essa forma criativa de informar parecia e parece cada vez mais agradar ao público. Essa contribuição faz com que o humor se espalhe ainda mais por todas as mídias. Com esse empreendedorismo do “novo jornalismo”, é pertinente a seguinte questão: o Jornalismo e o humor são uma associação confiável? Penso que sim, principalmente pelos dois serem antigos na imprensa brasileira, não andam juntos desde hoje. Essa conexão se deu, em especial, por meio de expressões visuais ou verbais, gráficas e textuais. Por exemplo, a crônica é um dos formatos jornalísticos, pertencente ao gênero opinativo, que, segundo Rossetti (2012), é definida como um gênero autônomo esteticamente que comporta várias manifestações da linguagem. Sua característica principal é reescrever os acontecimentos cotidianos de modo que seus significados não sejam impostos ao leitor, mas deixem a ele uma margem de interpretação e criação de significados novos. Regina Rossetti afirma que a crônica é um momento privilegiado de inventividade e criatividade, diferenciando-se, por isso mesmo, de outros gêneros jornalísticos mais descritivos e informativos, como a notícia.

A crônica estabelece novas relações com os gêneros jornalísticos, pois não se limita a informar ou opinar, mas constrói novos significados na própria articulação entre as várias linguagens que o cronista utiliza para expor sua compreensão da realidade ao leitor (ROSSETTI, 2012, p. 32).

Essa vertente do jornalismo, normalmente, ocorre em editorias de cultura, esporte e política pela própria individualidade dessa esfera da profissão, pois trabalha mais com a análise de eventos envolvidos com a cultura e menos com o imediatismo das notícias. Ela aparece mais nestes campos do jornalismo, pois é possível fazer um texto mais solto, 37 com mais criatividade e espontaneidade. Um dos principais nomes da crônica brasileira foi Carlos Heitor Cony, que afirma: “A crônica é um gênero tipicamente brasileiro. Em outros países, ela também existe, mas não tem as nossas características” (Cony, 2006, p. 8).

No decorrer da sua história, a crônica no jornalismo brasileiro sofreu mutações e assumiu características próprias que, atualmente, a distinguem das crônicas produzidas em outros países. No Brasil, caracteriza-se por ser uma composição breve publicada em jornal e revista que, embora se relacione com a atualidade, possui elementos poéticos e ficcionais (ROSSETTI, 2012, p. 70).

Já sobre as peculiaridades de Cony, ele usava, diversas vezes, muitas expressões e ditos populares, jargões sociais e muitas metáforas ligadas ao dia a dia. Com isso, ele se aproximou mais do leitor e da população. O seu texto também é direcionado à inteligência e à informação, com temas atuais, em especial a acontecimentos políticos ou sociais. E justamente o tom exato de humor posto por Cony é usado para colocar sua visão sobre acontecimentos gerais tanto no país quanto no mundo. Segundo Rossetti (2012), “as crônicas de Cony são analíticas, pois os fatos cotidianos são expostos com brevidade e logo dissecados com objetividade”. Esse recurso da inteligência leva o leitor a rir, pois, como Bergson (2007) bem revelou, o riso é inimigo da emoção e dos sentimentos. Para o estudioso francês, o riso se destina à inteligência pura, e não aos sentimentos, por isso muitos associam a inteligência ao bom humor. Cony usa de atributos que chamam o leitor para o texto, como o cotidiano da vida e, ao mostrar isso, causa o riso do público. Esses atributos são as frases feitas e ditos populares.

38

CAPÍTULO III

ESTUDO DE CASO DO JOGO ABERTO

3.1 Descrição do programa esportivo Jogo Aberto, da TV Bandeirantes O programa Jogo Aberto estreou em 5 de fevereiro de 2007, tendo como apresentadora a jornalista Renata Fan. Ele ocorre ao vivo e vai ao ar de segunda a sexta- feira, às 11 horas, horário de Brasília, em edição nacional, e das 12h30min até 13 horas a atração continua com um debate entre os componentes do programa apenas para São Paulo e nas parabólicas. Em outros Estados, são exibidos programas esportivos locais. O programa é puramente factual, com a publicação de fatos que ocorreram no dia anterior e que podem ocorrer nos dias seguintes, mas o foco principal são os debates dedicados aos esportes, principalmente o futebol, em que os lances são debatidos por ex- jogadores de futebol e especialistas no esporte. No elenco, atuam nomes como Denílson, Ronaldo Giovanelli, Ulisses Costa, Chico Garcia e o especialista Paulo Roberto Martins, mais conhecido como Morsa. O programa também conta com participações de jornalistas e comentaristas de outros estados. Talvez até hoje o comentarista mais querido, por torcer pelo Corinthians, e mais odiado, por demonstrar isso, foi Osmar de Oliveira. Dr. Osmar, como era referido pelos colegas, morreu aos 71 anos, vítima de um infarto, no dia 11 de julho de 2014, há pouco mais de 4 anos. Por esse percalço, o programa ficou sem um comentarista especial por dois meses e meio. A mudança só veio com a chegada do santista fanático Paulo Morsa. Ele veio a pedido de Renata Fan, pois trabalhou com ela na Record entre 2001 e 2006. Mas uma mudança importante que o programa teve foi quando decidiu chamar o ex-jogador Denílson para se juntar ao time de comentaristas do Jogo Aberto. A partir daí tudo mudou. O craque Denílson, como ele mesmo se intitula, mudou por completo o jeito da abordagem, colocando mais piadas e muito mais brincadeiras, mas todas de uma forma mais natural e espontânea durante toda a edição diária. Isso fez com que muitos jovens se interessassem pela transmissão.

3.2 Metodologia de análise O passo inicial para a realização deste trabalho foi a definição e a delimitação do assunto a ser investigado. O tema jornalismo esportivo aliado ao humor sempre esteve presente na vida do autor e a todo momento foi de seu interesse. 39

Por meio de uma pesquisa descritiva e explicativa, a monografia foi desenvolvida a partir de fontes bibliográficas e da análise de diversas edições do programa esportivo descrito no tópico anterior. Foram analisadas dez edições do programa de 2 de julho até 7 de setembro de 2018, sendo a segunda-feira da primeira semana, a terça-feira da segunda semana, a quarta-feira da terceira semana, e assim por diante, definindo a semana composta. Este corpus de escolha foi feito justamente para não coincidir de ter notícias parecidas sendo descritas e analisadas pelo autor. Com isso, o autor poderia distinguir duas competições ou mais, como o período de finalização da Copa do Mundo da Rússia, e com ela terminada, analisar as competições que viriam a seguir, como o Campeonato Brasileiro, a Copa Libertadores da América e a Copa Sul-Americana. A análise partiu do pressuposto de se verificar o programa citado acima, desde o seu cenário, o figurino da equipe, o que era dito pelos integrantes do programa e como era dito e suas expressões ao longo da duração de cada edição.

3.3 Edição de 02/07/2018 (segunda-feira) 3.3.1. Cenário Nesta edição do programa, a Copa do Mundo estava em curso, por isso todo o cenário do estúdio foi transformado. Os bonecos simbolizando os mascotes dos clubes deram lugar a muitas bandeiras do Brasil e de outras seleções espalhadas em um varal pendurado por todo o cenário, além de apitos, chapéus, vuvuzelas colocadas no chão e bonecos gigantes do técnico Tite e de jogadores como Neymar, Gabriel Jesus, Alisson, Messi e Cristiano Ronaldo. Por último, uma réplica da taça da Copa em uma mesa no estúdio. Todos esses artefatos presentes no cenário eram para o público se ambientar ao clima de Copa, e aqueles mais apaixonados pelo esporte se sentem em casa com todos esses paramentos. Outro fato diferente de outras edições do Jogo Aberto é que dessa vez os comentaristas entraram no programa desde o começo, mas o motivo é bem significativo: era Copa do Mundo. Além dessa mudança, o horário também foi encurtado devido ao mundial. Normalmente ele tem a duração de duas horas, e, em algumas edições, durante a Copa, ele durou apenas uma hora. Isso é fato comum que acontece sempre quando está ocorrendo uma competição muito importante e de nível mundial: toda a programação da emissora é realocada de forma que aquele jogo seja transmitido sem qualquer interrupção.

40

Figura 1 – Imagem do estúdio com os comentaristas.

Fonte – Print da edição de 02/07/2018. Como nesta primeira imagem, quando é mostrado vários objetos que fazem parte do cenário, como bandeirolas penduradas do Brasil e de outros países, a taça da Copa do Mundo, um apito gigante, algumas cornetas, chapéus, e bonecos de papelão de jogadores da seleção brasileira. Tudo isso porque estava acontecendo a Copa do Mundo da Rússia.

3.3.2 Figurino Com o Jogo Aberto no espírito da Copa do Mundo, Renata Fan estava com uma blusa amarela com detalhes das mangas azuis e estrelas brancas. Enquanto isso, os três comentaristas, Denilson, Ronaldo e Chico Garcia, estavam vestidos normal e formalmente. Porém, no dia anterior, domingo, a Rússia eliminou a Espanha do Mundial, e, por isso, como forma de homenagear a vitória russa, o comentarista Ronaldo se vestiu como o técnico russo, como na imagem descrita na página seguinte. Ele colocou o bigode, marca famosa do treinador, um tradicional chapéu do país e sobrancelhas grossas. Outro motivo que faz com que aquele fã de futebol sempre sintonize no programa, a ridicularização, num bom sentido, que todos os integrantes se sujeitam passar. Isso causa empatia e aproxima o programa com o público.

41

Figura 2 – Ronaldo fantasiado.

Fonte – Print da edição de 02/07/18.

E como já se tornou tradição a retirada de maca de vários integrantes do programa quando os seus times do coração perdem, assim foi com a própria Renata, Denílson, Ronaldo, Chico, ela não poderia ficar de fora na Copa. Dessa vez, os momentos foram de Lionel Messi, craque argentino que havia perdido para a França dois dias antes, e Cristiano Ronaldo, eliminado pelo Uruguai. Com isso, dois homens, um fantasiado de fantasma da eliminação e o outro como o atacante da Colômbia, Miguel Borja, retiraram os dois bonecos do cenário do programa como símbolo de suas respectivas eliminações. A todo momento eles buscam fazer e causar graça entre eles, e um desses momentos é a retirada de maca como se ele estivesse lesionado ou fora de combate. Essa simples ação evoluiu e virou um personagem do programa, “chama a maca ali, chama a maca aqui”. Já ultrapassou o papel de apenas um objeto para virar mais um integrante do programa.

3.3.3 Texto

O contexto era o Mundial da Rússia, mas com a volta dos clubes para suas atividades. É nisso que se baseia Renata em sua escalada. E, logo em sequência, ela apresenta os seus comentaristas no estúdio. Como corintiano apaixonado, Ronaldo esquece a Copa e fala aquela frase que, na medida em que muitos amam, muitos outros detestam: “Vai, ‘curíntia’”. E ainda diz que não aguenta mais essa Copa. Para não sair 42 por baixo, Denílson diz: “a Copa é a cada quatro anos e você quer gritar “vai, ‘curíntia’”? Dá licença, ô”. Um dos momentos mais engraçados é quando Denílson, famoso por suas graças, começa a falar as gírias que ele conhece de quando morava na periferia de São Paulo. Isso faz com que aquela pessoa lá do bairro mais carente se identifique com o programa, e o comentarista alcança seu objetivo: além de fazer rir, não nega a sua infância carente. Como dito acima, a Rússia venceu a Espanha, e para dar os parabéns aos russos, Ronaldo se fantasiou como o técnico russo, Cherchesov. Como todos sabem, o comentarista não sabe falar absolutamente nada de russo, ou seja, sua imitação ficou ainda mais caricata. Essa foi a primeira vez que o ‘fake Cherchesov’ foi ao programa, e Renata o chamou para voltar mais vezes, mas ele recusou, e só voltou atrás quando a apresentadora disse: “nem com uma vodka? Eu te espero com uma vodka”. Na sequência do programa, os dois fantasiados entram, um de fantasma da eliminação e o outro de Borja. Eles foram levar Messi e CR7 para fora do estúdio. Mas esse Borja, atacante da Colômbia e do Palmeiras, está estranho, e Denílson percebe isso e fala: “o Borja está só a capa, o Borja, né? Tem que comer batata doce, um frango”. Outra característica que já se tornou comum em todo Jogo Aberto é o telefone tocar no estúdio, outro objeto que já mudou para um personagem do programa, assim como a maca. Tanto um quanto o outro são deixas para qualquer integrante do programa fazer piadas. Dessa vez o telefone tocou para o Ronaldo ‘Cherchesov’, que atende: é o próprio treinador da Rússia falando com o fake. Ele desliga, e o telefone toca novamente. Dessa vez era o técnico brasileiro Wanderley Luxemburgo. A tradução de Ronaldo para o que o russo disse para ele é: “é bididu ou é bidida, bididu?”. Esta famosa frase dita pelo cantor Agnaldo Timóteo já entranhou em Ronaldo. Tendo em vista o tanto que ele já disse isso e muitos riram, agora o “pai” dela se chama Ronaldo Giovaneli, o Ronaldão.

3.3.4 Expressões faciais e gestuais Logo na abertura do programa, Ronaldo é chamado e já manda um “vai, ‘coríntia’” bem animado e com todo ímpeto de um torcedor apaixonado e fanático. Pelo contrário, Denílson começa a coçar o ouvido esquerdo, franzir a testa e fechar os olhos como sinal de estar cansado de ouvir essa frase tão dita a todo momento. E Ronaldo, só para caçoar, fala de novo. Mas, dessa vez, um áudio de um torcedor gritando é ouvido junto com fogos de artifício. Mais um agente bastante usado no programa, os áudios feitos 43 e prontos para serem solto no ar. Durante toda a sua duração, muitos deles são liberados a todo momento, e cada um tem um direcionamento pré-estabelecido. E sobre Ronaldo vestido de Cherchesov, famoso por ser mal humorado e não comemorar os gols de sua seleção, o comentarista imitou, fazendo cara de triste e rabugento. Depois entram os dois maqueiros fantasiados para tirar Messi e Cristiano Ronaldo, mas um deles tenta tirar o goleiro da seleção brasileira, Alisson, ação que Renata não deixou acontecer. Tudo isso com uma música romântica de fundo pelo fato do goleiro ser considerado um dos jogadores mais bonitos do mundo.

3.4 Edição de 10/07/2018 (Terça-Feira) 3.4.1 Cenário Ainda em clima de Copa do Mundo, o cenário do programa se manteve com bandeirolas de várias seleções nacionais penduradas em grande parte do ambiente e a tão desejada taça do Mundial. Além, é claro, dos bonecos de papelão de Gabriel Jesus, Neymar, Alisson e Tite, que estavam com colares na cor verde e amarelo, mesmo após a eliminação da seleção, quatro dias antes. Mais uma circunstância que deixa o telespectador em plena sintonia com o programa, todo o seu cenário. De acordo com o que ocorreu no dia anterior ou vai ocorrer no dia, ele muda e se adequa com esses acontecimentos, fazendo com que o torcedor de determinado time se sinta representado ali. E, como em quase todos os programas, houve algumas exceções: Renata dá a escalada com os principais assuntos e, na sequência, entra Denílson para dar ‘pitacos’ sobre os jogos. Mas, dessa vez, assim como na edição analisada do último dia 2 de julho, esse programa também foi mais curto por estar rolando a bola na Copa do Mundo da Rússia. E, por isso, os comentaristas Chico Garcia, Paulo Roberto Martins e Ronaldo entraram já no segundo bloco, bem diferente de quando entram apenas na última meia hora de programa. Essa entrada fez com que o cenário ficasse mais completo e preenchido. Além das cadeiras, foram colocados um chapéu azul e um verde, uma máscara de cavalo e de zebra, um golfinho e um gavião. Algum sentido isso deve fazer para eles ou não também. 44

Figura 3 – Estúdio com os comentaristas.

Fonte – Print da edição de 10/07/18.

3.4.2 Figurino

Neste dia, Renata estava com um vestido preto e de salto alto. Denílson também estava com roupa normal, sem nada muito espalhafatoso, nem chamativo, algo corriqueiro nas aparições do ex-jogador. Os outros comentaristas também estavam de roupa social, seja ela calça jeans ou social, camisa ou camiseta polo. Não teve nada no dia anterior de notícia que fizesse um deles estar fantasiado de algo, apenas uma terça- feira comum.

3.4.3 Texto Na escalada, ainda sobre a Copa da Rússia, Renata fala sobre a semifinal entre França e Bélgica, a negociação entre Cristiano Ronaldo (CR7) e Juventus, da Itália, e o ‘pesadelo’ do desmanche no Corinthians. Sobre o mundial, ela compara o ataque das duas seleções. A respeito da Bélgica, ela diz: “os diabos vermelhos contam com a artilharia pesada de Lukaku, Hazard e De Bruyne”. Isso quer dizer que o ataque belga é poderoso e muito perigoso, o Brasil sentiu isso de perto. Já sobre a novela envolvendo o CR7 e a Juventus, Renata fala: “o casamento entre Cristiano Ronaldo e Juventus pode acontecer hoje”. Sobre o desmanche corintiano, foi dito que “o pesadelo do desmanche está de volta. Malcom, Sidcley e Balbuena já foram embora”. Nesse último ela mudou o tom de voz para dar um clima mais tenso e agoniante. 45

Ainda falando sobre o Timão, Renata chama a matéria sobre o desmanche no clube. Em seguida, vai ao ar um áudio de dinheiro e Denílson comenta “ê, Ronaldo, vai, vai!!”, claramente provocando o amigo e corintiano fanático Ronaldo. Na volta da matéria, o comentarista fala sobre quem ainda pode sair do clube paulista, cita o lateral Fagner e o atacante paraguaio Romero. Nisso, Denílson usa uma ironia para falar sobre o presidente do Corinthians, Andrés Sanches. O comentarista fala que o “simpático” Andrés demonstra preocupação nas entrevistas. Quem conhece um pouco de futebol sabe que o mandatário do timão é mal humorado. Em seguida, o programa vai para o intervalo e, na volta, o assunto é o São Paulo e o meia peruano Cueva, à época atleta do clube, e sua falta de comprometimento. O começo dos comentários fica a cargo de Denílson, que diz, em espanhol, sobre a falta de envolvimento e de entrega do jogador para com o tricolor paulista. Depois, ele fala que o atacante do clube, Diego Souza, deveria chamar o meia para uma conversa. Denílson, então, fala sobre o tamanho da orelha do fazedor de gols são paulino: “o Diego consegue ouvir legal, irmão. Porque a criança (fazendo gestos com a mão na orelha) é gigante”. Convocado para o tema “Cueva”, Renata pergunta para Ronaldo se o jogador não seria bem-vindo no Corinthians. Ele responde: “pelo amor de Deus, essa “inhaqua5” do Cueva, não”. Sobre o Corinthians, Ronaldo fala que não aguenta mais essa Copa do Mundo porque ele não fala mais do Timão. Ele disse: “ainda bem que acabou essa Copa aí pra nóis [sic], né? Porque não aguentava mais ficar sem falar do Corinthians”. E o comentarista não para por aí. Ele afirmou que tem uma notícia bombástica para os corintianos: “notícia ótima para a torcida do Corinthians: o atacante Júnior Dutra tá indo pro Fluminense, hein!”. Apesar de ser mais um jogador que sairia do time, o comentarista dá a notícia com um entusiasmo e uma alegria. Mudando mais uma vez de assunto, dessa vez é a hora de falar sobre o cinco vezes melhor do mundo, Cristiano Ronaldo, que no dia deste programa foi confirmado como o mais novo reforço da Juventus, da Itália. E o anúncio oficial saiu no site do Real Madrid, seu antigo clube. Todo o texto em espanhol foi lido pela Renata para delírios e risadas dos comentaristas.

5 O termo “inhaqua”, dentro do futebol, significa aquele jogador ruim de bola, que faz de tudo para errar e além de tudo dá desculpa para não jogar as partidas. 46

3.4.4 Expressões faciais e gestuais Quando entra o comentarista – e por que não dizer humorista ‘Denílson Show’, como é apelidado –, é ouvido um pagode para a sua alegria e até Renata chegou a cantar trechos da música com as mãos para o ar. Já mais a fundo no assunto futebol, Denílson fala em espanhol, gesticulando com as mãos sobre uma fictícia conversa entre Cueva e Diego Souza. Nisso, ele diz que seria impossível o atacante não escutar nada, pois a orelha dele é gigante. Tudo isso ele afirmou fazendo o tamanho das orelhas de Diego com as mãos na sua própria orelha. Ainda com Ronaldo falando sobre o Corinthians, ele afirma e reafirma com veemência que o lateral Fagner foi um dos melhores jogadores da Copa do Mundo. Tal afirmação foi prontamente negada pelo comentarista Paulo Morsa, dizendo: “Ah, vai para o inferno, Ronaldo”. Renata decidiu entrar nessa briga, e também afirmou que o lateral brasileiro naturalizado russo, Mário Fernandes, fez um mundial excepcional. Ela disse: “Se fosse eu que tivesse como dirigente de um clube grande, um lateral que eu olharia era o Mário Fernandes”. Após essa declaração, os comentaristas se olham com aquele ar mais malicioso, principalmente Denílson, como se ela estivesse elogiando o futebol do russo- brasileiro por ele ser bonito. Um dos motivos mais fortes para Denílson cair na risada, é quando ele resolve provocar Renata. Principalmente quando aparece no vídeo algum jogador bonito, logo ele já vem e começa a dizer se ela gostou ou se achou ele bonito.

3.5 Edição de 18/07/2018 (Quarta-Feira) 3.5.1 Cenário Ocorre a mudança de todo o cenário do programa, isso porque a Copa do Mundo acabara no domingo, dia 15, três dias antes deste Jogo Aberto. Com isso, vão embora as bandeiras com as seleções, os bonecos de Neymar e companhia e a taça do mundial. Voltam os bonequinhos que simbolizam cada time da Série A, a classificação em uma escada montada no cenário, as máscaras próximas às cadeiras dos integrantes do programa, além, é claro, da famosa gozação entre os comentaristas. Todo esse ambiente se mantém até a entrada de outros três comentaristas. São eles: Chico Garcia, Ronaldo e Paulo Martins. Com isso, a única mudança no cenário é a colocação de mais duas cadeiras, além das duas em que estavam Renata e Denílson.

47

3.5.2 Figurino Neste dia, Renata Fan estava com um vestido de tubo de três cores – vermelho, amarelo e preto. Já Denílson, longe de suas invenções, estava apenas de sapatênis, calça jeans e uma camiseta polo. E os dois se mantiveram assim até o fim do programa, algo muito comum para Renata, mas anormal para Denílson. Nos últimos blocos, acontece a entrada dos três comentaristas – Ronaldo, Paulo e Chico. O primeiro, assim como em outras edições, está de calça, sapato e camisa. O segundo, como sempre mais elegante, de calça, camisa e paletó. Já o último, assim como Ronaldo, estava de calça, camisa e sapato. Tudo dentro da normalidade esperada.

3.5.3 Texto Com o Campeonato Brasileiro voltando a ser o assunto principal do programa, logo no seu início Renata e Denílson analisam a tabela da competição desde o líder até o último colocado. Quando aparece o time do Santos na 15ª colocação, Denílson faz um comentário falando e apontando para a baleia, que é o mascote do peixe: “acorda, hein! Oooo, vamo acordá [sic], hein, papai! Não acorda não pra vê!”. Em toda edição do Jogo Aberto eles lançam uma hashtag. A desta edição foi #brasileirãoJA. Isso faz com que todos os fãs do programa se movimentem na internet, e alguns deles tiram fotos com a camiseta de seu time do coração e aparecem ao vivo durante todo o programa. Neste dia foram mostradas apenas fotos de homens, fato que não passa despercebido por Denílson, que diz: “E os bombons, papai? E os bombons? Não é possível! Só homem aqui”. Depois desse comentário, Renata retruca o pentacampeão falando: “deixa eu explicar, Brasil. Os nossos objetivos de vida são bem diferentes: as coisas que ele enxerga não são as mesmas que eu vejo, só isso que eu posso falar”. E, como troco, Denílson joga no ar sobre um possível comentário de Renata sobre a beleza do atacante do Barcelona e da seleção uruguaia, Luiz Suárez. E, visivelmente constrangida, ela fala que o que ela disse para ele foi em off, ou seja, não era para ele dizer no ar. Já com o elenco formado e a postos no programa, eles começam a dar palpites sobre todos os jogos do retorno do brasileirão. Na partida entre Corinthians e Botafogo, quando chega a vez de Ronaldo, ex-jogador do clube e fanático pelo Timão, ele crava: “Romero três a zero”. Romero é o atual atacante do clube e, entre más e boas atuações, se tornou ídolo da torcida. 48

Continuam os palpites sobre os jogos, e dessa vez é o clássico paulista entre Santos e Palmeiras. Ronaldo, na sua vez, fala “três a zero pro Dudu”, atacante amado pelos palmeirenses. Mas Renata diz que ele não vai jogar, pois está suspenso. Com isso, o comentarista muda seu palpite para zero a zero. Chegou ao fim o momento dos chutes sobre o resultado dos jogos. Mudam o foco para a partida entre o Timão e o Fogão. E, no descorrer da discussão, Ronaldo diz sobre a retirada da revelação corintiana, o atacante Pedrinho, do time titular. Chega a um ponto em que o ex-goleiro faz uma comparação entre o jogador e o atacante campeão do mundo pela França, Mbappé. Isso já foi motivo para desavenças e ameaças de alguns de sair do programa, tudo em tom de brincadeira. Renata diz: “perae, não, não, não. Perae. Não, não, aí não. Por favor”. Ainda no assunto Pedrinho x Mbappé, a apresentadora chama a participação do jornalista Héverton Guimarães, lá de Belo Horizonte. E lá de longe ele diz que foi absurdo o que Ronaldo fez. Ele disse: “baseado nessa comparação eu só posso dizer uma coisa pro Ronaldo, menos, bem menos”.

3.5.4 Expressões faciais e gestuais Após dar a escalada com as principais notícias e ir para o intervalo, o programa já volta com Renata e Denílson, os dois ao som de um funk que fala sobre a volta do brasileirão. Ele, como sempre, muito animado, cheio de caras e bocas e querendo dançar. Totalmente ao contrário do companheiro, ela apenas olha e observa as vergonhas que o comentarista passa ao vivo e para o Brasil inteiro. Na imagem posta na página seguinte, fica nítido as expressões com que o programa se encaixa e ambienta. Na cena, a Renata e o Denílson estão analisando a tabela do Brasileirão, e só isso já é um motivo para o comentarista começar a dançar. 49

Figura 4 – Estúdio com o Denílson e a Renata.

Fonte – Print da edição de 18/07/18. O primeiro assunto que ambos começam a conversar é sobre o jogo entre Flamengo e São Paulo, àquela época líder contra o terceiro colocado, respectivamente. Renata esbraveja com êxtase sobre a torcida apaixonante do clube carioca, isso dá brecha para Denílson fazer suas graças: ele fala sobre a leitura corporal das pessoas, que uma coisa é apoiar de uma forma mais contida e outra é torcer como ela fez no momento, com os braços pra cima e torcendo com vigor e vitalidade. E um pouco mais para o final do primeiro bloco do programa, os dois conversam sobre os torcedores que tiram fotos e aparecem no programa. Deste assunto surgiu algo perdido sobre o atacante Suárez, fato que deixou Renata claramente constrangida e envergonhada. Ela diz para Denílson que era para isso ficar só nos camarins e não ser dito ao vivo. Mas, como já aconteceu, ela tenta contornar, ainda que com vergonha, dizendo o real acontecido sobre esse assunto vir à tona.

3.6. Edição de 26/07/2018 (Quinta-Feira) 3.6.1 Cenário Assim como em todos os outros programas, Renata diz a escalada com o cenário mais clean para que toda atenção do telespectador esteja voltada para ela. E o ambiente só muda quando entra Denílson, e junto dele vêm as máscaras, os bonequinhos dos times, 50 as fotos. Em todo Jogo Aberto essa transformação é ocorrida como se fosse uma lei natural das coisas. Depois disso, o cenário só vai mudar mais uma vez. Quando entra o time comentaristas do programa e, junto deles, as poltronas.

3.6.2 Figurino Renata estava, assim como em todo programa, muito elegante de vestido roxo e salto alto. Denílson de tênis, calça e camisa. Nada chamativo.

3.6.3 Texto Com a escalada6 feita por Renata e algumas matérias soltas no ar, a atenção é voltada para o estúdio já com a presença de Denílson. E bem longe do futebol e de qualquer outro esporte, os dois começam a falar sobre a vida pessoal da apresentadora, pois ela disse: “Daqui a alguns dias, eu estou nos Estados Unidos para o show da Shakira. Eu e minha sogra”. Só isso já é motivo para o comentarista começar as chacotas. Ele pergunta se só vão as duas para o show. Renata responde que sim e que foi presente do seu namorado, o piloto de Stock Car, Átila Abreu. Denílson retruca: “ele é esperto, né? Manda a sogra, né? Ô, Átila, você é malandro, né? Foi bem. Éééé!”. Outro fator que causa graça ao público, que é quando Denílson dá pitacos sobre o relacionamento de Renata. Mudando de assunto, agora falando sobre futebol, Renata fala sobre o jogo entre Corinthians e Cruzeiro, vencido pelo Timão. Com isso, é liberado um áudio do comentarista Ronaldo rindo à toa pela vitória de seu time de coração. Denílson responde: “não empolga, não, hein? Não empolga, não”. Já quando o motivo da conversa vira o Palmeiras, a coisa fica séria, pois há alguns dias o time paulista havia perdido para o Fluminense, derrota que resultou na demissão do então treinador, Roger Machado. Toda a conversa entre Renata e Denílson, que durou cerca de dez minutos, foi bem séria e direta, bem longe das brincadeiras e gozações que os dois fazem entre si.

6 Termo usado no jornalismo de televisão, que é quando o apresentador (a) diz os destaques principais que serão mostrados durante todo o programa. 51

3.6.4 Expressões faciais e gestuais Renata fala as escaladas e solta as matérias de Grêmio, São Paulo e Atlético Mineiro, e logo em seguida volta para o estúdio. Mas com uma mudança: o ‘craque’ Denílson chegou. E os dois têm a companhia de uma música de fundo da colombiana Shakira. A apresentadora bate palmas e fica em êxtase por amar essa canção, já Denílson abaixa a cabeça por não gostar desse estilo de música. Ele prefere pagode e funk. Quando o assunto é Palmeiras ou São Paulo, sabemos que Denílson leva tudo à flor da pele, por ter atuado nos dois clubes. E, justamente neste dia, quando o cerne da discussão focou no Verdão, tudo ficou mais triste. Isso porque dias atrás ele havia perdido para o Fluminense. Quando Renata diz isso, o operador de áudio do programa solta a marcha fúnebre e a câmera vai para Denílson, que está visivelmente abatido, triste e desanimado. Em contrapartida, mais uma vez o áudio de Ronaldo rindo é solto no estúdio.

3.7 Edição de 03/08/2018 (Sexta-Feira) 3.7.1 Cenário Mais uma vez, Renata fala a escalada com o cenário higienizado de qualquer outra coisa que chame mais a atenção do que a própria escalada dita pela apresentadora. A mudança só vem quando entra o comentarista Denílson. Também vêm a classificação do brasileirão 2018 com os mascotes de cada equipe, as máscaras no chão, os bonequinhos atrás deles e algumas fotos. Um pouco mais tarde, o cenário fica cheio pela entrada dos comentaristas fixos do programa. São eles: Ronaldo, Chico e Paulo. Cada um na sua respectiva cadeira, mas, como sempre, um invadindo o espaço um do outro.

3.7.2 Figurino O figurino dos dois está bem semelhante, até parece que combinaram. Ambos estão com roupas escuras: Renata está com um vestido cinza e salto preto, enquanto Denílson está de tênis, calça, camiseta e jaqueta, todas escuras.

3.7.3 Texto Os assuntos mais comentados durante toda essa edição do Jogo Aberto foram a derrota do São Paulo, Felipão no Palmeiras e o uso do árbitro de vídeo na . Falando sobre o tricolor paulista, ele perdeu em casa para o time argentino, Colón. Mas a única diferença dessa derrota para as outras é que, dessa vez, Denílson estava no estádio. 52

Só isso já foi motivo para ele virar o “pé frio” do Morumbi. Renata diz: “cheiro de pé frio. Há muito tempo este cidadão aqui não ia ao Morumbi. Pois bem, ontem ele resolveu aparecer no estádio e pela primeira vez na história o time paulista perdeu para um argentino na sua própria casa. Ele é o responsável. Aguirre, manda prender, manda o segurança tirar”. Mas Denílson não deixa barato e responde: “eu tava lá, mas o gol saiu eu já tinha ido embora. Eu vou sair por causa do trânsito”. Mas a apresentadora retribui: “Lá era assim, cheirinho de pé frio”. Agora falando sobre a utilização do VAR, o árbitro de vídeo, no jogo pela Copa do Brasil entre Palmeiras e Bahia, o assunto fica mais sério. Renata cita que “o VAR foi amplamente utilizado por Anderson Daronco, o árbitro da partida, e Leandro Pedro Vuaden, o árbitro de vídeo, que se comunicaram bastante. Teve tomada de decisão, mudança de decisão, reavaliação, tudo isso aconteceu. Mas tudo em prol do bem do futebol. Para se fazer justiça”. Já Denílson diz que o lance mais decisivo, e que foi usado o VAR, nem precisava ser usado, pois o pênalti foi claro. Ele acha que a única mudança seria a troca do vermelho pelo amarelo, ação que ocorreu após a avaliação do árbitro no vídeo. Figura 5 – Imagens de vídeo com o Denílson.

Fonte – Print da edição de 03/08/18. Renata volta a comentar sobre o assunto e fala que como é interessante ver o árbitro correndo em direção ao vídeo para tirar a prova sobre o lance. Todo o lance vai ser lembrado como o pioneirismo da tecnologia nos campos de futebol brasileiro. 53

Saindo um pouco do VAR, o assunto agora é o Santos. O Peixe tinha apresentado o seu mais novo contratado, o meia paraguaio Derlis Gonzáles. E ele já chegou dizendo que joga mais que o seu compatriota, o atacante Romero, do Corinthians. Renata pergunta para Denílson se isso é verdade ou mentira. Ele responde: “Na minha opinião, é que o Romero tá num momento, né?! Mas o Ronaldo Giovaneli me falou assim: ‘Ah, Denílson, também não é tão difícil assim, né? Você ser melhor que o Romero’”. Mas isso é claramente uma brincadeira dele com o Ronaldo, pois o mesmo é apaixonado e iludido com o futebol do atacante corintiano. Enfim, chegou a hora do debate, e é nesse momento que se reúnem Chico, Ronaldo, Paulo e Denílson, além de Héverton, lá em Belo Horizonte. E falando sobre a capital mineira, logo no começo do debate, Renata diz: “Héverton Guimarães, não quero conversar com você até na segunda. Porque tem o jogo entre Galo e Inter no final de semana”. E Héverton pergunta por quê? Ela responde que é porque está com medo. Na sequência, ela começa a apresentar os comentaristas. O primeiro deles é Chico Garcia, depois vem Denílson, e começa a bagunça. Renata pergunta se ele quer dizer algum comentário sobre Chico Garcia, e ele diz: “Lógico que eu quero. Como que o cara chega inchado desse jeito ao meio-dia e meia, irmão? O que que tá acontecendo, irmão? Você foi pra noite ontem, mano? Porque eu fui e tô interão, muleque [sic]”. Mas Chico não deixa barato e fala: “Você cuida da sua vida”. Depois desse pequeno entrevero, chega a vez de Ronaldo ser apresentado. E, de cara, Renata o elogia por ter ido para o programa de camisa jeans. O “baby”, apelido do comentarista, fica todo sem graça e sem jeito. Renata diz: “Ele não sabe receber elogios, ele fica envergonhado. Essa massa bruta perde o rebolado quando é elogiado. Viu, Roberta?”. E, por fim, é a hora de Paulo Roberto Martins ser devidamente apresentado, e, assim como Denílson, ele fala sobre a cara inchada de Chico Garcia. Ele fala: “Você está errado. Isso é uma falta de respeito com o telespectador”. Todas essas coisas ditas por eles são em tom de brincadeira. Nada muito sério.

3.7.4 Expressões faciais e gestuais Voltando do primeiro intervalo e já com Denílson, a música rola solta e dessa vez a escolhida é uma da dupla Leandro e Leonardo: “Hoje é sexta-feira”. E depois de liberada essa música, em seguida entra a marcha fúnebre, e Renata explica o motivo: os dois rindo com Denílson um pouco sem graça, algo absolutamente impressionante. 54

Entrando no assunto do VAR, no momento em que Renata e Denílson comentam sobre o jogo e o lance que ocasionou a utilização do árbitro de vídeo, o comentarista fala sobre o pênalti batido e desperdiçado pelo jogador do Palmeiras. Aparece, então, o lance na tela ao lado. Ao mesmo tempo, o operador de áudio solta o som de uma bola batendo na trave, som este que é fictício. Mas só essa graça já é motivo para os dois caírem na risada. Já no desfecho do programa e voltando ao assunto da final do deste ano, Ronaldo e Héverton discutem sobre a interferência ou não interferência externa no jogo, um print da discussão é mostrado mais abaixo. Ronaldo, como corintiano que é, diz que não houve. Já Héverton concorda com Renata, e diz que houve, sim. As discussões no programa também são um caso à parte, pois todas elas acabam saindo do campo do futebol e do jornalismo e indo para ataques pessoais, mas todos sempre no bom sentido. Como último ato, toca o telefone do Jogo Aberto, que sempre vai para algum integrante do time de comentaristas. Geralmente é para tirar sarro de algum deles. Dessa vez a hora era deo Denílson porque o São Paulo havia perdido no dia anterior. E para não perder a graça, ele se levanta e vai até o telefone na passada de Renata. O telefone toca e quando ele atende, ao invés de alguém falar, só se ouve a marcha fúnebre, uma marca do programa.

Figura 6 – Discussão entre Ronaldo e Héverton e estúdio com os comentaristas.

Fonte – Print da edição de 03/08/18

55

3.8. Edição de 06/08/2018 (Segunda-Feira) 3.8.1 Cenário O programa sempre começa com a apresentadora Renata Fan dizendo a escalada, que são os assuntos que serão mostrados durante todo o programa. Depois disso, o programa vai para um intervalo e depois volta ao ar com o quadro “Gol é Gol”, que mostra os lances e os gols dos campeonatos mais importantes ao redor do mundo, como o campeonato inglês, espanhol, francês, chinês e italiano. Depois, são exibidos os resultados e os gols dos principais jogos do Campeonato Brasileiro das Séries B e C. Em seguida, entra o quadro “Giro pelo Mundo”, que exibe outros esportes que chamaram a atenção no final de semana. No quesito de cenário, quando começa o programa com Renata e até a entrada do comentarista Denílson, todo ele está limpo e sem qualquer interferência. Tudo isso muda quando ele entra: surgem cadeiras para os comentaristas, há a adição de bonecos que simbolizam alguns clubes, como um galo que significa o Atlético Mineiro, um saci (Internacional), um porco (Palmeiras), além de um falso orelhão no estúdio do programa que serve para enviar mensagens para alguns integrantes do programa e a classificação da série A do brasileiro em uma escada com cada clube sendo significado pelos seus mascotes.

3.8.2 Figurino O figurino de Renata Fan, a apresentadora, é sempre o mesmo desde o início. Apenas em algumas edições ela muda o visual que está usando durante a escalada para quando está com seus comentaristas. Já o figurino de Denílson, o mais caricato e engraçado do programa, sempre muda de acordo com o desempenho dos seus clubes do coração – ele ama São Paulo e Palmeiras de forma igual. Quando o primeiro ganha, ele vai fantasiado de “Jason”, do filme “Sexta-feira 13”, porque significa o São Paulo, clube que nunca ‘morre’. Já quando o segundo vence, ele vai com uma máscara de porco, que é o mascote do Palmeiras. Na edição desta segunda-feira, dia 6, Denílson estava de “Jason”, com máscara e facão, porque o São Paulo tinha se tornado líder, fato que não acontecia desde 2015, após vencer o Vasco no final de semana. Além de estar com um binóculo para simbolizar que está vendo todos os outros clubes de longe, lá da liderança, no topo da tabela. Mais um 56 símbolo do programa, são as fantasias que a equipe usa de acordo com o acontecido com seus clubes de coração no dia anterior. Tudo isso é mostrado na imagem abaixo.

Figura 7 – Denílson fantasiado.

Fonte – Print da edição de 06/08/18. 3.8.3 Texto

Logo na escalada, quando Renata começa falando sobre o São Paulo, ela diz que o tricolor venceu com dois gols “gringos”, ou seja, os gols foram feitos por jogadores de outros países. Ainda na escalada, ela diz que o “mistão”7 do Corinthians empatou sem gols com o Atlético Paranaense, lá na Arena de Itaquera. “Mistão” significa que houve uma mistura de jogadores considerados titulares com jogadores reservas. Já quando Denílson entra, novamente tudo muda. Nesse programa ele apareceu logo de “Jason”, com máscara e facão, ouvindo um pagode no refrão “você me faz tão bem”, para simbolizar a liderança do São Paulo. Com isso, Renata comenta, de uma forma irônica, que “eu nunca imaginei que o Jason gostasse de um pagodinho, não é?”. Na sequência, a matéria sobre a vitória por 2x1 do São Paulo sobre o Vasco vai pro ar. Na volta para o estúdio, Denílson começa a dar seu show. Em uma citação, ele diz, sério (irônico), que pintou o campeão brasileiro e que devemos acreditar no penta, que, no caso, é ele mesmo. Ele também faz uma comparação apontando o facão para a

7 Jargão do futebol que significa que o técnico do clube misturou jogadores considerados titulares com reservas para o jogo. 57 câmera, de alguns telespectadores com o goleiro Dida, que nunca falam nada. Ainda no mesmo plano, Renata pede um tempo com aquele famoso gesto com as mãos para ela falar, mas Denílson fala que o líder é ele, e isso lhe dá o direito de falar o quanto quiser. Uma frase famosa dele é: “eu não ia dá as ideia, mas eu vou dá as ideia [sic]: deixaram o São Paulo chegar, agora aguenta”. Ainda no assunto São Paulo, que foi a tônica de todo o programa, Denílson fala que o autor do segundo gol do tricolor, o atacante Tréllez, não virou craque com esse gol salvador e continua “amassando” a bola, que significa que ele joga mal. Depois de tanto se falar do triunfo tricolor sobre o Vasco, agora foi a vez de mostrar a reportagem da vitória por 2 a 0 dos reservas do Grêmio sobre os titulares do Flamengo. E, no estúdio, Denílson conversa “olho no olho” com o boneco de papelão gigante do treinador do Grêmio, Renato Gaúcho. Ele fala: “duas coisas você fez bem, irmão: a primeira foi Carolzinha, né, papai? Carolzinha, né? A segunda foi ganhar do Flamengo, irmão. Então, é nóis [sic]! A hora que você vier pra São Paulo, me dá um toque, vou te levar numa parada comigo. Cê vai desacreditar”. Isso foi o que o craque Denílson conversou com o ‘Renato Gaúcho fake’. Outro jogo também muito falado no programa foi o empate por 0 a 0 entre América-MG e Palmeiras, outro clube muito amado por Denílson. Rindo e dando gargalhadas, ele comentou muito sobre um lance em específico, uma caneta, que é quando um adversário passa a bola por baixo das pernas do outro, dada pelo meia palmeirense Moisés em cima do meia Wesley, do América. Ele disse: “ai, que gostosinho. Olha que gostosinho, papai! Olha essa caneta. Isso ai é gol pra mim! Óia [sic], nossa, papai do céu. Au. Nossa, Moisés do céu. Tá assistindo muito meu DVD, hein?”. E após fazer um giro com o quadro “Gol é Gol”, pelos gols e resultados do brasileirão, voltou a falar sobre a vitória do São Paulo que lhe rendeu a liderança da competição. E é nesse tema que entram todos os comentaristas fixos do programa. Com isso, começa a rixa entre Denílson e Ronaldo, um são-paulino e o outro, corintiano. Ronaldo já começa fazendo metáfora: “O São Paulo na liderança é igual elefante em cima da árvore, ninguém sabe como ele subiu, mas todo mundo sabe que ele vai cair”. E Denílson já vem com o troco e diz sobre os dois mundiais do Timão, só que com uma libertadores conquistada.

58

Figura 8 – Estúdio com a apresentadora e os comentaristas.

Fonte – Print da edição de 06/08/18. É nesse tema que todos eles começam a desenrolar as discussões. Dessa vez não só a vitória tricolor foi o assunto, mas o técnico da equipe, Diego Aguirre, foi o foco dos comentários. Todos o parabenizando pela equipe que montou, e nisso o repórter Chico Garcia, o primeiro da direita para esquerda, diz que só ele e Renata podem falar sobre o treinador, pois ambos nasceram no Rio Grande do Sul, local onde o técnico treinou sua primeira equipe brasileira, o Internacional. Porém, contra essa fala de Chico, entra Paulo Roberto Martins, que diz que não é porque os dois conhecem mais a fundo a história do Inter que só eles têm o direito de falar sobre Diego. Paulo conclui afirmando que pode falar, sim, pois lembra do treinador do São Paulo quando ainda era apenas jogador de futebol, e jogou no próprio tricolor e na Portuguesa Santista, tradicional clube paulista. Logo após os comentários de Paulo Morsa, o jornalista de Belo Horizonte, Everton Guimarães, é acionado e logo tem “confusão” entre ele e Ronaldo. Na TV, os dois dividem a tela, mas Everton se nega a aceitar isso e diz: “tira esse sujeito daqui do meu lado, eu não vou dividir tela com ele porque ele não dividiu tela comigo. Até porque o espaço é muito pequeno para caber nós dois”. Em seguida, Ronaldo rebate perguntando se o comunicador mineiro está fazendo as sobrancelhas. Everton responde: “a única coisa perfeita que eu tenho no corpo, garotinho”. 59

E o programa termina com o Paulo Morsa elogiando o técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, mas como pano de fundo aquele áudio do Tite discutindo com o Felipão, dizendo que ele “fala muito, fala muito”.

3.8.4 Expressões faciais e gestuais Denílson estava muito empolgado neste dia. O motivo é que o São Paulo era o novo líder do Brasileirão. Ele já chegou ao programa ao som do seu ritmo de música preferido, um pagode. E Renata, desde o começo, já sabia que seria difícil de aturar o comentarista: “Vou falar uma coisa, hoje trabalhar não vai ser uma missão fácil”. Em seguida, vai para o ar a matéria que mostrou a vitória do São Paulo sobre o Vasco, triunfo que deu a liderança ao clube paulista. Depois disso, Denílson não para de falar e Renata pede para ele parar um pouco fazendo aquele gesto de pedir tempo. Na hora do debate, com a presença de todos os comentaristas, Renata fala do jogo do dia entre Atlético Mineiro e Internacional com o Héverton Guimarães. Ela fala que, se ganhar, a loira vem daquele jeito e dá uma reboladinha, para o delírio de Denílson. Mas tudo isso na brincadeira.

3.9 Edição de 14/08/2018 (Terça-Feira) 3.9.1 Cenário Esta edição do Jogo Aberto, no quesito cenário, foi bastante diferente. Porque todo ele foi feito em chroma key8, que é aquele fundo verde em que se pode colocar qualquer coisa, seja ele ambiente, pessoa, animal etc. De acordo com a nossa pesquisa, essa foi a primeira vez que o programa foi feito assim, longe do seu habitat natural, que é o anacronismo do cenário original, com máscaras, telefone, bonequinhos, fotos.

8 É uma técnica de efeito visual muita usada que consiste em basicamente colocar uma imagem sobre uma outra através do fundo de uma cor padrão, como, por exemplo, o verde ou o azul. 60

Figura 9 – Renata Fan no estúdio.

Fonte – Print da edição de 14/08/18. Bagunça que não se viu quando entrou o time de comentaristas no programa. Antes, viam-se máscaras na frente dos comentaristas, a tabela do brasileiro do lado da TV, os bonequinhos no fundo, o telefone na lateral do estúdio. E nesta edição estava tudo clean, sem nenhum objeto animado.

3.9.2 Figurino Renata fez esse Jogo Aberto toda de vermelho para homenagear o seu Internacional, que tinha vencido o Fluminense no dia anterior por 3 a 0, jogando no Rio de Janeiro.

3.9.3 Texto Durante todo o programa, a tônica vai ser sobre a goleada do Inter sobre o Fluminense. Depois de passar tudo sobre o jogo, as chances, os gols feitos e perdidos, volta-se a atenção para o estúdio. Só para não perder a piada, Denílson fala “Três a zero para nóis, né?”. Renata imediatamente retruca: “não, não, não, não, sai dessa”. E o comentarista responde “Aqui é colorado”. Já com os comentaristas Ulisses, Paulo e Ronaldo, Denílson afirma novamente “Aqui é colorado”, e Ulisses responde: “É o quê? Eu não aguento esse tipo de coisa. Que 61 ele não é colorado coisa nenhuma. Porque quando o Inter caiu pra série B, ele foi o cara mais feliz aqui. Ele ficou mais feliz do quando ele foi campeão do mundo”. Já quando o papo muda para quem é o favorito ao título deste Campeonato Brasileiro, a conversa fica mais intensa e caótica. Tudo começa quando Ulisses diz, com veemência, que o São Paulo é o favorito para essa conquista, mas, ao mesmo tempo, ele desconversa falando sobre a aproximação do Inter e do Flamengo. Imediatamente, Denílson responde falando que ele deve dizer se o clube paulista é ou não favorito, independentemente da campanha dos outros dois clubes. Ulisses retruca afirmando que ele fala o que ele quiser e diz que é favorito o time que ele quiser. Renata chama Paulo para diálogo. Ele diz que o Ulisses está perdido com a sua visão e afirma que o São Paulo é o favorito, mas também, se perder, diz que os outros, correndo por trás, também são. Renata entra e fala que ele também se perdeu porque está concordando com Ulisses em todos os aspectos. E, para finalizar, Ronaldo entra de rasteira comparando o campeonato do ano passado, quando nessa mesma época o Corinthians tinha 18 pontos de vantagem sobre o segundo e, mesmo assim, passou sufoco para ganhar e levar a taça.

3.9.4 Expressões faciais e gestuais O programa começa com Renata eufórica e sem medo de demonstrar sua alegria. O motivo foi a vitória do Inter no dia anterior. Ainda falando sobre a vitória colorada, quando o programa volta do primeiro intervalo, Renata ganha a companhia de Denílson. E, já nessa volta, ouve-se o funk “no passinho do Saci”. Para quem não sabe, o Saci é o mascote do Internacional. Era de se esperar que a apresentadora ficasse feliz na hora: enquanto tocava a música, ela fazia o placar da partida, que, no caso, foi 3 a 0, com os dedos. Ela diz: “Eu vou te falar uma coisa, viu? Foram três passinhos. Só gols uruguaios”. Na discussão sobre quem é o favorito ao título, Renata chama Héverton Guimarães, comentarista de Belo Horizonte. E para não perder a piada e provocar a apresentadora, que claramente não é fã do treinador do Inter, ele coloca o celular na horizontal com os dizeres #FicaOdair e #OdairParaSempre e começa a falar muito sobre ele. Tudo isso ao som da música “Maionese”, da cantora Gil, que faz referência à marca de maionese “Hellmans”, e o nome do técnico do Internacional é Odair “Hellman”. E quando ele termina e a câmera volta para o estúdio, os quatro comentaristas estão virados de costas para ele.

62

3.10 Edição de 22/08/2018 (Quarta-Feira) 3.10.1 Cenário Um dia atípico no Jogo Aberto porque Renata Fan não apresentou esta edição do programa, por estar em um compromisso da emissora, a Band. Para substituí-la, foi chamado o repórter e comentarista Chico Garcia. Apesar da mudança na apresentação, o cenário não mudou e se manteve o mesmo durante a escalada dita pelo Chico. O ambiente só se transforma quando entra o comentarista Denílson, que, junto dele, vêm os bonecos, as máscaras, o “escadão” com a classificação do brasileiro, as fotos no fundo.

Figura 10 – Os comentaristas Chico Garcia e Denílson no estúdio.

Fonte – Print da edição de 22/08/18. 3.10.2 Figurino Bem diferente e distante da elegância com que Renata faz diariamente o programa, Chico estava de calça, camisa e tênis para apresentá-lo. E Denílson, assim como em quase todas as edições, foi de calça, camiseta polo e sapa-tênis. Após entrar o time de comentaristas, há gozações sobre o assunto Corinthians e seu possível rebaixamento. Em um momento do programa, o famoso personagem do Jogo Aberto, o fantasma da série B, que só virou isso porque colocou um lençol na cabeça, entra e vai em direção ao Ronaldo.

63

3.1.3 Texto Após conversarem sobre a tabela do Brasileirão 2018, Denílson fala que quer falar do “Curíntia”. É desta forma que toda torcida do Timão chama o clube. Chico vai lá e fala que o comentarista está criando uma crise no clube paulista. E Denílson responde: “Eu? Crise? Mano, duas derrotas, sete pontos da zona do rebaixamento. Tá, não. Tão bem, pô!”. Voltando ao estúdio, depois de ir ao ar a matéria sobre o Corinthians, Chico fala que Denílson encomendou uma pesquisa sobre o futuro do time no campeonato, se vai ser campeão, libertadores, sul-americana ou rebaixamento. Ele já diz: “os cara colocaram o rebaixamento em primeiro. Isso não fui eu. É que eu falei assim: ‘ó, coloca o rebaixamento por último’. Eu disse ‘coloca campeão, libertadores, sul-americana e rebaixamento por último’. Só que aí os caras lá em cima ‘trairaram’, botaram o rebaixamento em primeiro”. Mudando de assunto e falando agora sobre o São Paulo, foi para o ar a matéria sobre o tricolor, que terminou com uma sonora do volante Hudson. E, na volta para o estúdio, Chico diz que ele está voando, e Denílson responde: “voando dentro de campo e fora de campo. É o amor. Que fase hein, papai. Que momento, hein, Hudson?”. Voltando a falar do Corinthians, o famoso telefone do programa toca, e Chico atende. Quem está na linha é o comentarista fanático pelo Timão, Ronaldo. Ele diz “ê, bichin, que que cê tá fazendo aí, tá colocando uma enquete aí, que cê tá fazendo com o Corinthians[sic]? Rebaixamento, seu cavalo?”. Chico responde: “Tá bravo, Ronaldo?”. Ele retruca: “maldita produção, hein”. E Chico diz: “a culpa não foi minha, foi o Denílson”. Em seguida, aparece na tela a pesquisa, mas, dessa vez, com uma mudança, o rebaixamento caiu para segunda opção, e o campeão subiu para primeiro. Ronaldo vê isso e fala rindo que mudou a enquete e está vendo. Mas Chico diz: “você está aí na produção votando sem parar, aí não vale, Ronaldo. Deixa o torcedor votar”. Entrando no debate, que é o momento mais acalorado do programa, Chico apresenta os comentaristas. O primeiro é Ulisses Costa, que fala bravo que não é convidado, e, sim, comentarista fixo do programa há 12 anos. O segundo é Paulo Roberto Martins, que diz “hoje vou apenas assistir o programa, não vou participar. Sem a minha deusa aí, eu não sou nada, eu não tenho vida. Sem ela, eu não tenho vida, eu não sei trabalhar se ela não está aí. Então, eu vou ficar calado”. 64

Ainda sob a voz de Paulo Roberto, ele fala sobre a apresentação do programa de Chico: “antes de mais nada, quero dizer o seguinte: você está brilhante, você está espetacular, você está charmoso. Você está Ney Matogrosso apresentando o programa”. Em seguida, Ronaldo canta o trecho de uma das músicas mais famosas do artista: “Nunca vi rastro de cobra, nem couro de lobisomem”. Só isso já foi motivo para o operador soltar o áudio da canção. Mas Chico responde com estilo e com o trecho de uma outra música de Ney Matogrosso: “Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino”.

3.10.4 Expressões faciais e gestuais Quando os dois falaram do Corinthians e sobre a crise no clube, Chico diz que Denílson está inventando uma crise no time, mas o comentarista responde de forma bastante irônica e, pior ainda, rindo e fazendo graça que não existe crise. A forma como ele disse mostra que o Timão está em má fase e indo de mal a pior. Um pouco mais adiante no programa, Chico anuncia com um megafone que está no ar o debate do Jogo Aberto. E, falando sobre a troca da Renata pelo Chico, os comentaristas abordaram isso. Os dois que mais falaram sobre isso foram Paulo e Ulisses. O primeiro afirmou com veemência, mas rindo lá no fundo, que não iria participar do debate pela ausência de sua musa inspiradora.

3.11 Edição de 30/08/2018 (Quinta-Feira) 3.11.1 Cenário Como em todos os outros programas descritos, Renata fala a escalada dos principais assuntos com apenas o ambiente do cenário, uma bancada do lado esquerdo e uma TV no fundo com a logo do programa. Isso só muda quando o comentarista Denílson é convocado. Com ele, começam a fazer parte do cenário os bonecos simbolizando cada mascote de um clube, a tabela do brasileiro, as máscaras na frente de onde os dois estão sentados, o telefone orelhão, além das fotos atrás dos dois. Neste programa, devido à eliminação do Timão para o Colo Colo, do Chile, pela Copa Libertadores da América, no dia anterior, o gavião, mascote do time, e o baby, apelido do comentarista Ronaldo Giovanelli, estavam remendados com esparadrapos. Outra novidade é um boneco tamanho família do Felipão, atual técnico do Palmeiras, com uma capa vermelha de herói, atrás de Denílson.

65

3.11.2 Figurino Renata fez esse Jogo Aberto toda de , ou uma cor parecida com branco, um bege, rosa, off-white. Já Denílson entrou com uma máscara com o rosto de Valdívia, ex- jogador do Palmeiras e atual meia do Colo-Colo, do Chile, esfregando os olhos como se estivesse chorando. Tudo isso porque, no dia anterior, o Corinthians tinha sido eliminado da Copa Libertadores pelo clube chileno com show do ex-jogador palmeirense. Além disso, o comentarista também estava segurando uma camiseta do clube.

Figura 11 – Denílson com uma máscara.

Fonte – Print da edição de 30/08/18. 3.11.3 Texto O programa começa com uma música de pagode, ritmo que Denílson adora, porque o Corinthians foi eliminado no dia anterior, uma quarta-feira, da Libertadores 2018. E não satisfeito só com a máscara de Valdívia e a camiseta do time chileno, as primeiras palavras de Denílson são em espanhol, como se ele fosse o meia chileno. Na abertura do debate, Renata fala para Héverton Guimarães: “pintou o cabelo, meu irmão? Eu conheço essas luzes”. Ele responde imediatamente: “não pintei, não. Eu só dei, aqui ó, curtinho de lado para emagrecer”. Voltando ao assunto da eliminação, a apresentadora falou que Ronaldo fugiu, e não foi para o programa. Como resposta ao comentarista, Ulisses, Denílson, Paulo e Héverton chamam o ex-goleiro de ‘pipoqueiro’. 66

Renata continua falando sobre o companheiro de programa e diz, apontando para Paulo: “Este senhor, com índole e, principalmente, com carreira, saiu de maca. Este senhor estava aqui na maca, mostrando que cumpre com sua palavra”. E ela continua: “E eis que hoje de manhã aqui na emissora, chegou um atestado médico de Ronaldo Giovanelli dizendo que só volta na terça-feira porque ele está com Colo-Colojuntivite”. E a apresentadora diz mais: “Eu garanto pra você: enquanto você não sair de maca aqui no programa, você nunca mais poderá pronunciar a palavra Corinthians aqui no programa. Enquanto você não sair de maca, a palavra Corinthians não lhe pertence mais”. Mas os outros também opinam sobre a fuga de Ronaldo do programa e afirmam: “A maior decepção na história desse programa, que vai pra 11 anos, foi a fuga do Ronaldo”. E Denílson completa: “Isso é uma decepção até pro corintiano, que é conversa não faz curva, que é pé na porta. Aí um corintiano desse aí, aqui é massa bruta. Conversa fiada”. Depois dessas duas opiniões, Renata chama Héverton, que está em Belo Horizonte. E ele começa falando com a voz de Ronaldo e faz o seguinte questionamento: “O seu Ulisses nunca sai de maca desse programa?”. Como resposta, Renata diz que ele nasceu sem time de futebol, enquanto Paulo fala: “Ele é um corintiano enrustido que deveria estar aqui substituindo o Ronaldo. Corintiano enrustido”. Já Denílson fala para olhar as narrações dele: “enquanto de outros clubes a narração vem do gogó, a do Corinthians vem da alma, do coração”. Para quem não sabe, o programa tem uma tradição de que se o time do coração de cada comentarista for eliminado de alguma competição, esse comentarista terá que sair do estúdio enfaixado e de maca. Toca o telefone no estúdio: Denílson atende e quem está na linha é o ‘fujão’ Ronaldo. O comentarista diz que tem uma ‘informaçãozinha’ para o corintiano: “Você ouve a informação agora ou quer depois a informação? Se liga nessas ideia [sic] aí, Paulo. O Corinthians tem mais eliminação na Arena do que parcelas pagas. Olha a situação, irmão. Olha como que está o Corinthians”. Tudo isso sendo dito na brincadeira.

3.11.4 Expressões faciais e gestuais A tônica de todo o programa foi a desclassificação do Corinthians diante do Colo- Colo, do Chile. Por isso, Denílson já entrou com uma máscara de choro do Valdívia, ídolo do Palmeiras e atual meia do time chileno. Rindo, dançando e caçoando bastante, até o próprio fez gestos de choro, aquele famoso esfregando os olhos. 67

Já falando sobre a ausência de Ronaldo no programa, Denílson diz bravo, firme, batendo nos braços: “Isso é uma decepção até pro corintiano, que é conversa não faz curva, que é pé na porta. Aí um corintiano desse aí diz ‘aqui é massa bruta’. Conversa fiada”. Questionados sobre o time que Ulisses Costa torce, todos dão sua opinião. Na vez do Denílson, ele diz que de todos os outros clubes a voz vem da garganta, apontando para o pescoço, enquanto do Timão o som vem da alma, do coração, do pulmão, com Denílson batendo no peito.

3.12 Edição de 07/09/2018 (Sexta–Feira) 3.12.1 Cenário Após falar a escalada e soltar algumas matérias no ar com o cenário sem nada, as câmeras se voltam para o estúdio com Renata em cima de um pedestal com uma mãozinha do Internacional, tudo isso para simbolizar a liderança do clube gaúcho. Além, é claro, dos sempre presentes bonequinhos, máscaras, telefone, a tabela do brasileirão e as fotos no fundo.

Figura 12 – Renata Fan com uma “mãozinha” do Internacional e o Denílson na cadeira.

Fonte – Print da edição de 07/09/18.

68

3.12.2 Figurino Renata está com uma saia e salto alto rosa, com uma blusa branca mais solta e Denílson está, como em outras edições, de calça, camisa e tênis. Já o comentarista Ulisses Costa está de calça preta, camisa azul e sapato; Paulo Roberto Martins está mais elegante, como sempre, de calça social, camisa, paletó e sapato. Já o Héverton Guimarães, lá de BH, está de camisa, porque é a única parte que podemos observar.

3.12.3 Texto Já com Denílson no estúdio, para zombar dele, Renata aparece no famoso pedestal do programa, que significa que o time dela é o líder do Brasileirão, com uma música de funk feita para o clube gaúcho. Renata diz: “Vem com a líder, vem, ó, ó”. Agora falando sobre o clássico que aconteceria no domingo entre Palmeiras e Corinthians, Denílson disse que o Verdão ia ganhar por 3 a 0, com três gols do atacante Borja. Mas, para tristeza de alguns e felicidade de outros, o repórter Willian Lopes informou que o atacante se lesionou e não iria para o jogo. Motivo para Renata dizer que o comentarista ‘zicou’ o colombiano: “Este cara ao meu lado, de novo, ele ‘zicou’ o Borja. Só porque ele sabe que eu gosto do Borja, quando ele não joga pelo Palmeiras, aí não tem graça”. Denílson responde: “Eu nunca disse que não gosto do Borja”. Outro clássico que aconteceria no domingo era entre Internacional e Grêmio, o famoso clássico GreNal. Denílson opina e fala: “Eu vou falar do Grêmio. Ele é um time mais leve, que vive um momento extraordinário nas competições em que está disputando, né?”. Renata retruca: “Não foi eliminado da Copa do Brasil agora?”. O comentarista diz: “Têm algumas coisas que são prioridades, né, filha? Está voando na Libertadores, também vive isso no Campeonato Brasileiro”. A apresentadora vai lá e fala rindo que tem tanto são-paulino secando, flamenguista, palmeirense. E diz ainda mais: “Eu estava aqui meio jururu, mas só foi você falar. É igual o Renato Gaúcho: falou que é time de Série B, de segunda divisão, contra time de primeira divisão”. E na última meia hora de programa, dá-se início o debate com as presenças, além de Renata e Denílson, dos comentaristas Ulisses Costa, Paulo Martins e Héverton Guimarães. E, já no começo, Renata diz: “Feriadão, mas aqui é trabalho, no estilo Muricy Ramalho. Com Héverton Guimarães, tá bem, nada inchado. Quer chegar mais, chega perto da líder, pelo menos até as 4 da tarde de domingo”. Ela apresenta Ulisses, Paulo, e chega a vez de Denílson, e ela: “Denílson Show, hoje vai ter camarote ou não, hein?”. E ele: “Se tá louca, hoje é família, viajar, resort, tranquilinho. Lá eu vou tomar uns 69 negocinhos”. E Ulisses fala bravo: “Beleza, papai. Vamos lá, Renata, dar continuidade no programa. Bora lá”. Depois disso, o assunto GreNal volta à tona com o telefone no estúdio tocando e, para a surpresa da Renata, quem está na linha é o técnico do Grêmio, Renato Gaúcho, falando: “Posso falar que é um time grande de primeira divisão contra um time de segunda divisão”. A apresentadora responde: “Olha aqui, ó. A gente vai ver quem é de primeira e quem é de segunda no domingo, no Beira Rio”. E toca o telefone de novo. Dessa vez o treinador diz: “Mas o meu time está bastante maduro, ele está preparado pra isso”. Renata dá a tréplica: “Mas o meu time é líder”. Já nos palpites sobre os jogos do final de semana, a apresentadora fala: “Eu não ia dá as ideia [sic], mas eu vou dá as ideia [sic]. O Inter tem um clássico só, o São Paulo ainda enfrenta Santos, Palmeiras e Corinthians”. E Denílson manda: “Vai loirão, vai loirão. Aqui é Diadema, loirão”.

3.12.4 Expressões faciais e gestuais O programa já começou com Renata em cima do pedestal, toda feliz e eufórica pela liderança do Internacional. E ela não perdeu a oportunidade de caçoar Denílson, torcedor declarado do São Paulo, que perdeu a ponta da tabela para o clube gaúcho. Ainda lá pelos lados do Rio Grande do Sul, o assunto é o GreNal que aconteceria no domingo. Após ir para o ar a matéria falando sobre o clássico e sobre o retrospecto de ambas as equipes, a câmera volta para Renata, e ela está de cara amarrada e debochada, porque foi mostrada a derrota do Internacional no último clássico. Ela responde irada, batendo uma espécie de palmatória, mas com o escudo do Inter nas mãos, ao técnico do Grêmio, Renato Gaúcho, que ele vai ver quem é o time de segunda divisão.

70

CONSIDERAÇÕES FINAIS O jornalismo tem por missão social informar a sociedade e, assim, prestar um serviço público para toda a população. Embora isso continue valendo, a maneira de o jornalismo colocar essa informação para a população vem se transformando, pelo menos no jornalismo esportivo é assim. No programa Jogo Aberto, da TV Bandeirantes, o humor, assim como o jornalismo, também é uma engrenagem fundamental para o seu funcionamento. A pesquisa mostrou como o humor pode mudar e transformar todas as características e estéticas do programa tido como esportivo, mas que no fim tem como base o fazer rir para chamar a atenção do público. Além disso, também foi permitido desbravar caminhos antes desconhecidos pelo autor, como a história do jornalismo e do jornalismo esportivo, do humor e como ele atua em alguns campos. O tema foi de grande valia, pois mostrou com embasamentos que apesar de o humor também ser o foco do programa, não será por isso que ele perderá a sua missão, que é de passar informações para o telespectador. Nos resultados também ficaram exemplificados que os recursos usados para essa inserção de mais humor são: piadas entre os integrantes do programa, o cenário, as expressões, os figurinos, as falas, os áudios liberados durante o programa. Logo, os dois, jornalismo esportivo e humor, atuam em conjunto, sem que o foco principal do programa, que é a informação, se perca, apesar do humor estar inserido no devido contexto. Na questão do cenário, são usadas diversas formas para ambientar o torcedor, como uma máscara do mesmo ou o mascote do clube. Nos figurinos dos programas analisados, é possível ver que os integrantes se vestem com fantasias de acordo com a situação de um clube, seja ela ótima ou péssima. Já nos textos, os recursos utilizados são diversos e variados, como piadas e brincadeiras entre eles, a chacota de um com o clube do outro. E as expressões também fazem parte do programa, como as caras e bocas de Denílson quando faz uma piada ou ele dançando e rebolando ao vivo. Sem a pretensão de esgotar o assunto, uma vez que ele pode se desdobrar em outras apreciações ainda mais profundas e relacionadas a um estudo de recepção para entender como o público interage com um conteúdo nessas feições. Ainda assim, esperamos ter oferecido alguma contribuição para as reflexões sobre a convergência entre jornalismo e humor no contexto da imprensa especializada em esporte.

71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Martin Claret, 2007. BARBEIRO, Heródoto; RANGEL, Patrícia. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2006. BELTRÃO, Luiz. Teoria e prática do jornalismo. Adamantina: Edições Omnia, 2006

Berger, Peter. In ROSSETTI, Regina, SANTOS, Roberto. Humor e riso na cultura midiática. São Paulo: ed. Paulinas, p. 19-35, 2012.

BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significação da comicidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, p. 1-99, 2007.

BREMMER, Jan, ROODENBURG, Herman. Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, p.13-25, 2000.

BURKE, Peter. In BREMMER, Jan, ROODENBURG, Herman. Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, p.13-25, 2000.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.

FREUD, Sigmund. Os chistes e a sua relação com o inconsciente. Rio de Janeira: Imago, p. 17-91, 1996.

FURQUIM, Fernanda. Humor e riso na cultura midiática. São Paulo: ed. Paulinas, p. 43-57, 2012.

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2004.

MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e Jornalismo. A saga dos cães perdidos. São Paulo: Hacker Editores, 2000. 76 p.

PENA, Felipe Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.

PONTE, Cristina. Para entender as notícias: linhas de análise do discurso jornalístico. Florianópolis: Insular, 2005.

ROSSETTI, Regina, SANTOS, Roberto. Humor e riso na cultura midiática. São Paulo: ed. Paulinas, p. 19-35, 43-57, 69-73, 2012. 72

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

SOUSA, Jorge Pedro. Introdução à análise do discurso jornalístico impresso: um guia para estudantes de graduação. Florianópolis: Letras contemporâneas. 2004.

TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2001.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Editora Insular, 2004-2005.